domingo, 3 de setembro de 2017

O problema da neutralidade em ciências humanas

Resultado de imagem para K popper



Um dos temas mais polêmicos no que diz respeito a produção de um conhecimento científico é o da assim chamada 'neutralidade' ou isenção, a qual epistemologicamente chamamos objetividade.

A contrário do que se pensa o tema diz respeito tanto as ciência humanas quanto as ciências exatas, embora pareça mais sensível no campo das primeiras.

Para abordar o problema com propriedade devemos começar estabelecendo uma distinção absolutamente necessária: A neutralidade da produção do saber e a neutralidade em sua divulgação ou uso. E é evidente que ambas as instâncias: obtenção e uso do saber científico pertencem a esfera da ciência. Os positivistas no entanto criaram um espantalho bastante eficaz. Segundo dizem apenas a ciência pura é objetiva, já a ciência aplicada pertenceria a uma Ética, que eles por sinal repudiam.

A bem da verdade, como diz o professor Crane Briton, não se pretende ou pretendia mudar o átomo. A princípio a assertativa até parece veraz. Tenho-a no entanto por inexata, e pelo simples fato de que mal devassaram o átomo os cientistas pretenderam parti-lo com o objetivo de produzir uma determinada força. Diga-se o mesmo a respeito da célula ou dos genes, cuja manipulação tem determinados objetivos externos. Serão estes objetivos relacionados com a partição do átomo ou com a manipulação dos genes, e postos numa determinada direção, neutros, objetivos, isentos ou puramente objetivos? O que se deseja produzir a partir de tais experimentos? E sobretudo para que produzir tais fenômenos? Os cientistas certamente não estão preocupados com os fins últimos da ciência que produzem... Tudo isto no entanto é vendido como ciência. E o cientista vai acompanhando todo processo... Tenho para comigo, com Max Lerner, que nem tudo isto seja neutro...

No entanto nos é vendida a ideia de que a física e a química são ciências absolutamente neutras ou objetivas. Havendo no campo do positivismo quem as encare como equivalendo aos dois únicos campos da ciência, e, portanto - segundo os cânones do mesmo positivismo 'ortodoxo' - como as duas únicas formas de conhecimento válido e verdadeiro a que temos acesso. Segundo estes senhores nada poderemos saber fora do campo físico/químico, no qual vigoraria um tipo de empirismo puro e não contaminado pela razão ou pelo subjetivismo.

Seduzidos pela lábia dos positivistas toda uma série de biólogos e até mesmo de psicólogos e sociólogos adotaram sem mais i é passivamente, os métodos próprios das ciências exatas, buscando assegurar o mesmo grau de objetividade ou de neutralidade. Quanto a Biologia, foi até certo ponto acolhida e tolerada pelos sucessores de Comte, chegando a compôr trio com a Física e a Química, em que pese a jamais observável Evolução das espécies, classificada por K Popper como falaciosa, pelo simples fato de enquanto teoria não poder ser imediatamente constatada dependendo de todo um aparelho conceitual preexistente, o que implica contaminação racional ou subjetiva. Alias evolucionismo implica toda uma cadeia de causalidades, o que cheira a metafísica... Tal Pirro, tal Hume, tal Popper. De fato teoria alguma pode ser reduzida a um empirismo grosseiro supondo sempre e necessariamente algo mais... O quanto basta para exasperar o partido dos céticos.

Cumpre advertir o leitor de que alguns positivistas fanáticos e irredutíveis continuam repudiando o caráter cientifico da própria Biologia, pasme! Um deles alias, e bem recentemente, tendo entrado em polêmica como o famoso Biólogo Richard Dawkins - Devido, as ilações ateísticas e portanto metafísicas que costuma vender como ciência - questionou formalmente seu status de cientista alegando que não era nem físico nem químico.

Evidentemente que esses senhores, completamente dominados pela ilusão positivista construída em torno de um empirismo puro, levam adiante a antiga opinião, até certo ponto emitida por Francis Bacon, de que a ciência lida apenas com fatos imediatamente constatáveis - eles abdicam de quaisquer pretensões em termos de teoria - ou de que a ciência lida apenas com fatos, os quais, na mesma medida em que são descobertos, vão se encaixando por si sós em seu devido lugar... Sabemos no entanto que os fatos não podem se encaixar por si mesmos num plano geral a menos que este plano geral preexista na mente enquanto algo que transcende os fatos... O que nos conduz de chofre a ideia de todo um aparelho conceitual preexistente ou a teoria. Fatos são dados, e dados são organizados, classificados e relacionados pela capacidade racional do homem, numa direção bastante rigorosa a que chamamos lógica. Os positivistas sabem muito melhor do que nós que nem a racionalidade, nem a lógica pertencem a mesma categoria que a experiencialidade. A lógica diz respeito a operações mentais de caráter interno com relação ao homem, são realizadas no corpo físico e pelo corpo físico, fugindo no entanto a materialidade pura e supondo a existências doutra realidade existente na matéria e com a matéria. Não entrarei no mérito desta questão, mas sei que para os positivistas tudo isto implica contaminação subjetiva.

Até aqui restrinjo-me a Biologia, cujo fundamento pétreo é a teoria da Evolução... Algo que não é imediatamente constatável a partir da experiência, e que foge ao empirismo puro canonizado pelos apóstolos do positivismo e do cientificismo. Ah só uma observação: Os criacionistas e fanáticos religiosos agradecem e aplaudem os positivistas na medida em que - com o charlatão Popper - buscam apresenta-la como uma formulação puramente subjetiva ou como mero preconceito, declarando insolúvel a questão sobre a origem da vida. Claro que essa petição de incognoscibilidade tende a favorecer os mitos tomados ao Gênesis, ao Corão e a outros livros religiosos, na medida em que nos tornamos capazes de opor-lhe qualquer outra coisa em termos de concretude. Afinal os espaços que acabam não sendo preenchidos por algum tipo de conhecimento válido e verdadeiro ou científico, acabam sempre sendo invadidos pela superstição. Sintomático que os ulemas e pastores fundamentalistas estejam bastante familiarizados com as epistemologias contemporâneas, sejam elas positivistas, céticas, relativistas, subjetivistas, etc Eu mesmo já tive o prazer de escutar o falastrão do Silas Malafaia recitando K Popper em seu programa de TV!!!

Constato que a epistemologia da ciência, fugindo a solução realista - seja a de Aristóteles, a de Lênin ou qualquer outra - voltou-se contra o próprio conhecimento científico, já no que diz respeito a Biologia. Imaginem então qual seja a condição das ciências ou dos conhecimentos humanos dentro destes esquemas pretensamente neutros ou objetivos???

Do ponto de vista do empirismo puro, que é o carro chefe do positivismo, não há como fugir a constatação de que as ciências humanas não são ciências, e portanto, ainda na perspectiva do positivismo, de que não são conhecimentos válidos e verdadeiros a respeito dos quais podemos ter alguma certeza.

Neste caso que são as ciências humanas?

Tal e qual a Ética ou da metafísica (Porque a Ética é se sempre será domínio da metafísica, fugindo ao monstro da experiencialidade pura - A EXPERIENCIALIDADE NÃO PODE DETERMINAR O QUE DEVE SER APENAS O QUE É.) a respeito da qual os positivistas não fazem caso algum, o que cognominamos 'ciências humanas' não passa de formulação puramente subjetivista, relativa e cultural. Nem mais nem menos...

Naturalmente que nem todos os cientistas concordam com os pontífices do cientificismo ou aceitam as pretensões dos teóricos positivistas. Em maior ou menor medida no entanto refletiu-se a crítica positivista no campo das próprias ciências humanas produzindo uma enorme sensação de insegurança, dúvidas, questionamentos, etc Tudo em torno da busca pela puridade científica definida como objetividade pura e consequentemente neutralidade, isenção; até a apologia do descritivismo levada ao absoluto.

A tônica aqui foi copiar os métodos materiais e empíricos das tais ciências exatas e transferi-lo para o campo das humanidades. Desde então foi proclamada apriorística e pomposamente a materialidade absoluta do homem, o que em termos de Psicologia por exemplo deu origem a curiosa vertente dos behaviorista. Se o átomo e puramente material e a célula puramente material por que cargas dágua o homem fugiria a esta regra geral? Percebam o caráter metafísico ou especulativo do questionamento. De fato alma ou espírito algum - em termos de entidade imaterial - foi encontrado no homem, ao menos pelos Biólogos... Sob pena de heresia, i é de chocar-se com a mística cientificista, tiveram as ciências do homem de professar o novo dogma do materialismo. No entanto entre a noção de limitar o campo de investigação das ciências empíricas a materialidade e professar o que sabemos por materialismo vai larga diferença... Ficando expostas, mais uma vez, as guarras metafísicas do positivismo e seu mórbido estado de contradição.

Tal observação nos leva a um segundo aparte. O que os neo positivistas e cientificistas encaram como um progresso - i é, a afirmação tácita do materialismo no sentido de que todas as formas de existência sejam puramente materiais e que tudo quando exista posse ser percebido por nossos sentidos - era encarado por seus ancestrais ou pioneiros como pura e simples ilação metafisica. Assim o ateísmo, o teísmo, o espiritualismo e o materialismo; aos quais opunham a doutrina do silêncio, alegando que o sábia devia recusar-se a opinar a respeito de tudo quanto estivesse para além da experiencialidade pura ou do empirismo. Tal o domínio do mistério, por definição impenetrável. Os ateus e materialistas no entanto - os quais costumam apresentar-se como honestíssimos - costumam tudo embaralhar e confundir... Sem levar em conta os pressupostos ideológicos embutidos na opção cético/agnóstica e tomando o agnosticismo por brincadeira. No entanto para positivistas sinceros e agnósticos iniciados no domínio da epistemologia uns e outros ultrapassam a demarcação existente entre o conhecimento válido e verdadeiro e a metafísica...

Seja como for lá as ciências humanas deram de afetar não apenas os métodos próprios das ciências exatas como assumir o pressuposto materialista canonizado pelo positivismo contemporâneo. De fato as ciências físicas ou exatas são materiais e empírica no sentido clássico de reprodução controlada dos fenômenos analisados. Agora quanto as ciências humanas, seu campo de estudos é o homem com todas as variáveis resultantes de seu caráter enquanto ser auto movente, auto consciente ou livre. É o homem ser dotado de vontade e também de força para, dentro de certos limites, alterar a si mesmo e o o entorno de si. O que não pode ser desconsiderado sem grave dano para as ciências do homem. Reproduzir o pressuposto materialista e inseri-lo no domínio das ciência humanas, isto sim implica mutilar o homem e distorcer a realidade. Se há algum elemento nas ciência humanas que contamina a dinâmica do conhecimento tornando-a permeável a ação da subjetividade, é justamente a afirmação apriorística do materialismo. Jamais o positivismo ou a ciência levou a sério a simples possibilidade de averiguar seriamente a existência, no homem - e por meio dos efeitos ou consequências - de algo que fuja a materialidade pura e simples. De modo que a ideia ou ideologia foi imposta antes de qualquer inquérito isento ou imparcial.

O materialismo, digamos honestamento, foi transplantado das ciências exatas, físicas ou materiais para os domínios das ciências humanas por exigência dos teóricos positivistas e sob pena das ciências humanas não serem reconhecidas por eles como objetivas e consequentemente como um tipo de conhecimento válido ou verdadeiro. Não nos limitamos a copiar os métodos de todo inadequados das ciências físicas, assumimos seus pressupostos aprioristicamente como se o homem equivalesse a um átomo ou a uma célula, nem mais nem menos. A mente foi ignorada e a própria Psicologia não behaviorista classificada preconceituosamente como anti científica! Para não falarmos na Psicanalise, levada ao mesmo por K Popper ao mesmo pelourinho que a Evolução das espécies e pelos mesmos motivos. Felizmente Engels - pelos idos de 1860 na controvérsia contra o radical E Dietgen - reconheceu que as alegações materialistas ainda não estavam empiricamente demonstradas (queria dizer cientificamente), prenunciado no entanto que tal demonstração não tardaria a ser feita. Mais de meio século depois foi a mesma profissão de fé, realizada pelo líder comunista e epistemólogo W Lênin, o qual também teve de reconhecer que a demonstração científica do materialismo ainda não havia sido elaborada. Isto do lado comunista, cujo amor e dedicação ao dogma materialista são bastante conhecidos. Agora vejamos do outro lado - Popper e Eccles em um livro sobre o cérebro escrito pelos idos de 1970 reproduziram quase que textualmente as palavras de Engels e Lênin admitindo que os fenômenos de consciência não podiam ser, em sua totalidade, reduzidos a massa encefálica em termos de empiria. Penfield pela mesma época e após ter estudado o cérebro humano por quase meio século também teve de admitir que em termos de capacidade cognitiva e consciência, algo fugia a materialidade pura e simples e que em nome da experiencialidade não se podia afirmar que nossa massa encefálica fosse a única produtora de todos estes fenômenos em termos de causalidade pura e simples.

Portanto o processo da Psicologia e a Psicanálise é que não nos parece estabelecido sobre bases científicas ou isentas como querem os positivistas, mas sobre bases preconcebidas e viciadas. Suas constatações e conclusões, auferidas por métodos bastante distintos das ciências exatas, jamais foram levadas a sério, justamente por se lhe exigir - preconcebidamente - que adotasse os mesmíssimos métodos que ela e averiguasse os fenômenos mentais ou de consciência por meio de provetas, tubos de ensaio, réguas, balanças, etc Freud e seus sucessores foram classificados como heréticos justamente por não admitirem tais interferências metodológicas, e isto pelo simples fato de partirem de indivíduos totalmente alheios a especificidade dos fenômenos em questão. Os quais como papas infalíveis e sem conhecimento a respeito da matéria buscavam impor arrogantemente seus pontos de vista empírico/materialistas ou positivistas. Tal o caráter da 'odiosa Revolução' iniciada por Freud.

Não menos do que a Escola behaviorista de Psicologia - que representa uma Psicologia rasa, digamos de passagem - algumas Escolas Sociológicas, embrenharam-se pelo mesmo caminho das ciências exatas ou empíricas. Marx por sinal já havia incorporado a metafísica ou ideologia materialista a sua escola social. Durkheim evidentemente foi pelo mesmo caminho, se bem que o profundo Gabriel Tarde, identificasse já algo de metafísico ou abstrato em suas categorias e formulações, o que não haveremos de discutir neste artigo. Seja como for um dos primeiros teóricos a considerar o aspecto psicológico e livre do homem no terreno da Sociologia parece ter sido M Weber, pensador social cujos escritos reportam frequentemente a intencionalidade do agente humano. É mérito seu ter inserido o homem no contexto social ou sociológico, o qual com ele deixa de ser uma partícula determinada pelo ambiente para ao menos interagir com ele pondo algo de seu. E nem podemos deixar de encarar esta tese, que faz jus a liberdade humana, como a mais objetiva, isenta e próxima da realidade no âmbito da Sociologia.

Quanto a História e o Direito naturalmente que o positivismo não pode encarar tais áreas do conhecimento sequer como ciências humanas mas como técnicas. Reconstituir a História ou analisar as relações sociais em termos legais, é para o positivismo algo eminentemente prático. Mas desde quando a experiencialidade de todas as demais ciências foge a praticidade??? Desde quando aos diversos procedimentos ou metodologias encetados pelas diversas áreas do conhecimento falta este aspecto prático??? A única diferença a ser considerada aqui é que a técnica relativa a produção do saber no âmbito das ciências exatas equivale a determinados meios de controle realizado num local específico chamado laboratório. Tendo por regra a reprodução e controle dos fenômenos em questão. Já o trabalho do Historiador se dá fora de um laboratório - podendo ser realizado em sua residência, num arquivo, numa Biblioteca, etc - ou como dizemos na vida vivida, embora não exclua a contribuição de ciências auxiliares bastante 'laboratoriais'. Assim a arqueologia tem métodos de investigação tão precisos quanto a medicina com seu olhar clínico... É a medicina uma ciência ou uma forma de conhecimento válido ou verdadeiro??? Há positivistas 'sunitas' que ousem nega-lo??? Neste caso apontemos as sucessivas curas obtidas pela medicina e levemos em questão os resultados...

A bem da verdade o praticante de ciências exatas, físico, químicas ou mesmo biológicas, treinado na escola do positivismo, desconfia de qualquer controle realizado fora de um laboratório ou de qualquer método que não seja a reprodução controlada. Acontece que o Historiador não pode reproduzir eventos humanos ou sociais realizados no passado. Sua tarefa não é reproduzir mas reconstituir e compreender, relacionando cada evento com sua causa ou causas imediatas. (Não se trata aqui de causas gerais, as quais são buscadas pela Sociologia, não pela História)

E no entanto, como já dissemos o Historiador academicamente graduado, tem lá seu método, bastante rigoroso e tão adequado aos fins quanto o método do médico ou do detetive. Havendo dentre eles quem faça trabalhos bastante sérios como um L Ranke, um Doellinger, um Jhansens, um Lamprecht, um Breasted, um V G Childe, um P Montet, um Parrot, um Soustelle, um Ganchoff, um Pirene, um Huizinga, um L Febvré, um M Bloch, um Toynbee, um Spengler, um G Duby, um Le Goff, um Christopher Hill, um Keith Thomas, um Delumeau, etc, etc, etc

O problema aqui é tomar a definição de ciência como sinônimo de único tipo de conhecimento válido e verdadeiro - crença subjacente nos domínios do neo positivismo - e lançar em bloco, ao fogo, as obras dos autores acima, juntamente com as obras de arrivistas, charlatães e pseudo historiadores sem formação a exemplo de Daniken, Sichtin, Churchward, etc Claro que a falta de Historiadores reconhecidamente responsáveis e competentes o grande público sentir-se-a tentado a abraçar explicações mitológicas... Até passar dos braços do Daniken as mãos do Malafaia. Tomando a Bíblia e o Corão não só como manuais de Biologia, mas também de História - Vindo o ceticismo dos positivistas a alimentar a superstição e o fanatismo das massas.

A outra face do problema, transferida das ciências exatas para as ciências humanas, gira em torno do caráter meramente descritivo ou normativo da ciência ou das ciências. Via de regra o físico ou o químico não exaram juízos de valor a respeito dos fatos que descobrem. E por si mesmos dificilmente lhes ocorreria a ideia de alterar o ponto de ebulição da água, o qual nem mesmo avaliam em termos de bem e mal.

Já os problemas suscitados pelas ciências humanas, da mesma maneira que os problemas enfrentados pela medicina - isto as doenças - dificilmente deixam de suscitar semelhante tipo de avaliação i é Ética ou em termos de bem e mal. Em geral os assuntos ou fenômenos humanos relativos a ação livre do homem despertam no analista o vivo desejo de opinar, não talvez enquanto analista ou cientista, mas certamente como homem. A própria condição humana leva-nos a avaliar em termos qualitativos o quanto seja humano e esta tendência parece natural e insuperável. O positivismo no entanto compreende que devamos permanecer absolutamente neutros diante deles... No entanto como poderia o médico permanecer total e completamente neutro diante dos sofrimentos de seu paciente ou de uma enfermidade extremamente dolorosa??? Como o Historiador poderia permanecer neutro e isento face a tantos roubos, assassinatos, estupros e crimes hediondos constatados por si???

Podemos exigir do ser humano uma semelhante impassibilidade ou isenção sem mutila-lo? Podemos chegar a um meio termo?

Quanto ao Psicólogo, que trabalha com enfermidades de caráter mental ou comportamental, não vejo como possa deixar de assumir uma postura normativa, já aspirando curar ou corrigir a enfermidade em questão, já preceituando tudo quanto seja necessário a cura. O Psicólogo deverá trilhar o mesmo caminho que o médico do corpo, pelo simples fato de ser o médico da alma. Nem vejo como poderá permanecer neutro e isento diante dos fatores que acarretam ou causam as enfermidades mentais, mormente quando provocados deliberadamente por outros seres humanos. Seria demais pedir a um Psicólogo digno deste nome que encarasse com naturalidade e complacência a cultura da repressão sexual. Naturalmente que uma cultura ou um modo de vida responsável pela produção de certo número de enfermidades mentais, tende a ser questionada pelo Psicólogo ao menos enquanto homem que é. A ciência limitar-se-a a verificar a relação existente entre determinado comportamento ou prática social e a enfermidade mental. A ciência para por aqui e seu trabalho esta realizado. No entanto seria demais esperar do cientista, enquanto homem que deixasse de denunciar aquele tipo de comportamento pernicioso.

Por estranho que pareça a Sociologia não foge tanto a esta regra.

A Sociologia como disse Weber é meramente descritiva, limitando-se a descrever a realidade social tal como é. A Sociologia esgota-se nisto, pleno acordo.

No entanto, não decorre disto, que o Sociólogo - que também é um homem e como tal um Ser Ético -deva furtar-se a toda e qualquer apreciação em termos de princípios e valores, buscando remédios com que sanar as enfermidades sociais e utilizando-se da própria Sociologia como ferramenta preciosa. Como Sociólogo limitar-se-a a descrever. Como homem, cidadão e pensador no entanto é absolutamente natural que denuncie e combate as mazelas sociais que descreve. O único tributo exigido pela honestidade é que apresente-se como Sociólogo apenas quando e enquanto descreve e como pensador ou Filósofo Social enquanto crítica e indica soluções. Alias quem melhor para indicar soluções e propostas do que um pensador social formado em Sociologia??? Quanto a impedir o Sociólogo de pensar a sociedade que descreve partindo de seus princípios e valores, da ética ou da idealidade, em que se baseia tal pressuposto??? O máximo que podemos exigir do cientista em questão é que separe bem uma coisa da outra... Sabendo no entanto que metafísicos ateísticos a exemplo de Hitchens, Dawkins e Harris não procedem assim. E vai lá molesta-los o positivismo??? jamais vi...



Nenhum comentário: