Um aspecto aparentemente irrelevante para a ampliação do conhecimento é a ampliação de direitos e oportunidades.
Como foi salientado por Poincaré, em seus estudos sobre Ética, é a ciência (E assim a Filosofia) uma construção cumulativa e coletiva, não um trabalho individual. Impossível tornar atrás com o objetivo de tudo comprovar novamente...
Geralmente cada peça de um aparelho representa o trabalho de um cientista.
Por sinal, aqueles que desejam criar algo novo, começam quase sempre elencando o quanto já foi criado em sua área e buscando saber como tais criações foram produzidas.
Conectar pessoas é como estabelecer sinapses entre neurônios e transformar a humanidade num cérebro.
Isto no entanto depende dos meios, dos meios de comunicação - Cujo papel é favorecer a troca de ideias, a associação e a síntese.
Todavia seria inútil por as pessoas em contato caso não fossemos capazes de garantir a liberdade e os direitos de cada uma.
Pois o exercício da liberdade e a fruição dos direitos é que conferem a cada um de nós as condições ideais para bem pensar. É demanda imposta pela gratidão aspirar engrandecer um sociedade ou grupo social que garante nossos direitos essenciais - Assim a Sociedade democrática.
Ao atribuir a todos, sem distinção, a fruição da liberdade e a todos encarar como objetos de determinados direitos a Sociedade democrática cria condições para que cada qual possa dar o máximo de si tanto na atividade da pesquisa, quanto na capacidade reflexiva ou na produção artística.
Cria ela enfim as condições necessárias para que todos se respeitem, convivam, entrem em contato, dialoguem, troquem ideias, pesquisem e reflitam juntos - Criando como que uma teia ou um tecido do saber.
Ao integrar a mulher, o homossexual, o deficiente, o idoso, o trabalhador humilde, a criança, etc a sociedade dos direitos possibilita que o conhecimento circule mais rapidamente. Criando pontes entre indivíduos 'diferentes' na igualdade da pessoa, a sociedade democrática estimula a associação entre as unidades do saber e a produção de novos implementos.
Quanto maior a integração em termos de unidades do saber tanto maior a chance de produzirmos coisas novas e de avançarmos no entendimento geral.
Outro o caso das sociedades elitistas fechadas, que separam e reprimem os indivíduos. Na medida em que discriminam e oprimem. Pois quebrar pontes é impedir a troca de ideias, obstruir o diálogo e dificultar a expansão do saber, fruto - Como já dissemos, de um trabalho comum ou colaborativo.
Nem por isso me acuse, o leitor de boa vontade, de incoerência ou de pós modernismo. Não nego e jamais poderia negar a existência da Verdade e da Verdade ética objetiva - Súdito de Cristo, porém da mesma forma súdito de Sócrates. Afirmo a existência do bom, do belo e do verdadeiro.
O quanto devo questionar é a posse de uma verdade imutável, por parte dos que se dizem cristãos, no campo da moralidade.
Mormente quando por questão de cultura foi o Cristianismo colonizado pela moralidade ou por um moralismo judaico nada divino, nada revelado, nada sagrado e nada Cristão (Do qual não há mínimo vestígio no EVANGELHO) em termos de especismo, machismo, homofobia, escravismo, etc
Se contra os protestantes afirmo a infalibilidade, inerrância e incorruptibilidade da Igreja Ortodoxa, Apostólica e Católica quanto a metafísica, os mistérios de Cristo, os dogmas, os artigos de fé ou a manutenção da Revelação divina, recuso-me terminantemente a afirmar um infalibilidade mecânico\formal da igreja no plano das moralidades ou da Ética, embora reconheça uma ação genérica da providência em parte da igreja ou das consciências que dela fazem parte.
E compreendo essa ação - No campo da Teologia para tanto mais depurar e esclarecer. - nos campos da moralidade e da Ética como uma distinção cada vez mais radical entre o conteúdo cultural ou natural das moralidades judaicas e o conteúdo sagrado, divino e transcendente do Evangelho ou das palavras e lições de Nosso Senhor Jesus Cristo. Do judaísmo detemos apenas o quanto nosso Instrutor divino apontou e avaliou como Sagrado: O Decálogo, e nada mais. E negamos a sacralidade ou a sobrenaturalidade da moral hebraica.
Portanto não acreditamos que esse conteúdo semita - Que cria uma ponte com o islamismo. - (Machismo, homofobia, escravismo, estatismo, etc) tão caro ao apóstolo Paulo (Fariseu, filho de fariseu e aluno de Gamaliel.) pertença de fato ao Cristianismo ou seja Cristão.
Para além disso encaramos como um marco, quanto a afirmação de direitos civis inerentes a pessoa humana, a atuação do religioso espanhol Francisco no correr do século XVI, enquanto decorrência dos grandes descobrimentos.
E quero estender-me quanto a isso.
Partindo do fato segundo o qual o que chamamos de velho mundo ou mundo bíblico constava apenas de algumas partes da Ásia, da África (Então chamada Líbia ou Mizrain) e Europa. Nós mesmos, noutro artigo, já estabelecemos que os antigos israelitas nada sabiam, em absoluto sobre os chineses e indianos, para não falarmos nos povos americanos. Por sinal politeístas e pagãos em sua quase totalidade. E mesmo assim em posse de uma diversidade religiosa bastante significativa.
Para não falarmos nos povos americanos...
Ora a relação entre os povos conhecidos já havia sido marcada - Não pelo Cristianismo, porém a partir da cultura judaica. Agostinho, a partir dela, afirmou que os africanos ou pretos seriam descendentes de Caim ou de Cã, etc portanto amaldiçoados e destinados a dominação ou ao escravismo. Argumento fartamente explorado pelos batistas norte americanos, defensores da escravidão africana, ao cabo do século XIX... Quanto aos pagãos da antiga Europa houve um maior tato, prudência e composição...
Por outro lado o islã estabeleceu a relação em termos bastante simples - Os quais fazem lembrar o padrão israelita com relação aos antigos cananeus (Reproduzido do mesmo modo pelos calvinistas ou 'novos israelitas' nos EUA) - aos povos do livro > Judeus e Cristãos, a Djzya; aos politeístas e pagãos a conversão ou o extermínio.
A descoberta ou se quiserem integração cultural da América ao 'velho' mundo planteia tal situação para os Cristãos romanos do século XVI e é fecunda quanto a consolidação dos direitos que hora chamamos inerentes e universais (Os direitos essenciais a pessoa humana). É necessário traçar esse esboço histórico apenas para demonstrar que a atribuição de direitos universais e incondicionais não é, de modo algum, obra do pós modernismo, porém do Cristianismo apostólico, da tradição Cristã, da reflexão teológica, etc
Pois é, como disse, fenômeno que remonta ao contato dos cristãos ocidentais europeus com os povos pagãos ou não Cristãos das diversas sociedades americanas. Mais - Tal reflexão não foi conduzida por incrédulos, materialistas ou ateus porém por clérigos ou religiosos, particularmente pelos Dominicanos, herdeiros do pensamento tomista e, tanto mais remotamente, de nossa herança grega, clássica ou aristotélica.
Problematizemos: Ao tempo em que a América fora descoberta ou integrada ao universo das relações globais, havia a Europa feito um percurso posterior a Aquino e a escolástica, chegando a Renascentismo, e portanto a uma valorização ainda maior da figura e das lições de Aristóteles por um determinados grupos intelectuais, particularmente paduanos e veronenses. Diante deste recrudescimento do aristotelismo podemos dizer que a postura de Aquino foi tanto mais crítica e temperada pelo Evangelho - Quando havia atrito entre os ensinamentos Éticos de Jesus e os do Filósofo, Aquino optava sempre por seguir o Evangelho.
Diante disto, certo número de Cristãos espanhóis - Como Juan Ginés de Sepúlveda e Fernandez de Oviedo - firmados em Aristóteles e no antigo testamento, alegaram que os indígenas americanos deveriam ser tratados no máximo como os infiéis maometanos, que eram bárbaros, inferiores ou sub humanos, que não podiam ser objetos de direitos, etc Se lhes opôs a Escola de Salamanca sob o comando de Francisco de Vitória. Era representando ele, neste nosso Novo mundo, pelo profícuo e operoso Bartolomeu de Las Casas, pelo Bispo Vasco de Quiroga, etc Da colaboração destes e doutros grandes homens Cristãos: Soto, Bañes, Cano, etc aflorou o Colóquio de Valladolid (1551), ocasião em que, pela primeira vez na História humana foram considerados os direitos inerentes a pessoa humana, posteriormente estendidos a todos os seres humanos.
Aquele foi o ponto de partida. Pois a lógica é a mesma seja aplicada a mulheres, crianças, idosos, deficientes, gays, membros de outras etnias, etc Pois argumentava Las Casas que eram os indígenas livres na ordem da natureza i é independentemente de suas crenças, exceto quando estas produzissem agressões ou violência. E o que está por trás disto é a tradição autenticamente Cristã, apostólica, católica e ortodoxa segundo a qual a fruição dos direitos naturais por parte dos seres humanos independem de suas crenças religiosas ou de qualquer status espiritual.
É proposição tradicional (Implícita nos padres da Igreja e no Evangelho.) e ao mesmo tempo revolucionária - Pois se a fruição de direitos essenciais e naturais por parte dos humanos neste mundo independe da fé ou do estado da pessoa, independe da mesma maneira e com maior razão ainda de quaisquer outras condições externas, tais como: Origem, situação econômica, gênero, opção sexual, idade, saúde, etc Conclusão: A ação externa da pessoa ou sua avaliação moral não deve ser considerada quanto a atribuição de direitos e, alias, mesmo os criminosos não cessam de ser objetos de direitos essenciais, inda quando imobilizados e privados do direito de ir e vir.
Independentemente de quaisquer atitudes, ser humano algum jamais cessa de ser objeto de direitos inerentes pelo simples fato de ser humano i é um ser racional e livre.
Portanto mesmo que você, a luz de sua fé, encare os gays ou as feministas, os pagãos ou os dissidentes, os ateus ou blasfemos como condenados ao fogo eterno ou simplesmente como sujeitos a penalidades espirituais, eles continuam sendo sujeitos ou objetos de direitos essenciais - E portanto (Enquanto pessoas!)) credores de respeito e tolerância, em qualquer sociedade deste mundo.
Nem se pode questionar seriamente a distinção estabelecida do ponto de vista da fé ou da crença. Pois caso confundíssemos a esfera natural e imanente da política com o mundo sobrenatural e invisível seríamos levados a questionar o exercício do poder por parte de qualquer pecador. Nada mais pueril do que vincular a fruição do poder político ao estado de graça, uma vez que é, o estado de graça, conhecido apenas de Cristo, inacessível ao conhecimento humano, inverificável, etc Do que resultariam apenas especulações sacrílegas, discussões inúteis, tumultos e revoluções no campo da política.
Conheça também os demais artigos da série 'Culturas de morte':
- Americanismo
- Positivismo
- Anarquismo
- Protestantismo
- Conservadorismo
- Capitalismo
- Comunismo
- Fascismo
- Pós Modernismo
- Sionismo
- etc
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