sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Garrett surrando o Sardinha ou deslindando a toxidade, não da democracia ou da liberdade, mas do Economicismo ou do ethos burguês.






Em apoio do quanto registramos no artigo precedente reproduzimos abaixo as profundas considerações do ilustre literato português sobre o velho estado religioso ou confessional, sem duvida deteriorado pelo estatismo e absolutismo, em comparação com o um Estado Político de trânsito ou passagem para a treva economicista e portanto contendo os germes que o haviam de fazer enfermar, agonizar e morrer no tempo presente. 

Atentem que a visão acurada de Garret, falecido em 1854, era bem mais acurada que a do Sardinha (Nascido em 1887 - Portanto mais de trinta anos depois.) o qual, preso de estranha paranoia, pouco ou nada presumia do capitalismo ou do mercado e do protestantismo - Exatamente como os neo romanos ou tortodoxos de fancaria, títeres da cultura de morte protestantes ou da sifilização norte americana.

Substituam a expressão 'barões' por 'burgueses' por 'capitalistas' e a atualidade do texto saltara as vistas:

"Frades... Frades... Não, não gosto deles. Como os temos visto neste século, como os conhecemos hoje, não gosto deles e não os quero para nada, moral ou socialmente falando.

No ponto de vista estético porém, o frade faz muita falta...

Nos campos o efeito era ainda maior: Eles caracterizavam aquela paisagem, poetizavam a situação mais prosaica do monte ou vale; e sem tais necessárias e obrigadas figuras aquele painel não é já o mesmo.

Além disso, o convento no povoado e o mosteiro no ermo, amenizavam e davam grandeza a tudo: ELES PROTEGIAM AS ÁRVORES, SANTIFICAVAM AS FONTES e enchiam a terra de poesia e solenidade.

O que não sabem, podem ou querem fazer OS BARÕES AGIOTAS que os substituíram.

É muito mais poético o frade que o barão.

O frade era, até certo ponto, o Dom Quixote da Sociedade antiga.

O barão é, sob quase todos os aspectos, o Sancho Pança da sociedade nova...

O barão é pois USURARIAMENTE revolucionário e revolucionariamente usurário...

Por isso brigamos muito tempo, afinal vencemos nós, e assentimos em que os barões corressem com os frades da terra. No que fizemos uma SANDICE como nunca se fez outra. O BARÃO MORDEU NO FRADE, DEVOROU-O E ESCOUCEOU-NOS A NÓS DEPOIS...

Sim, o frade não nos pode compreender a nós e por isso morreu, e nem nós pudemos compreender o frade, e por isso constituimos esses barões que nos conduzem a morte e fazem morrer.

São a moléstia deste século; são eles e não os jesuítas, a cólera morbus da sociedade atual são os barões. Nosso amigo Eugênio Sue errou feio em seu 'Judeu errante', o qual precisa ser refeito.

Decerto foi o frade que errou primeiro em não querer compreender a nós, a nosso século, a nossas inspirações e inspirações; com que falseou sua posição, isolou-se da vida social e fez de sua morte uma necessidade por assim dizer infalível e sem remédio.

Assustou-se com a liberdade, que era amiga sua, e que o havia de reformar, e associou-se ao despotismo, que de modo algum o amava, senão relaxado e vicioso, para dele servir-se e servido ser.

Nós também erramos em não entender o tolerável erro do frade e em lhe não dar outra direção social, e EVITAR ASSIM OS BARÕES, QUE É O MAIS DANINHO BICHO ROEDOR...

E eu que sou da liberdade e do progresso antes prefiro a oposição dos frades de ontem a dos barões de hoje...

O progresso e a liberdade perdeu, não ganhou.

Quando me lembra tudo isso, quando vejo os conventos em ruínas, os egressos a esmolar pelas ruas e os barões de berlinda, sinto saudade dos frades, não dos frades que foram mas dos que podiam ter vindo a ser."

Não era democracia ou liberdade em si mesma como fim mas, democracia de ocasião, de passagem ou trânsito para o mercado, para o acúmulo irrestrito de bens, para um novo ethos, para uma nova cultura, para uma cultura exógena, para o economicismo. E foi a ruína e transtorno do nosso universo seja ele grego, latino ou medievo - Nem o Rei e menos ainda o Povo ou os cidadãos mas o barão i é o burguês, o patrão ou o empresário > E Sim, este novo mundo saiu muito pior do que os antigos!

Já não há decerto o monstro infame das inquisições, colossalmente inchado ou engordado pelos 'liberais' ingênuos ou safados... Que nem todos os frades eram queimadores de gente (E a maioria não era!) como foram cruéis e insensíveis e assassinos os barões ou patrões do século XIX já na Inglaterra, já na Alemanha e quiçá na própria França...

A figura desse empreendedor santificado pela imprensa moderna. A figura desse empresário sem consciência. A figura do bancário avarento foi historicamente muito mais danosa que a do inquisidor, a do rei ou a dos Revolucionários, ao menos quanto a extensão do poder. Apenas a figura do empreendedor conta com advogados contratados que lhe emprestam as mais róseas tintas, e fica como um macaco maquiado... 

Porém foi ele que poluiu e polui a terra, que exterminou e extermina animais, que aniquilou e aniquila florestas não sem ter feito trabalhar a mulher grávida, o idoso e a criança de seus quatro anos em troca de um mísero naco de pão...

Essa História já foi muito bem escrita e registrada não por Marx, Engels ou Lênin ou ainda por seus embiocados seguidores mas pelo Cristão Charles Dickens - A tinta negra ou vermelha brota do cálamo de Dickens o qual nos revela o feito desses barões que prostituíam nossa democracia e nosso liberalismo puro tal e qual haviam prostituído a fé nos tempos da infeliz reforma protestante...

Sardinha, cego pela ideologia ou pelos amores que dedicava a anglos ou germânicos, não pode percebe-lo, mas percebeu-o o velho Garrett, que lhe dá uma aula.

O frade romano ou ortodoxo lá estava, no quadro ou contexto, do campo e da Vila em comunhão com a mãe natureza, convivendo ou comungando com animais, e árvores, e fontes - A exemplo do seráfico pai S Francisco ou de S Serafim de Sarov... E os defendiam, guardavam e protegiam... Mantendo e conservando aquele ambiente pintado pelo pincel de Millet - Em que ao por do Sol os lavradores dobravam os joelhos sobre a negra terra que os nutria e recitavam a Ave Maria a mãe de seu pobre Deus enquanto dobravam os sinos... 

Havia trabalho duro e fatigante, sim havia. Mas também havia sentido para quem era senhor de seu pequenino torrão, para aquele que em sua choupana era aguardado pela esposa devotada e pelos filhinhos saudosos... Congregados em torno de uma mesa onde havia pão cheiroso tirado do forno, azeite, queijo e vinho. E flores plantadas e torno a pequena casa. E o cão e o gato abanando suas caudas.

Parte deles não era constituída por proprietários ou donos de terra. Havia que se lhes ter dado terra e não movido a cidade. Pois já não há terra para dar... E sequer trabalho nas grandes cidades - Menos ainda trabalho digno. E menos ainda liberdade. E lhe tiraram a esposa - Que hora também trabalha como uma burra! - e os filhinhos (Postos na creche), e as flores, os animais... Tudo enfim. Até que esse homem e essa mulher, pelas mãos do barão ou do burguês, conheceram a angústia e o desespero, uma escravidão oculta ou disfarçada.

Sim, o tempo do Frade era menos ingrato.

Não nos enganemos - Não considero esse modelo ideal ou perfeito, antes muito mesquinho... Porém em comparação com o mundo urbano do assalariado é e era paraíso.

E não adianta dizer ou clamar que o capitalismo que pinto não é mais o mesmo, que transformou-se também e tornou-se mais humano e suportável, e desejável em tempos em que um governo inspirado. Tal devemos agradecer aos anarquistas, fabianistas, trabalhistas, católicos, etc que moveram céus e terras para criar uma legislação protetiva que jamais cessou de ser ameaçada pelos economicistas ou capitalistas.

Nem a concederam de bom grado, nem jamais se conformaram com ela.

Daí a atividade frenética do governo anterior, liberal economicista ou capitalista - Não fascista como quer a esquerda pós modernista desmiolada. - no sentido de destruir essa legislação e fazer o Brasil recuar ao século XIX, inglês, por sinal... Quadro social a respeito de que, diziam alguns analistas, era ainda mais cruel do que a escravidão negra em nosso país. Pois o cenário urbano na Inglaterra e na Alemanha do século XIX foi monstruoso... E o ideal economicista jamais se desprendeu dele, clamando a todo instante pela ilimitação ou pela restrição do Estado, ainda quando democrático ou popular.

Para as populações rurais de toda Europa foi o liberalismo econômico autêntica porta sobre o qual bem se poderiam fixar as memoráveis palavras: "Vós que aqui entrais perdei toda esperança de sair." 

Não, o frade jamais fora tão cruel e mesquinho quanto o patrão e os mosteiros até ofereciam escolas, enfermarias, dispensários, asilos, etc O que jamais se viu ser oferecido em larga escala pelos maravilhosos empreendedores do século XIX.

Parece-me, como a Garrett, necessária, a passagem do regime confessional ou credal ao político e laicista, de modo algum a passagem ou trânsito do Estado político ao estado Econômico, empresarial ou economicista - Como já é abertamente defendido por certos panfletários ANCAP oriundos dos EUA. No entanto se tal passagem, do puramente político ao econômico corresponde a um fenômeno inelutável, então laboramos em erro grave e devemos reconhecer que os conservadores totais ou ''católicos" atidos ao modelo medieval estariam certos. 

Pois nossa democracia, a democracia que queremos não é a dos EUA ou da Inglaterra por não ser mínima quanto a qualquer coisa mas ampla (Dentro do espaço do Bem Comum) o suficiente para proteger o trabalhador, a ecologia, a natureza, as plantas, os animais, o mar, o solo, etc Nosso projeto é tão amplo quanto ao do frade de outrora uma vez que nosso olhar político e cidadão se inspira nos mesmos valores. 





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