quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sobre ciganas, feitiçaria e livre-arbítrio





Li no jornal Expresso Popular a notícia que se segue: CASAL É PRESO EM
PG ACUSADO DE EXTORSÃO

A vítima, um empresário de 57 anos, estima ter perdido R$ 70 mil em dinheiro e produtos

EDUARDO VELOZO FUCCIA

Casado há mais de 30 anos, com vários filhos e netos, um empresário da Baixada Santista, de 57 anos, não se sentia plenamente realizado sob o ponto de vista afetivo.
Abandonado pela amante, ele queria reconquistá-la. Para isso, recorreu a uma suposta cigana, que publicou em um jornal o seguinte anúncio classificado: "Trago o seu amor em uma hora, esteja aonde estiver e com quem estiver (sic)".

Cinco meses se passaram e o empresário não retomou o relacionamento com a ex-amante. Ao contrário, caiu em uma armadilha da falsa cigana, que passou a extorqui-lo e lhe causou prejuízos de R$ 70 mil aproximadamente, entre dinheiro e bens a ela entregues.
Segundo o delegado Luiz Evandro de Souza Medeiros, logo na primeira consulta com a Cigana Potira, denominação usada pela acusada no classificado, o empresário lhe confidenciou intimidades de sua vida conjugal e extraconjugal.
"De posse dessas informações, a Potira passou a extorquir o empresário, exigindo quantias em dinheiro e objetos eletrônicos para que a esposa dele não soubesse nada a respeito da amante", completou o investigador Marcelo Canuto.
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Pois é, estamos no século XXI, no ano de 2010 e ainda tem gente que acredita em milagres, feitiços, encantamentos e toda sorte de superstições propagadas por bruxas, feiticeiros, pajés, pastores e padres.
Os charlatães só existem porque existem pessoas ignorantes, crédulas e são crédulas porque não se dão ao trabalho de estudar e de pensar criticamente. Querem viver num mundo mágico, onde o dinheiro e os encantamentos tudo conseguem. É a vontade de se tornar onipotente.

Como se pode ver pela reportagem o empresário, tinha uma amante sabe-se lá há quanto tempo, o homem de bem enganava a esposa. A amante o abandonou e ele sentiu-se carente e queria voltar com a amante, leu um anúncio no jornal que uma cigana traria o seu amor de volta, o homem de bem não titubeou, foi procurar a cigana, foi buscar sua felicidade.

Que a cigana é uma charlatã nem vou discutir, é ponto pacífico. O que quero debater aqui é sobre o pensamento do empresário. Esse senhor, pensa que as pessoas são como mercadorias, que podem ser compradas e usadas. Pensa que pode quebrar a liberdade alheia por meio de feitiços, e isso é imperdoável e apenas mostra o seu egoísmo. Talvez pelo fato de ser empresário estivesse acostumado a vender e a comprar coisas e de certo pensou (talvez ainda pense) que as pessoas também são mercadorias feitas para saciar seus desejos.

É evidente que não existem simpatias, feitiços, encantamentos, rezas, orações e campanhas para se conseguir um grande amor quebrando sua liberdade. Mas o desejo de se quebrar a liberdade alheia já mostra o tipo de pessoa que é o empresário: imatura, egocêntrica, que se julga o centro do universo. Como não conseguiu quebrar o livre-arbítrio da amante com o seu dinheiro, se valeu dos "poderes mágicos" de uma certa "cigana". Se pudesse obrigar sua amante a ficar com ele por meio de coações, é óbvio que o faria, se é que não o fez. Como se viu impotente diante das circunstâncias procurou uma ajudinha sobrenatural, só que se danou! Bem feito!!! Um homem quase sexagenário, empresário acreditar em ciganas!!! É capaz que acredite no coelhinho da páscoa e no Papai Noel também.

Essa procura das pessoas para buscar graças e milagres é imoral, porque imprimem ao Ser Supremo, um caráter de negociante. De certa forma essas formas de religiosidade fetichista apenas nos revelam o caráter das pessoas, revelam como agiriam com os seus semelhantes pelas vias naturais caso pudessem fazê-lo.

Um comentário:

Nekomata Reikainosuke disse...

Não apoio charlatanismo e vigarice, mas nesse caso o empresário pediu. Aliás, achei que 70 milas foi pouco prejuízo, ele merecia perder mais.

Achei a sua análise brilhante. Este foi um pequeno exemplo que demonstra o quão mesquinho é o homem capitalista.