quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Darwin era ateu?


No site MS notícias foi noticiado que um procurador ateu protestou contra colega de Mato Grosso do Sul. Até aí tudo bem. Depois de responder o colega passa a atacar o cristianismo em especial o catolicismo romano dizendo que este não tem contribuído para a vida... O que é questionável. Que a Igreja romana fez muita merda coisa ruim não nego, mas dizer que só fez coisas ruins e não contribuiu em nada, isso eu nego. Mas deixemos isso de lado, pois o propósito deste texto não são os papas nem os cardeais ou quaisquer dignatários da Igreja Romana. Este texto versa sobre Darwin e seu suposto ateísmo.

O senhor Inajá Guedes Barros comete um erro crasso quando indica leituras ao promotor: "Sugiro a leitura fácil de SAM HARRIS e RICHARD DAWKINS,além de DARWIN, é claro, dentre outros ilustres ateus".


Ele sugere a leitura de ilustres ateus e Darwin está no meio. Mas será que Darwin era ateu?
Para tanto nada melhor do que seguir o conselho do procurador de justiça, o senhor Inajá Guedes Barros: "Prenda-se aos fatos e não aos mitos".

Mito: Darwin era ateu.
Fato: Darwin era agnóstico.

Vamos aos fatos que parecem não ser do conhecimento do senhor Inajá.

A evolução do pensamento de Darwin:

"Autores da mais alta autoridade parecem plenamente satisfeitos com a hipótese de que cada espécie foi criada independentemente. No meu parecer, pelo que sabemos das leis impostas pelo CRIADOR, ajusta-se melhor à hipótese de que se a produção e extinção dos habitantes passados e presentes do globo sejam devidas a causas secundárias, como as que determinam o nascimento e a morte do indivíduo.
... Existe algo de grandioso nesta concepção da vida, com seus diferentes poderes, originariamente impressos pelo CRIADOR e em poucas formas, em uma forma só; e no fato de que, enquanto o nosso planeta continuou a girar conforme a imutável lei da gravidade, de tão simples início evoluíram e continuam evoluindo inumeráveis formas, belíssimas e maravilhosas". (A Origem das Espécies)

Darwin foi descrendo aos poucos do cristianismo mas nunca chegou a ser ateu. Reproduzo o texto no qual Darwin se afirma como agnóstico, o texto foi publicado pelo blog De rerum natura:

"Outra fonte de convicção quanto à existência de Deus, ligada com a razão e não com os sentimentos, influencia-me como tendo muito mais peso. É uma questão da extrema dificuldade, ou melhor, impossibilidade, de conceber este imenso e maravilhoso universo, incluindo o homem com a sua capacidade de olhar para o passado distante e para o futuro longínquo, como sendo o resultado do acaso cego ou da necessidade. Quando começo a reflectir assim, sinto-me obrigado a recorrer a uma Causa Inicial que possua uma mente inteligente, até certo ponto análoga à mente do homem; e mereço ser chamado Teísta.







Esta conclusão estava fortemente implantada na minha mente, tanto quanto me posso recordar, pela altura em que escrevi "A Origem das Espécies"; e foi depois disso que se tornou gradualmente mais fraca, com muitas flutuações.






Mas então surge a dúvida - será que a mente do homem, que se desenvolveu, como creio sem reservas, a partir de uma mente tão primitiva como aquela que o animal mais primitivo possui, é de confiança relativamente à sua capacidade de inferir conclusões tão grandiosas? Será que não são simplesmente o resultado da ligação entre causa e efeito que nos impressiona como sendo necessária, mas provavelmente depende apenas da experiência herdada? Nem devemos deixar de considerar a probabilidade de que a constante inculcação da crença em Deus na mente das crianças possa produzir um efeito tão intenso, e talvez herdável, nos seus cérebros ainda não completamente desenvolvidos, que depois é tão difícil para elas abandonarem a sua crença como é para um macaco abandonar o seu medo intenso e instintivo de cobras. Não posso pretender lançar luz dobre problemas tão abstrusas. O mistério do início de todas as coisas é insolúvel para nós; e por isso contento-me em permanecer Agnóstico"






- Charles Darwin, "Autobiografia", Relógio d' Água, Lisboa, 2004, tradução, introdução e notas de Teresa Avelar (original de 1887, publicado postumamente pelo seu filho Francis, que cortou partes do texto, satisfazendo pedidos da sua mãe Emma e sua irmã Henrietta, que eram crentes).

O senhor Inajá talvez tenha confundido agnosticismo com ateísmo, mas isso seria um erro imperdoável, já que ambos os termos são claros para quem é ilustrado. Ou talvez ele tenha recebido alguma revelação celestial, mas como, se ele é ateu? Teria Darwin descido nalgum centro espírita para avisá-lo que ele (Darwin) era ateu? Mas como se o senhor Inajá é ateu? Teria o senhor Inajá encontrado documentos ulta-secretos na qual Darwin postulava seu ateísmo? Não sei, são hipóteses muito estranhas confesso. Usemos então a navalha de Ockham que diz: "A hipótese a ser escolhida dentre as que explicam um determinado fenômeno deve ser a mais simples dentre todas as hipóteses". Pela navalha de Ockham só temos duas hipóteses plausíveis: ou o procurador de justiça errou por malícia ou por ignorância.  Se errou por malícia não tinha que dar lições de moral em seu colega; Se errou por ignorância também não deveria corrigir uma vez que fala sem conhecimento de causa.
 
O que é o agnosticismo? Agnosticismo é uma suspensão de juízo, isto é, nem se afirma nem se nega a existência de Deus.
 
O que é o ateísmo?  Negação da existência de Deus.
 
Portanto agnosticismo está tão perto do ateísmo quanto eu estou longe de ser dono do banco Santander.

Nenhum comentário: