terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A doutrina social e os equívocos da Igreja Romana - A grandeza e a miséria do Social Catolicismo.

Resultado de imagem para igreja em crise


Há coisa de dois ou três anos, tendo visitado um grande amigo meu, Comunista, não apenas de boca, mas conhecedor profundo daquela Ideologia e homem de imenso saber  - Poliglota, polímata, etc a conversa tocou na D S I, i é, na doutrina social da Igreja romana ou no Social Catolicismo. Principiou meu amigo e oponente dizendo que se tratava duma bela construção teórica ou uma bela proposta, porém, letra morta desprovida de um maior significado, uma vez que a própria organização que a concebera ou idealizara, na prática, parecia não leva-la a serio, pelo simples fato de pouco ou nada fazer no sentido de ve-la realizada ou concretizada. A impressão, segundo ele, era que a própria igreja romana não dava o devido valor a essa doutrina, ostentando-a como uma espécie de enfeite.

Ao calor da discussão tomei semelhante acusação por injusta...

Agora, passados tantos anos, ouso fazer 'Mea culpa' e reconhecer sua legitimidade.

Afinal, dispostos os meios, a mesma Sociedade que enfrentou heroicamente a máquina do Império Romano e que por tanto tempo enfrentou e conteve a jihad islâmica, ao menos por uma vez salvando o mundo Ocidental (Com seu tesouro de cultura Greco Romana) - pelo que merece nossa gratidão - bem poderia ter conjurado o espectro nefando do Capitalismo ou do liberalismo econômico enquanto expressão economicista subsidiária do materialismo e classificada pela Ética Cristã tradicional como sórdida avareza... Se bem que estivesse já essa Sociedade enfraquecida pelo advento do Protestantismo (Aqui o atenuante ignorado por meu bom amigo comunista).

No entanto é patente que a igreja romana cometeu dois colossais equívocos, um no Concílio de Trento, por aproximar-se doutrinalmente do protestantismo através  do agostinianismo (Jamais existiu qualquer contra Reforma exceto enquanto tentativa feita na França pelo Duque de Guise, mas assimilação de elementos protestantes como a teologia agostiniano da graça). 0 que por nós foi exposto em inúmeras dissertações teológicas.

O outro equívoco diz respeito ao Liberalismo Econômico ou Capitalismo e demais liberalismos emergentes... Vamos, arqueologicamente, tentar traçar esta História tão confusa.

O primeiro erro da igreja papa foi misturar ou confundir os Liberalismos criando um rótulo - vazio e absurdo: Liberalismo (No singular). Jamais existiu algo como um liberalismo exceto do ponto de vista da cultura protestante a qual batizou o liberalismo econômico tentando Cristianizar suas pretensões essencialmente anti Cristãs... Existiram sim diversos liberalismos (Uma pluralidade), de vária cepa e muito mal relacionados entre si, isto a ponto de podermos falar não apenas em tensão, mas em verdadeiro conflito, a que foge somente a cultura protestante americanista, na qual o elemento humano é esmagado e a dimensão Ética da vida negada ou minimizada. O anti humanismo de mercado é filho primogênito do anti humanismo protestante ou bíblico (Vetero testamentário).

Um é o L moral, outro o religioso, outro o Político, outro o econômico... Basta dizer que a mancebia entre o capitalismo e as ditaduras é bastante conhecida. Quando o L econômico é ameaçado por qualquer reforma democrática ou popular (ainda que rara) o L Político sai pela porta dos fundos ou é sacrificado.

Em que pese a tristeza, a justiça obriga-nos conceder que a igreja romana, exaurida pela luta contra as seitas protestantes não soube compreende (Como ainda hoje os Catolicismos não querem compreender - E por isto perecem!) a dinâmica da Cultura e o significado do Capitalismo emergente. E o resultado disto, o último resultado será já o Concílio do Vaticano II, já este tradicionalismo espúrio permeado pela cultura alienígena... E quando deu por si o inimigo oculto já havia ultrapassado as fronteiras, atravessado as muralhas e transformado em escombros esta cidade de Cristo, que ora tentamos reconstruir, ao menos teoricamente - De modo a iluminar e a inspirar as gerações futuras. Nós somos semeadores de novos mundos, em parte espelhados no passado... A Igreja de modo geral negociou. Imolou sua cultura, seu éthos, seu espírito imortal e assimilou uma cultura que jamais foi sua. O desastre da assimilação da adoração protestante e do sistema econômico capitalista pela Igreja romana, começou bem lá atrás, em Trento, com a falsa contra reforma, a qual não passou de assimilação. Primeiro a igreja Latina assimilou a fé protestante ou agostiniana a respeito da graça e em seguida a cultura e o padrão econômico produzidos pela HERESIA SOLIFIDEISTA. Tudo quanto ora vemos é um abandono do mundo e a derrocada (Aparente) da ENCARNAÇÃO. Não temos sido ENCARNACIONISTAS coerentes...

Concentrou-se a Igreja romana ainda nisto, imitando (Como uma macaca.) o protestantismo, e assimilando modos moralistas e puritanos (Sinais de decadência em termos de instituições religiosas.) - Pasme leitor, a Idade Média foi muito mais liberal (Nos termos da moralidade) do que os neo catolicismos, subservientes a crítica protestante/puritana que incorporaram - e atendo-se a uma forma política histórica i é espacial temporal, relativa e ultrapassada... Divisou um Estado forte quanto a moralidade dos súditos ou a vida privada mas, fraco quanto a Educação e assim quanto a vida política por estar diretamente subordinado a ela. E por instigação de reis e políticos incrédulos e ambiciosos perdeu seu fervor educativo, embora jamais abdicasse dele. Crendo fixo semelhante estado de coisas - o qual não era senão provisório - permitiu que parte dos seus profitentes permanecesse sob o jugo da ignorância, fabricando massas ao invés de povo (Do que tirou e tira proveito o protestantismo com suas seitas!). Assentiu que houvessem analfabetos nesta cidade cujos fundamentos mais sólidos deveriam ser a fé pura e esclarecida bem como um conhecimento elementar ao menos da Teologia e uma certa educação filosófica. E foi um erro fatal... (Nina Rodrigues já dissera, e com razão, que os Catolicismos não são assimiláveis pelas massas incultas.) Quanto a economia, setor em que as transformações aconteciam a galope nada discerniu ou fez além de impostos e alguns tratadinhos sobre comércio e moeda... Ignorou por completo este setor e receando um Estado Forte (quanto mais democrático!) apostou no Estado omisso, fraco ou mínimo...

Desde que o protestantismo serviu-se do Estado e da estatolatria com o objetivo de afirmar-se e que o Estado moderno, já absolutista, já democrático ou politicamente liberal, mas consolidado no poder, ameaçou, romper com o velho pacto, assumir a educação e desamparar o moralismo insosso, aspirou ela, a Igreja Romana, por um Estado frágil, inerme ou mínimo, sem cogitar que o economicismo disto pudesse tirar máximo proveito, introduzindo um novo padrão de cultura. Como jamais imaginou que as seitas protestantes tirariam mais e mais vantagem da ignorância em que jazem até hoje as massas sumariamente alfabetizadas ou apenas letradas, vitimadas por uma condição miserável. Miséria e ignorância alienaram as massas da Igreja assim que ela perdeu o controle da Educação ou das escolas...

Da associação entre o Estado frágil e a massificação dos grupos sociais resultou a inserção muito bem sucedida do liberalismo econômico e do protestantismo que são elementos solidários e formativos do agregado cultural americanista. Esta afinidade eletiva foi devidamente exposta pela corrente weberiana, a luz da qual compreendemos a dramática transformação porque passa o Brasil é a agonia do Ocidente. O Capital precisava e precisa de uma exército de reserva angustiado e as seitas de iletrados, semi letrados e imbecis para escravizar mentalmente por meio da superstição. As massas mal alimentadas e fatigadas constituem o pasto predileto das seitas todas... fornecendo-lhes inclusive válvulas emocionais de espace, por meio de um culto emocionalista copiado pelos carismáticos. Nada no sentido de TRANSFORMAR a realidade, apenas de deixar como estar, fornecer explicações falaciosas e tirar proveito. O fetichismo 'Cristão' é isto, e as estruturas perversas do mundo atual agradecem - É colaboração...

Enquanto tal se sucedia o gracismo e o solifideismo iam mais e mais contaminando a igreja romana. Até que chegamos a este aparente renascer chamado romantismo. O romantismo é fenômeno alemão, que antes de convergir para aparências de Catolicismo, surge numa Alemanha luterana. Por isso trás em seu bojo o ideal de uma comunicação direta com Deus ou de uma comunhão espiritual que parte do coração, sem precipitar-se necessariamente em obras... Por isso o romantismo produz uma praxis Católica venenosa e desligada por completa da tradição medieval que é a própria vida social. Disto resultou a crença horrenda (Quando parte dos protestantes, por falta de beleza, já não ia ao culto!) de que ser Católico é ir a Missa dominical e assimilar certos tipos de moralidade puritana, individualistas e oriundos quase todos do antigo testamento ou do judaísmo. A Idade Média, com suas associações que permeavam a vida, tinha sentido de Ética Cristã ou Evangélica, bem mais acurado. O neo romano do século XIX isolou-se de seus irmãos batizados, encastelou-se no recinto privado do lar, perdeu todo e qualquer vínculo social e criou para si uma falsa torre de marfim, o avesso da Cidade do Deus encarnado Jesus Cristo... Isto não é vida, é culto somente, fé somente, espiritualidade somente; protestantismo. Catolicismo é consciência, sentido, espírito, vida e prática. Algo que se vive e prática vinte e quatro horas por dia e trezentos e sessenta e cinco dias por ano. O Católico do século XIX não tem mais este perfil total, é obra em parte, corrompida, pela apostasia luterana com seu abandono do mundo, com sua desistência, com sua inanidade...

O Cristianismo foi perigoso. Face ao Império Romano, face ao Império Bizantino e face a Jihad islâmica e arabizante. O neo cristianismo luteranizado e avesso as obras não é perigoso. Pois desesperou de transformar o mundo e suas estruturas. Já não é sal - É água de flor de laranjeira ou rosas, calmante. Cristianismo não pode jamais ser calmante, tem exigências Éticas inegociáveis. Críticos de imensa cultura temem que retorne a suas autênticas tradições, tornando-se mais perigoso do que o anarquismo, o comunismo e o fascismo; embora seus métodos e fontes sejam bem outros. O capitalista estudado esforça-se por satanizar a Idade Média - Ainda aqui adotando os métodos da falsa reforma - e até os antigos padres e a tradição Cristã, social e humanista. Ele teme o episcopalismo ou os Catolicismos, mas não se importa com as seitas protestantes, mesmo quando assumem um viez teocrático. Sabe que elas jamais desampararão o economicismo, contentando-se com dominar o comportamento privado, inda que por meio do poder político.

Isolando-se uns dos outros os Católicos não perceberam nada disto. Nada, nada... Seus líderes - como Pio IX, continuaram a meter os pés pelas mãos... a disputar com o Estado em sua esfera, a combater pelo 'vitorianismo', a proclamar moralidades, a vindicar uma propriedade que mudará de significado por completo (A noção de propriedade MEDIEVAL não é a contemporânea), a condenar o Liberalismo qual fosse uma coisa só, etc Foi uma Cruzada inglória. Marx combatia a forma apenas do Capitalismo... E a Igreja não lhe atingia o espírito, o éthos, o coração ou a alma, que era necessário aniquilar e substituir por outra. De modo que não atingiu ela seu escopo...

E no entanto o primeiro meio capaz de - A partir de um controle indireto ou de simples orientação - implantar a doutrina social da igreja e de reformar as estruturas sociais no sentido da Tradição e do Evangelho, seria justamente um Estado forte. Democrático, popular e limitado a sua esfera, mas forte nessa esfera - Das coisas comuns, da convivência ou da Ética. Forte quanto a Ética humanista ou a promoção do ser humano e a afirmação da justiça (Aqui a República de Platão) em todas as áreas da atividade humana. Lamentavelmente a Igreja sempre suspeitou deste Estado (Mesmo quando Democrático ou Policrático!) até anatematiza-lo. Desamparados pela própria igreja os elementos populares, os demagogos liberais economicistas após terem assumido o protagonismo do movimento democrático, tomaram a direção das Escolas e fechou os mosteiros, beneficiando ainda mais a cultura protestante e capitalista... Ao invés de identificar os inimigos e a cultura de morte que os inspirava a igreja, cega, anatematizou ainda as formas democráticas, e postulou um retorno utópico ao velho Estado dirigido. CONCLUSÃO - Os maus liberais (Capitalistas) apresentaram-se como heróis e paladinos da liberdade, fazendo avançar a cultura americanista... A igreja - aqui muito falível, terrivelmente falível - fez o jogo deles, mesmo quando se lhes opôs...

Sim, os espertos americanizantes e economicistas jamais deixaram de tirar proveito dos equívocos cometidos pela igreja e assim de apresentar e promover o Liberalismo com um todo homogêneo, em que entrasse o capitalismo. De fato eles associaram o Liberalismo político - que é a alma da democracia - ao liberalismo econômico, isto com o premeditado objetivo de justificar este por aquele.

A loucura integrista ou integralista (Aberração no terreno da política, da ciência e dos costumes), reforçou este erro, pois quando honesta condenava ambos os liberalismos e sancionava a tirania, senão o velho ideal teocrático. Destarte os inimigos do despotismo - inclusive dos setores dominados! - passaram a encarar o capitalismo com franca simpatia e como elemento necessário de um pacote cultural superior ou mais civilizado. O próprio americanismo, que é antípoda da nossa cultura, foi assumido por não poucos... Enquanto isto dos simplórios Donoso Cortês, Salvany, Murilo, etc e mesmo um De Maistre ou um De Bonald continuavam a apresentar a modernidade empacotada... O que desaguou na Ação Francesa, com Ch Maurras, embora este tivesse já certa noção da cultura e das conexões ideológicas com o protestantismo. No entanto jamais situou o problema onde devia, na economia de mercado ou no economicismo, insistindo na tecla do político. Se Marx, foi prisioneiro daquele materialismo comum ao sistema que criticava Maurras foi prisioneiro de formas políticas que nada explicavam ou cuja dimensão era limitada face a cultura. Apenas Weber começou a decifrar esta esfinge...

Fácil é compreender que entre nós os frustrados do integrismo passaram ao americanismo - Como comunistas e fascistas tem migrado para o capitalismo e como ora passam ao islamismo, juntamente com alguns fundamentalistas protestantes e romanistas moralizantes (perceba o leitor a ilação!). E que do conflito entre o Estado democrático e a Igreja tirou partido o Mercado, assim como o Imperialismo Norte americano e toda essa cultura de morte, da qual, como elemento basilar faz parte o protestantismo, com seu abandono do mundo, seja pela fé somente ou pelo apocalipticismo. Aliás o economicismo apenas reivindicou um setor da vida abandonado pelo protestantismo... Bom insistir nisto, pois trata-se da fonte da crise porque passa nossa civilização.

Havia no entanto, para a Igreja ( Como ainda há, embora pareça por demais utópica) uma outra possibilidade - A do afrontamento ou da auto reconstrução a partir da Tradição ou do passado, no qual não haviam faltado meios com que enfrentar e vencer a Cultura de morte. Os próprios liberais economicistas, como os falsos cristãos mamonolatras ou avarentos, sabem melhor do que ninguém que o Cristianismo vivo é a suprema ameaça a este sistema. Por isso tentam a todo custo conter a expansão da consciência Cristã, sabendo que sua ética é mil vezes mais devastadora e temível que o Comunismo e o Anarquismo, posto que suas fontes são divinas! O materialismo, a avareza, a ambição excessiva, o economicismo capitalista tem a Deus por adversário e tal é o segredo do rei...

Cumpre apenas dar consciência a este corpo decadente, que como o Verbo Jesus pode ressuscitar e dar vida ao mundo. Ao Comunismo materialista e totalitário, não podia a mãe igreja estender fraternal e ingenuamente a mão. As atuais e legítimas aspirações ECOLÓGICAS não só pode como deve. Que aproveite o kairós para fecundar e encher de luz esta corrente do bem. Que saiba à luz da memória (TRADIÇÃO) recriar-se e recuperar os mecanismos espirituais com que no passado movia seus filhos, ora movendo-os a uma vida Ética coerente, intensa e avassaladora.

Nenhum comentário: