sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Sexta musical - Núbia Lafayette


 

Núbia Lafayette - A voz


Apesar dos protestos e reclamações a Internet trouxe benefícios inegáveis.

Afinal numa terra em que as grandes vozes e os grandes talentos são criminosamente desprezados pela mídia ignoraríamos muita coisa boa não fosse o Youtube...

Salvo os Tinhorões da vida, a cultura musical dos cidadãos comuns como eu seria muito mais pobre sem a mídia digital, indubitavelmente mais democrática e pluralista.

Há sem dúvida bastante lixo. Porém, de par com o lixo há também pepitas e pedras preciosas. 

Assim Claudia Barroso, Elza Laranjeira, Núbia Lafayette, e é claro uma Dalva de Oliveira, uma Clara Nunes e assim por diante. Pois foi este pais brindado pela Providência por um grande número de vozes admiráveis... Embora muito pouco valorizadas.

Aqui, sejamos francos, a falta de seios, bundas, pernas e torsos não há voz... E parece que se canta com o corpo ou mesmo com as 'partes'.

Já o disse, corpo belo é corpo belo. Dádiva da natureza ou acidente, não mérito ou coisa que se conquista. Então, ter um corpo escultural não pode ser visto como sinal de talento.Tampouco a voz é talento, mas o cultivo ou manejo de uma voz.

Talento ou mérito é algo que se conquista por meio da técnica. Por isso deve a voz ser modulada e servir a uma composição harmoniosa. 

Tornemos porém as filhas de Euterpe.

Há questão de alguns dias estava eu a conversar com uma pessoa de alto nível intelectual relacionada com o mundo da música. E como o assunto tocasse a "Sonora matancera" chegamos ou melhor cheguei eu a Núbia, que é uma de minhas cantoras prediletas... Foi quando ouvi, estarrecido, de minha interlocutora, proprietária de um Estúdio de gravação (No qual sequer se toca gospel, pagode, funk e outros lixos.) que jamais - Ela e o marido - haviam ouvido falar em Núbia Lafayette... Diante disto 'gelei', afinal como disse, estamos já em tempos de Internet.

Confesso que não fosse o mundo digital, também eu continuaria a ignorar tão grande diva. Pois jamais havia topado com ela nos meios de comunicação de massas ou nos tais canais abertos de TV.

Por isso vivo a perguntar-me: Que país é esse onde qualquer onde safadões, anitas, popozudas, etc tem livre acesso a 'telinha' enquanto as grandes vozes e talentos são relegados a um quase que total esquecimento?

A verdade pede passagem e manda dizer: País de merda! Tal o país em que vivemos. No qual o ouro é trocado por merda.

Pois o quanto a mídia avarenta e venal oferece aos telespectadores é lavagem e não alimento para alma ou educação musical. 

Omitem-se quanto ao grave dever de educar para a arte. Massificam e em seguida vendem a peso de ouro o lixo que fabricaram; digo todos esses ruídos sem composição exarados por guelas estridentes. 

Revolta-me sobremodo o fato de só ter tido conhecimento desta grande voz com mais de vinte e cinco anos de idade - Por obra e graça dessa mídia prostituída... 

Depende-se da "Vênus platinada" e suas comparsas jamais teria ouvido falar em Núbia ou vindo a ouvir suas canções. Digo o mesmo de Claudia Barroso, Zezé Gonzaga, Elza Laranjeira, etc 

Pais de merda.

Onde o que temos de melhor é posto de lado ou ignorado.

Onde somos alimentados com bolotas embora haja oferta de pão...

Onde somos nutridos com água salobra embora haja vinho em quantidade...

A seleção no entanto é das piores. 

A ponto de parecer que toda gente de mau gosto foi contratada pelas rádios e televisões com o objetivo de torturar os telespectadores.

Afinal são movidos por anúncios, assim pela audiência. Enquanto está é movida por peitos, bundas, torsos, corpos, etc e não por vozes cultivadas.

Tal o segredo de Tostines ou os interesses.

Não é questão de talento ou de bom gosto porém de lucros.

Daí esses meninos e meninas semi nus rebolando nos palcos e gritando. O que em termos de música ou melodia é porqueira.

Ficar saltando, girando, pulando e berrando não é arte musical. 

Por isso temos de tornar a uma Núbia Lafayette e resgatar nossos valores autenticamente musicais e melodiosos. Pois a música, enquanto expressão estética de qualidade, humaniza e educa. 

Já o som dispersa enquanto o ruído ensurdece - O barulho não faz bem e o bem jamais faz barulho!

Mas eles e elas já morreram; e fazem parte do passado...

Não seja vulgar: A arte, a beleza e o talento jamais morrem, são eternos.

Apenas aquilo que é grosseiro morre.

O que é belo transcende as fronteiras do tempo e do espaço e toca todas as almas cultivadas e sensíveis.

Podendo elas apreciar um Sinatra ou uma Houston sem maiores problemas.

As modas sim, concedo, servem apenas para encantar os trouxas e ganhar dinheiro. Por isso passam sem deixar saudades. 

Outro o caso da arte, na plena acepção da palavra - Pois é a arte imortal. Como tudo quanto procede do espírito ou das profundezas da alma.

Morrem homem e mulher.

Perecem o artista e a artista.

Passam o cantor e a cantora.

A arte não morre, não passa e jamais perece. Atravessa as eras e encontra ouvintes aos quais encanta, eletriza e enche de entusiasmo.

Será sempre assim com as obras de uma Dalva de Oliveira. 

As quais - Apesar o pagode, do funk, do gospel e do pauleira. - continuarão a cativar ouvintes ao cabo das eras. Mesmo nas palafitas e barracões, e casebres... Mesmo lá tais vozes e harmonias encontrarão acolhida por parte das almas belas. 

Tornemos portanto a Núbia, a Barroso, a Elza, a Zezé, a Dalva... Deixemos os peitos e bundas que não tardarão a cair sob a pressão do ar, e apegue-mo-nos a beleza, a arte e ao talento; virtudes que imprimem nas almas uma beleza imorredoura. 




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