terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O rastro - Terror brasileiro que surpreende


Assista o trailer de "O Rastro", filme de terror nacional com Leandra Leal e Rafael Cardoso 

Não havia conseguido assistir ao filme Rastro no comecinho deste ano. Circunstância esta que deixou-me bastante chateado. Afinal ao menos para mim tratava-se dum evento bastante promissor.

Curiosamente não consigo me lembrar do que aconteceu...

A bem da verdade a decepção foi tão grande que acabei ficando sem assisti-lo. Ao menos até ontem, quando por absoluta falsa de opção lembrei-me dele.

A crítica já havia lido no começo do ano.

Que o brasileiro tenha preconceito contra o cinema brasileiro é público e notório.

A bem da verdade semelhante tipo de atitude até era compreensível, ao menos até os anos 90.

Glauber Rocha e Zé do Caixão era o quanto tínhamos e nenhum deles me entusiasma...

Nem sou um Policarpo quaresma para babar nos ovos de nossos empreendedores cinematográficos...

Vez por outra aparecia alguma coisa de relevante. Dercy Gonçalves e Marieta Severo foram exceções a regra, ignoro no entanto quem tenha dirigido tanto uma quanto outra.

Terror propriamente dito não tinhamos, mas nosso cinema era um terror.

Desde Central do Brasil(1998) temos progredido bastante, os preconceitos no entanto permanecem de pé.

Especialmente nos domínios da comédia o cinema brasileiro foi muito bem sucedido e feliz. O Palhaço (Shelton Mello), Não se preocupe, nada vai dar certo (Gregorio Duvivier), De pernas pro ar (Ingrid Guimarães), Podia ser pior (Fábio Porchat), Minha mãe é uma peça (Paulo Gustavo), A cilada.com (Bruno Mazzeo), E ai... comeu? são produções que nada ficam devendo as internacionais.

O terror no entanto não deslanchou, até que foi lançado "O Rastro", de modo geral, muito mal acolhido pela crítica 'rancorosa'.

A propósito do 'rancorosa' em nossas plagas já foi o crítico literário descrito como uma galinha que sendo incapaz de por ovos, só sabe ver defeitos nos ovos postos pelas companheiras.

Sejamos justos, de modo geral nossos críticos fazem jus a esta crítica.

E isto a ponto de, entre nós, a crítica ser encarada muito negativamente. O sujeito comeu algo que não lhe assentou bem no estomago ou brigou com a mulher, pronto,destila todo seu azedume num determinado artigo de crítica, bombardeando certo livro, filme ou composição musical. Erros e defeitos é tudo quanto vê este cidadão amargurado, enfezado mesmo...

Crítico tem medo de ser benfazejo.

E no entanto criticar não é apontar apenas equívocos, falhas e senões, mas... sobretudo e antes de tudo  identificar o quanto haja de bom , de belo e de verídico numa determinada obra e, consequentemente elogia, louvar e aplaudir aquele que a produziu. Não sendo assim temos uma crítica tão mutilada e incompleta quanto nosso modelo educacional, caracterizado mais por punições do que por recompensas, mais por censuras e reprimendas do que por elogios.

Penso que a crítica da arte deva ser mais positiva do que negativa e julgo que não tenha sido justa com Rafael Cardoso (excelente ator), Leandra Leal e grande elenco, em que mesmo o sensaborão Filipe Camargo soube representar seu papel com dignidade.

Quem disse que o Rastro não assusta só pode mesmo ser fã de O massacre da serra elétrica, Sexta feira treze, Premonição ou Jogos mortais com a decorrente efusão de sangue, e corpos despedaçados, o que qualquer um de nossos ancestrais anterior a 1789 encararia como banal. O Cel Carlos Brilhante Ustra, soube ser bem mais sádico e violento do que Hannibal Lecter, Jason ou Freddy Krueger, sem ser personagem de ficção... Houve e dá um terror real no Brasil mas não nos assusta. Apenas lobisomens, vampiros, diabos, demônios e possessos, assustam-nos. É cultural...

Claro que há, no Rastro, algo de sobrenatural ou que beira a sobrenaturalidade, mas é, como deve ser, discreto. Talvez mediunidade e certamente assombração, mas sem muita apelação. Quer encontrar o Sétimo passageiro, seu filme é alien, não 'O rastro'.

A par do sobrenatural discreto a temática de 'O rastro' engloba corrupção, repressão policial, mafia e muito mais. Conectado com a vida vivida ou com a realidade 'O rastro' torna-se verdadeiramente aterrorizante.

Terror precisa ser inteligente como o italiano, o espanhol, o francês, o inglês... sem jamais perder seu vínculo com a realidade. E assim fugir a banalidade de um 'Silent Hill' ou de 'O grito'. Parte da produção terrorífica Norte americana e japonesa, feita para o consumo das massas superficiais e impressionáveis. Com o rastro o terror brasileiro adquire a maturidade do terror europeu, façanha alcançada apenas pelo terror mexicano no final dos anos 60. (1968 "O livro de pedra" Marga Lopez)


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