segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Resposta aos detratores de Weber e a meus adversários

 "God’s laws, according to Calvin, is a rational activity independent of existing religious authority and dogma. Salvation through daily work is organized and rationally justified according to God’s commandments.

If Christian conduct and productivity are evidence of grace, their resulting material

success is, for Calvin, a sign of election into heaven."

Salvation, Damnation, and Economic Incentives

Journal of Contemporary Religion · January 2007 - Rachel Mccleary

Harvard University pg 59


Meira Penna e sua opção preferencial pelos ricos a barra do Evangelho ou Evangelho e riqueza.

Inicio este artigo reproduzindo o que havia já escrito em meu 'Manual de Ética Cristã Ortodoxa': Se com relação a seus mistérios ou os dogmas da fé, foi Jesus enfático e terminante, esgotando necessariamente o assunto e prendendo-nos a literalidade de suas palavras - Sem que possamos fazer inferências ou especulações... quanto a moralidade, forneceu-nos apenas alguns princípios genéricos, sumários e elementares ou seja, alguns fundamentos éticos, a partir dos quais devemos aduzir, por meio de especulações e inferências, as soluções para quaisquer casos futuros. 

Isto porque é a moralidade dinâmica. 

Pelo simples fato de sempre toparmos com novos questionamentos ou problemas causados pelas novas circunstâncias i é pelas mudanças sociais ou pelo avanço geral da técnica. Como Deus Onisciente - Senhor do Tempo e da eternidade. - bem poderia, nosso Jesus, ter escrito ele mesmo uma enciclopédia elencando todos esses problemas que iriam surgir e oferecendo as melhores soluções.

Não foi o que ele fez ou quis fazer - Optando por oferecer alguns princípios bastante sumários as nossas consciências. De modo que através do princípio operatório das razão, possamos sacar as consequência. 

Tais as questões em torno, por exemplo, do fumo, do transplante de órgãos, da fertilização in vitro, do racismo, e de diversos aspectos do capitalismo, tais como: A proteção ao trabalho, o salário, os meios de produção, etc Quanto a estes últimos tópicos, partindo da tradição, do Evangelho e mesmo da Filosofia clássica a igreja romana formulou um corpo de doutrina social face ao qual a Ortodoxia, de modo geral, nada pode objetar mas que, pelo contrário, deve validar.

Seguindo esta linha, buscaremos examinar os principais textos evangélicos alusivos a riqueza e a partir deles confrontar o apologista brasileiro Meira Penna, principal defensor do éthos capitalista em nosso país.

Para tanto devemos examinar em primeiro lugar a questão da Propriedade e seu status face a fé Cristã.

É isto de suma necessidade para que os materialistas ocultos ou não assumidos não aleguem que estamos nós condenando toda posse ou propriedade como legítima, tal qual os anarquistas e comunistas - Pois não é este nosso ponto de vista. 

Com efeito, se a um lado, não podemos subscrever a tese de Proudhon, segundo a qual todo tipo de propriedade corresponde a um roubo, tampouco podemos deifica-la, associando-a a Deus, como fazem os proprietaristas desorientados. Nem divina, quanto a sua totalidade, e tampouco sinônimo de roubo.


Então o que...

Reconhecem os Cristãos a propriedade pessoal (O local em que alguém reside com sua família ou que é usado por uma dada família.) enquanto fruto do trabalho honesto, como algo sagrado, firmado numa Lei natural.

Portanto é, esse tipo de propriedade (Pessoal\laboral). legítima e inalienável. Caindo, todo aquele que dela toma posse por meio da força, sob a condenação inexorável do mandamento divino: Não roubarás e portanto pecando gravemente. Do que temos exemplo já no testamento velho quanto a vinha de Nabot, sancionando esse registro com uma chancela Cristã, posto que contém tal sentido.

Portanto não caí sob a proteção da Lei divina aquele excedente de propriedade que não é habitado ou usado (Como espaço laboral) pelo 'proprierário' e menos ainda o que foi desonesta e pecaminosamente adquirido por quaisquer meios ilícitos. Podendo ela, em todos esses casos, ser expropriada pelo legislador sem maiores preocupações.

Outro o caso dos monopólios ou corporações (Grandes indústrias) que detém meios de produções. Tampouco estes caem sob a proteção da Lei divina, sendo sua expropriação questão alheia a religião ou ao Evangelho, a qual, consequentemente, deve ser avaliada e decidida pelo grupo social em questão tendo em vista o Bem comum. 

Até aqui a propriedade.

Passamos agora a examinar a questão da riqueza ou do acumulo de coisas materiais face ao Evangelho ou as puras palavras de Cristo nosso Deus. 

Todavia convém que antes de iniciar esse exame consideremos que para nós Cristãos, nicenos, atanasianos, Católicos, Apostólicos, Ortodoxos, crentes, submissos e reverentes é Jesus Cristo Deus encarnado e verdadeiro Deus Onisciente, Legislador Todo Poderoso, Mestre infalível, Instrutor perfeito, etc, etc, etc Pelo que, conhecido o teor de suas palavras, não é lícito debater com ele, argumentar, levantar 'razões', etc Nós pura e simplesmente recebemos ou aceitamos os decretos de Jesus Cristo como indiscutíveis e inapeláveis. Por fim nós repudiamos o Livre exame ou a mania de atribuir um sentido arbitrário (Interpretar) como irreverente, e avaliamos essa estratégia ou tática subjetivista como uma fuga do Evangelho.

Então o que...

Examinamos as acepções literais do texto grego e nos conformamos com o sentido, para em seguida sacar as conclusões.

Comecemos então pelo emblemático texto da corda ou camelo (Os fariseus e escribas daquele tempo diziam 'elefante') - o que dá no mesmo pois nem elefante, nem camelo e tampouco corda podem passar pelo fundo de uma agulha. De fato os apóstolos compreenderam perfeitamente a mensagem, e replicaram: Sendo assim, quem se salvará... Posto que na perspectiva da natureza tais palavras implicam impossibilidade irredutível. 

Replica e responde Nosso Senhor e Mestre> É impossível aos homens.

Donde se percebe muito claramente, que ao menos neste texto e contexto, não temos nós a condenação absoluta dos ricos.

Pois do explícito: É impossível aos homens, devemos aduzir: Nada há de impossível para o Santo e Bom Deus e sua divina graça.

E já podemos por a questão noutros termos: Quem é este homem para o qual é impossível salvar-se na riqueza e como pode Deus salvar o homem rico...

Ao que parece a impossibilidade se refere ao homem natural alheio as exortações do Evangelho. Ao que tudo indica o rico não se pode salvar fora da fé no Cristo do Evangelho ou da Revelação divina. Tal o poder devastador da riqueza.

Porém no contexto Cristão, isto é abraçando sinceramente a fé, pode o rico obter e conservar a salvação. Neste caso será salvo dá riqueza ou na riqueza... 

Ouso dizer, que aparentemente autorizou Nosso Senhor que aquele que herdou dos ricos i é que recebeu herança de pais judeus ou pagãos, conservasse sua posse desde que a fosse distribuindo aos pobre ou as obras assistenciais da Igreja, ao cabo de sua vida ou ao cabo de algumas gerações. 

Não serve para impugnar este ponto de vista o exemplo de Zaqueu, uma vez que a origem de suas riquezas é dada por desonesta. Aferida a desonestidade da herança fica impugnada sua legitimidade e decretada a necessidade da reparação, devendo o titular, se Cristão, desfazer-se dela de imediato, doando-a aos pobres, segundo o exemplo de Zaqueu. Portanto estamos nos referindo as riquezas de origem desonesta.

Já quanto ao Cristão que nasceu nesta condição, parece que o direcionamento é doutra espécie: Não junteis tesouros neste mundo, onde a traça destrói e a ferrugem come, de modo que o acúmulo desmedido de bens materiais é proibido. Como é proibida a avareza ou cupidez: Bem aventurados os pobres em espírito i é os que não tem apego as coisas e objetos materiais... 

Terá você a audácia de dizer que aquele que, tendo, como Sócrates, o suficiente para viver com conforto, dignidade e decência; e, sem embargo disso, concentre todas as suas energias para obter mais coisas é desapegado... Ousarás tu alegar que aquele que consagra suas forças em juntar, acumular e enriquecer - Como aquele que disse: Hei de aumentar meus celeiros... é um desapegado... Acaso insistirás que aquele que se aplica freneticamente em obter imensa fortuna é um desapegado. Pois bem, se não és bem aventurado, perseguindo riquezas que Jesus Cristo declara falsas ou ilusórias, é certamente um mal aventurado.

A esse homem avaro, que ambiciona além do necessário e lança sua cobiça para além do que necessita, diz o mesmo Jesus Cristo: Não pode alguém servir a Deus e ao Dinheiro, ou seja, concentrar seu afeto nas falsas riquezas. Devendo conformar-se com a vida sóbria e equilibrada ou com algo próximo do Ariston metron dos antigos gregos ou com a 'Aurea mediocritas' dos antigos romanos. Agora em que consiste essa vida sóbria ou moderada: Já nos referimos a ela pouco acima, dizendo que consiste em conformar-se com uma condição confortável e digna, tendo o que comer, o que vestir, onde habitar e até mesmo algo para distrair... Não uma multidão de terras, casas, celeiros, carros, etc 

É este tipo de atitude - A busca incessante de riquezas pelo Cristão.  - que se refere o apóstolo quando diz: A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. A concentração da mente e das energias em obter o máximo possíveis de coisas materiais e perecíveis ou o poder. Não devemos nós juntar o que não possamos nesta curta existência gastar. Pois em caso de morte não levaremos tais 'bens' junto conosco para a verdadeira vida. Por isso declara Nosso Senhor com acento religioso: Junteis tesouros no céu. Como distribuindo os excedentes com os irmãos, batizados, membros de Jesus Cristo. Servindo e beneficiando a comunidade. Praticando obras de virtude. Sendo solidários, fraternos, amorosos, bondadosos, etc Assim é que se acumula tesouros perpétuos e imperecíveis nos céus e tal é ou deve ser o investimento daquele que nasceu de Cristo e nele está.

Devemos buscar juros não na Bolsa de valores ou nos bancos porém no mundo imaterial e invisível, i é, nos céus, fazendo render a graça de Deus por meio de nossos excedentes financeiros. É nos irmãos, no próximo, no semelhante, no outro... que devemos investir. Então nosso lucro está no além túmulo ou na vida eterna e não neste mundo que passará. 

Quanto aos avarentos, apegados ou buscadores de ouro, prata, pedras preciosas, etc segundo o primo do Senhor, estão já julgados: Porque vossas arcas estão atulhadas... enquanto os pobres choram, após esta vida vós é que haveis de chorar em meio a grande sofrimento. Como aquele Finéias, que buscando riquezas e sendo inferente a sorte do miserável Lázaro foi lançado na Geena de fogo...

Quanto aquele administrador infiel que distribuía os excedentes com os clientes do empório, não nos diz o Senhor que era Cristão ou se era hebreu ou ainda pagão. Pois não distribuiu de imediato porém no decurso da vida as riquezas que eram iniquas. Ganhou amigos nos céus e foi digno de suas intercessões, porém, de modo algum chegou a perfeição a que somos convocados - Pois ao jovem rico foi dito: Vende teus bens e dá aos pobres. É nesta passagem, dois versos mais adiantes que Nosso Senhor classifica toda riqueza como falsa ou ilusória. A do administrador apenas declarou iniquas (Não todas as riquezas de modo absoluto porém apenas as do administrador.) porquanto obtidas com fraude e dolo. A riqueza, de modo absoluto, como falsa ou ilusória.

Acaso devemos buscar o que é falso ou ilusório... 

Caso viéssemos faze-lo quão miserável seria nossa meta!

Devemos buscar o que é verdadeiro i é, o que a traça e a ferrugem não podem destruir, o imperecível, o eterno, o duradouro, a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquele desapego, aquela sobriedade, aquela moderação, aquela temperança, etc que são sinais de vida espiritual. De modo algum a avareza, a cupidez, a ambição desmedida, o acúmulo ilimitado de bens, a riqueza, a grande fortuna, etc pois em nada disto vai o Reino de Deus.

Quanto ao Cristão é terminantemente proibido buscar aumentar as falsas riquezas, concentrar-se na fortuna, juntar sem medida, etc Poderá no entanto, sendo descendente de milionários judeus ou pagãos administrar generosamente tais bens, como fizeram os teoforos Basílio e Gregório de Nazianzo, ou ainda os piedosos citados nas cartas de Jerônimo. O que, advirto, deve ser feito com extrema lisura e cuidado, no sentido de não dissipar tais bens consigo próprio ou viver no luxo enquanto os Santos morrem de fome nas sarjetas. Esse excedente de bens fica na mãos dos Cristãos para ser administrado em benefício Santos e não para o deboche. 

Tal a doutrina pura tomada literalmente ao Evangelho, sem distorção, interpretação ou Livre exame. Pois encaramos com sumo respeito as palavras de Cristo nosso Deus. E por elas contatamos que não pode aquele que nasceu de novo concentrar-se na busca de riquezas ou acumular ilimitadamente. E que esse afã pelo poder e pela glória é pecaminoso.

O que nosso Senhor por benevolência concede aos Cristãos é que herdem riquezas acumuladas já por judeus e pagãos e administrem-na em favor da irmandade, partindo e distribuindo ao cabo da vida ou das gerações. Isto quando tais riquezas não sejam notadamente más ou iniquas, como as de Zaqueu ou as do administrador infiel, as quais, neste caso, devem ser distribuídas em sua totalidade e de imediato, pelo simples fato de constituírem roubo e pecado contra a Lei divina.

Por fim devo questionar até que ponto um sistema de Crenças em que a Encarnação de Deus não se dá num palácio ou entre uma família rica e poderosa. Em que o personagem central foi um humilde carpinteiro e não um nababo ou próspero empreendedor. Em que o supremo referencial não dispunha de propriedade pessoal. Em que o foco da fé é supliciado numa Cruz. Cuja lei insiste repetidamente sobre o desapego e sobre a insensatez de perseguir falsas riquezas. Cuja meta é concentrar-se na graça de Deus e na justiça. Cujo ideal de perfeição consiste em desfazer-se de tudo quanto acumulado foi. E cuja hierarquia eclesiástica foi entregue a Rahibes com voto de ascetismo - Poderia compor-se com a busca frenética por bens materiais...

Tudo quanto posso ver aqui é a mais cerrada oposição. Cerrada oposição e antagonismo inconciliável. 

Agora o próprio Meira Pena, admite que o sistema capitalista depende da cupidez ou que é estimulado pela cobiça. Como discorre sobre o desapego e sobre a administração dos falsos bens... Agora como pode negar que constitua avareza a concentração da mente no acúmulo excessivo de falsos bens ou essa dedicação intensa a economia... Como negar que a busca pelo excesso seja avareza ou que a busca pelo desnecessário seja consumismo e consequentemente sinal de vazio interior ou de materialismo...

Como conciliar uma busca frenética sem apego... E como conciliar o Cristianismo ou a bem aventurança com o desapego...





domingo, 14 de setembro de 2025

O papel do Cristianismo Tradicional... II - Nossa negativa em servir o reino do dinheiro e o fim da '"Opção preferencial pelos ricos" no Evangelho...

E deixo já bem claro que os cristãos tradicionais vão na direção oposta: Certa margem de liberdade nos campos político (Constitucionalismo, democracia, policracia...) e pessoal e prudente controle no âmbito das atividades econômicas por parte do Estado, tendo em vista impedir que o poder econômico exerça a primazia no corpo social.


Ainda que indiretamente (Pois somos contrários a teocracia ou a qualquer tipo de associação entre Deus e César.) a primazia do controle social cabe ao Evangelho, a Igreja ou a instituição Cristã, a qual, por meio da Ética (Determinando princípios e valores.) deve inspirar e nortear todas as ações humanas: Políticas, econômicas, morais... 

Não é para a busca da riqueza, do lucro ou do sucesso financeiro que devem convergir os pensamentos, projetos e ações do Cristão. Todos os esforços do Cristão devem antes convergir para a vida comunitária ou para o convívio com os irmãos, no sentido de beneficia-los. 

Impossível conceber a primazia do espírito como uma busca incessante e obsessiva por mais e mais dinheiro, lucro, fortuna ou riqueza... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro - Tal a sentença e veredito do Evangelho. 

Chegado até aqui cumpre mais uma vez não apenas citar, porém confrontar o sábio Meira Penna. 

O qual em seus livro "Opção preferencial pelos ricos" pgs 45 sgs busca relacionar o Catolicismo romano, com o Comunismo e com a Teologia da libertação enfim. Marque isto porque Meira Penna é o apologista mais sólido e bem preparado do liberalismo econômico em nosso país (E como tal dependente, quase que exclusivamente, de panfletários protestantes!). Então ele busca traçar uma linha ou um vínculo de origem e dependência entre as três correntes ou ideologias e para tanto escolhe arbitrariamente um item: O autoritarismo. 

E de fato, foi Fullop Muller (Protestante por sinal) que apresentou a organização do partido comunista como plágio ou paródia do Vaticano. De fato, até ao menos Leão XIII (O papa que reconheceu a Democracia) havia esse traço comum... Mas não único, porquanto havia outros, quiçá mais interessantes, que Meira Penna pôs de lado ou não quis analisar. Pois quer demonstrar aos Ortodoxos e papistas que o capitalismo não é materialista ...

Me parece que Tasso da Silveira (Nos 'Espíritos fonte') tenha sido mais profundo e refinado, ao tocar noutro ponto, embora aludindo não a Igreja Romana e sim a Igreja Russa, que é uma parcela da Ortodoxia. (Porém suas reflexões são mais amplas, pois se estendem até mesmo a Igreja romana.) Se bem me lembro foi num ensaio sobre Maxim Gorki, autor de "A mãe". Convém assinalar ainda que esse Tasso da Silveira era profundo conhecedor não apenas das raízes do movimento Franciscano e dos nossos Evangelhos, mas também da tradição patrística (O que era e ainda é bastante raro entre nós.) e da espiritualidade russa. Portanto aqui - Com muito mais acuidade que Meira Penna ele dá por traço comum entre Comunismo e Cristianismo Apostólico a sensibilidade face a injustiça e a miséria. E tenho para mim que acertou em cheio. Mesmo porque antes de ter aderido ao marxismo era Gorki um Ortodoxo devoto...

Mais - Aprofundando suas reflexões questiona Tasso o porquê de uma Revolução comunista jamais ter estourado num país ou numa sociedade protestante... E dá algumas pistas e levanta algumas hipóteses interessantes: Porque nas sociedades protestantes, marcadas pelo individualismo a cota de empatia, alteridade ou sensibilidade é bastante reduzida. Desorientado pela propaganda atmosfera cultural e pela propaganda, mesmo o Cristão, tende a encarar o pobre não como alguém privado de oportunidade ou injustiçado e sim como um azarado ou mesmo um vagabundo que não aproveitou as oportunidades. 

Efetivamente, por esse caminho, não poucos protestantes e capitalistas (E mesmo romanistas e Ortodoxos.) norte americanos tem chegado inclusive ao Darwinismo social - O qual é uma ideologia congênere, e não ao comunismo ou a qualquer coisa parecida. 

Não é portanto apenas uma questão de poder ou autoritarismo transmitida pela Igreja romana, mas questão de sensibilidade da dor, a angústia, a situações de injustiça e a miséria alheias; que toca aos primórdios da instituição Cristã e ao Evangelho. 

Quero todavia registrar - Por questão de justiça e debate. - que o mesmo Meira Penna, no mesmo livro, pg 141, Cap IV "Opção preferencial pelos ricos." leva a questão ao Evangelho e a Tradição patrística. 

Supreendentemente ali nos deparamos com um diamante de alto quilate ou pérola de imenso valor: "Se você toma uma posição metafísica, como os cínicos, os estóicos e dos santos padres da Igreja, de que o desprezo e abandono dos bens deste mundo incrementam a liberdade espiritual e interior." p 143 

O qual talvez possamos lapidar e fazer brilhar mais, dando por suposto que se o desprezo face aos bens deste mundo ou a moderação nos torna tanto mais livres, a busca excessiva por tais bens nos poderia tornar escravos...

Não vou me estender sobre isso. O quanto quero observar é que Meira Penna (Insuspeito) admite que o legado de Sócrates e a herança de Jesus Cristo parecem convergir ao relacionar a sobriedade e a moderação com a liberdade, a autonomia ou a independência. Ora, não está Meira Penna se referindo aqui a Marx ou Engels, a Lênin ou a Trotsky, a comunistas ou bolchevistas mas ao que melhor temos em termos de pensamento filosófico e espiritualidade. E elas emitem restrições quanto a posse da riqueza ou seu acúmulo... O que parece não estar de acordo com o éthos capitalista. 

Alias um capitalista protestante, incrédulo ou ateu, não hesitaria fazer coro com os comunas e dizer que tudo isso é pura e simples baboseira. O Velho Meira Penna jamais ousaria faze-lo por considerar a si mesmo como apostólico romano (...) Outro como vimos o caso do Kogos e do Chinês ortodoxo com que debati, os quais apelam ao MNI, como excelentes positivistas... Ficando sendo irrelevantes as opiniões dos Padres (E se trata de um opinião comum!) em matéria de economia... (Pelo que devemos dar atenção aos protestantes e ateus rsrsrsrsrs).

Então o Meira Penna desceu da Igreja papal e autoritária dos séculos XV, XVI e XVIII para o século V, situando-se no terreno do catolicismo Ortodoxo > E conhece a posição dos padres da Igreja, alias bastante categórica, face ao acúmulo irrestrito de riquezas, coisa de avaros, dirá o nobre apologista liberal, não de ricos - Pois bem se pode ser rico sem ser avaro. 

No entanto, quanto a esses mesmos padres, prossegue: "os Santos Padres dos primeiros séculos cristãos apenas propunham uma ética individualista que impunha a moderação e o controle na persecução da riqueza, a admoestação de honestidade nos negócios e o conselho de generosidade na esmola e na assistência..." opus cit pg 147

Era de se esperar que um pesquisador tão erudito quanto J O de M P tivesse ao menos folheado o manual de Doutrina Social da Igreja elaborado pelo Pe Pierre Bigo, no qual contam centenas de citações dos antigos padres, algumas bastante enfáticas. Como poderia ter lido a publicação da ed Paulinas "Porque a igreja condena os ricos".

Pois a simples leitura de Tertuliano, Jerônimo, Ambrósio e Crisóstomo índica que ao menos um tipo de riqueza foi irremissivelmente condenada por nosso Senhor, o qual ademais referiu-se a todo tipo de riqueza como falso ou ilusório. Lc 16,11

Os antigos Padres jamais conheceram qualquer coisa mesmo de longe relacionado com o que agora chamamos individualismo. Quiçá poderíamos dizer: Individual, porém a exatidão nos obrigaria a adotar o termo pessoal. Todavia, mesmo empregando tal acepção, a afirmação acima estaria ao menos incompleta, senão inexata.

Seja como for os antigos padres não apenas apenas davam conselhos pessoais sobre a riqueza. Ao menos um deles, S João Crisóstomo, acabou confrontando o poder e sendo martirizado. Pois ousou dizer que os recursos públicos deveriam priorizar o alívio da miséria e não o luxo insaciável (Hoje diria consumismo - Motor do Capitalismo) da imperatriz Eudóxia.

Ele no entanto continua: "Em parte alguma, nos velhos textos, se atribui a pobreza a fatores sociais externos ou forças econômicas sobre as quais não possuímos poder algum."

Mesmo porque não estavam os padres antigos inseridos num regime economicista ou capitalista, ou numa 'ordem' que estimula o acúmulo irrestrito, a cobiça, etc Numa ordem que em que a economia se sobrepunha a religião... Tal não era a realidade dos padres, de modo que não somente não poderiam te-la abordado mas sequer suposto. 

Agora chega Meira Penna ao antigo testamento e, como os judeus, os calvinistas e os adeptos da Teologia da prosperidade e faz uma farta colheita.

Sabe no entanto, por refinamento ou intuição, que não é o Antigo Testamento fonte de doutrina ou manual de práticas, para a Igreja de Cristo e seus filhos... 

Então, finalmente: Do solidarismo, do tomismo, da patrística e de Paulo, passa ao Evangelho, que é a fonte de todas as escolas acima.

E começa a brincar com eles e a de modo respeitoso (sic) folgar de Jesus Cristo: Caso agíssemos assim seriamos doidos, isto é impraticável, aqui o sentido só pode ser alegórico, etc De outros 'cristãos' ouvi que Jesus não tinha experiencialidade quanto ao mundo moderno, que Jesus era um idealista, um ingênuo, um romântico, um caipira, etc Que Jesus não era economista e que não podia legislar sobre o tema - BINET SANGLÉ E OS ANTIGOS JUDEUS FORAM CERTAMENTE MAIS RESPEITOSOS...

E tais blasfêmias saíram de mentes e bocas papistas ou ortodoxas!!!

Também tomba em vulgaridades, ao menos no domínio da exegese. Pois como diversos pilantras costumam fazer, apela ao texto: "Pobres sempre tereis." atribuindo-lhe um sentido abstrato, atemporal ou universal - Como se Nosso Senhor estivesse sermoando, quando as circunstâncias nos indicam muito claramente que estava Jesus estava discursando dentro das circunstâncias de tempo e espaço: Pobres vocês, durante esta geração, sempre terão nesta Judéia não Cristã dominada por Roma... Nenhuma indicação de atemporalidade no sentido de que os Cristãos deveriam, nos tempos futuros ou em todas as épocas encarar a miséria como algo absolutamente natural i é como coisa comum.

Outra tentativa infeliz do nobre embaixador - Com que justificar o éthos capitalista a partir de nosso Evangelho, diz respeito a parábola dos servos inúteis, que enterraram, ao invés de fazer render, os talentos que o senhor lhes havia confiado. 

A partir daí os capitalistas já imaginam Jesus enunciando fundos de investimentos ou promovendo a compra de ações na Bolsa kkkkk O que - Dizendo o óbvio, em termos de História. - sequer existia naquelas priscas eras. 

Num primeiro instante devemos dizer que a parábola em questão limita-se a tomar uma dada realidade social existente (E a realidade a que se refere é a cobrança de juros ou a aplicação do dinheiro em algum negócio - Não em imensas corporações ou monopólios como a Nestlé ou a Nike.) com o objetivo de expressar uma realidade espiritual ou religiosa, SEM EMITIR QUALQUER JUÍZO ÉTICO SOBRE A DITA REALIDADE SOCIAL, seja negativo ou positivo, condenatório ou laudatório... É o que não está em questão na parábola e Jesus simplesmente, ao menos neste momento, não se pronuncia sobre o assunto ou a realidade dada. 

De modo que não se pode fazer uso dela para defender a realidade social e dada, mas somente para o fim a que foi posta: Explicitar uma relação espiritual vigente no mundo invisível. Do contrário, dado que os tais servos fossem escravos, estaria Jesus sancionando e abençoando a escravidão, instituição que sabemos ser essencialmente má e pecaminosa i é algo que o Deus Santo e Bom jamais poderia sancionar. 

Quanto aos textos irrespondíveis, assevera o nobre expositor que certamente referem a avareza ou a ambição desmesurada e patológica. O que não corresponde a realidade, uma vez que não era Jesus comunicador deficiente ou ambíguo, faltando tampouco ao grego, aparato para exprimir a distinção. 

Diz Jesus: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro. 

Ora para Meira Penna e os seus o liberalismo econômico não serve ao dinheiro. Serve ao que...




sábado, 13 de setembro de 2025

O papel do Cristianismo Tradicional, da Ortodoxia, da fé apostólica, dos catolicismos no plano econômico - Capitalismo ou comunismo...

Curioso observar como as doutrinas econômicas tem acompanhado de perto as pseudo filosofias do tempo presente, particularmente as baboseiras alemãs - As quais são, também elas, resíduos ou secularizações do protestantismo. E já nos referimos em diversas ocasiões sobre as fontes luteranas de Kant e Nietzsche, ambos, por diferentes vias, porta vozes da revolução protestante.

Importa dar o positivismo francês de St Simon ou Comte, como plágio ou reedição do kantismo - E o que temos aqui é um kantismo tanto mais prático e menos abstrato ou metafísico, i é, mera negação da metafísica e com Litreé da própria Ética (É a Ética, como a Estética, metafísica.), o que por sinal repercutirá até Levy Brull. 

Negação de que resulta, para os positivistas ou cientificistas, uma ciência positiva inquestionável. E é exatamente o que a Economia pretende ser com Mises (Racionalista) e outros... Alias, com Pareto (Empirista) chega ela a assumir a mesma exatidão e objetividade que as matemáticas... E por ai se vão os clamores científicos que ocultam as conotações humanas e seus interesses... Laissez passer...

Eis a Ética, que deveria exercer a total primazia quanto aos negócios humanos, posta de lado e a atividade humana a que chamamos economia exalçada as sublimes alturas da cientificidade positiva.

Quando aparece Hayek e deita o machado a raiz da árvore ou arremete furioso, com seu aríete, contra a sólida muralha positivista, deitando seus escombros por terra. Pois nega ele que seja a economia uma atividade racional da qual decorram umas leis gerais e irredutíveis semelhantes as leis biológicas, físicas ou químicas...

Antes para ele, temos na Economia uma certa carga subjetiva de que decorre a imprevisibilidade. Trata-se portanto de uma atividade até certo ponto intuitiva, que deve ser manejada por uns experimentados vocacionados - Os quais, observando seus caminhos ou movimentos com gasto de tempo vão se tornando capazes de capta-los e de assimilar algo. De modo que é pelo manejo ou pelo trato que se faz o economista...

Cabe portanto aqui uma pergunta: Que opção do cardápio você escolhe... Á la Mises, À la Pareto ou À la Hayek... Tal o labirinto ou a encruzilhada da bela ciência positiva ultra objetiva e emancipada da Ética. Porém faz parte da escalada economicista... Mesmo quando não seja real mas calculado pela propaganda.

Porém, para os americanistas fica sendo o liberalismo econômico inquestionável - Mesmo quando se supõem, com certa plausibilidade, que o atilado Ricardo (O qual descreveu tão bem as condições do capitalismo juvenil em Albion.) - já no fim de sua trajetória mortal, tenha lançado os fundamentos do trabalhismo. 

É um dogma de fé tão precioso quanto a Santíssima Trindade, e que se há de fazer... 

E alguns não ousaram associar a propriedade ao próprio Deus, cunhando uma nova Trindade profana (Deus, família e propriedade kkkkk).

Forçoso descrever o que de fato sucedeu e atribuir responsabilidade a quem caiba. 

Necessário reconhecer quão trágica e calamitosa foi a afirmação do Capitalismo ou liberalismo econômico. A qual contou com uma resistência bastante débil (Ainda que considerável ou mesmo importante - E quem diz é o insuspeito Hobsbaw.) por parte do Cristianismo Histórico.

De fato não logrou o nosso Cristianismo travar os passos do liberalismo econômico ou conter o capitalismo. Foi portanto uma resistência aquém do que se esperava ou insuficiente. Não de todo ineficaz (Pois não fosse ela poderíamos estar, no tempo presente, num estádio bem mais avançado de degradação tanto social quanto natural.) porém insuficiente.

Pois em oposição a extrema politicagem (Relacionada com a questão do poder Temporal do papa - Aspirações teocráticas.) romana, o protestantismo nascente se desespera e afasta do mundo, indo, pelo erastianismo, na via da secularização. O protestantismo de modo geral se conforma e aceita o mundo como é: "O protestantismo possui uma relação especial com o secularismo, com a realidade atual dessacralizada." J V de Meira Penna, "Opção preferencial pelos ricos." pg 117- Pois perdeu a primazia ou o controle

Outro o caso do calvinismo: 'Essencialmente anti utópico. O que quer dizer é realista, "quadrado".' id. pg 118

Não inativo, porém voltado para um projeto teocrático ainda mais forte que o do papado, posto que tomado diretamente do antigo testamento e das instituições judaicas. (apud Maurois, Weber e Sombart, etc)

Foi de fato paradoxal o calvinismo - Pois ao mesmo tempo que buscava eliminar o mínimo índice de liberdade nas esferas pessoal, política e religiosa, estabelecendo um controle férreo, relacionava a tal eleição ou predestinação ao reino com a posse de bens materiais i é com as atividades econômicas, as quais atribuía a mais ampla liberdade...

É no calvinismo que pela primeira vez podemos observar aquela associação aberrante entre um conservadorismo moral ou moralismo estreito (E dogmático) e o liberalismo econômico - Associação que caracteriza ainda hoje os conservadores yankees e seus imitadores brasileiros: Um rígido controle moral e político de par com uma liberdade irrestrita para o mercado.

O já citado porta voz de Weber, Viana Moog (cf A Marcha para o Oeste) é enfático e exaustivo quando assevera poder explicar a ascensão triunfal do liberalismo econômico nos EUA a partir da religiosidade calvinista. 

O que é bastante fácil de se compreender.

Consideremos antes de tudo que a retomada do agostinianismo (Meira Penna concorda!) por Calvino, e a consequente apresentação da 'predestinação' particular ou restrita como fundamento pétreo da nova 'igreja' não pode deixar de causar uma grande inquietação entre os fiéis, os quais aspiravam saber a que grupo pertenciam, ao dos paradisíacos ou ao dos réprobos. Era algo que remoía as consciências, as quais pediam por uma sinal ou por uma evidência externa, de modo a escaparem da neurose.

Teve então Calvino de inventar um sinal que evidencia-se a eleição positiva i é para o céu. Diante disto, ele, fugindo do Novo e servindo-se das partes mais arcaicas (Saduceias, mortalistas e materialistas do A T - Fontes J e E.) do antigo testamento, ofereceu-lhe, como evidência (Na direção oposta ou contrária do Evangelho) o sucesso nas empreitadas financeiras ou a riqueza.

Disto resulta, necessariamente, a aplicação doentia do puritano ao trabalho, a ideia do culto ao trabalho, do trabalho como sacerdócio, da concentração no trabalho, o ideal da busca frenética pela riqueza, etc O resultado era previsível: O contanto do homem com a riqueza, o estimulo da ambição, o individualismo, etc foram, gradativamente, tornando-o mais e mais insensível ao outro ou a dor alheia, até torna-lo mais cúpido, materialista e irreligioso - Por fim, suprimido todo sentimento religioso ou toda fé, secularizou-se aquela prática econômica, vindo a ser o que é: Liberalismo econômico ou capitalismo. 

Quem produziu a arapuca ou a ista, quem abriu as portas do inferno, quem deu o impulso inicial a essa zueira foi Calvino. 

Irrelevante, para Weber ou Tawney, a presença de algum nível de  intencionalidade ou consciência, por parte dos reformadores e líderes religiosos protestantes, quanto a liberação dessas forças econômicas que dissolveram a sociedade tradicional. E para eles não houve.

Para nós é suficiente concluir que, ao tentar destruir ou substituir a igreja antiga, enquanto instância controladora eficaz, falharam miseravelmente e criaram as condições para que o economicismo se aflorasse e se afirmasse.

Basta para nós demonstrar que produziram - Levianamente - uma Revolução que ao invés de melhorar o mundo cristão, acionou outras tantas Ideologias> Anarquismo, comunismo, fascismo, etc que avaliamos como más ou como culturas de morte, e isto a pondo de declarar com muitos que tais culturas nos fazem sentir saudades do controle papal, não é claro como algo bom, mas certamente como algo bem menos mau. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Reflexões ecológicas - O Capitalismo e o meio natural... Para onde nos encaminha o sistema vigente ou a 'desordem' estabelecida...

Já me referi ao discurso dos Aristotélicos sobre o planeta como sistema fechado e recursos necessariamente finitos ou limitados. E também ao genial J S Mill e a doutrina da economia estacionária.

Decerto que o liberalismo econômico partilha do mesmo otimismo presente no positivismo\cientificismo, e que segundo E Troeltsch A C Grayling, não passa de resíduo secularizado do Cristianismo. O que por sinal devemos ao iluminista francês Condorcet.

Condorcet porém, ao contrário de Malthus, não parece lá se ter impressionado muito com a finitude do mundo... Dando largas a imaginação e a fantasia. Para ele o progresso seria linear, continuo e infinito. 

Temo portanto que bilhões de pessoas com aspirações ambiciosas ilimitadas não estejam em sintonia com a finitude dos recursos naturais. Pois aspirações sem controle ou regulação, aspirações demasiado amplas e livres, convertem-se bastante fácil em explotação descontrolada.

E enfim, a explotação descontrolada - resultante do excesso de população e da disputa pelo espaço com um meio natural quase sempre incapaz de defender-se, conduziu-nos a beira do abismo ou da sexta extinção em massa, a qual será antrópica ou provocada pelo único animal que ousa fazer alarde de sua racionalidade.

Estamos falando portanto no suicídio da espécie, uma vez que a meta posta pelo capitalismo: O máximo possível de acúmulo, por parte de uma multidão de seres humano, num cenário de livre disputa ou concorrência, é absolutamente irracional, inda que os meios sejam perfeitamente racionais. O fim ou a meta continua sendo clamorosamente irracional num sistema fechado e finito. 

Nada de catastrofista e muito menos de utópico - Pois sucedeu-se já, se bem que em escala menor, na América, entre os Maias, os quais para erguer e decorar suas soberbas pirâmides escalonadas, esgotaram seu entorno > A cal dependia das fogueiras, as quais dependiam das madeiras, as quais dependiam da floresta, assim as plantações... Eliminadas as florestas cessaram as chuvas e, consequentemente a produção de alimentos, advindo a fome, as epidemias, as guerras e o fim desta tão avançada civilização.

Sucede, no entanto que os Maias não tinham a mínima ideia sobre o ciclo da água ou sobre a dinâmica da natureza, sendo portanto incapazes de prever, planejar e evitar. Nós no entanto estamos a par até mesmo da extensão e do peso da terra... Sendo perfeitamente capazes de prever as consequências de nossas ações.

Está nossa realidade posta de modo bastante claro: Um sistema individualista, materialista e irracionalista (Pelo que temos reproduzido aqui dois aspectos do protestantismo: O individualismo e o irracionalismo.) está conduzindo a espécie humana a extinção. 

Ao estimular a multiplicação da espécie que satura já o planeta e a satisfação das ambições desmesuradas de cada representante seu, protestantismo e capitalismo decretam a destruição do mundo natural i é a eliminação da fauna e da flora, das matas, florestas, bosques e daqueles que os povoam. 

A tendência levada a cabo pelo economicismo é cobrir o espaço como um todo i é todo solo do planeta com uma camada artificial composta por cimento e pedra, alumínio e vidro, plástico e borracha. A qual partindo do centro de cada cidade se vai estendendo, até conectar-se no que chamamos de megalópoles ou conurbações. A acelerar-se um tal ritmo em mais alguns milênios não mais restará palmo descoberto de terra em nosso planeta, ficando ele completamente encerrado numa capa fabricada por nós.

A bem da verdade, antes que tal designío seja consumado, teríamos também nós encontrado a morte certa em meio aos resíduos de nossa atividade ou dessa poluição que contamina águas, terra e ar, envenenando e, no devido tempo, matando. Pois como haveremos de respirar um ar empesteado por CO2... beber água misturada com mercúrio... ou pisar uma terra encharcada por nossos próprios dejetos... É de fato uma perspectiva terrível.

Porém os conspiracionistas não se abalam e as aspirações do liberalismo econômico se apresentam irredutíveis e inconciliáveis. 

Cada qual julgue esta dada situação a partir de seus princípios e valores e, eu, tenho os meus muito bem pontuados, oriundos já da Filosofia socrático\aristotélica, já do Evangelho de Cristo (Não dessa 'coisa' chamada bíblia.), já do Cristianismo antigo, histórico, apostólico... e coordenados pela razão, na qual com toda segurança confio.

E meu juízo é um juízo negativo e condenatório.

Não vejo como a crença em que Deus se fez carne ou assumiu nossa condição. De que Deus tenha querido encarnar-se neste mundo natural e material. De que Deus tenha santificado este mísero grão de pó com a intensidade de sua presença e que estejamos a depreda-lo. 

Poderia acrescentar ainda que malbaratar milhões de espécies viva, de animais e vegetais - Enquanto resultados de um processo evolutivo que toca centenas de milhões ou mesmo um bilhão de anos é uma atrocidade. Dada a singularidade, a utilidade e provável beleza de muitos destes seres.

Consiste por um lado em destruir as expressões ou manifestações da mente divina e por outro em extinguir um espaço visitado e santificado por aquele que chamou-as a existência por meio da Evolução. Autêntico sacrilégio.

Tendo em vista que cada ser existente é um projeto da mente divina e que nosso Deus assumiu uma condição material neste mundo é grave dever nosso respeitar essa mãe natureza e respeita-la como se um santuário fosse. Ao invés, de guiados pela cobiça converte-la numa imunda carcaça - Fazendo o papel nojento de vermes pululando sobre ela...

Ademais um ser não merece respeito apenas por ser racional ou livre, ou mesmo inteligente e sim porque o ser racional é capaz de perceber a totalidade das coisas, avaliar as conexões e atribuir-lhe importância segundo a posição que ocupa no conjunto. Posto que tais seres formam uma cadeia ou teia na qual estamos inseridos e a qual pertencemos.

Ainda utilitária ou pragmaticamente, tendo em vista a função voltada para o conjunto, tais seres precisam ser respeitados e nossa continuidade enquanto espécie depende sim dessa atitude ética que é o respeito. Assim aqueles que explotam ao máximo essa mesma natureza, ultrapassando os limites da prudência e visando apenas o lucro sórdido ou o vil metal, prestam um deserviço a espécie e colocam-na em risco.

É uma profanação absurda, decorrente de nossa miséria e insaciedade interior. De fato apenas o Sagrado ou o plano espiritual é capaz de satisfazer plenamente nossas aspirações, de saciar nossa sede, de preencher nosso interior, de completar nosso ser e de conduzir-nos a uma sóbria serenidade ou temperança. Somente a partir de um tal estado de espírito é que nossa consciência assoma as alturas para que foi posta, impondo equilíbrio e moderação em nosso trato com o mundo externo ou com as coisas.

Tentar substituir a fonte do ser enquanto posse do ser jamais deu ou dará certo. Nem poderia a posse de todo este universo limitado substituir a posse do ilimitado e infinito porque aspiramos ou suprir nossa vacuidade interior. O materialismo associado ao ateísmo será sempre incapaz de aliviar nossa inquietude, inquietude que nos dispersa entre os objetos materiais com a ânsia de acumular.

Todo esse burburinho em torno da acumulação ilimitada, ainda que potencializado ou mesmo ativado pela cultura, parte em última análise de nossa condição, de nosso interior ou de nós mesmos e acaba sendo alimentado pelo ateísmo, pelo materialismo, pela negação da espiritualidade, pelo fetichismo, pela ignorância e pela miséria... Tudo isso estimula nosso apetite insaciável pelo mundo e se opõe a vida média.

Deve assim o Cristão, por o dedo no fundo da chaga purulenta e condenar a totalidade deste movimento em cada uma de suas expressões.

Não podemos aceitar, batizar e abençoar um sistema como esse: Que por tirar proveito do ateísmo e da irreligiosidade, promove-os sorrateiramente por meio da mídia - Objetivando, como já foi dito, estimular ainda mais o consumo. Nobre leitor, desculpa a rude franqueza mas é o consumismo irrefletido, num mundo finito, muito mais perigoso do que o comunismo ou que o fantasma do comunismo e, é esse consumismo vulgar e grosseiro, esse desejo pelo supérfluo, esse gosto pelo excedente que está a destruir o planeta.

Não me contentando em declarar com Henry George, que o delírio em torno do consumo, e, em seguida, o excesso é que produz a carência, o desequilíbrio, a desigualdade, a injustiça e a miséria; direi que esse delírio está já a fazer buracos no mundo como vermes fazem furos num queijo.

Então não mais podemos aceitar esse estado de coisas engendrado pelo capitalismo e tributário, em última análise, do individualismo protestante.

Seremos nesse caso comunistas ou bolchevistas, como afirma essa corja de pastores protestantes 'made in EUA'... 

Julgue o leitor sensível e inteligente as nossas palavras: Precisamos transcender o individualismo, precisamos vencer o ateísmo, precisamos questionar o materialismo e seu papel, precisamos refletir sobre o consumismo e a necessidade, precisamos nos reencontrar, precisamos analisar sem preconceitos o nosso passado e as nossas tradições, precisamos cultivar uma ética não especista ou holística em torno do respeito. E avalie se semelhante pauta faz parte da ideologia comunista e quais possam ser suas fontes.

É honesto desafio que faço a cada um de vocês.

Pois sequer estamos nós em tempos de socialismo ou de malthusionismo puro porém de ecologia e ecologismo. 


Outros aspectos do capitalismo...

Tendo sublinhado já alguns aspectos bastante discutíveis do liberalismo econômico face a crítica Cristã tradicional, devo acrescentar alguns outros não menos problemáticos, como a guerra - E já apresentamos o testemunho de W Sombart. - e a indústria armamentista, e a ainda a destruição do mundo natural.

Negar que as duas últimas grandes guerras tenham sido provocadas e manejadas por questões relativas ao 'mercado' ou ao mundo financeiro se me parece tendencioso em demasia. Creio ter sido nas obras de Upton Beall Sinclair - Talvez em Word's end ou em Lanny Budd não sei ao certo que durante a primeira ou a segunda grande guerra tanto a Alemanha quanto a França evitavam geralmente bombardear os grande conglomerados econômicos de ambas as nações ou as grandes multinacionais nelas presentes embora não tivesse mínimo escrúpulo quanto a bombardear escolas, hospitais, asilos, orfanatos e templos religiosos... Creio que tais atitudes tenham algum significado e nos digam algo sobre o que de fato está em jogo ou sobre quem dá as cartas.

No frigir dos ovos a busca pela riqueza esteve por trás das guerras e conflitos desde as mais remotas eras da História e me ocorre terem Umma e Lagash combatido por terras fronteiriças cultiváveis no tempo em que tais terras - Por equivalerem a suprimentos. - eram a riqueza. Se me ocorre ainda a luta pluri secular dos Assírios para atravessarem os estados tampões da Palestina e chegarem a Tebas, antiga capital do novo Reino egípcio e repositório de uma quantidade assombrosa de riquezas. Do mesmo modo Roma atraiu os homens de Alarico pelo mesmo motivo - A imensa quantidade de riquezas nela acumuladas. E Constantinopla para as hordas comandadas por Maomé IV...

Quanto a isto: Novidade alguma debaixo do sol...

Ali eram as guerras movidas por líderes ambiciosos e exércitos ávidos. Desde meados do século XIX passaram a ser movidas por mercados em colisão. 

Parece que agora, no entanto, há um ingrediente a mais, ao menos quanto a articulação.

Refiro-me não apenas a guerra enquanto tal mas a atmosfera de insegurança e medo adrede calculada pela indústria armamentista.

Hoje, talvez mais do que nunca, tendo em vista a tecnologia, são as armas bélicas bastante caras.

De modo que sua negociação ou venda se traduz, quase sempre, em portentosos lucros para aqueles que as fabricam.

Veja que durante as duas grandes guerras os EUA, até determinado momento, venderam armas e munições para ambos os lados, auferindo uma colossal fortuna. Pois num modelo capitalista influenciado pelo positivismo, patriotismo e ética saem de cena quando se trata de lucrar. 

Pouco se dá que duas nações ou povos se ataquem furiosamente um ao outro com o saldo de milhões de mortos se um tal evento possibilita a venda de armas e a aquisição de proventos econômicos. Que de danem as vidas e venha ao nosso bolso ou cofre o dinheiro. Tal o pensamento atual face a guerra - Pois a Guerra de fato produz uma ocasião favorável aos negócios.

Portanto quando as guerras não surgem é necessário causa-las, especialmente quanto sucede algum tipo de crise econômica e o sistema chega a beira do colapso. Em tais situações torna-se a guerra vantajosa... Uma vez que cria um mercado para as armas.

É de fato algo que deve ser pensado e passar pelo crivo da reflexão ponderada. Pois enquanto os parentes de algum político ou general está lucrando com a venda de armas para ambos os lados, um jovem filho de mão viúva é levado a crer que deva morrer ou assassinar outro jovem de mãe viúva a que jamais viu, por amor a sua pátria...

E no entanto me parece que para os grandes industriais - Que tem suas indústrias poupadas pelos dois lados. - o exercício desse amor se torna muito mais fácil. E que os fabricantes de armas e munições não foram ensinados a amar a pátria. Afinal enquanto nossos jovens são induzidos a sacrificar suas vidas ainda na flor da idade, os senhores da indústria bélica, mesmo quando não negociam com o outro lado, jamais distribuem armas a munições, graciosamente ou por amor, a querida pátria.

Então que amor ou dedicação unilateral é essa: Que gera ônus para uma parte > O jovem ingênuo que abre mão de sua vida, e lucro para outra > O nababo proprietário da indústria bélica.

Um aspecto apenas. 

Há outros e igualmente danosos.

Assim até ao menos a primeira grande guerra, este ser que se diz racional, ao invés de suster suas guerras sozinhos, não hesitou em nelas empregar diversas espécies de animais inocentes: Em especial os cavalos, porém também camelos e até mesmo gatos; os quais sacrificou e impôs, na mais larga escala imaginável, horrendos sofrimentos. 

Sem contar que entre os assediados, assaltados pelo terror da fome, não poucas vezes os pets converteram-se em repasto. 

Também a cultura superior sofreu grande dano por parte das guerras. Tomada Cartago por Cipião, foram seus arquivos e bibliotecas transformados em pó. Assediada Alexandria por Júlio César, veio a perder parte da grande biblioteca. Da mesma maneira, quando mais tarde foi Roma conquistada por Alarico e Odoacro pereceram dezenas de bibliotecas, a primeira das quais havia sido criada sob Otaviano César por Asínio Pollio. Da primeira jihad islâmica resultou a perda total da grande biblioteca de Alexandria (Por Amru) e da Biblioteca Cristã de Cesaréia marítima. Posteriormente, foi a Casa da sabedoria de Bagdad lançada as águas do Tigre pelos ferozes mongóis (1258). Em 1525 os alemães saquearam Roma e fizeram perecer nas chamas um imenso número de raros incunábulos. Alguns anos depois foi St Gall atacadas por um grupo de protestantes fanatizados. A própria revolução francesa - Na esteira da reforma protestante. - não foi inocente quanto a destruição de livros e monumentos. Enfim d
urante a primeira grande guerra pereceu a grande biblioteca de Louvain um bombardeio...

Tragicamente todos pudemos testemunhar o estrago incalculável da invasão Yankee ao Iraque, com o bombardeio do Museu e da biblioteca. E a destruição das ruínas de Nínive e Tadmor (Palmira) pelos bárbaros jihadistas do Estado islâmico.

Em termos de conhecimento humano, literário, histórico, etc é a guerra uma calamidade sem atenuantes.

E no entanto, hoje, para muitos - Países - não passa de estimulante negócio... A economia estremece, a crise bate a porte, a moeda desvaloriza, as divisas faltam, a oferta de emprego diminui, etc bora atacar algum país que tenha petróleo, mesmo que o custo, em termos de vidas humanas ou quiçá de cultura, seja elevado. Pois vivemos num mundo materialista economicista que uma determinada fé ou religião, a princípio demasiado transcendente ou celestial, trouxe a luz...

Pois outro aspecto monstruoso da questão é que, tendo sido o protestantismo completamente absorvido pela questão da salvação no além, abandonou e descuidou por completo deste mundo material e natural no qual o Deus Cristão encarnou-se, nasceu, viveu, morreu e ressuscitou... Pois bem, esse mundo, repito, em que quis o Deus Cristão habitar, foi em um determinado momento entregue a si mesmo e posto de lado pela nova fé descarnada. A ponto do próprio romanismo ter dispersado suas energias, com o intuito de frear a nova fé, e se afastado, também ele, em parte da imanência... 

A nós nos parece que essa fervorosa reforma abriu uma brecha para o naturalismo e para o materialismo no mundo cristão, a qual foi ocupada e alargada, mais e mais, por atividades econômicas descontroladas... Sabido é como o próprio absolutismo régio foi enredado e usado por tais poderes - até ser apunhalado pelos costas... Tal o momento em que o Liberalismo econômico, dispensando as muletas do protestantismo e do absolutismo, afirma-se como entidade ou poder autônomo, nos EUA (1776). 

Certo é, no entanto, que se o romanismo não esboçou, face a esse poder, a resistência e a oposição que deveria ter esboçado, o protestantismo, indo além, colaborou ativamente com ele. Material, a princípio, não tardou para o capitalismo tornar-se materialista. E isto numa Era em que as gentes jamais haviam sonhado com o bolchevismo\comunismo - O qual recebeu este vício monstruoso do liberalismo econômico. 

Pois na perspectiva Cristã a acepção materialista não implica apenas na negação do mundo espiritual mas também na supervalorização do mundo material. Na prática reduzir a esfera da religiosidade e colocar em primeiro plano os interesses de ordem econômica é também materialismo e materialismo prático. 

Alias (Segundo o embaixador José Osvaldo de Meira Penna in 'Opção preferencial pela riqueza p 45) foi o ex papa Ratzinger, ao responder o questionamento feito a um jornalista declarou em alto e bom som: "Comunismo e capitalismo são materialistas." - O que entre nós já fora dito diversas vezes por Plínio Salgado, mas que, deriva da percepção Católica francesa: De Calvez, Maritain, Maurras, etc Concepção trivial - Da equivalência entre capitalismo e comunismo - que o sr Meira Penna, partindo (É claro) de autores protestantes, forceja corrigir ...

O mesmo Meira Penna, aludindo a postura da Igreja romana assim se exprime: "... eis que, desde os primórdios da Revolução industrial na Inglaterra, em fins do século XVIII, foi combatida tanto do lado dos conservadores, entusiastas do medievalismo "idílico", quanto da esquerda jacobina e socialista." p 47

E dá enfim suas razões (Por sinal bastante sólidas e consistentes.):

"
Uma outra linha de pensamento, porém, herdeira da filosofia de Platão e de Aristóteles, e da teologia de São Paulo e de Santo Tomás, seguiu seu curso conservador, primeiro nos países da Contra-Reforma e, depois, no movimento de secularização empreendido através das ideologias coletivistas, o solidarismo romântico, o nacionalismo e o socialismo." pg 48 sgs

Até onde podemos ver temos nos catolicismos ou no padrão apostólico uma linha de coerência e uma continuidade histórica que vai do solidarismo ao Tomismo e do tomismo a aristotelismo e ao paulinismo, aqui, segundo cremos, em perfeita sintonia com o Evangelho. Pois bem, partindo do Evangelho jamais chegamos ao individualismo ou ao capitalismo porém ao solidarismo ou a algo próximo, i é, fraternalismo, comunitarismo, distributivismo, DSI, etc O que conduziu o ocidente ao liberalismo econômico e ao americanismo foi o protestantismo, e ao faze-lo removeu nossa civilização de suas bases históricas e tradicionais. 

Foi o protestantismo que jogou nossas raízes clássicas e apostólicas no lixo, produzindo o mundo contraditório e estranho em que nos achamos presos. 

Consequentemente, o protestantismo, de modo geral, colabora ativamente, até o tempo presente, com esse sistema materialista que tem diminuído mais e mais o espaço da fé. Assim, de uma revolução religiosa, brotou, paradoxalmente um sistema materialista responsável pelo recuo ou mesmo pela negação da vida religiosa. E falhou devido a inabilidade do protestantismo para substituir a igreja papa e regular a ordem das coisas no mundo moderno. Nominal e até espalhafatosamente cristão, o protestantismo jamais esteve a altura da missão que para si reivindicou, vindo a falhar miseravelmente e a permitir a afirmação do Capitalismo e suas decorrências. Entregou o protestantismo, o cetro ou o comando do mundo contemporâneo ao capitalismo e aplaudiu quanto as bolsas de valores substituíram o vaticano, quando as agências bancárias substituíram as catedrais e sobretudo quando os shoppings centers substituíram os santuários. Desde então cessou a Cristandade de acumular tesouros no céu e ganhar amigos com riquezas imundas para investir em ações e títulos de papel - Isto enquanto parte dos membros de Jesus apodrecem na imundice das sarjetas...


Por ódio a direção espiritual que as igrejas Ortodoxa e Romana imprimiram as sociedades Cristãs nos tempos antigos os líderes protestantes se associaram a banqueiros e entregaram aos materialistas a direção da comunidade - Naturalmente que tudo isso só poderia resultar futuramente em mais materialismo, ateísmo e revoluções sem fim. Foi o protestantismo, a partir do individualismo e do materialismo prático que abriu as portas do inferno para a Sociedade Ocidental. E foi ele a Revolução primogênita que mesmo sem acionar a revolução Francesa, acionou a R Inglesa e por reação a R Russa. Dele partiu por desenvolvimento, o Anarquismo individualista e o ANCAP e por oposição o Comunismo, a quem legou, indiretamente ou por mediação do capitalismo, o materialismo - E está ele, envolvido até o pescoço, com todas as Revoluções, ideologias e distúrbios subsequentes.

A Gênese da 'sifilização' ou cultura Yankee (Americanista) - Relações entre protestantismo e maçonaria

Dado sobre o qual não deve pairar mínima dúvida em nossas mentes é sobre ser a cultura americanista epifenômeno, produção ou construto da fé protestante ou do protestantismo.

Do que resulta um conflito ou choque irredutível face a Cosmovisão Cristã tradicional: Ortodoxa, Católica, Apostólica ou apostólica romana.

Pois seja derivada de um ambiente agrário\campesino, ou, como temos e cremos nós, derivada do mundo espiritual e invisível (Por meio daquele que nasceu numa manjedoura, não num palácio e recomendou que juntassemos tesouros no Reino dos céus.) é ela gregária, solidária, comunitária, fraterna... e totalmente avessa ao individualismo.

Basta dizer que P G F Le Play localizou a gênese do éthos individualista nas organizações sociais da Escandinavia medieval e
 não da judéia do século I d C ou em algo remotamente próximo do nosso Novo Testamento.

No entanto, o protestantismo assume, já em seus primórdios, esse éthos e se concentra em torno do que ele mesmo convencionou chamar 'salvação pessoal' - Uma noção individualista de redenção em que se perde de vista a dimensão fraternal ou comunitária do mistério, sempre afirmada pela Igreja antiga e fundamentada no amor, no exercício da bondade, no serviço, no convívio... Como por sinal lemos no livro de Atos: Caminhavam juntos como se um só coração tivessem e tudo tinham em comum.

Tal o preço pago pelo protestantismo ao minimizar as obras mesmo enquanto evidência externa de salvação e afirmar a possibilidade de uma salvação sem quaisquer obras, bem como uma salvação no pecado, uma meia redenção que a sobrevivência do homem velho, enfim a presença de uma graça fraca que não destrói por completo o mal ou pecado. Dessa noção anti ética de salvação sem fruto ou alteração de comportamento, derivou a ideia de que a Redenção é algo que se dá exclusivamente entre o individuo e Cristo, e que de modo algum envolve o próximo, a comunidade, a humanidade, a espécie... Excluindo-os.

Segundo a concepção anti nomiasta o próximo ou nosso convívio com ele jamais se aproxima ou toca o evento de nossa libertação. É algo que não passa pelo semelhante e que de modo algum depende do outro, mesmo a posteriori - Sequer somos salvos ou remidos por Cristo PARA o próximo. 

Perdemos assim toda e qualquer conexão com o outro e dele nos alienamos para isolar-nos em nós mesmos, como numa ilha de conforto e sem qualquer compromisso - Pois se trata de uma redenção descompromissada e fácil, que perde por completo o próximo de vista. E nossas preocupações incidem apenas sobre nós mesmos...

De modo que o amor pelo outro cessa de ser concreto, dinâmico e ativo para se converter em algo abstrato ou teórico, numa ficção ou num discurso sem maiores responsabilidades. Aqui a solidariedade ou o convívio se converte em questão irreligiosa, em torno da etiqueta ou das boas maneiras e cessa de fazer parte de nossa vida espiritual ou da religião como um preceito divino derivado do Evangelho. Não é algo que devemos atribuir a Lutero ou creditar a Calvino mas que se fez cada vez mais presente no universo protestante e na consciência de seus adeptos a partir do anabatismo.

Ao fim deste processo podemos conceber o remido como alguém que encontrou-se com Deus em seu quarto fechado e que ali permaneceu fechado sem qualquer contato com seus irmãos batizados membros da grande família de Cristo. Pode-se já ser filho único ou sem irmandade...

É o insuspeito embaixador Meira Penna (Opção preferencial pelos ricos. p 119) quem nos diz que "A fé e não o amor ocupou o centro do pensamento protestante." e cita Tillich, explicando que a ênfase formal na Lei (Dos judeus por sinal) impediu Calvino e Zwinglio de formularem uma Teologia em torno do amor. 

Amor que é por assim dizer o centro e fundamento do Evangelho!!!

O leitor que interrompa a leitura e tire suas conclusões!

A pedra ou a avalanche vai rolando nessa direção. 

E na vida prática vai-se afastando do outro cada vez mais.

E mesmo sem que Calvino tenha responsabilidade o calvinismo muito contribui para agravar a situação. Pois se conforme a doutrina da fé não podemos distinguir os réprobos dos remidos nesta vida, na prática os remidos são os nossos e os réprobos os membros das diversas outras seitas cujos membros, rejeitados por Deus, não estamos obrigados a amar ou a servir...

Eis o protestante concentrado apenas em sua salvação e desconectado do mundo ou da comunidade. E estamos já num individualismo crasso - O qual, grosso modo, não passa de puro e simples egoísmo.- associado a espiritualidade ou a fé religiosa...

Seja por abuso, quanto a doutrina enunciada por Lutero (De que obras não salvam, embora sejam ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIAS, ENQUANTO FRUTO DA FÉ OU DA SALVAÇÃO.) ou por desenvolvimento, chegou o protestantismo a tais termos: Do salvo isolado em sua torre de Cristo ou do indivíduo a sós com seu Deus... Coisa que jamais se virá na História do Cristianismo. E tal foi o sabor - Individualista ou egoísta, desse Cristianismo que passou a Inglaterra e passou aos EUA.

E já na Inglaterra, expandiu-se ou ampliou-se este vício abominável do egoísmo. Passando aos demais setores ou esferas da vida humana, e tudo contaminando.

De fato passou o individualismo da fé protestante a economia; com o capitalismo ou liberalismo econômico e a Filosofia; com o anarco individualismo de Stirner (Isto na Alemanha). Pois se pode o ser humano salvar-se isoladamente, pode do mesmo modo fazer riqueza desconectado de seus semelhantes, como poderia prescindir de um corpo político ou mesmo da sociedade e viver só, como uma ilha.

Perceba o leitor como foi o individualismo, através da fé protestante ampliando seu raio de ação - Dando origem a outras tantas ideologias noutros setores, embora afirmando-se como fundamento de cada uma dessas expressões - Meras manifestações suas em diferentes campos.

E de fato podemos apontar o individualismo como a 'afinidade eletiva' ou lastro comum responsável por conectar protestantismo, capitalismo e anarco individualismo - Até chegarmos ao ANCAP.

Desde então a 'sifilização' norte americana tem girado em torno dessas três expressões de matriz individualista: Protestantismo, Capitalismo e uma democracia meramente formal que parece tender ao ANCAP... Aqui a busca pela salvação individual, ali a busca pelo enriquecimento individual, ao fim a demolição do ente político voltado para o bem comum e a atomização do corpo social ou sua destruição. Tal o éthos, o espírito, a consciência coletiva, o imaginário 'social' ou a cultura prevalecente naquele país.

Já Viana Moog respondia a seus críticos dizendo que era imprudente e equivocado negar que duas fés religiosas diferentes jamais poderiam imprimir sentidos ou rumos diferentes a duas dadas sociedades - E o que dizia, reportava, com absoluta razão, a Werber.

Que tem isso de Cristo ou de Cristianismo tradicional, de catolicismo, de Ortodoxia ou de apostolicidade... Absolutamente nada. Tudo aqui partiu do protestantismo, com sua ideia de salvação isolada ou alheia ao corpo místico de Cristo, que é a Igreja.

Foi o protestantismo que, intencionalmente, desarraigou o homem da fraternidade eclesiástica visível para fazer dele mero membro da igreja celestial, unido ao Cristo somente, mas não a túnica mística e indivisível da Cristandade. Foi a reforma que criou esta 'esta' célula isolada sem tecido ou corpo... 

Tal a força da fé e das coisas religiosas que essa concepção não tardou a migrar para os demais nichos da humana existência, até produzir uma série de expressões congêneres e subjugar a totalidade da vida. O que veio a ocorrer nos Estados Unidos, no momento em que o protestantismo associou-se ao liberalismo econômico e a democracia policial. 

O que nos autoriza a identificar o protestantismo como matriz ou elemento plasmador dessa cultura. 

Ainda que alguns papistas e ortodoxos - Os cristãos infiéis e culturalmente protestantizados e dependentes de fontes protestantes como Roberto Campos, Meira Penna, Kogos, etc - empreguem todos os recursos possíveis com o propósito de objetar, uma relação que é manifesta. (A ponto de ensaiarem refutar Comte, Tocqueville, Maurras, Weber, Moog, etc)

(A única direção coerente por parte daqueles que encaram o liberalismo econômico ou capitalismo como um bem ou melhor como uma fonte de progresso, seria se fazerem protestantes ou buscar introduzir o protestantismo nas sociedades em que vivem, o que por si só - supondo que essas pessoas fossem romanas ou Ortodoxos - seria abominável!)

De fato alguns papistas e ortodoxos 'incoerentes' buscam relacionar a formação da cultura que tanto lhes agrada coma maçonaria. Sem considerar a um lado a oposição existente entre ela e os Cristianismo apostólicos e a outro o vínculo existente entre ela e o protestantismo Norte americano.

Ocorre-me ''O jardim das aflições" de Olavo de Carvalho - O qual parece insistir demais no conteúdo esotérico da organização (O qual num contexto calvinista - Em que o deus 'cristão' era pintado como mau - teve alguma relevância.) e em seu papel, enquanto suposta plasmadora da cultura.

Antes de tudo devemos esclarecer que, embora nós ibéricos, costumemos chamar a maçonaria de franco maçonaria, certo é que chegou ela a França, vinda da Inglaterra, a qual é seu primitivo lugar de origem.

Em seguida devemos ter em mente que o Histórico de relações entre protestantismo e maçonaria nos EUA não é uniforme mas, marcado por oscilações e recomposições sucessivas. 

Por fim, devemos considerar que a maçonaria entrou em conflito irredutível com a Ortodoxia ou a igreja romana em seus respectivos domínios porque era já não apenas portadora dos elementos da cultura por nós assinalados, mas de fato aliada das organizações protestantes.

Desde o princípio houver certo gráu de proximidade ou amizade entre maçonaria e protestantismo, ainda quando os ideais maçônicos fossem um tanto vagos e os elementos da cultura protestante estivessem já formados. E para tanto devo observar que a primeira constituição ou livro de ordem maçônico foi escrito por um clérigo presbiteriano escocês. 

Certamente que haviam ocasionais atritos, produzidos pelos protestantes mais fanáticos, devido justamente ao conteúdo místico\ocultista da maçonaria, o qual é até hoje seu disfarce. No entanto, repito, habitualmente tais relações era bastante cordiais.

A primeira ruptura sucedeu pelos idos de 1776 quando, ao desligar-se da Inglaterra a elite maçônica yankee, fixou a separação entre a esfera religiosa e o Estado. Para a apática igreja anglicana, mancomunada com Dna Inglaterra não foi algo assim tão significativo... Agora para os calvinistas e até mesmo para alguns batistas foi um duro golpe - Veja que os 'bible belt' ainda encaram tal tipo de organização política> Laicista, como atéia e maligna. 

No entanto, passado o auge da crise, houve uma rápida conciliação de interesses em torno de princípios. Inaugurando-se um período de mútua e íntima colaboração ou simbiose, período em que a maçonaria assumiu com ainda mais fervor os elementos da cultura Yankee como a democracia policial, o capitalismo e 'para os países romanos e ortodoxos' o laicismo... 

E de tal modo deu certo essa parceira que sequer podemos saber com perfeita nitidez quem dá as cartaz no Império. Putin assevera que as coisas partem do pentágono e 'vem' pela maçonaria ou que a maçonaria (Como a ONU e o papado pós Vaticano II) constitui um braço político dos EUA (Presente em quase todos os países do mundo.) e os EUA o centro de comando dessa sociedade secreta.

Seja como forem tais relações hierárquicas uma coisa é certa: É a maçonaria mero vetor ou veículo de uma cultura que de fato não produziu, vindo a encontrar já pronta, enquanto desenvolvimento do protestantismo. É continente e não criadora de conteúdo.