Vivemos em tempos de impérios em conflito. Pois embora tenhamos diversos blocos políticos: Índia, China, Rússia, 'Europa', 'América latina'... apenas dois exercem um proselitismo cultural em larga escala, buscando, obviamente, criar um padrão universal.
Assim o americanismo, com o protestantismo; assim os islamismo. Um despejando-se pela América latina e, consequentemente, pelo Brasil, com suas seitas, bíblias e pastores. Outro despejando-se pela Europa e África. Com grande risco para as demais culturas, tradições e identidades.
Surpreendentemente - Por via do antigo testamento, Mikra ou Tanak - apesar da oposição credal, existe uma certa afinidade de espírito em termos de protestantismo e islamismo. E é algo mais profundo que o iconoclasmo, por tocar o anti cientificismo e o totalitarismo... Percebeu-o o grande humanista francês Gilherme Postel e compôs uma obra pioneira a respeito.
Assim se o islã predica uma transcendência absoluta e anti encarnacionista, o protestantismo judaizante - Devido a sua ênfase no antigo testamento. - (Em oposição a Fé Ortodoxa) recusa-se a levar o Encarnacionismo as últimas consequências: Daí sua objeção as imagens ou representações, a 'Mãe de Deus', a presença real do Senhor no Sacramento, ao Domingo, a comunhão dos Santos, etc
De fato a proximidade existente entre as Igrejas apostólicas e a Imanência - Uma decorrência necessária da Encarnação de Deus! - choca de tal maneira os protestantes a ponto de assumirem o discurso muçulmano segundo o qual, foi o Cristianismo antigo ou Histórico, poluído e esmagado pelo paganismo! Importante salientar que muito antes de Calvino ou Blaurock se manifestarem neste mundo, os rabinos e ulemás já apresentavam a igreja de Cristo como quintal do politeísmo e da idolatria.
O próprio Jesus, quando mencionado nos registros do povo é classificado como sedutor, feiticeiro, politeísta e idólatra. Ele disse: Se eles falaram mau de mim, que sou o Senhor, como não haverão de falar mau de vós que sois os servidores... Já os infiéis das Arábias inculpam ora Paulo, ora João, ora Orígenes, ora Tertuliano, ora Atanásio, pelas 'blasfemias' politeístas da Cristandade apostólica. (Os protestantes só tem coragem de ir a Clemente de Roma, Inácio, Pápias ou Policarpo - Ouvintes dos apóstolos!).
Mas estão de pleno acordo quanto ao juízo lançado contra a Igreja Histórica. E como o protestantismo é recente e muito mais jovem que o judaísmo ou o islã, podemos dizer que judaiza e islamiza. Novidade alguma - Pois já no séculos VIII e IX parte dos nossos, pretendeu aproximar-se do islã, embarcando na canoa furada do iconoclasmo. O mesmo se observa no papismo, o qual buscando reconquistar os protestantes foi mergulhando mais e mais no lodo agostiniano, até - Com o Vaticano II - mergulhar no protestantismo, e (Pasme!) no pentecostalismo fetichista (Com a tal RCC)...
No entanto foram os iconoclastas, os papistas e os neo papistas que se perverteram, guiados por mestres tão cegos quanto os agarenos e os protestantes... Tal a ilusão das aproximações.
O protestantismo, aproximando-se do judaísmo e do islamismo (Por via do antigo testamento) foi perdendo mais e mais seu caráter 'Cristão' e encarnacionista, até nada mais ver ou poder ver no Cristianismo Histórico que o odiado paganismo, o qual anseia destruir até os fundamentos.
E não pode haver mínima dúvida quanto a tais desígnios, digo quanto a proposta tanto do islamismo quanto dos protestantismos pós calvinistas. Os quais encaram o paganismo antigo ou ante Cristão como absolutamente maligno ou diabólico, porfiando destruir seus últimos vestígios, assumidos pela Cristandade apostólica, assim as artes a que chamamos de sacra e a tudo quanto se destaca pela simples beleza.
Outro o programa da igreja, outra sua atitude, outra sua obra...
Todavia, tornando ao islamismo, o que ele pretende destruir são os fundamentos mais remotos de nossa civilização Greco romana, pelos quais respira ódio mortal. O judaísmo é tanto mais civilizado, embora conte também ele com certo número de fanáticos.
Sobre o protestantismo pós calvinista, todos nós o conhecemos muito bem.
Tal o significado nu e cru da destruição das ruínas de Palmira e Nínive pelos fanáticos do ISIS. Caso você compreenda que cada um daqueles 'Aladlammús' esmigalhados representa as raízes de nossa cultura e as fontes da nossa identidade, terá compreendido tudo e qual seja o objetivo final do islamismo.
Não nos deixemos ludibriar ou enganar: O Museu do Cairo ali está apenas enquanto significativa fonte de riquezas ou enquanto algo 'vigiado' pelas grandes potências do mundo civilizado. Eis porque, apesar dos esforços empreendidos pelos egípcios esclarecidos e de boa vontade, ele escapou por um tris da destruição... Outro o caso do Museu de Cartum, no Sudão - Onde os tesouros das Cândaces fora pilhados e quiçá derretidos pelos fanáticos...
Pois para a imensa maioria dos xeques e dos muçulmanos devotos, os tesouros contidos em nossos Museus nada mais são do que imundice pagã cujo fim é a destruição... Imaginar algo diverso é pura ingenuidade de quem ignora o verdadeiro caráter do islã.
Aqueles que no passado destruíram as bibliotecas de Cesareia marítima e de Skandaryia bem poderão, uma vez no poder, acabar com os Museus de Londres, Paris (Louvre), Berlim, Prado e Vaticano, assim como as principais Bibliotecas do velho mundo, destruindo por completo o quanto nos resta de um Ésquilo ou de um Aristóteles... E não podemos assistir de braços cruzados uma catástrofe semelhante.
Pôde a Europa nos séculos passados exumar e resgatar as fontes na nossa cultura. Pois nas pessoas de um Champollion, um Lepsius, um Montet, um Layard, um Gsell... pode passar a Ásia e reconstituir nosso vetusto passado. Agora ameaçada a Europa como haveremos nós de transpor o mar oceano para salvar as relíquias da nossa cultura...
Caso permaneçamos de braços cruzados, em poucas décadas, assistiremos a destruição da nossa cultura, das nossas raízes, de nossas tradições e de nossa identidade. Caso permaneçamos indiferentes a Europa se converterá em quintal do islã...
Tolos aqueles que esperam proteção e defesa por parte dos EUA. Pois os Yankees são, ao menos em parte, descendentes daqueles mesmos puritanos que deixaram a Inglaterra por não terem podido destruir as torres, cruzes e sinos das catedrais. Para o yankee é a Europa, inclusive a Inglaterra, um território indômito e contaminados pelas relíquias da Ortodoxia ou do Papado: Catedrais, calvários, torres, sinos, etc E tanto se lhe dá que o maometano de cabo do poder o Papa romano... ou dos Bispos...
O próprio papado encarou as coisas desse jeito, no século XV, com relação a Ortodoxia. A atual visão dos EUA outra não é em nossos dias com relação ao papado... Pois existe certa unidade de mente, como assinalamos entre o protestantismo e o islamismo. Destarte o que não pôde o protestantismo fazer ou completar na Europa, é esperado que seja feito pelo islã, quero dizer a destruição do símbolo.
Digo mais - A introdução do islã nos territórios Ortodoxos e romanistas é uma plataforma comum aos EUA, ao sionismo, aos comunas e aos anarcos e quiçá a única plataforma comum que teem eles, por ódio a Cristandade histórica... Os protestantes ressentem por não terem eliminado a igreja romana do mapa ou convertido os Ortodoxos, os sionistas esperam algum alívio caso os jihadistas avancem na direção da Europa, os comunas e anarcos esperam apoio político por parte dos muçulmanos - A ONU e a maçonaria executam e os governantes safados se deixam comprar...
Quem perde é o povo europeu, sejam romanistas, Ortodoxos ou liberais honestos, envolvidos pelos apóstolos da sharia. Quem perde são os cidadãos livres. Quem perde são aqueles que estão em posse de algum direito outorgado por lei. Assim as mulheres, os homossexuais, as minorias religiosas... E os amigos das artes, da ciência e da democracia; da civilização enfim ou do que lhe resta.
Portanto precisamos defender a América latina, quanto ao imperialismo protestante e a Europa, quanto ao imperialismo árabe, enfim quanto a ambas teocracias ou totalitarismos. Ambos fantasmas ou abutres, que ameaçam a civilização, precisam ser ousadamente combatidos.
No entanto antes de entrar nesse assunto - Da resistência ao protestantismo e ao islã, devo aborda de passagem as relações entre o Cristianismo nascente ou a Igreja primitiva e o paganismo ou nossa ancestralidade. Ressaltando que, apesar do 'fantasma' do judaísmo ou da cultura semita, não foi ela totalmente negativa\negacionista, mas em parte assimilacionista.
Já porque a ideia de um Deus encarnado - Fundamento e centro da fé Cristã. - sendo procedente dos céus, não tem afinidade alguma com o judaísmo antigo (Cuja mentalidade estava voltada para a transcendência absoluta ou para uma divindade apartada do mundo material.) e sim com o paganismo. Portanto se algum protestante ou judaizante tem algo contra o paganismo que se faça ariano, unitário ou muçulmano uma vez que a ideia de que deuses se façam mortais ou gerem filhos humanos é pagã e de modo algum semita.
Não é a doutrina da mãe de Deus que é pagã como afirmam os protestantes mais ingênuos - Pagã é a ideia de que Deus se faça ser humano, repito. E no entanto tal é o fundamento pétreo de nossa fé uma vez que, segundo o Evangelho escrito, o fundador do Cristianismo reivindicou para si a natureza divina (Disse que julgaria os mortais no último dia, que perdoava pecados, que não tinha pecado, etc), merecendo por isso ser classificado como pagão e idólatra pelos judeus...
Eis porque não foi o Cristianismo antigo absolutamente iconoclástico ou negativo quanto ao paganismo antigo. Radical e intransigente face ao politeísmo e suas representações - Enquanto foram elas objeto de adoração. - não anatematizou a arte ou seja a pintura, a escultura, a arquitetura, a poesia, a música e o canto, apropriando-se de cada uma dessas expressões com o objetivo de abrilhantar a adoração verdadeiro. De modo que a adoração ao Deus encarnado Jesus Cristo foi provida de uma expressão estética ausente tanto no judaísmo e no islamismo, e assim nas seitas protestantes filhas da reforma.
É algo que se justifica facilmente nos padrões opostos a Encarnação. Outro o caso da religião em que a divindade tornou-se visível, audível e palpável no complemento de sua natureza humana. Ao encarnar-se o Deus Cristão entra no acesso dos sentidos e se torna perceptível. E como todos os aspectos de nossa condição foram os sentidos santificados pelo mistério da Encarnação, e assim a percepção humana.
Adoramos em espírito decerto ou guiados pela razão, pela mente, pela consciência, mas adoramos no corpo santificado pela Encarnação e pelo Batismo, e adoramos pelo corpo ou através dele, não fora dele ou como espíritos puros. É o espírito princípio e fonte do culto verdadeiro que prestamos no corpo. Por isso expressamos esse ato interno do espírito por meio de um aparato simbólico externo.
Adoramos em espírito e verdade e o fundamento de toda verdade é a Encarnação que santifica nossos corpos e que nos autoriza a empregar uma linguagem simbólica e gestual. Quanto a isto estamos de acordo com os odiados pagãos e não com os judeus ou com os muçulmanos, pois ao contrário deles adoramos um Deus encarnado e não um ente descarnado ou puramente espiritual.
É Deus Espírito e por isso o princípio da adoração é interno, derivado do sentimento, do afeto, do amor... E no entanto esse mesmo Deus que é Espírito puro, ao assumir e santificar um corpo material, sanciona o emprego do corpo na adoração.
Daí a presença de arte no padrão apostólico, no catolicismo, na Ortodoxia. É nosso Deus Bom, verdadeiro e belo. Deve, nossa adoração, ser boa (Impedindo aqueles que estão fixos no mal ou no pecado de exerce-la.), verdadeira (Pela afirmação dos Mistérios da fé.) e bela, em seu aparato material e simbólico: Ícones, círios, incenso, gestos, ordenação de palavras, poesia, canto, etc
Eis porque, nossos excelentes ancestrais, conduzidos pelos apóstolos, tomaram aos pagãos, seus ancestrais, todos esses ofícios e capacidades e colocaram-nos ao serviço do Deus verdadeiro, de sua parentela, de seus apóstolos, de seus membros... Do que resultou um Calendário eclesiástico ordenado, uma liturgia simbólica e soberbas catedrais com cúpulas e torres encimadas por cruzes e adornadas com sinos. E esses ofícios solenes, executados através dos séculos em cada catedral constituem um hino de glória ao mistério da Encarnação.
Por isso, na medida em que as estátuas e pinturas dos deuses foram cessando de ser cultuadas não tivemos problema algum em conserva-las, de reconhecer o belo que há nelas e de mante-las, não como algo religioso ou sagrado, porém enquanto obras de arte. Ao contrário dos muçulmanos os cristãos não precisam destruir os vestígios dos deuses antigos pelo simples fato de não serem mais adorados.
E o resultado disto é que não apenas podemos como devemos conservar esse legado artístico nos espaços a que chamamos Museus com o objetivo de apreciar sua beleza. Pois ainda que tais obras não tenham sido postas a serviço da verdade, ao menos neste mundo sublunar, são aptas para exprimir o belo e exprimindo o belo beneficiar nossas almas. Pois nos alimentamos tanto do belo e da verdade quanto do bem, os quais só se encontram unidos na pessoa de Jesus Cristo.
Enfim essa noção de Bondade, verdade e beleza - Kallocagathia tem uma História, que faz parte de uma dada cultura. É o quanto buscaremos explorar na segunda parte deste ensaio, confrontando com os demais modelos de cultura e sobretudo com a ideologia do relativismo cultural.
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