segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Porque sou metafísico...


Embora não tenha nada contra os ateus, especialmente aqueles que são oriundos de outro universo cultural ou conversos ao ateísmo, não partilho deste ponto de vista e já digo porque.

Impossível dissociar os diversos aspectos da realidade, que é orgânica ou integrada. Não podemos simplesmente declarar-nos ateus ou materialistas em metafísica ou teodiceia sem partir de pressupostos epistemológicos e tirar consequências no campo da Ética. Ora eu julgo tanto os tais pressupostos epistemológicos quanto as ilações Éticas como sumamente discutíveis senão problemáticas.

Como educador eu me preocupo antes de tudo com o problema do conhecimento humano i é com epistemologia e gnoseologia, em segundo lugar com o comportamento humano ou com a Ética. Certamente o tema de Deus vem em terceiro lugar, mas não o vejo desvinculado das questões principais e quanto penso em Filosofia penso num sistema orgânico, 'sistemático' rsrsrsrs, coerente e que tenha sentido. Minha perspectiva ou ponto de vista nada tem de pós moderno.

Fosse cético - Episteme - como Pirro, Timon ou Enesidemo e Hume enfim; ficaria em absoluto silêncio nada declinando sobre tais assuntos (cf Victor Brochard 'Céticos gregos'). Não poderia duvidar dos primeiros princípios e tecer juízos no campo da Filosofia.

Fosse empirista crasso ou meio cético como Kant ou Comte adotaria a solução de Huxley que é o agnosticismo, o qual afirma-se como inepto para decidir-se a respeito do tema da existência ou da inexistência de Deus a partir da experiencialidade pura e simples. A honestidade e coerência nesta postura. Suspensão de juízo quanto a tudo quanto possa estar além da pura e simples empiria. Nem negação, nem afirmação. Tal a postura de J S Mill e de H Spencer, dentre tantos.

Mas eu, seguindo a tradição humanista e otimista dos antigos gregos - temo que haja algo semelhante a pecado original ou agostinianismo em toda e qualquer epistemologia pessimista ou negativa, que nos remeta a uma antropologia negativa - sou pela validade da razão, da reflexão ou do raciocínio que esteja em íntima conexão com a empiria i é com a experiencialidade e que dela parta. Sou portanto, em matéria de conhecimento, 'dualista' cartesiano ou conceitualista, postulando ser ele um processo que envolve, num primeiro momento, os sentidos, a percepção ou a experiencialidade - e penso nossos sentidos como algo que informa e não como algo que engana ou distorce - e num segundo momento um processo reflexivo comum a todos os homens que produz conceitos; esta operação perceptiva racional capta e descreve objetivamente parte da realidade que nos envolve. Não a cria, descreve (realismo epistemológico).

Evidente que esta concepção tributária de Parmênides, Anaxágoras, Platão e Aristóteles, dentre outros, nos conduz a validade da metafísica, em que pese a metafísica racionalista anti racionalista (sic) do alemão Kant, o qual negou a capacidade natural da razão humana com o objetivo de exaltar a fé cega (fideismo) influenciado como era pela religião Luterana e pela epistemologia negativa e irracionalista luterânica, a qual reporta a Agostinho de Hipona. Kant foi o Filosofia portátil de Lutero e transplantou para o terreno da Filosofia um aspecto pessimista ou negativo de procedência religiosa, seja Luterana ou agostiniana como queiram. Os gregos naturalistas não conhecem qualquer limitação antropológica em termos de aquisição do conhecimento, o próprio Pirro, tomou sua tese ao budismo na ìndia enquanto acompanhava Alexandre. É paradoxal que a epistemologia empregada pelos ateus com o objetivo de remover o tema de Deus da Filosofia para a fé, seja de origem religiosa, o que em termos filosóficos implica contaminação, uma vez que a Filosofia é inteiramente distinta da religião, tomando por veículo a razão. A epistemologia fiel ao naturalismo, clássica não foge ao tema Deus i é a metafísica.

É verdade que Kant também tentou a um tempo corrigir Hume - salvando assim o conhecimento científico atinente aos fenômenos - e a um tempo dialogar com ele. Foi muito mal sucedidos em todos os sentidos e por isso após os delírios positivistas os pós modernos tornaram a Hume, chegando K Popper a reintroduzir sua perspectiva na Filosofia da ciência, resultando disto o triunfo do relativismo, do subjetivismo...

Seja como for, por mera conveniência, parte dos pensadores, apegaram-se a Kant como um Papa e a seus preconceitos anti metafísicos como a um dogma, o que até certo ponto corresponde a lei do menor esforço. Exige a metafísica segura, domínio de inumeros conceitos da mais alta complexidade: Axioma, princípio de identidade, princípio de causalidade, princípio de contradição, categorias, ato, potência, matéria, forma, etc o que exclui da reflexão os menos aptos ou esforçados i é os imbecis. Hoje todos podem discutir e opinar sobre qualquer coisa sem conhecimento de causa, e isto é fruto do irracionalismo reinante. É como a arte moderna, psicologia e sem regras, e sem normas e isenta de racionalidade - daí poesia sem rima e métrica, melodia sem composição e harmônia, pintura sem perspectiva, etc Tudo isto está inter relacionado e ligado ao irracionalismo. Que é a negação da objetividade das formas.

Ora eu me oponho a tudo isto e assumo-me metafísico, aderindo a metafísica teísta, em oposição a ateísta, por parecer-me mais consistente, coerente e conforme os princípios da racionais a que aludi. Cagando e andando para Kant, devo lembrar que seu pupilo Schopenhauer - o qual detestava o grande Hegel - definiu o homem como um ser metafísico que faz metafísica naturalmente, mesmo quando negam-na, como no caso dos ateus que ultrapassam os limites da demarcação empírica, julgando poder saber com certeza, o que segundo Kant, Comte e Huxley, esta para além do acesso dos sentidos e do conhecimento seguro. Mesmo após Schopenhauer diversos pensadores - como Lotze, Hartmann, Brentano, Scheller, etc continuaram a elaborar sistemas metafísicos nada desinteressantes. Foram continuados neste século por - James Jeans, Eddington, Samuel Alexander, Overstreet, Anscombe e sobretudo pelo brilhante A N Whitehead, filio-me a esta corrente cognominada panenteísta. Sou portanto panenteísta.

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