sexta-feira, 9 de junho de 2017

Consultório pedagógico - Como explicar a evolução das espécies a nossos alunos? II


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Após termos procurado oferecer um panorama geral sobre o caráter do Evolucionismo enquanto conhecimento humano, uma breve introdução ao vocabulário científico e finalmente as principais evidências por ele oferecidas, tentaremos explica-lo da melhor maneira possível.

Para tanto, partindo do que já fora estabelecido no artigo precedente, devemos entender o processo evolutivo como um movimento de sofisticação orgânica em que as formas mais simples de vida vão dando lugar a formas de vida cada vez mais complexas e portanto, aptas para vencer os obstáculos postos por um meio em constante transformação e não poucas vezes hostil.

Evoluir pode ser definido como aquisição de um equipamento biológico que permita a determinada forma de vida adaptar-se com sucesso ao meio em que vive. E já adiantamos que a maior parte das mutações não vantajosas eliminadas pela 'Seleção natural' não podem ser compreendidas enquanto fenômenos evolutivos pelo simples fato de que não auxiliam o indivíduo a adaptar-se e manter-se, mas prejudicam-no. Assim se não há benefício, adaptação e continuidade como podemos dizer que houve de fato evolução???? Assim o que houve foi mutação e não devemos confundir os termos mutação e evolução. A Evolução é ao menos em parte efeito da mutação, mas a mutação não é a Evolução.

É importantíssimo por a questão nestes termos devido a afirmação de um discurso polêmico e anti teísta ou ideológico segundo o qual a Evolução nem sempre seria vantajosa ou benéfica para o indivíduo. Concordamos se quer dizer que a mutação pode produzir certo desconforto quanto ao ser mudado. No entanto se apesar do possível desconforto ela propicia condições favoráveis a sua conservação e a manutenção de sua posteridade - Logo da nova espécie produzida - não vejo como possa ser absolutamente desvantajosa ou prejudicial. Não vos parece que, caso a mutação favoreça a permanência do individuo e a conservação do novo tipo seja benéfica?

Compreendi que evoluir é adquirir uma alteração estrutural (relativo a forma do corpo físico) vantajosa que possibilite ao individuo em questão triunfar das dificuldades postas pelo meio e superar os demais membros da espécie, ou seja, aqueles que não adquiriram o novo equipamento, e que doravante tenderão a extinguir-se já por serem menos capazes de obter alimento - com relação ao individuo que sofreu a mutação e seus descendentes - já por se acharem menos expostos a predação. É uma mutação corporal que oferece aos indivíduos mudados e seus descendentes uma condição de superioridade face aos elementos da espécie que não a experimentaram.

Agora a pergunta chave? ALIAS JÁ RESPONDIDA.

Qual é o fator responsável por implementar a mudança? Qual o primeiro impulso, desencadeador do processo evolutivo? Qual o elemento chave em termos de evolução Biológica.


TAL O NERVO A CONTROVÉRSIA ou o calcanhar de Aquiles em termos de compreensão.

Devido a disparidade das respostas oferecidas, a obscuridade e a confusão reinantes.

Antes de Batenson e De Vries (isto em 1904 ou há cerca de 110 anos!!! - MARQUE ISTO!) todos os cientistas, na esteira de Ch Darwin e R N Wallace - teóricos da 'Seleção natural' - estavam convencidos de que a própria Seleção natural, é que introduzia as modificações nas formas, e esta é a origem do Imbroglio na medida em que, ao menos entre os leigos (Professores, jornalistas, ensaístas, autores de livros, etc) mantiveram até nossos dias esta ideia equivocada, certamente devido ao colossal prestígio adquirido por Darwin e Wallace, os quais sem embargo, observaram e recortaram apenas uma parte do processo, e não o processo como um todo.

O que os dois pesquisadores britânicos do século XIX descobriram na verdade foi o mecanismo de controle chamado seleção natural, ao qual atribuíram toda responsabilidade pelo processo evolutivo, perpetuando assim, até certo, ponto o equívoco de J B Lamarck segundo o qual o meio externo por si só ou sua dinâmica, seria capaz de produzir alterações físicas nos seres vivos, e consequentemente - em termos de Biologia genética - de alterar-lhes os genes ou cromossomos, possibilitando a FORMAÇÃO DE CARÁTERES OU SUA TRANSMISSÃO, o que sabemos ser absolutamente falso desde os tempos de Weissman. Alteração externa alguma produzida pelo meio é transmitida a posteridade de um animal. 

Portanto a dinâmica externa da seleção natural nada pode criar ou produzir.
Darwin e Wallace não haviam descortinado toda a verdade. Pelo simples fato de ignorarem as pesquisas do abade austríaco Gregor Mendel, examinadas mais de perto, como vimos por De Vries e Batenson. 
Neste caso qual seria o elemento chave, criador ou positivo em termos de Evolução?

Chegamos aqui ao FENÔMENO DA MUTAÇÃO.

Sem o auxilio do qual não se pode compreender corretamente o processo.

De modo geral ocorrem as mutações por duas vias - interna e externa. A mutação interna tem sua origem na produção de novas células a partir de erros aleatórios quanto a fabricação do DNA. A mutação externa tem sua origem na exposição do organismo a radioatividade. E como no passado distante ou nas Eras iniciais da vida os elementos radioativos achavam-se expostos a flor do solo, há que se admitir um grau de exposição muito maior caso tomamos por comparação o tempo presente.

Uma mutação bastante comum entre nós diz respeito as pessoas que nascem com seis dedos (polidactilia). Caso pessoas que portam este gene ou membros da mesma família casarem entre si, a tendência é que o número de pessoas com seis dedos vá aumentando progressivamente.

Até aqui um lado da Evolução. A mutação, que é por assim dizer um fator acidental ou estocástico, sem direção ou sentido.

Vejamos agora o outro lado da moeda. O elemento negativo, o qual embora por si mesmo nada produza, controla e direciona as mutações.

A maneira como as mutações são testadas pela natureza sob a forma da 'seleção natural' é bastante simples: Caso a mutação corresponda a uma vantagem, ajudando o indivíduo em questão a superar determinado obstáculo posto pelo meio, a suplantar os elementos que não passaram por ela e a conservar a própria existência por mais tempo a tendência é que do acasalamento entre indivíduos que herdaram tais genes surja uma população com as mesmas características. Na medida quem que tais populações sejam expostas a outras mutações vantajosas testadas pela seleção natural e acumulem equipamentos diferenciados é que se produz uma nova espécie. De modo que a especiação pode ser definida em acumulo de mutações (e equipamentos) benéficos testados pela seleção natural.

Uma vez que a aquisição de um conjunto de equipamentos vantajosos se dá por via acidental ou aleatória, supõem-se que o processo de acumulação se estenda por dezenas de milhões de anos. Afinal a maioria esmagadora das mutações é prejudicial e inoperante em termos evolutivos. Claro que as circunstâncias externas ou a condição do meio também entra em jogo. Pois a simples mudança de um meio em termos de inundações, secas, epidemias, oferta de suprimentos, migrações, etc basta para converter uma mutação ou equipamento prejudicial em equipamento vantajoso. Assim, como o meio é dinâmico e sujeito a alterações constantes... Mudam os critérios da seleção e seus resultados. O que torna o processo evolutivo impossível de ser previsto em termos de exatidão matemática.

Resta-nos agora, aludir brevemente ao caminho percorrido pela evolução dos seres vivos até o homo sapiens.

A direção da vida unicelular para a vida pluricelular, é simples obviedade.

Assim da esponja ao verme, do verme ao peixe, do peixe ao anfíbio, do anfíbio ao réptil, do réptil as aves e mamíferos.

Quanto aos mamíferos, grupo a que pertencemos, nossa filiação ao grupo dos primatas com seus cinco dedos e polegar opositor é igualmente obvia. Herança dos lêmures que se encontram na base do grupo.

Nem por isso é certo, mas absolutamente errado, afirmar que nós descendemos dos macacos ou mesmo dos macacos superiores (Antropoides). Macacos não são nossos ancestrais. Tudo quanto podemos dizer é que somos parentes muito próximos ou primos enquanto descendentes de um ancestral comum que teria vivido a cerca de uns vinte milhões de anos segundo alguns especialistas.

O homem não vem dos macacos. Mas de um primata já extinto, do mesmo modo que os macacos.

Este primata extinto foi convencionalmente chamado de 'elo perdido' pelo simples fato de seus restos ainda não terem sido encontrados. Tal lacuna, no entanto, nem de longe atinge a evidência relativa a nossa linhagem e isto pelo simples fato de podermos rastrear nossos primos e ancestrais do Homo sapiens sapiens ou Cro Magnon, até o homo erectus, o homo habilis, os australiopithecoides, o ramapithecus, etc estabelecendo as sucessões e traçando nossa árvore genealógica para mais de sete ou dez milhões de anos. Aos poucos, conforme as descobertas foram avançando a maior parte das lacunas foram sendo preenchidas e os laços de afinidade e proximidade estabelecidos com bastante exatidão. De modo que nega-los só pode constituir mesmo prova da mais absoluta ignorância ou de pura e simples desonestidade.

Via de regra o que podemos dizer que a quase totalidade daqueles que negam obstinadamente a teoria da Evolução é composta por pessoas superficiais, que não possuem devido conhecimento de causa e que jamais examinaram o assunto com atenção e profundidade. Quem acalenta alguma dúvida a respeito do que digo, interrogue nossos opugnadores peguntando-lhes sobre as mutações, a seleção natural, os principais hominídeos, etc O repto esta feito e a resposta conhece-mo-la muito bem nós mesmos e por experiência: Não precisamos estudar, conhecer ou compreender o evolucionismo (!!! Sim vocês ouvirão isto se ousarem confrontar os criacionistas!) PARA NEGA-LO!!! Basta-nos a Bíblia que é a palavra de Deus.

Vemos então que se trata de pessoas simples, rudes, grosseiras as quais nada leem além da Bíblia, mas que se julgam autorizadas a opinar sobre tudo e a tudo julgar... Como se chama isto??? O fato de alguém rejeitar uma proposta que sequer analisou??? Eu chamo de arrogância ou prepotência, e você??? E mesmo assim tais pessoas folgam apresentar-se como humildes... Chegamos ao fim do poço!







quinta-feira, 8 de junho de 2017

Consultório pedagógico - Como explicar a evolução das espécies a nossos alunos?

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Um, sendo humilde observa a realidade, o outro sendo cego confia em mitos indefensáveis.


Uma das tarefas mais difíceis e ao mesmo tempo mais importantes para um bom professor de Biologia ou de Ciências consiste em fazer com que seus alunos compreendam o processo evolutivo porque passaram todas as formas de vida ora existentes, ou seja, a Evolução das espécies.

Especialmente se levarmos em consideração que os fundamentalistas religiosos são habilmente treinados em suas seitas com o objetivo de fazer perguntas capciosas e desmoralizar seus professores. O que é suficiente para intimidar os educadores mais inseguros. Todo um clima de polêmica é artificialmente produzido pelos alunos fanáticos com o premeditado intuito de desestabilizar estes profissionais, o que é bastante grave.

Afinal professor algum costuma dirigir-se a qualquer conventículo religioso com o objetivo de questionar e desmoralizar o pastor. E menos ainda de treinar alunos e envia-los as reuniões religiosas com o objetivo de sabota-las. Afinal professores tem ética. Pastores não - Claro que há raras e por isso mesmo nobres exceções - e por isso estão dispostos a 'assaltar' a escola pública e laica com o objetivo de nela introduzir o querido Gênesis e o dogma criacionista. Tal a gravidade da situação!

Daí a necessidade premente de se estar muito bem preparado para enfrentar a crítica obscurantista e supersticiosa que invade nossas escolas e esmaga-la. Mesmo porque, hoje infiltram-se nos domínios da Biologia, amanhã nos da geografia, da História... De modo a instilar; 'catastrofismo geológico', História 'sagrada' (???), etc E o fim de tudo isto é substituir todas as disciplinas do currículo e o conhecimento científico como um tudo pela Bíblia ou melhor dizendo pelos mitos, fábulas e lendas do antigo testamento.

Há quem sonhe com o dia em que todos os compêndios escolares - de Química, Física, Bilogia, História, Geografia, Sociologia, etc - serão substituídos pela Torá ou pela Tanak segundo a versão JFA.

Em termos de Biologia - Que é a porta de entrada! - urge, mais do que nunca, partir para o afrontamento, afirmar em alto e bom som a veracidade do processo evolutivo e, acima de tudo, expô-lo com máxima exatidão e clareza, dirimindo todas as dúvidas.

Antes de tudo é necessário deixar bem claro que as discussões a respeito de como o processo evolutivo teria se dado, de modo algum atingem ou invalidam o processo enquanto tal.

Cientificamente não há nem existe a mínima dúvida a respeito do processo evolutivo, cuja demonstração já foi realizada por Haldane, Dobzhansky e Mair, os pais de teoria sintética a praticamente oitenta anos. As discussões dizem respeito apenas a detalhes ou quanto a certos aspectos do processo.

Do ponto de vista da ciência a evolução das espécies é um fenômeno dado ou um aspecto da realidade natural que não se discute e algo não menos verdadeiro do que o heliocentrismo ou a lei da gravidade, mesmo em se considerando que não seja um fato ou uma lei.

Comecemos portanto definindo com objetividade e precisão, os conceitos principais conceitos, os conceitos mais elementares, em termos de ciência:

  • Fato - Define-se o fato Biológico como correspondendo a menor unidade perceptível ou observável em termos de natureza. Assim o fato é percebido ou captado pelos sentidos, sem que haja, necessidade de demonstra-lo. Fatos são axiomáticos e impõem-se por si mesmos. Não preciso fazer declaração alguma com o intuito de demonstrar que o gelo seja água em estado sólido.

    Exemplos - O aspecto quadrupede do cão, o aspecto mamífero do gato, o aspecto ovíparo da galinha, os espinhos do cacto, a flor da roseira, etc

  • LEI - lei é uma relação constante de causa e efeito existente entre dois fatos (Relação constante de causa e efeito que parte da própria natureza das coisas). A relação e a constância podem ser observadas evidenciando que a Lei existe objetivamente no plano da natureza e não apenas como construção mental de caráter puramente subjetivo. No entanto sua formulação ou expressão em termos de linguagem humana, dispende certo esforço racional, o qual foge a experiencialidade pura. Não podemos pesar, contar ou medir uma Lei embora os resultados da relação possam ser quantificáveis. E sequer podemos negar que uma lei qualquer pudesse ter sido formulada ou expressa de maneira mais exata ou mais claro Exemplo - O Fototropismo > Fato um: A luz do sol. Fato dois: O crescimento dos vegetais. Relação constante ou Lei: Os vegetais crescem sempre voltados para a direção da luz.

  • TEORIA - De modo geral os leigos (E Até mesmo um bom número de professores e articulistas> O que é assustador) ignoram qual seja o conceito científico de TEORIA, julgando que corresponda a ideia vulgar de sugestão, opinião ou HIPÓTESE (A hipótese é algo duvidoso e provisório) e imaginando que a Evolução das Espécies ainda não tenha sido cabalmente demonstrada!

    Aproveitando-se disto os religiosos desonestos com o propósito de alegar que o relato mitológico e fetichista do gênesis (Criacionista) corresponda a uma outra teoria ou opinião tão digna quanto. O que além de desonesto é absurdo.

    Afinal não temos na Teoria evolucionista mera hipótese ou suposição questionável imaginada pelos cientistas e tampouco no criacionismo uma informação que parta da observação dos fenômenos naturais uma vez que nem os sacerdotes do antigo israel e tampouco seus professores sumerianos deram-se ao trabalho de examinar a natureza 'in situ' buscando uma resposta plausível. Limitando-se assim a imaginar ou a fantasiar a respeito de como as coisas teriam se passado, exatamente como os poetas e artistas ou como o criador do Mikey mouse ou do pato Donald.
          Neste caso que vem a ser TEORIA segundo o vocabulário científico?



Da mesma maneria como uma determinada lei busca expressar uma relação constante existente entre um determinado número de fatos, tirando-os de seu isolamento, a TEORIA busca encontrar uma explicação unitária para todas as leis ou relaciona-las todas a partir de um determinado aspecto.

Resulta disto que a formulação de uma teoria deve ser precedida por análise minuciosa de uma imensa gama de fatos para poder explica-los todos sem exceção. O que exige um grau bem maior de observação e, quanto a sua formulação - A formulação da teoria - uma dose bem maior de raciocínio lógico. Teoria é algo que não se pode formular partindo de um único fato ou le, mas que se deve inferir a partir do conjunto.

Daí os positivistas - com quem os fanáticos religiosos costumam pegar carona - e neo positivistas, apegados a um sensorialismo chão e sempre desconfiados quanto a qualquer formulação especulativa de caráter mais geral - a exemplo de K Popper - impugnarem o caráter objetivo e científico do Evolucionismo para apresentarem-no como construção filosófica ou metafísica.

Compreendem por que até o Malafaia pode sair-se bem com um manual positivista entre as mãos?Afinal para eles ciência nada mais seria do que a coleção (Descritiva) interminável de fatos imediatamente perceptíveis a qual nos autoriza a formular, com bastante cuidado, algumas Leis. Nada mais...

Felizmente encontra-se o positivismo completamente ultrapassado, especialmente após das formulações propostas por W Dilthey, Kuhn, etc Ademais, o citado Popper sequer mostrou- se fiel a mentalidade positivista, caminhando sempre na direção do Ceticismo e do Relativismo de Hume e da negação da objetividade do conhecimento científico. Os fanáticos religiosos agradecem a demolição da verdade no plano da natureza para substituírem-na por seus delírios e baboseiras!

Uma coisa no entanto é certa: Conceito de teoria não é mesmo brincadeira mas coisa séria. Do mesmo modo a teoria de Evolução das espécies enquanto produto social resultante do esforço comum empreendido por diversas gerações de cientistas a exemplo de Ch Darwin, Wallace, Mendel, Batenson, De Vries, Weissman, dentre outros, muitos outros.


         Exemplos de teorias:

         A T da gravidade geral de Newton
         A T atômica de Bohr
         A T da relatividade de Einstein
         A T uniformitária de Hutton
         A T das placas tectônicas de Wegener
         A T dinâmica da mente de Freud
         As teorias sociais de Le Play, Marx, Durkheim e Weber

         Todas sem exceção absolutamente relevantes.


Vejamos agora porque consideramos a teoria da Evolução como algo real, suficientemente demonstrado e acima de quaisquer dúvidas. Consideremos pois o rol das evidências -


  1. Evidência embriológica da Recapitulação.
    Diz respeito a existência de estádios homólogos na ontogenia dos seres vivos, ou ao desenvolvimento de um ovo até sua fase adulta. Assim o cérebro de um embrião humano com cinco semanas de vida é idêntico ao de um peixe. Já entre o cérebro de um feto com sete meses e meio de idade e o de um macaco não há diferença alguma. Não apenas nossos cérebros mas cada um de nossos órgãos refaz durante a gestação toda a história evolutiva dos seres vivos, de modo que poderiam exclamar unanimemente: Fui peixe, fui réptil, fui macaco...
    Será ociosa esta recapitulação ou pretenderá dizer-nos alguma coisa a respeito de nossa própria História?
  2. Evidência das estruturas homólogas
    "Quando estudamos um grupo de animais como, por exemplo, os vertebrados, verificamos que a estrutura dos representantes de duas espécies distintas - homem e cão ou gato - suponhamos, encarada sob um aspecto geral, apresenta relações muito estreitas entre si. Os braços de um homem e os membros anteriores de um cão ou de um gato apresentam as mesmas peças esqueléticas gerais: um osso no braço e dois ossos no ante braço, vários ossos no punho e cinco fileiras de ossos nas mãos. Semelhanças correspondentes encontram-se do mesmo modo nos músculos, nos nervos e nos vasos sanguíneos."

    De modo que até mesmo a asa de um pássaro assemelha-se bastante a uma espécie de braço.
  3. Evidência dos órgãos vestigiais.
    Órgãos vestigiais são remanescentes de órgãos que no decorrer do processo evolutivo perderam suas funções, sem que no entanto fossem suprimidos ou deixassem de existir. Com efeito, inseridos no interior do ventre da Baleia, encontram-se os ossos de suas patas traseiras, evidenciando claramente a origem terrestre - Alias mamífera, como é indicada por outros aspectos de sua morfologia - deste animal, ora marinho. Externamente desapareceram, sequer convertendo-se em nadadeiras, mas internamente... Encontram-se lá, bastando tais ossos para esmagar o criacionista. 
  4. Evidência do registro fóssil numa perspectiva comparativa.
    Para tanto basta recolher os fósseis de determinada espécie animal, como o cavalo ou urso, data-los e comparar os mais antigos com os mais recentes. O movimento será sempre o mesmo em qualquer um dos casos: Estruturas bastante simples dando lugar a estruturas cada vez mais complexas. O que por si só basta para apontar a direção tomada pelo processo, do mais simples para o mais elaborado. Os fósseis mais antigos sendo sempre mais simples e os mais evoluídos cava vez mais sofisticados.

A menos que nossos corpos almejem enganar-nos ou pregar-nos uma tremenda peça tais evidências devem ser seriamente consideradas. A natureza não conhece outra linguagem que a da evolução. Digo mais; sem a evolução no plano da biologia nada faz sentido. Destarte negar a Evolução equivale sempre a negar a própria percepção, a experiência e o raciocínio enquanto dádivas que nos foram comunicadas pelo próprio Deus. Implica negar a realidade fixada pela divindade. 


    quarta-feira, 7 de junho de 2017

    Apolônio de Tiana, sim; Jesus, não!

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    Mesmo admitindo que a princípio fosse Jesus um 'judeu obscuro' perdido lá nos ínvios sertões da palestina, nos confins do Império romano ou na periferia do mundo civilizado, querem os ateus e materialistas - Oh contradição miserável - que o foco da historiografia romana contemporânea (século I d C) tenha caído poderosamente sobre ele.

    Fica bom pra saga 'Jesus super star' não para a realidade história.

    Tomemos a figura de um Pilatos a respeito da qual mesmo tendo sido pretor não se achavam quaisquer evidências documentais extra evangélicas, e isto a ponto dos críticos do século XIX, postularem sua inexistência ou lançarem fortes dúvidas sobre ela. Até encontrarem a inscrição de Cesarea... E ele era político de relativa importância.

    Que dizer então de um rabino obscuro.

    Certamente haviam registros a respeito de sua pessoa. Registros públicos depositados em arquivos. Pois o Império romano era sumamente organizado.

    Basta dizer que diariamente, a administração Imperial publicavam uma espécie de Jornal, a Acta diurna, a qual sumariava todos os acontecimentos importantes ocorridos na capital do Império e era tombado e arquivado, exatamente como nossos diários oficiais, podendo ser consultado por quem o desejasse. Evidentemente que Jesus jamais fora mencionado em semelhante registro... Pelo simples fato de não residir em Roma e de não ser relevante para o 'Império' como um todo.

    Essas Actas foram certamente consultadas pelo grande Tácito. Hoje no entanto nada mais resta delas ou dos nomes e eventos nelas citados. Devido as sucessivas invasões porque passou a cidade eterna e as decorrentes pilhagens com os fatais incêndios, deram cabo de absolutamente tudo.

    No entanto haviam igualmente Cartórios e arquivos muito bem organizados não apenas nas capitais das províncias, mas mesmo nos principais centros administrativos de cada província. Nos quais ficavam arquivados e tombados por exemplo os censos mandados realizar pelos Césares ou pelos proconsules. Mesmo porque os romanos eram demasiado ciosos quanto ao fisco e nada deixavam passar...

    Da mesma maneira os tribunais regionais e provinciais possuíam todos os processos e decisões judiciais arquivados pelo simples fato de constituírem 'precedente'. Assim o que chamaríamos hoje serviço secreto, contendo todos os relatórios atinentes a processos de natureza política envolvendo possíveis ou mesmo supostas sedições, cujo sumário, muito provavelmente eram enviados aos procônsules, senão ao Senado Romano, pois em termos de 'conspiração' nada era insignificante para os imperialistas do Lácio. Em questão de poder desejavam estar sempre muito bem informados.

    Logo, as alegações repetidas por Justino, Tertuliano e alguns outros autores antigos a respeito da existência de tais relatórios sobre o nascimento, o processo e a condenação de Jesus; existissem ainda nos arquivos do Império, certamente nos arquivos provinciais da Palestina, são no mínimo plausíveis. Pelo simples fato de jamais terem sido rebatidas pelos muito bem informados adversários do Cristianismo a começar por Fronton, Celso, Porfírio, Hierócles, Juliano, etc Os quais sempre poderiam ter impugnado tais informações e apresentado nossos apologistas como embusteiros. Misteriosamente eles silenciaram...

    Agora, quanto tal documentação efetivamente perdeu-se e para sempre, alegam cinicamente que jamais existiu!

    E demandam por 'Reportagens de última hora' elaboradas pelos grandes cronistas do Império e não por uma ou duas, que não se dão por satisfeitos, mas por dúzias. Ou a falta de referências, alusões documentais, citações, descrições, etc dão logo Jesus por inexistente, ou melhor por mito.

    E repetimos, era este Jesus um cidadão obscuro e o Cristianismo um movimento socialmente irrelevante ao menos até o ano 50 desta Era.

    Tampouco tudo quanto havia sido escrito, narrado, registrado e historiado naquela conjuntura - o século I d C - chegou a nós em sua totalidade. Que? Talvez nem mesmo um quinto ou vinte por cento do que foi escrito naquela Época chegou até nós, mesmo considerando as transcrições de segunda, terceira, quarta... mão. Ainda estamos sendo generosos. Pois a autores que se declaram otimistas e alegam que nem mesmo dez por cento do material historiográfico elaborado ao tempo dos Césares teria chegado até nosso tempo. Há portanto mais escuridão do que luzes e não apenas quanto ao provinciano e obscuro Jesus mas sobre personagens relativamente importantes da História imperial, generais, comandantes, governadores, etc

    Tomemos por hora um exemplo apenas: Rufius companheiro de César o qual foi posto por ele, durante algum tempo, a testa da grande cidade de Alexandria. Que aconteceu com este Rufius posteriormente? Quanto tempo mais viveu? Onde, como e quanto morreu??? Ignorabimus! E era Rufius... Nada muito diferente quanto a maior parte dos companheiros de César. Alias das inúmeras biografias compostas ao tempo da Roma Imperial, fora as elaboradas por Nepos, Plutarco e alguns outros gatos pingados, nada resta. E elas enchiam Bibliotecas inteiras! Hoje, mesmo quanto aos grandes imperadores possuímos apenas algumas, embora cada um deles tenha sido objeto de dezenas delas!

    Será que o amigo leitor foi capaz de perceber a dimensão do problema?

    E qual o significado de dizer: Não temos biografia alguma de Jesus elaborada pelos cronistas romanos dos séculos um e dois???

    Afinal quem era Jesus para que um autor clássico romano dos primeiros séculos elaborasse sua biografia??? Por outro lado, dando asas a imaginação e supondo que um deles tivesse composto um rascunho ou pequeno relato sobre o obscuro líder religioso judeu, podemos supor que haveria de transformar-se num best seller e atravessar os séculos até nossos dias? Admitida esta hipótese, até absurda, poderíamos dar por quase certo, que em meados do século IV desta Era já estaria semelhante relato esquecido e perdido!

    Portanto o que digo e em algo e bom som é que nem mesmo o nome ou uma simples referência a pessoa de Jesus de Nazaré deveria constar nos escritos pagãos dos primeiros séculos!!! Jesus tudo tinha para passar totalmente em branco por mais de um ou dois séculos... Tal e qual passou-se com o tão querido Apolônio de Tiana cuja existência jamais foi seriamente impugnada pelos neo ateus! Alias não poucos autores dão por absolutamente certa sua existência, ao menos não a discutem. Agora veja só leitor benevolente. Apolônio de Tiana era um contemporâneo de Jesus e segundo dizem teria falecido cerca do ano 100 desta Era. Marquem bem!

    Agora vos pergunto, quando a primeira notícia a seu respeito foi publicada??? Segundo consta a 'Vita' do mistagogo pagão teria sido elaborada por Hierócles a pedido da imperatriz Júlia Domna cerca do ano 230 desta Era e portanto cento e trinta anos após a sua morte. Outras referência ao estranho personagem inexistem. Hierócles alegou uns cadernos elaborados por um certo Damis, seguidor do taumaturgo asiático, os quais, no entanto, a crítica tem dado por falsos. Mencionou e até transcreveu algumas cartas do homem, as quais a crítica tem dado por falsas ou no mínimo bastante duvidosas.

    Portanto que nos leva a admitir a existência de alguém como Apolônio de Tiana - a seu tempo alguém muito mais importante e conhecido do que Jesus de Nazaré - além das palavras ou do relato de seu biógrafo Hierócles??? Nada! Absolutamente nada!

    Excelente! No caso, a míngua de testemunhos, podemos da-lo por inexistente e com a mais absoluta certeza? De modo algum! Pois neste caso seria necessário contestar a existência da maior parte dos personagens históricos mencionados pela historiografia clássica e da-los por fictícios.

    Mas como???

    Simples, tomemos o mais brilhante de todos os pensadores gregos: Sócrates, e perguntemos: A parte do discípulo Platão por quantos outros escritores foi expressamente citado? Por três apenas
    Aristóteles -firmado na autoridade de Platão - e, independentemente de Platão, por dois apenas: Aristófanes e Xenofonte!

    Agora refleti por um instante - Não tem Jesus em Luciano de Samosata (Autor de 'O Peregrino') seu Aristófanes e em Josefo - segundo a transcrição original de Agápio - seu Xenofonte? Alias até um Xenofonte melhor porquanto pertencente a um credo religioso rival...

    E no entanto, mesmo quanto a quaisquer outros grande Filósofos e pensadores quatro ou cinco alusões por parte de contemporâneos não comprometidos é tudo quanto - Com um pouco de sorte - haveis de conseguir em termos de evidência historiográfica. Isto repito, quanto a um Platão, um Aristóteles, um Epicuro ou um Zenão; homens cuja fama fora universal.

    Contam-se NOS DEDOS as referências por parte de terceiros não comprometidos ou engajados sobre os grandes mestres do pensamento antigo. Quem discordar DEMONSTRE O CONTRÁRIO!

    Coisa de sete ou doze personagens, não mais do que isto.

    Mas a que vem ao caso?

    Espere um pouquinho e já o verá.

    Agora tome em suas mãos um antigo Manual de Filosofia como o de Diógenes Laertius ou o de Filodemo de Gadara ou algum florilégio como o de Aulo Gelio, ArrianoJohanes Stobaeus ou ainda a Suidas. Folheai-os com atenção e la encontrareis referências a outras tantas centenas de pensadores helênicos... Agora o surpreendente para os leigos em matéria de Historia, é que tais referências sejam únicas ou exclusivas quanto a no mínimo dois terços (66%) deles. Personagens cujos nomes sequer são conhecidos por quaisquer outras fontes! E tais homens pertenciam a nata da boa Sociedade grega e não deixaram de ser relativamente bem conhecidos dentro de certos círculos do tempo em que viveram.

    Todavia passados vinte e tantos séculos que testemunho restou sobre a existência deles além de uma vaga alusão ou transcrição em alguma destas obras compostas cem, duzentos ou até quatrocentos após a época em que haviam florescido???

    Destarte, aplicando a mesma 'lógica' ou empregando a mesma argumentação que os neo ateus a que os neo ateus recorrem com o o objetivo de demonstrar a inexistência de Jesus, seríamos obrigados a concluir pela inexistência de todos estes personagens. Antipater de Tiro não passaria de um mito, assim como Cimias, Cebes, Metrodoro, o antigo, Diógenes de Babilônia...

    E temos já de estender nossas dúvidas a praticamente toda Historia antiga, e abdicar de qualquer certeza. Quem não percebe que o tiro ideológico disparado contra Jesus abate praticamente todos os personagens da historiografia grego romana? Neste caso que ficamos sabendo de concreto sobre a História antiga focada sobretudo em reis e generais? Praticamente nada além de alguns atos de governo! Pelo simples fato do governo ou da esfera política ter sido priorizada em detrimento da Filosofia, da religião e da História das idéias de modo geral... Neste caso que triste História temos; história do comum, do trivial, do vulgar; sacrificando sua melhor e mais elevada parte devido a parcimônia das fontes.

    Afinal onde havereis de achar pencas de alusões e referências a um Exegias ou a um Filon de Biblos??? Em lugar algum!

    O que os pseudo historiadores ateus exigem a respeito da pessoa de Jesus Cristo, tendo em vista o reconhecimento de sua existência Histórica e objetiva, pouquíssimos personagens da História antiga seriam capazes de oferecer!

    E estes homens eram conhecidos.

    Que dizer então dos milhões de homens obscuros que se arrastaram sobre a face da terra e a respeito dos quais temos apenas um Nome (claro que me refiro a uns poucos apenas)? Que não passaram de mitos?


    Motivo para desesperação?

    Absolutamente.

    Afinal por mera 'questão de sorte' - digamos assim - topamos com alusões e referências fresquinhas a respeito de Jesus -

    Nos Evangelhos e escritos de Paulo (afinal quando se trata do divino Sócrates você não admite os testemunhos dos engajados Platão e Aristóteles?) e para alem disto - Aqui o filé - nos de Josefo (O qual refere-se igualmente a  João Batista, o qual em tese também não deveria passar de um mito) do Talmud, de Tácito, Suetônio, Plínio e Luciano??? Num total de cinco testemunhas não alinhadas: Quatro pagãs e uma judaica. Agora considere que Josefo era coevo, que Tácito e Suetônio floresceram cerca de quarenta anos apos os fatos, que Plínio não distaria deles mais do que oitenta anos e Luciano pouco mais de um século! Para não falarmos em Celso, o qual, segundo alguns teria composto seu discurso verdadeiro por volta de 170 d C, logo cerca de cento de trinta anos após a consumação dos fatos.

    CELSO ESCREVIA SOBRE JESUS COMO QUALQUER ESCRITOR BRASILEIRO DE HOJE PODERIA ESCREVER SOBRE D PEDRO II E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA!!! Logo como inserir um mito ai ou pior como alegar que os relatos compostos pelos quatro evangelistas não passam de mito - Veja só o absurdo!

    O mais interessante é que o citado adversário pagão alude claramente a tradição judaica segundo a qual Jesus teria sido filho de um certo soldado romano cognominado Pantera. Dando por certo sua existência história e buscando apenas mancha-la ao invés de nega-la, apresentando-a como um logro. Agora o que levaria os antigos judeus, adversários ferozes do Cristianismo, a admitir a existência de um personagem que fora inventado ou criado pelos apóstolos (ou pela comunidade Cristã) e que jamais tivera existência real? POR QUE OS ANTIGOS JUDEUS NÃO FORAM OS PRIMEIROS A DESMASCARAR A 'TRAMA' DOS CRISTÃOS????

    Recorde-mo-nos mais uma vez de Apolônio cuja primeira biografia foi composta quase século e meio após sua morte. Tampouco seria irrelevante considerar que as primeiras biografias de Pitagoras foram elaboradas por Aristoxenos e Dicearco de Messenia cento e setenta anos após sua morte. Que a biografia mais antiga que possuímos a respeito do grande matemático remonta ao segundo século desta Era (devendo-se a Diógenes Laertius) tendo sido elaborada sete séculos após sua morte e assim toda a literatura neo platônica subsequente, elaborada nos séculos II, III e IV. Quanto a testemunhos coetâneos a seu respeito contamos com apenas duas alusões bastante sumárias em Xenófanes e Heráclito. E mesmo assim atribuem-lhe o teorema... e quem esta disposto a demonstrar facilmente que Pitágoras não passa de um mito? O próprio Xenófanes é mencionado apenas por Epicarmo e Heráclito embora tenha, como Pitágoras, viajado e circulado por todo mundo conhecido. Além de ter privado com reis... Neste caso por que quanto a Jesus exigem-se pencas de testemunhos, dez, doze, vinte, cem????

    No entanto o relato evangélico mais antigo alusivo a pessoa de Jesus Cristo parece remontar no máximo ao ano cinquenta desta Era, estando separado dos fatos por menos de vinte anos e não por mais de século como supunham os críticos 'emancipados' do século XIX dando os mais antigos relatos como tendo sido compostos após 70 d C e os mais tardios (Como o Evangelho de João) cerca de 130/140 desta Era. Hoje sabemos que toda esta cronologia com que Emílio Bossi e outros, deitaram e rolaram no século XIX esta completamente errada. E no entanto foram elas que serviram de base a teoria do Jesus mito numa época em que os mitos e sua formação sequer haviam sido estudado ou seja meio século antes de um Mircea Eliade. (Após os estudos científicos de Eliade sabemos que os mitos não se formam as carreiras ou tão rapidamente quanto em vinte, quarenta ou mesmo setenta anos).

    Afinal tais relatos circulavam publicamente! A ponto dos críticos como Luciano e Celso poderem le-los? Logo expunham-se a crítica. Certamente que os sábios romanos não estavam dispostos a critica-los, ao menos num primeiro momento. Podemos no entanto dizer o mesmo a respeito dos antigos judeus para os quais Jesus fora um herético perigoso e não um simples fantasma? Os judeus e sua tradição sempre poderiam ter feito eco a versão do Jesus mito, mas não fizeram, apresentando-o como entidade histórica e real - Como um bastardo, feiticeiro e idólatra cujo corpo foi roubado pelos apóstolos... Agora para que imaginar tudo isto e dar corda a uma narrativa, que eles judeus palestinianos, sabiam ser fictícia?

    Temos assim quatro relatos públicos de primeira mão sendo que o mais afastado deles não dista dos fatos mais do que setenta anos. Neste caso que ficamos devendo a Platão e a Xenofonte? A Aristóteles e a Aristófanes??? Não, certamente Sócrates - historiograficamente falando - não ocupa melhor posição do que Jesus. E no entanto ele era Sócrates, habitante da grande metrópole de Atenas e a sumidade de seu tempo. Enquanto o outro não passava de um pregador ou profeta obscuro e perdido nos confins da Judeia, i e, no 'fim do mundo' daquele tempo. Logo como exigir de ambos os mesmos créditos?

    Aprofundemos!

    Sabido é que parte dos neo ateus e anti humanistas tem buscado igualmente fulminar o ilustre filho de Fenarete com os mesmos raios que tem disparado sobre o filho de Maria ou seja, questionando a existência história de Sócrates (Evidentemente que Buda também faz parte deste seleto grupo de pessoas desagradáveis). E no entanto a Atenas do século V a C é o ambiente deste Sócrates e por assim dizer até pede este Sócrates tal e qual o ambiente ou cenário da Palestina no primeiro século desta Era - com suas instituições e costumes - não apenas torna perfeitamente possível e compreensível a existência de um Jesus, como reflete tudo quanto fora descrito pelos quatro evangelistas, inclusive o traçado da antiga Jerusalém, conquistada e destruída por Tito. 

    Quanto mais avançam as pesquisas arqueológicas a respeito da forma da Palestina ao tempo em que Jesus teria florescido tanto mais se concluí pela objetividade e fidedignidade do cenário descrito pelos evangelistas com Jerusalém, as regiões, as cidades, as vilas, os acidentes geográficos. Nada em absoluto parece ter sido escrito a distância, de memória ou inventado. Por que raios um forjador de mitos haveria de proceder com tamanho rigor??? Caso tenha inventado o personagem e as estórias, por que teria deixado de tratar o ambiente ao menos com certa liberalidade? Em certo sentido Jesus como Sócrates é o homem do seu tempo e a Jerusalém do século I d C parece pertencer-lhe tal e qual a Atenas do século V a C é propriamente a Atenas do Sócrates de Platão.

    Enfim tudo quanto arbitrariamente exigem os neo ateus de Jesus, praticamente personagem algum das Idades Antiga e Média poderia oferecer do mesmo modo como raras figuras relativamente famosas do tempo presente poderão oferecer daqui a dois mil anos ou mais; passando quase todas em 'branca nuvem'.

    Tal exigência é descabida pois implica ignorar supinamente as circunstâncias que envolvem a importância de determinada figura em seu próprio tempo. Como implica ignorar as vicissitudes porque passam as fontes históricas ou registros ao cabo dos séculos. Determinando por fim que a historiografia antiga enquadre-se nos cânones 'científicos' do moderno positivismo, o que redunda em monstruoso anacronismo. As biografias de um Pitagoras, de um Sócrates, de um Jesus ou de um Apolônio jamais poderiam ter sido elaboradas por um Ranke, por um Taine ou por um Buckle...

    A tomar por critério as exigências da ideologia positivista com seus preconceitos e sua técnica não teríamos tido conhecimento histórico algum anterior ao século XIX, apenas mito e somente mito do seculo XVIII para baixo. De modo que até mesmo o conhecimento de que dispomos sobre Reforma protestante e as grandes navegações falhar-nos-ia... E tudo não passaria de falácias!

    No fundo, no fundo a questão pertinente a existência de Jesus ou de Sócrates transcende os domínios da religiosidade ou do humanismo (Os quais mexem com os sentimentos das pessoas) trazendo a tona a questão da própria produção e credibilidade histórica, da metodologia, da crítica, etc e nem há como aborda-la sem fugir aos temas abstratos do objetivismo e do subjetivismo relativista com suas múltiplas decorrências.

    Sintomático que toda essa pregação ideológica em torno do Jesus mito ou da inexistência do Jesus histórico - Ainda atrelada a crítica ultrapassada do século XIX - parta geralmente de pessoas muito pouco informadas a respeito da Historiografia, de suas fontes e de seus métodos ou como costumamos dizer de leigos despreparados. Sinto ter de dize-lo mas Onfray e muitos outros limitam-se a repisar e reproduzir os argumentos embolorados de Emílio Bossi desconsiderando toda uma imensa gama de testemunhos arqueológicos e documentais acumulados desde 1890! Apesar do verniz tudo isto ainda cheira a Dupuis, século XVIII... Com seus equívocos monstruosos a respeito dos templos de Dendera e Filé. Tudo isto sabe a Jacolliot e a suas patacoadas sobre as 'puranas' e outros registros hindus cuja elaboração é atualmente reconhecida como post Cristã... Ressente as conjecturas inexatas a respeito do Cristianismo ter reproduzido fábulas budistas que hoje sabemos terem sido elaboradas igualmente na Idade Média.

    Erraram apostando no paganismo greco romano. Erraram apostando no paganismo egípcio, erraram apostando nos mitos hindus e budistas sucessivamente. Foi toda uma sucessão de equívocos...

    Só lhes restando atualmente o vergonhoso expediente de alterar as narrativas a respeito de Horus, Mistras, Hélios, Adonis, etc forçando aqui, empurrando acolá, emendando mais além, com o objetivo de demonstrar que Jesus é isto tudo, e que nada de novo há em nossos Evangelhos. Agora se tudo estava lá sr ateu porque raios o Império romano mostrou-se tão surpreendido e incomodado a ponto de proibir o exercício desta religião? Alias por que teria sido tão encarniçadamente perseguida pelo paganismo antigo e combatida pelos adoradores de Horus e Adonis??? Como se percebe absurdos e mais absurdos.

    E qual a derradeira pedra posta sobre a construção ateística? AQUI O SUPREMO RIDÍCULO! O vezo protestante, tradicional já, de tudo atribuir ao imperador Constantino, apresentando-o como pai, criador e mestre do Catolicismo, do atanasianismo, do trinitarismo. Pois bem para parte dos neo ateus Constantino seria o legítimo pai do mito Jesus e do Cristianismo, conferindo-lhe a elaboração final e canonizando-o. Evidentemente que a exemplo de seus instrutores, os pregadores protestantes do século XIX, toda essa gente não conhece uma linha sequer de literatura patrística, jamais tendo lido um parágrafo de Justino, Atenágoas, Teófilo, Clemente, Orígenes ou Tertuliano. Daí mais e mais afirmação gratuitas, levianas e ineptas!

    Tal não é certamente a perspectiva de um Vermes, de um Crosan, de um Thiedmann, de um Ehrman...

    Seleções de artigos: Repto ao ateísmo > Em busca de um HUMANISMO ateu no plano da Ética

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    E DARWIN NÃO ERA ATEU RSRSRSRSRSRSRS 


    Manifesto é o defeito comum aos mortais e que consiste em amar os extremos e oscilar entre eles.

    Assim enquanto alguns multiplicam deuses ao infinito outros negam que haja qualquer Deus.

    Tais os politeístas, tais os ateus.

    A principal diferença aqui é que os politeístas são mais discretos e comedidos enquanto que os ateus fazem grande bulha ou gala em torno de seu ponto de vista, encarando-o inclusive como sinônimo de magnitude intelectual.

    Qual o filósofo que não seja ateu? Perguntam eles.

    Ora bolas: Swiburn e dentre os falecidos Antony Flew, Thibon, Ricoeur, Ellul, Jaspers, Maritain, Marcel...

    Mas qual o cientista que não seja ateu? Indagam.

    Neil de Grace Tyson, Collins, e dentre os já falecidos Gould, Fermi, Lemaitrê, Einstein, Planck...

    Mas Diderot, Voltaire, Rousseau, Galileu, etc não eram todos ateus???

    De modo algum - Diderot, Voltaire, Rousseau era todos deístas. Spinosa panteísta. Galileu positivamente Católico.

    Stalin este sim, era ateu ou melhor ateísta. Paul Pot também o era. E é claro o Marquês de Sade... Além de um grande número de nazistas alemães. E no entanto os ateus não fazem, a mínima questão de anuncia-lo para que todos saibam!

    Mas será que os ateus não podem ter uma ética elevada?

    Penso que isto seja coisa que não se discute.

    Claro que pessoas ateias podem viver uma vida Ética, mormente quando foram criadas num ambiente religioso, teísta, deísta, etc Afinal á Ética é produto da cultura...

    Raramente alguém desconstrói por completo sua Ética apenas por ter abraçado o ateísmo.

    No fim das contas as pessoas que se converteram ao ateísmo continuam vivendo como sempre viveram, como espíritas, Católicas, Budistas, etc

    Assim o que temos de investigar não é se existem bons ateus ou ateus 'éticos' mas se o ateísmo é capaz de produzir uma Ética sua que corresponda a nossas aspirações mais nobre e elevadas ou se o ateísmo pode dar suporte ao humanismo.

    Caso em que temos de considerar as opiniões dos 'idiotas' do Dostoevsky, do Scheller, do Kant, do Locke, do Descartes, do Bacon e por ai afora...

    Não pretendo ao menos num primeiro momento, entrar no mérito das tais provas clássicas a respeito da existência de Deus.

    Mas questionar os ideólogos ateístas e perguntar-lhes sobre o que nos podem oferecer de concreto em termos de Ética, de comportamento, de ação, de princípios e valores, de bem e mal enfim.

    É uma demanda muito importante e penso que deva ser satisfeita.

    Caso neste domínio Deus seja necessário, então certamente precisará existir e então certamente existirá. Afinal o problema de nossa espécie e civilização é antes de tudo ético, não técnico. Técnica temos...

    De fato vangloria-se o ateísmo, acompanhado pelo materialismo, de ter dado colossal impulso a ciência ou a técnica. Em que pese o fato de Darwin Newton não terem sido ateus e tampouco Kepler Da Vinci. Não perderei tempo malhando em ferro frio. Quem quiser constatar quão poucos ateus fizeram ciência remeto as obras de Poggendorf, ide a elas!

    Quanto a ciência ou a técnica no entanto ousarei tecer uma observação ou melhor reproduzir uma - Discutível é o valor de uma ciência sem consciência. 
    O espírito da frade acima - O qual faz positivista bater com a cabeça na parede - remonta ao grande Sócrates.

    Ouso perguntar destarte: Que fez o ateísmo pela consciência do homem, com o intuito de eleva-la?

    Eliminemos Deus do plano da Ética.

    Podemos conceber qualquer tipo de lei universal e externa ao homem em seus domínios?

    Existirá algum imperativo categórico que transcenda aos indivíduos?

    Haverá algum critério objetivo em termos de bem e mal, vício ou virtude, crime ou santidade?

    Temo que aqui a resposta possa ser apenas uma: Não.

    Afinal como poderá haver lei se não há legislador algum?

    E como poderá existir algo de externamente universal exceto em termos de materialidade?

    Como poderá ser universal se é individual?

    E como haveria de ser objetivo se restam apenas mentalidades separadas cada qual com sua subjetividade fabricando princípios e valores não só distintos uns dos outros mas até mesmo opostos???

    Afinal sem Deus que elemento unificador resta em termos de Ética?

    Sem Deus há nações, religiões, clubes, agremiações, indivíduos... cada qual com suas leis e lei alguma comum.

    Excluída a existência do numinoso temos um multidão de seres, de pessoas, de indivíduos alienados uns dos outros.

    Cada individuo é lei para si mesmo e nada para os demais.

    Humanidade para além dos domínios da Biologia é coisa que não existe. Quebrou-se o espelho em milhões de fragmentos minúsculos. Em termos de idealidade estamos completamente isolados uns dos outros. Até podemos formar grupos porém jamais um grupo que englobe todos os seres humanos.

    Em termos de Ética jamais haverá acordo, mas conflito aberto.

    Por via alguma poderá fugir, o ateísmo, a uma solução individualista e relativista em termos de ética.

    Tanto a noção de bem quanto a noção de mal é relativa ao individuo, tendo cada qual o direito líquido e certo de produzir a sua ética ou a sua moralidade em oposição a ética do rabanho...

    Quando chegamos exatamente aqui, precisamente neste ponto o ateísta encara-me curiosamente e pergunta: Sim, mas qual é o problema? Perceba que o ateísmo é libertador!

    Libertador???

    Pois sim...

    Perceba com Sartre como somos ilimitadamente livres para fazermos o que bem quisermos ou o que bem entendermos???

    Qualquer coisa?

    Digo, aquilo que você considerar bom.

    Cada qual pode fazer aquilo que considera bom?

    Exatamente.

    Mas e se estiver equivocado?

    Como poderá equivocar-se se é padrão de autoridade para si mesmo?

    Neste caso sempre estará certo?

    Ao mesmo para si.

    Ótimo, e se por acaso considerar que o estupro seja bom, poderá neste caso estuprar? E se considerar que a tortura seja boa, poderá torturar? E se considerar o assassinato, o rouco, o engano... como coisas boas?

    Julgo que não devamos fazer causar dano ou prejudicar outras pessoas.

    Mas e se o julgar de modo diferente?

    ...........................................................................


    Acaso sua opinião não é válida apenas para si mesmo?

    Certamente...

    Neste caso a opinião do assassino, do estuprador, do ladrão... também será válida para cada um deles e isto pelo simples fato de cada qual minimizar seus próprios crimes ou defeitos.

    ...........................................................................

    Agora considere quais seriam os resultados caso semelhante teoria, sobre o direito de assassinar, torturar, estuprar, roubar, trair, etc fosse levada a sério pelos elementos de uma determinada Sociedade?

    Imagine só com quanta alegria e contentamento seria a boa nova de Sartre recebida por todos os psicopatas e celerados que povoam o submundo da criminalidade???

    De fato o ateísmo parece libertar algo que existe nos homens, mas não o homem mesmo.

    Que o homem tenha direito de conquistar seu espaço, de realizar-se, de afirmar-se enquanto pessoa; longe de mim negar. Que seja livre e que tenha direitos essenciais e objetivamente fixados, e inalienáveis, digo a mesma coisa...

    E no entanto se este homem compreender que sua liberdade implica - para ser plena ou absoluta -suprimir as liberdades alheias ou rivais?

    E se este homem acreditar que tem o direito de abater os demais seres humanos, de domina-los, de subjuga-los, de oprimi-los, de escraviza-los em benefício próprio?

    E caso este homem esteja persuadido de que os demais sendo-lhe inferiores não possuem direito algum?

    E se este homem pensar que pode matar, torturar, estuprar, roubar e enganar impunemente compreendendo que tais ações criminosas para ele constituem um direito???

    Você continuara dizendo que a falta de um Deus, o árbitro supremo pertence a ele, enquanto indivíduo???

    Bela doutrina esta do individualismo especialmente quando posta no acesso de tarados, psicopatas ou de pessoas com instintos perversos; as quais bem poderiam vir a perpetrar tais ações conscientemente e a justifica-las metafisicamente em nossos tribunais apelando a 'benção' da liberdade, da liberdade ilimitada e absoluta é claro.

    Claro que diante disto você ateu procurará, e não duvido apenas sorrio, reformular, reformar, reeditar ou colorir a sua doutrina ética, polindo-lhe as arestas (Mas a que custo).

    Não é coisa nova.

    Também J S Mill homem genial e de convicções agnósticas (Sequer era ateu!) consagrou seu engenho ao polimento da doutrina pragmática (formulada pelo deísta Benthan) buscando torna-la mais humana e aceitável. Afinal era necessário estabelecer que satisfação, prazer ou felicidade deveria prevalecer... E lá vai nosso positivista genial, tomar empréstimos logo a quem? Aos odiados essencialistas Sócrates, Platão, Aristóteles, Jesus, etc os quais eram igualmente deístas ou religiosos declarados.

    Que resulta disto, que sai da forja de Mill?

    Segundo o pensador inglês o que deveria prevalecer - Veja bem! - era o máximo grau de felicidade estendido ao máximo número possível de pessoas possível, seja a nação ou a humanidade. Quem não percebe aqui que nosso homem avança já pelo terreno do personalismo ou mesmo do socialismo? Formulando que a felicidade geral da nação deve prevalecer face ao ideal de felicidade traçada por um indivíduo? Sacrifica nosso autor o idolatrado individualismo ao pragmatismo imprimindo-lhe uma conotação social...

    Mas isto não será excelente?

    E no entanto tem pés de barro...

    E por que?

    Porque quando Sócrates, Platão, Aristóteles, Sófocles, Jesus e outros mestres dos tempos passados afirmavam o primado já da pessoa, já da Sociedade, cada qual em seu espaço; afirmavam-no em nome de um Legislador supremo, e portanto enquanto algo essencial, universal, objetivo e imutável; de modo algum como algo relativo e questionável. Era algo que até podiam ser discutido sobriamente como pessoas de boa fé, mas que no fim das contas deveria ser aceito sob pena de determinados prejuízos espirituais...

    Queremos dizer que a Ética essencialista podia ser afirmada e imposta face a todos os homens e culturas em nome de um poder Supremo, e isto a ponto de exigir submissão e ser capaz de controlar os caracteres mais difíceis, obstinados e problemáticos, com raras exceções. Tratava-se aqui de um princípio interno, que se introjetado com sucesso exigia fidelidade e auto controle, o que vai muito além da ação militar ou policial i é duma coerção externa.

    As pessoas não deixavam de matar por temerem a prisão, mas por temerem sansões e punições espirituais ou por temerem poluir a si mesmas e grande coisa é temer violar uma lei divina e contaminar a consciência. Se o homem estiver persuadido de que as coisas funcionam assim certamente buscara controlar a si mesmo.

    Naturalmente que há o outro lado da moeda... E que como tudo quanto é humano, esta ética possa sofrer abuso e grave abuso, degenerando numa moral judaizante, equivocada, maniqueista, puritana, repressora.. Com as imagens danosas e prejudiciais do inferno, dos castigos eternos, do fogo, etc e a decorrente elaboração de complexos, traumas, bloqueios, etc E é claro que temos de reformula-la numa perspectiva verdadeiramente ética e humanista (que é a do Evangelho) considerando Freud e seus colaboradores...

    O abuso no entanto nem tolhe o uso nem torna a coisa abusada desprezível em si mesma.

    Consideremos então se é possível recuperar o essencialismo ético, recolocando-o nos trilhos indicados por Jesus ou pelos antigos mestres gregos, como Aristóteles.

    Mesmo porque, sempre que Mill afirmar sua teoria Ética em seu próprio nome, como J S Mill qualquer individuo sempre poderá discordar dele não? Acaso discordar não é direito líquido e certo do homem face aos juízos, opiniões ou teorias formuladas por outro homem?

    Neste caso qualquer degenerado, tarado, psicopata poderia encarar o pensador inglês e argumentar: Compreendo perfeitamente mas julgo ou continuo julgando que as aspirações do indivíduo são tudo e que devam prevalecer sempre face a ideia de 'bem estar geral' ou social formulado por você?

    Mas quem é que haverá de discordar de J S Mill, quem discordará??? Antes dele Max Stirner e após ele Ayn Rand como imensa horda de seguidores, todos individualistas. E ciosos quanto a suas dignidades individuais.

    Tal seu caso. Você até poderá declarar pomposamente - E nem sei com base em que... - que o 'Direito de um termina onde começa o direito de outro'. Trata-se certamente de uma frase bastante bela e diria essencialmente verdadeira. No entanto como passará aos olhos do outro como formulação puramente humana ou opinião individual, ele sempre poderá dar com os ombros (A pretexto de qualquer coisa) e declarar: Compreendo, mas discordo e opino que...

    Você poderá teimar obstinadamente e declarar em seu próprio nome que nós seres humanos devemos nos identificar uns com os outros tendo em vista a similaridade de condição. Assim se o outro ao ser ferido sofre e não gostaríamos de ser feridos, devemos nos abster de ferir! Mais se ao ser enganado o outro sofre devemos revelar-lhe a verdade! Não, não devemos fazer ao outro o que não queremos que façam a nós; melhor ainda - Façamos ao outro tudo quanto aspiramos que nos faça! Absolutamente nobre, mas... Mesmo assim... Assistiria a qualquer individuo o direito líquido e certo de dizer que não esta de acordo, que não concorda, que não aceita e que tudo isto não passa de besteira...

    E que outro indivíduo estaria acima dele? Que autoridade superior seria capaz de convence-lo? Mas... Entre homens livres não há autoridade superior no plano da imanência, e tampouco Deus. Logo, a qualquer um é defeso manter sua opinião!

    Até posso ver e antever a ideia que lhe passa pela cabeça:

    Como dez cabeças pensam mais do que uma, deve o individuo submeter - Ao menos quanto as coisas comuns - suas decisões a sansão da sociedade em que vive (Seja cidade, província, nação ou país), especialmente numa perspectiva democrática e conformar-se com o veredito comum, o veredito da lei.

    Eis o que dizem e declaram os juristas ateus, materialistas e positivistas - Kelsen, Alf Ross, etc - alegando que as leis formuladas pelo Estado devam ser sempre acatadas não em nome de uma Lei natural, a qual não existe (Não pode existir Lei natural sem que haja um Deus legislador!), mas enquanto ato positivo realizado pelo corpo social, ou seja, enquanto algo formalmente autoritativo.

    Aqui passamos de um extremo ao outro.

    Pois face a bela solução do direito puro ou positivo, alias encarado como algo supra social ou neutro (!!!) somem-se tanto o individuo com suas pretensões toscas quanto a pessoa com seus direitos inalienáveis engolidos pelo estado. Pelo que chegamos a mais vil estatolatria, encarando o estado ou o parlamento como um organismo divino que jamais é capaz de errar!

    E no entanto este mesmo estado - e numa perspectiva democrática, não totalitária - decreta que um Sócrates beba cicuta e que um Jesus seja crucificado. Aplaudamos!!!

    Que dizer então sobre os estados totalitários governados por um Hitler, por um Stalin ou por um Bush??? Obedecer sem questionar a instância legislativa superior, eis a norma, regra e lei. Desobediência civil ou resistência nem pensar, afinal quem é ou o que é a pessoa humana face ao novo legislador supremo dos 'outros' neo ateus, o Estado???

    Negada uma onipotência transcendente temos duas opções apenas: Indivíduos pretensiosamente onipotentes como Ed Geyn ou um estado onipotente nos termos da Alemanha Nazista ou da Inglaterra absolutista dos Tudors... Tais as opções éticas dadas aos ateus ou fornecidas pelo ateísmo seguido numa linha escolástica de coerência.

    Afinal no fim das contas o significado não é dado pelo que você formula - E você até pode formular conceitos bastante nobres e elevados, por que não? - e sim por quem ou em nome de quem a tese é formulada. Pois caso tenha sido formulada por você individuo, sempre poderá ser negada! Outro porém será sentido do discurso caso apresentado em nome de um princípio supremo como a consciência Universal ou a alma do mundo!

    Percebem como Hamurabi, Manu, Tages, Licurgo, Labarna, Numa, o suposto Moisés e até Maomé quando impuseram seus códigos legais em nome de seus deuses???

    Quem é o homem ou o indivíduo para que legisle face aos demais exceto se tem força para coagir e dominar?

    Qual o estado ou grupo social que tomando uma decisão qualquer sejam impermeável ao erro?

    Assim sua solução extremista e radical, de apelar ao estado, sequer abalará os paladinos do individualismo, os quais com boas razões apresentarão os pecados cometidos pelo Estado: Os campos de concentração, os expurgos, os holomodores, os campos de cultivo, as invasões e guerras imperialistas, os julgamentos corrompidos (Como o de Sacco Vanzetti) etc. Lançarão os crimes deste Leviatã em face de seus servos, para em seguida darem com os ombros e declarar: Até compreendo seu ponto de vista, mas... Como individuo livre que sou, discordo e sustento a tese oposta: A liberdade do individuo é ilimitada, absoluta, total; podendo ele fazer tudo quanto desejar ou o que bem quiser!

    Agora aprecie a derradeira pedra adicionada a construção pelo francês Ch Foulcault: Com que direito internamos nossos psicopatas e histéricos em clínicas e hospitais, afinal de contas, quem sabe se no fundo, no fundo tudo isto não passa de um controle político tendo em vista a erradicação dos elementos questionadores e inconformados da Sociedade??? Enfim os verdadeiros gênios acham-se em nossos presídios psiquiátricos após terem queimado, esquartejado, torturado, estuprado, etc no exercício de suas liberdades. Tudo isto não nos faz lembrar as teorias de Raskolnicoff sobre o direito do homem superior fazer tudo quanto quer, inclusive assassinar? Obviamente que o critério de genialidade - Esta é do policial Porfírio - é individual, logo...

    Observe o leitor amigo a que extremos de moralidade chegaram os ateus! Uns sustentando a onipotência da Sociedade ou a estatolatria, e consequentemente eliminando a razão, a livre vontade, a consciência e a pessoa! E outros, situados no extremo oposto, forjando opiniões a respeito da liberdade dos alienados e declarando que não temos o menor direito de prende-los! Resta-nos esclarecer se podemos prender os verdadeiros criminosos, i é, os assassinos, os torturadores, os estupradores, os fraudulentos, etc???

    Admitidos os pressupostos da ética ateia, segundo o qual o individuo é lei suprema para si mesmo, não; exceto se os convencermos de que cometeram crimes e de que devam arrepender-se. Do contrário se afirmam obstinadamente que cometeram ações lícitas, discutir o que, se o homem é a lei suprema de si mesmo e as leis sempre podem estar equivocadas não passando de preconceitos impostos pelo poder??? Claro que dispondo do poder sempre poderemos prender e punir tais sujeitos! Mas e convence-los de que cometeram um crime ou uma monstruosidade, conseguiremos convence-los partindo do individualismo??? Temo que não... O sujeito continuará sentindo-se lesado em seus direitos e oprimido??? E é torturador, estuprador, assassino, ladrão... Feito vítima por obra e graça da doutrina individualista...

    Afinal, do ponto de vista do individualismo a única diferença considerável se dá no sentido de quem possui a força ou tem as armas. Assim os criminosos são apenas arbitrariamente declarados criminosos, quanto na verdade limitaram-se a agir livremente ou no exercício da tão afamada liberdade! Afinal, se Deus inexiste a liberdade é tudo... Se Deus não existe absolutamente tudo me é permitido - E assim o é! Explica-me como você, homem igual a mim, pode decidir em meu lugar e regular minha vida? Você é lei apenas para si e não para mim... Eis os tarados e criminosos convertidos em mártires face a um poder ilegítimo e arbitrário!

    Se de fato há uma ética, é como já se disse sem sansão. Coisa de contrato social que possa ser revisto. Adere quem quer... E quem não quer aderir mas continuar prevaricando e acometendo os semelhantes?

    Ah Madame Holland foste sábia quando exclamaste: Liberdade, liberdade; quantos crimes se cometem em teu nome!

    E no entanto os neo ateus - dominados pelos elementos da cultura - ao menos e suma maior parte, não fazem escolástica a partir de seus princípios como a liberdade individual ilimitada. Apenas Sartre, Camus, e alguns outros fizeram alguns ensaios difíceis de serem lidos, como aquele da peça em que o filho degola serenamente a própria mãe e depois, já não me recordo bem, senta-se na poltrona da sala para fumar ou beber, alguma coisa assim.

    Todavia no exato momento em que romperem com a herança negativa do positivismo (em torno da ética) e aceitarem o desafio de elaborar uma Ética propriamente sua, veremos o que resultará disto! E como saíra essa nova ética sem Deus!

    Pois no momento exato em que reconhecermos ao individuo o direito de causar dano ao semelhante ou de cometer verdadeiros crimes em nome da liberdade, a sociedade estará por um fio e a civilização definitivamente condenada. Cindida a humanidade em dois campos, teremos a um lado o pesadelo de Hobbes i é a luta do homem (convertido em lobo) contra o homem nos termos de uma guerra total; e a outro o sonho de Hobbes i é o domínio absoluto do Leviatã.

    Digo por fim, a guiza de conclusão, que semelhante dilema - terrível - só será capaz de ser superado a partir do velho conceito de Lei natural, essencial, universal, superior ao homem e imutável; além de racional. Recuperamos nosso elemento unificador perdido e iniciamos um diálogo prenhe de possibilidades ou caminhamos para o caos! Estabeleceremos novamente o necessário equilíbrio entre as prerrogativas e exigências da pessoa e as exigências da Sociedade ou sucumbiremos enquanto projeto de civilização, o que será imensamente trágico.

    Temos de retornar imediatamente aos antigos gregos, aos socráticos, a Aristóteles, Jesus, aos salmanticenses - Vitória, Bañez, Cano, Soto, Suarez... - antes que seja tarde demais.

    No entanto caso não exista um Deus...