sábado, 8 de abril de 2017

Desfazendo a manobra ou quimera do Livre exame

O propósito desta postagem é divulgar, entre aqueles que interessam-se pelo problema religioso, particularmente numa perspectiva Cristã e reflexiva, as conclusões a que chegamos após fraternal diálogo com um de nossos ex alunos mais brilhantes que acaba de romper com o protestantismo.

O enfoque é um dos princípios basilares da ideologia protestante, o 'livre examinismo' que é modus operandi relacionado com o 'Sola Scriptura' ou Biblismo.

Desde muito cedo fomos ensinados que os protestantes, de modo geral, gozam duma liberdade infinitamente superior a dos Católicos sejam anglicanos, romanos ou Ortodoxos e, para começo de conversa, fazemos questão de alertar, que esta afirmação é pura e simplesmente falaciosa.

Aceitam-na os Católicos idiotas porque ignoram supinamente como funcione o protestantismo ou porque jamais tenham refletivo detidamente sobre a questão.

Grosso modo o único ou principal objetivo do livre exame - Desde que Lutero o opôs, face as tradições corrompidas do papado - é impugnar a doutrina Católica.

Assim se o Católico - Firmado nas tradições autênticas ou na autoridade - diz crer numa Trindade e apela a determinada passagem dos Santos e divinos Evangelhos, o unitário ou jeovista atalha de pronto: Mas isto é INTERPRETAÇÃO sua...

Se o Ortodoxo diz acreditar na presença real do Salvador no Sacramento e recorre a determinado trecho dos discursos de Jesus, o zwingliano não se faz de rogado: Mais isto é interpretação sua...

Mas isto é interpretação sua repetem a pretexto de qualquer alegação doutrinária feita não só pelos Católicos, mas inclusive pelos dissidentes das seitas rivais.

Todos os dissidentes, sejam Católicos - especialmente se o forem - ou mesmo protestantes teem apenas interpretações, opiniões, hipóteses, palpites, teorias, etc Nosso protestante ou melhor, a seita, a que pertence - Uma entre mais de cem mil! - esta apenas esta em posse da Verdade.

No entanto caso tomemos as seitas protestantes em seu conjunto, o que temos é justamente isto, um mar de teorias, hipóteses, palpites, opiniões ou INTERPRETAÇÕES a respeito de qualquer coisa ou de qualquer passagem do Evangelho. São milhares de milhares de significados caprichosos e arbitrários imaginados pelos 'leitores da Bíblia'... Tantas interpretações quanto cabeças... Milhares ou mesmo milhões de credos... Um mar ou Oceano de subjetivismo... A apoteose do individualismo. É o que chamamos de seitas.

Sendo assim, fim do percurso, ou melhor ao cabo de três séculos - pelos idos de 1860... - o neto de um fervoroso teólogo luterano: Friedrich Nietzsche, pode postular serenamente a inexistência da Verdade, e a existência de interpretações apenas. Tal o estrago feito pelo protestantismo ou melhor pelo livre exame, já no plano da Filosofia ou da profanidade.

Que dizer então sobre o plano da religião ou da fé?

Devido as disputas produzidas pelas interpretações conflitantes, as seitas, os partidos e a confusão doutrinal reinante, o protestantismo não tardou a degenerar em incredulidade, alias em materialismo e ateismo, impactando consideravelmente a cultura Ocidental ou desvinculando-a por completo de suas raízes ancestrais. As divisões provocadas pelo livre exame estão na gênese ou base da crise da fé experimentada pela modernidade. Tais disputas exegéticas extenuaram por assim dizer o 'Cristianismo'...

Impossível discernir a Verdade no seio de tantas interpretações. Mais fácil e conveniente nega-la.

O arqui inimigo ou antípoda do protestantismo, firmado na autoridade e na tradição, resistiu e tem resistido bem mais, afirmando estar em posse da verdade, fornecer o conhecimento exato dos textos sagrados e franquear acesso a mensagem do Cristo em termos de exatidão e objetividade.

A tudo isto o protestantismo continua opondo a interpretação individual, sempre a guiza de verdade, ao menos em nosso Brasil.

O Catolicismo tem interpretações arbitraria e despoticamente impostas pela hierarquia ou pela autoridade, e ele, protestantismo, todo dividido e cindido em inúmeras seitas, a verdade, e uma verdade livremente adquirida.

Pois, dizem eles, partem do 'nada' ou do vazio doutrinal, e tomando por padrão a Bíblia, inferem seu credo...

Partem portanto da máxima liberdade, da isenção, da neutralidade, etc para chegar a verdade, adquirida por eles mesmos...

Enquanto os Católicos tontos recebem uma verdade imposta!

É o que dizem todos os protestante fazendo galas da liberdade, mas, será mesmo assim??? Será verdade que partem mesmo do nada? Sem quaisquer ideias preconcebidas?

Sejamos indulgentes e admitamos que por vezes, muito raramente, sucede que um individuo qualquer abra sua tradução mil vezes revista e corrigida da Bíblia, de com uma passagem ou versículo qualquer, atribua o sentido que mais lhe agrade, forje uma interpretação, invente um 'credo' e crie uma nova seita... Canonizando sua interpretação ou exame privado.

São quase cem mil seitas e portanto cerca de quase cem mil privilegiados que ousaram-se apresentar-se a humanidade como porta vozes exclusivos da verdade ignorada por todos os demais seres humanos e portanto como seres especiais aos olhos do Bom Deus.

Assim Calvino, Zwinglio, Socino, Ellen White, Ch T Russel, Pharran, Virgren, Berg, Macedo, Rodovalho, etc

Estes de fato fizeram valer seus direitos ao livre exame, pois abriram uma tradução qualquer e formaram um Credo, uma seita, uma nova versão do cristianismo enfim.

Mas e os demais???

Isto é aqueles que nasceram em qualquer uma dessas seitas - calvinista, zwingliana, sociana, adventista, jeovista, assembleiana, universal, etc - ou aderiram a qualquer uma delas antes mesmo de terem lido e examinado as escrituras?

Tiraram alguma conclusão imparcial? Exerceram verdadeiro livre exame? Extraíram a verdade? Produziram um credo? Fizeram valer a tão decantada liberdade? Ou limitaram-se da receber um Cristianismo PRONTO E ACABADO exatamente igual o da igreja Católica?

Ah mas eles tem uma Bíblia!

E daí, acaso a igreja romana ou a anglicana não tem suas Bíblias e não fazem le-las em suas cerimônias?

Todavia essas igrejas não distribuem Bíblias e não colocam a Bíblia nas mãos de seus fiéis!

Quanto ao livre exame, o que vem verdadeiramente ao caso não é a posse da Bíblia e sim se a posse da Bíblia precede ou sucede a filiação doutrinal.

Porque se antes de receber a Bíblia você recebe a doutrina luterana, calvinista, batista ou unitária e é 'ensinado' a ler a Bíblia - i é conduzido - conforme a crença ou a fé de qualquer uma dessas organizações é evidente que o exame não é livre mas orientado e que a leitura da Bíblia não é livre mas dirigida! Neste caso onde fica a liberdade do exame se o 'credo' é recebido com o livro ou mesmo antes dele??? Que liberdade é essa se o neófito jamais ousa contestar? Se recebe a leitura, o exame ou a interpretação fornecida por um outro? Que temos aqui senão o velho critério da autoridade revindicado pela igreja antiga?

Que diferença há em recebermos a interpretação Ortodoxa ou qualquer uma das interpretações protestantes: calvinista, zwingliana, unitária, adventista, assembleiana???

Pois se é para acatar o padrão da autoridade que comenta ou interpreta, é evidente que devemos dar preferência a autoridade da Igreja mais antiga, cuja origem remonta anos apóstolos e que as seitas de origem mais recentes, surgidas a partir de Martinho Lutero - 1521 - não possuem qualquer autoridade.

O protestantismo hodierno recorre amiude a autoridade, traindo o livre exame e impondo tradições credais; mas finge exercer o livre exame, apenas porque o critério da autoridade desampara-o por completo. O protestantismo não possui qualquer vinculo material e concreto com o Verbo encarnado Jesus Cristo, não é apostólico, não possui sucessão episcopal e por isso... Tem apenas pretensões e discurso, mas direito algum. Pois seus fundadores jamais foram comissionados pelo divino Mestre.

O que nosso protestante faz não é livre examinar, mas receber uma interpretação dada e CONFIRMAR esta interpretação por meio da Escritura... Recebem um credo para ser defendido com base na Bíblia e não um Bíblia com o objetivo de forjar um credo!

Nada mais fácil a um homem atilado do que tomar suas doutrinas ou crenças prediletas e estabelece-las a partir de um escrito ou livro qualquer sejam os Vedas, o Corão, a Tripitaca...

O mesmo que fazem com a Bíblia, isolando textos do contesto para atribuir um significado arbitrário, os protestantes poderiam fazer com os romances de Machado de Assis ou de Dostoevsky e confirmar seus 'credos' e escrever apologias a partir de tais escritos!

Pois se trata de adaptar o sentido de um livro a fé... Nada mais fácil do que isto.

Teem um credo ou uma interpretação a defender. E por isso tomam a Bíblia com esse premeditado intuito, de encontrar testemunhos favoráveis ao luteranismo, ao calvinismo, ao zwinglianismo, ao unitarismo, ao adventismo, etc Partem com essa ideia fixa e distorcem o sentido do Evangelho. Pois tal qual acredita assim o homem vê as coisas! Assim cada sectário protestante projeta suas crenças na mesma Bíblia. O jeovista vê nela o jeovismo como o adventista vê nela o adventismo e o pentecostal vê nela o pentecostalismo... Porque recebem o sentido ou a interpretação antes do livro, com a cultura ou com a adesão, e não 'a posteriori', então esse exame não é livre mas parcial e tendencioso, pelo simples fato de excluir premeditada e arbitrariamente a versão Católica.

Portando a maioria dos protestantes é tão acrítica quanto a totalidade dos Católicos a que busca criticar e igualmente pré determinada.

A diferença aqui é que o Ortodoxo encarando a igreja antiga, fundada por Jesus e pelos apóstolos, como mãe e mestra da verdade, se lhe submete docilmente. Porque se trata de um organismo superior e divino.

A indignidade está justamente no protestante, - que em tese ou 'pro forma' é um livre examinador - receber a interpretação de outro livre examinador igual a ele. Afinal se todos os homens são igualmente capazes e dignos de examinar a escritura, por que raios devemos receber a interpretação fornecida por outrem ao invés de examinarmos nos mesmos e extrairmos a verdade divina?

Qual o sentido a adesão ou da submissão a interpretação, opinião ou palpite de outrem, se somos todos iguais?

Por que curvar-se diante da autoridade de outro homem e recebe-lo como INTERMEDIÁRIO entre nos e a escritura?

O que queremos salientar é a monstruosidade de enfiar a autoridade num sistema oficialmente livre examinista! O que temos aqui é um sistema teórica ou aparentemente 'liberal' atuando eclesiasticamente, e isto me parece desonesto.

O que temos diante de nós é um seleto grupo formado por uns espertalhões que ousam afirmar-se como superiores num sistema teoricamente igualitário, ludibriando uma multidão de idiotas -Constituída pelo grosso dos fiéis ou da membresia - os quais podendo examinar a escritura livremente e tirar suas próprias conclusões recebe interpretações alheias... Abdicando miseravelmente da liberdade com que acenam aos Católicos desavisados.

Assim são luteranos os que recebem os pontos de vista de Lutero, Calvinistas os que recebem os pontos de vista de Calvino, Zwinglianos os que recebem os pontos de vista de Zwinglio, limitando-se a buscar evidencias favoráveis a tais sistemas na Escritura. O próprio nome das seitas denuncia submissão ao exame canonizado ou santificado por outrem em beneficio próprio!

Eis a igreja discente e docente desconstruída e reconstruída pelos neo protestantes. De modo que uns ensinam, fornecendo exposições e comentários bíblicos desnecessários, e outros recebem passivamente os comentários ou são ensinados! Recebendo um credo, uma fé ou uma verdade pronta, segundo o método da igreja Católica, denunciado e satanizado por Lutero em 1521.

Os reformadores, permitam-me dizer, limitaram-se a substituir os comentários de Clemente, Orígenes, Tertuliano, Atanásio, Hilário, Ambrósio, Crisóstomo, etc pelos comentários de Pafúncio X, Rodovalho M, Terezo J, etc Substituiam as tradições autênticas dos primeiros séculos por tradições humanas e espúrias do século XVI ou XX??? Cadê a coerência???

No entanto se todos são livre e tem mesmo o direito de ler, estudar e interpretar a Bíblia, dando seu pitaco ou contribuição a jamais acabada reforma e achando sua verdadezinha oculta com que brindar a pobre humanidade por que raios ler comentários alheios? Por que se ensinado por outro se não é para ser ensinado por alguém superior como os Bispos sucessores dos apóstolos escolhidos por Jesus? Quem vem ao caso as opiniões de X ou N???

Esperto no protestantismo foi quem teve a ideia de proclamar-se superior aos demais, canonizar sua opinião, santificar sua doutrina, forjar seu credo e criar sua seita...

Quanto aos demais, que recebem exame elaborado por outro, perdoem-me, mas não posso deixar de encara-los como perfeitos tolos. Que se vangloriam quanto a posse dum carro estacionado no quintal da casa ou de um computador que não sabem usar rsrsrsrsrsrs

Pois declaram ser livres, emancipados, independentes, etc E adotam ensinamentos e interpretações fornecidos por outro. Qual o propósito duma liberdade que não é usada? Liberdade no neo protestantismo doutrinário - Com credos, fórmulas, etc - virou enfeite.

Que romanista ousou brindar as Encíclicas de seus papas com o titulo de 'inspiração', igualando-as ao Santo Evangelho??? Os adventistas no entanto não hesitam em conceder este título aos escritos da sra Ellen Withe, elevada já a classe de hagiógrafa honorária!!! E classificam o papismo como idolatria!!! Logo eles que nivelam as palavras de uma doente mental as palavras de nosso Divino Mestre! Sim, amigo leitor, o protestantismo, apelando a uma liberdade falsa e aparente forjou a pior das servidões e chegou as fronteiras da insanidade! Subverteu seus próprios fundamentos e violou seus princípios...

Que Ortodoxo, por mais devoto e submisso que chega, atribui a igreja o direito de julgar o que deva comer, beber, vestir, ouvir, dançar, etc??? Tudo isto e muito mais atribuem os jeovistas a seu 'Corpo governante' tendo toda sua vida controlada por ele, como os turcos pelo Corão!

Pasme querido leitor, o Catolicismo exige unicamente (além de, é claro, terem de viver segundo a lei do Evangelho) que seus adeptos, professem cerca de quarenta dogmas ou artigos de fé, definidos com relativa exatidão e precisão, enquanto o protestantismo 'ortodoxo' exige que seus fieis submetam-se a Bíblia inteira -de capa a capa ou de Gênesis a Apocalipse - a guiza de pura palavra de deus, proibindo que qualquer parcela do livro seja posta em duvida ou contestada. E por ai vão milhares e milhares de dogmas ou artigos de fé, alias um bom número de fábulas, mitos, lendas e narrativas estúpidas contidas no antigo testamento. E o pobre Cristão protestante, com toda sua 'magnífica' liberdade, deve engolir tudinho! Ficando atrelado a um calhamaço inteiro de dogmas!!!

E dizem que há liberdade nisto!!! Dizem!!!

Pavorosa a escravidão da bibliolatria. A qual só encontra páreo no islã com seu Corão.

Que dizer então dos pentecostais? Que vivem a criticar as seitas para católicas ou autoritárias e hierárquicas acima citadas arrotando liberdade???

Ali cada homem, cada individuo, cada chefe, cada líder, cada profeta, se faz Papa e mais do que Papa alegando estar possuído pelo espirito santo e que todos os seus pensamentos correspondem a vontade de deus.

Os profetas pentecostais, alegando contato direito com a divindade, revindicam, da parte dos simples fiéis, submissão absoluta no mais alto grau. Simplesmente mandam, determinam, decretam e controlam a todos tirânica e despoticamente em nome da 'liberdade' (sic)!

E chegamos ao máximo grau de teocracia.

Pois o profeta possuído por deus é deus... Com o qual não se discute, debate ou dialoga. Obediência cega é o que exigem e obtém de pessoas que se 'livres' ou libertas da igreja romana rsrsrsrsrs

Arrotam liberdade enquanto rojam aos pés alheios... Como qualquer hindu diante de seus simulacros.

Líder religioso algum na face da terra, a exceção talvez do Dalai Lama ou do Aga Kan desfruta de tanta autoridade quanto um líder pentecostal. E pasme, em teoria ao menos, esse homem é líder de livre examinadores, os quais tendo acesso deveriam examinar as tais escrituras e tirar as próprias conclusões... A realidade no entanto é totalmente outra e da tal liberdade originou-se o mais rígido dogmatismo.

Agora com base no que?

Na alienação, na ignorância, na idiotice e na estupidez alheias.

Que leva uma pessoa, que revindica para si mesma o direito de examinar a Bíblia, a curvar-se submissa reverente diante da interpretação alheia, ao invés de fazer valer seus direitos??? E de interpretar livremente, sem partir de um credo ou ter de recebe-lo autoritativamente...

Por que e para que ser ensinado ou doutrinado por outro, se tem acesso direto a Bíblia sempre fácil, clara e auto evidente?

Agora se temos de ser ensinados por outros para que insistir doentiamente sobre a leitura da Bíblia ou melhor, por que não ouvir a igreja antiga e receber sua interpretação, a qual remonta aos apóstolos e em ultima analise ao próprio Revelador Jesus Cristo? Se a questão não é de liberdade para examinar e forjar um credo, mas de autoridade por que não escolher a mais antiga???

Convenhamos, se é para receber uma tonelada de dogmas numa talagada só, os católicos que aderem ao protestantismo, limitam-se a trocar uma servidão por outra, alias uma mais leve - com apenas quarenta artigos de fé - por uma enciclopédia com milhares de dogmas monstruosos ou absurdos a começar pelo criacionismo!

Enfim, por todos os ângulos que examinemos a questão do livre exame, sua aplicação se nos parece extremamente problemática e a via do Catolicismo ou da autoridade muito mais realista e compatível, tanto com as condições antigas quanto com as condições atuais das Sociedades humanas, além de remeter-nos com mais diretamente a doutrina da Encarnação de Cristo na História e do fundamento apostólico.

Tais as considerações que nos foram sugeridas durante a proveitosa conversa que tivemos, ontem a tarde, no Instituto, entre refrescos e quitutes, com nosso jovem amigo, como nós um ex protestante, um liberto.

Nenhum comentário: