terça-feira, 18 de abril de 2017

Henry Thomas Buckle e a Civilização espanhola III

As causas do declínio do Império Espanhol


Se há alguma verdade por si mesmo manifesta é a ruína dos Impérios, tema por sinal de uma obra, ainda interessante escrita por Volney em 1791.

Impérios há, que a contar de sua fundação, teriam durado cerca de vinte e sete ou trina séculos. Assim o Egípcio. Outros há que, como o Império Chines, revindicaram uma duração de quase quatro mil anos. Do Persa sabemos ter durado dois séculos e do Macedônico não mais de duas décadas. Assim há Impérios duradouros e efêmeros.

Seja como for, da mesma maneira como os seres humanos, os Impérios e culturas parecem nascer, crescer, declinar a morrer. Tal a tese, alias plausível de Oswald Spengler.

Quanto ao Império Espanhol, partindo de sua fundação em 1492, a seu ocaso, em 1643, chegou a durar século e meio. O Império britânico, contado de 1820 a 1945 não chegou a isto. Se contado de 1760, ultrapassou-o em apenas trinta anos.

Cumpre agora esclarecer porque motivo tão grande Império veio a desmantelar-se fragosamente pelos idos de 1650.

Tanto os espanhóis quando os portugueses, acreditavam que a prosperidade de uma nação estava relacionada com a obtenção e posse de metais raros e pedras preciosas. Visão posteriormente denominada metalismo. Enquanto que os franceses, fisiocratas, acreditavam que toda riqueza provinha do solo em termos de trato ou agricultura, os ibéricos estavam convencidos a respeito da superioridade dos metais. Errando feio tanto uns quanto outros.

A Espanha no caso já por meio da força, já por meio de impostos, já por meio das minas de Prata de Potosi, cuidava amealhar a maior quantidade possível de ouro e prata.

Descuidando não só da agricultura, como da própria indústria.

Julgava-se poderosa mas tinha de adquirir alimentos e produtos - tecidos, vidro, papel, etc - de outros países. Inclusive de rivais seus.

De modo que quanto mais metais adquiria, mais gastava. As riquezas passavam por ela mas não ficavam com ela. Acabando nos bolsos dos produtores ou seja nos territórios em que a terra era cultivada ou a indústria estimulada.

Era como o tonel das Danaides com a água entrado pela boca e saindo pelos furos...

E como as reservas naturais de metal fossem se esgotando devido a exploração intensiva e os produtos costumeiramente adquiridos aumentando de valor, a balança foi inclinando-se cada vez mais para os produtores... A Espanha tinha de obter cada vez mais metais para comprar menos alimentos e manufaturas. Do que resultaram o deficit e a inflação.

Ao fim deste percurso achava-se o velho Império endividado, e portanto, sem recursos para manter um exército com as proporções necessárias tendo em vista o controle de tantas e tantas terras. Sequer havia dinheiro suficiente para adquirir armas e munições. De modo que o colosso espanhol principiou a desmoronar. Perdendo cada vez mais domínios e terras; e encolhendo.

A grande tragédia de Portugal e Espanha foi a tragédia do tempo, confundir o poder, a prosperidade e a riqueza, a estabilidade monetária enfim, com a posse de metais preciosos, ao invés de identifica-la com a indústria humana, já em termos de agricultura ou de manufaturas, de alimentos ou bens de consumo.

Por fim toda riqueza obtida no Novo mundo acabou acumulando-se nos bolsos de seus inimigos franceses, holandeses e ingleses e favorecendo, indiretamente o primitivo acumulo de capital.

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