domingo, 5 de outubro de 2025

Episcopalismo, Ortodoxia, Catolicismos e ciência - Problematizando De Candolle e folheando Poggendorf

Nos três artigos anteriores elencamos, creio eu, quase duas centenas de cientistas, das diversas áreas do saber, todos romanistas ou Católicos Ortodoxos com o objetivo de demonstrar cabalmente que o padrão apostólico não se opõem a produção científica.

Pois entre os protestantes fanáticos (Calvinistas e batistas inclusive.) corre a lenda de que a igreja romana ou mesmo nossas igrejas apostólicas e Ortodoxas, são incompatíveis com a produção científica. Quando, ao menos aqui no Brasil, são exatamente eles ou sua seitas, que em nome da bibliolatria repudiam a Evolução biológica dos seres vivos, a esfericidade da terra, o heliocentrismo, a causa natural das doenças, etc aspirando reformar a Física, a Astronomia, a Biologia, a Geografia, a Medicina, a História, a Sociologia, a Psicologia, etc

De nossa parte não aspiramos demonstrar que a Ortodoxia ou que os Catolicismos sequer sejam mais favoráveis a produção científica que o protestantismo como um todo - Embora o sejam, indubitavelmente, face a certos grupos protestantes, notadamente mais 'ortodoxos' ou fundamentalistas, ou ainda calvinistas e pós calvinistas (Batistas) - uma vez que não acreditamos no paradigma da monocausalidade, e julgamos que a produção científica seja ativada não apenas por qualquer fé religiosa, mas, por um conjunto de fatores, assim também pela materialidade, pela cultura, pelo talhe psicológico, etc de uma dada sociedade (Podendo uma determinada religião atuar positivamente em conjunto com os demais fatores.)

De fato, os protestantes mais civilizados ou evoluídos, como Alphonse P de Candolle ou De Candolle o 'menor' (1806 a 1893) na "História da ciência e dos sábios nos últimos dois séculos" 1873, num determinado momento, tiveram de reformular a capiciosa tese de seus ancestrais e limitar suas pretensões. Efetivamente, na obra citada A P d C, após fazer um levantamento sobre as crenças de um determinado número de sábios 
(Limitado aos sábios 'matriculados' das duas grandes academias científicas - De Londres e de Paris.) constatou que proporcionalmente, face a fé exercida pela população, o protestantismo levava vantagem, e concluiu que o protestantismo seria, ao menos, mais favorável ao desenvolvimento científico que a fé apostólica romana.

Perceba que o autor não pretendeu afirmar que o papismo ou que nossas igrejas apostólicas, assim a fé Ortodoxa, seja adversária do padrão científico. O quanto sugere o pesquisador é que o protestantismo seja tanto mais favorável a ele. Isto repito, porque, proporcionalmente, o grupo não protestante, contaria com um número maior de sábios. E para cortarmos caminho, após declarar que diversos sábios eram filhos de pastores (E lá chegaremos), De Candolle junior, credita o 'sucesso' protestante no campo das ciências ao livre exame ou ao fato do protestantismo ser menos autoritário (kkkkkk Perdoem-me kkkkkk).

Tão menos autoritário que Lutero - Já que De Candolle citou Descartes, vamos citar o profeta alemão. - assim se referiu a Copérnico: 

"Houve menção a um certo novo astrólogo que queria provar que a Terra se move, e não o céu, o sol, e a lua. Isso se daria como se alguém estivesse andando em uma carroça ou em um navio e imaginasse que ele estava parado, enquanto a terra e as árvores estivessem se movendo. [Lutero observou:] “Então é assim que funciona: qualquer um que quiser ser inteligente não pode concordar com nada o que os outros estimam. Ele precisa fazer algo por conta própria. Isto é o que esse sujeito faz, desejando virar toda a astronomia de cabeça para baixo. Mesmo diante dessas coisas que são colocadas em desordem, eu acredito nas Sagradas Escrituras, uma vez que Josué ordenou que o sol parasse, e não a Terra [Josué 10:12].” Table Talks"

Já o churrasqueiro genebrino refere-se aos heliocentristas como desvairados, loucos e possessos do diabo em seu Sermão sobre a primeira carta do abençoado apóstolo Paulo aos Coríntios. E se o dr Sproul não conhece qualquer defensor do geocentrismo no tempo presente, que venha ao Brasil e visite nossas seitas judaizantes... Vanhacouto de milhares de terraplanistas, geocentristas, criacioburristas, anti vacis e compradores de pseudo milagres...

Observe portanto o leitor benevolente que entre a autoridade excessiva de um ser humano ou de um livro não há diferença alguma. Pois o que importa de fato é o grau da autoridade atribuída... Logo, a crença na inspiração plenária e linear da bíblia pode ser, e é, mais prejudicial do que a fé em alguns concílios gerais ou em algumas bulas do papa romano...

Vamos porém a De Candolle... 

Validada a conclusão do ilustre Botânico Suíço, sobre a desproporção entre o número dos cientistas romanos e protestantes, comparado com o grosso da população, deveríamos concluir que no tempo presente é a irreligiosidade muito mais favorável a produção científica... Ou mesmo que o Cristianismo, de modo geral, é um padrão anti científico...

Todavia, as aparências sempre podem ser enganosas. Assim a suposta contradição insolúvel entre fé ou Cristianismo e ciência. O que de fato temos é uma contradição insolúvel entre a bíblia ou o antigo testamento (E por consequência entre o protestantismo e a ciência.) desde os tempos de Simeon Seth ou desde os tempos de Copérnico e Galileu. A qual agravou-se ainda mais, com Lamarck, Darwin e wallace, no século XIX... Ou julga o Dr Sproul que caso Seth, Copérnico ou Darwin, acreditassem na inspiração plenária chegariam as mesmas conclusões...

Contradição alguma entre a totalidade das religiões ou da religiosidade humana (Desprovida de fetichismo) e a ciência. Contradição alguma entre os ensinos de Jesus de Nazaré e a Ciência - Uma vez que Jesus jamais envolveu-se com a imanência ou invadiu os domínios da ciência (Jesus nos veio comunicar o conhecimento sobre o mundo invisível ou REVELAR.) - contradição alguma entre o Evangelho e a ciência. Contradição alguma entre o Catolicismo, a Ortodoxia ou a Fé Apostólica (Voltada para as coisas divinas e celestiais) e a ciência.

Desonesto alegar que Galileu foi torturado ou morto, quando diversos clérigos papistas haviam aderido a tese de Copérnico antes dele. Desleal mencionar o nome de Mivart, o qual foi excomungado pelo cardeal Vaughan por ter questionado o dogma maléfico das penas eternas, não por ser evolucionista. Tendencioso omitir que o Bispo de Sura, acompanhado por diversos membros da Igreja papa, abraçou, quase que imediato a teoria da Evolução das espécies.

É portanto este falso dilema, um problema do protestantismo (E dos cristãos apostólicos judaizados, fetichistas e protestantizados.) e não da fé Cristã. Nem mesmo problema de judaísmo é, uma vez que os judeus há muito abriram mão de seus próprios mitos! É problema de bibliolatria... E por isso esse choque tremendo não apenas apartou definitivamente os protestantes 'ortodoxos' (Bem como seus aliados ou amigos infiltrados em nossas Igrejas) da produção científica como converteu-os em apóstolos do negacionismo.

O negócio da Ortodoxia é com a Trindade, com a Encarnação, com a divina Graça, com o Batismo, com a Eucaristia, etc e não com este mundo, não com a astronomia, com a biologia, com a psicologia, etc

Outro o caso do biblismo ou do Sola Scriptura, o qual necessariamente conduziu parte das populações protestantes ao letramento. Foi no entanto este letramento um impulso direto para a ciência... 

Ouvi de um erudito que muito provavelmente o ceticismo protestante direcionado contra a igreja antiga e os mistérios de Jesus Cristo, voltou-se contra a própria bíblia ou melhor, contra a tal inspiração plenária, a qual conscientemente buscaram demonstrar investigando o mundo natural. E na medida em que constatavam a puerilidade dessa crença, tornavam-se aberta ou dissimuladamente incrédulos e transferiam sua dedicação a pesquisa científica. 

É uma suposição bastante plausível que os bíblicos quisessem defender ou por a prova a autoridade do livro e que a partir daí se embrenhassem pelos caminhos da ciência. Como interessando-se pelo livro acabaram interessando-se igualmente pelo manejo da lingua ou pela literatura, campo há muito dominado pelos padres, os quais jamais seriam desalojados. 

De fato, ao preparar os artigos anteriores, nos conformamos com os padrões arbitrários do positivismo. Para cujos defensores a Filosofia e as ciências humanas são são conhecimentos legítimos ou dignos de credibilidade. A classificação arbitrária remonta a Kant. Nós no entanto acompanhando Dilthey, consideramos a Filosofia (Assim a estética e a arte literária) como um conhecimento válido e a História, a Sociologia, a Psicologia, etc como parte da produção científica. Produção alias, em que os Ortodoxos e os Romanos foram quiçá mais bem sucedidos que os protestantes. 

Outra a questão dos pastores e seus filhos. Padres ou ao menos Bispos e monges, não produzem filhos, por serem celibatários. Apesar disto o celibato lhes permite ou permitiu assistir os enfermos, os órfãos, os idosos, os miseráveis, etc prestando um trabalho social relevante. Naturalmente se tivessem filhos, teriam estes sido educados com esmero. Que os filhos dos pastores letrados tenham recebido uma educação primorosa não é algo com que nos devamos espantar. Quiçá nos devêssemos espantar de que nem todos se tenham obtido a genialidade... E todavia me parece ainda mais espantoso que não se tenham tornado igualmente pastores porém cientistas. Quando os padres casados do Oriente criaram autênticas dinastias sacerdotais...

De fato a ciência e o empenho desses homens veio a beneficiar amplamente a pobre humanidade (Tal o caso de Linneu, aquele a respeito do qual foi escrito "O que nosso bom Deus um dia criou. O nosso Linneu ora classificou!". Mas não a instituição Cristã, cujos pais haviam beneficiado diretamente. Diante disto folgo perguntar: Por que tais homens não se quiseram dedicar ao ministério eclesiástico... E a mim mesmo respondo: Quiçá por se terem fartado do livro, por se terem decepcionado com ele, por terem perdido a fé, etc Quiçá por considerarem o mundo natural ainda mais belo que o mundo invisível da fé... 

O que nos leva a um problema de protestantismo relacionado com a opinião de De Candolle mas de modo algum considerado por ele. 

Com que direito os protestantes reivindicam honestamente o grande Newton... O qual, sabido é, escreveu contra o Deão Sherlock, a propósito da divindade de Cristo, assumindo a perspectiva unitária - Acaso os protestantes consideram o unitarismo como protestante... Não. E todos os dias negam-no diante dos romanos e dos Ortodoxos... E no entanto Voltaire e outros franceses costumavam afirmar que a Inglaterra estava já toda incrédula desde os setecentos, alias, época de Hume... E que seus sábios quando iam as igrejas iam apenas por costume ou distração. 

Tanto na Alemanha de Reymarus quanto na Inglaterra de Chillingworth a incredulidade se converteu em problema de protestantismo desde o século XVIII.

Quantos protestantes, desde então, sequer acreditavam na Trindade ou na Encarnação, quanto mais nos mitos do antigo testamento... ou na bíblia. 

O que nos leva a outro problema, de resolução ainda mais difícil - Ao menos quanto a Inglaterra, que é o do anglicanismo e seus distintos departamentos. 

Pois se com o passar do tempo foi de fato, a igreja de Inglaterra, protestantizando-se mais e mais - A ponto dos protestantes de hoje (Os quais contemplam o passado com as lentes do presente) ousarem apresentar o passado desta comunhão como totalmente protestante ou reformado - nós, pesquisadores e estudiosos, sabemos que nem sempre foi assim. 

Posto que a cabo de séculos oscilou entre uma estrita lealdade a tradição ou a identidade e a inovação. 

Que desde seus mais remotos primórdios contou ela com um poderoso partido episcopal, animado por uma fé bastante próxima da fé Ortodoxa ou do papismo (Muitas vezes, inclusive, opondo-se apenas a monarquia papal ou a sua política). Que esse episcopalismo consciente e militante, firmado por Elizabeth e liderado por William Laud, contou com sete teólogos padrão do mais alto nível. Que edificou soberbas catedrais, como a de St Paul. Que estabeleceu uma uniformidade litúrgica odiosa aos olhos dos sectários protestantes. Que produziu um H Hody e um Colenso. Que mereceu a simpatia e o apoio de diversos Bispos Ortodoxos Gregos como Erasmo de Esparta. Que deu origem ao movimento de Oxford...

E que foi avaliado como 'papista', herético, idólatra e anti Cristão pelos fanáticos bíblicos. Isto a ponto de O Cromwell transformar a Catedral de S Patrício, da Irlanda, num estrebaria...

Ouso dizer portanto, que a maior parte dessa Igreja jamais foi protestante... Como o setor anglo Católico ainda hoje não o é, militando no anglicanismo por questões de ordem política ou cultural.

Portanto classificar os anglicanos ou ingleses, em bloco, como protestantes, mesmo como luteranos - Senão como presbiterianos ou batistas, chega a ser pérfido.

Entre Hooke e Boyle, anglicanos leais e um não conformista qualquer uma larga distância.

Diante disto, alegar ou sugerir que a totalidade ou a quase totalidade dos cientistas anglicanos, dos séculos XVII e XVIII eram protestantes é no mínimo problemático. 

Que, Maxwell ou Faraday tenham sido protestantes é fato - Que Newton, Hooke ou Boyle o tenham sido é mais que duvidoso... Haviam unitários e haviam episcopais, anglo católicos... etc De modo algum uma uniformidade protestante.

Parte daqueles anglicanos certamente se sentiria muito mais próxima da Ortodoxia ou do papismo do que dos sectários não conformistas de seu tempo.

Já quanto aos sócios correspondentes de cada país, teríamos de considerar ainda o cálculo político - Uma vez que a partir dos séculos XVIII e XIX a posse de uma cadeira qualquer em tais sodalícios como que substituiu os títulos de nobreza. Por outro lado os franceses, a partir do século XVIII, assumiram - Ao contrário dos ingleses e alemães. - uma incredulidade sem aparências...

Outra questão relevante é a dos monges ou religiosos, os quais por voto (A exceção dos jesuítas.) de obediência ou por imposição do que acreditavam ser humildade, não podiam ingressar em tais instituições, mesmo quando convidados. 

O próprio período em questão, meados do século XVII, há cerca de 1850 tampouco deixa de ser arbitrário, pois desconsidera o período que vai de 1520 a 1660 i é quase século e meio em que a contribuição científica da igreja romana foi provavelmente maior. Tampouco considerou De Candolle as associações austríacas, italianas, espanholas, portuguesas ou húngaras.

O que torna sua pesquisa demasiado limitada e controversa, senão ideológica e eu a avaliaria como um recorte.

Outro o caso de um Poggendorf. Cuja pesquisa, muito mais abrangente, tanto nos domínios do tempo quanto do espaço - E sem limitações institucionais, afetou que dez por cento dos cientistas e pesquisadores eram clérigos papistas. Dez por cento sem contar os clérigos ortodoxos ou anglo católicos! Nada mal.

Não pude, a partir do 'Biographisch literarisches hansworterbuch zur geschichte der exacten wissenschaften' de Poggendorff - contabilizar o número dos cientistas e sábios romanos, ortodoxos ou anglo católicos, julgo porém que é bastante significativo...

Por fim, advirto que, caso os protestantes desejem reivindicar Newton, estejam dispostos a admitir que o neo arianismo ou unitarismo é de fato fruto de sua 'reforma' e muito teríamos a discutir.





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