sexta-feira, 24 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte XII

 A metodologia de controle posta em pratica I - Fase 01 < Fenômenos psíco somáticos Anormais: Os supostos estigmatizados e o DERMOGRAFISMO.

                  

                         Começo este capítulo declarando que grandes pesquisadores como Babinski, Milne Bramwell Screnck Notzing negavam peremptoriamente a possibilidade do dermografismo ou que um paciente pudesse formar vesículas em si mesmo por obra de sugestão. Virchow inclusive, ao ser convidado a examinar os estigmas de Louise Lateau, estabeleceu o dilema: Fraude ou milagre,

                          Descartada a fraude, porque alguns estigmas não eram de modo algum fraudulentos, só nos restaria admitir o milagre - Vejam só o absurdo! Pois muitos foram os autênticos estigmatizados desde S Francisco de Assis... até o Pe Pio de Pietralcina, correm-me de memória: Catarina de Siena, Catarina Ricci, Catarina Emmerich, Tereza Neumann, Rita de Cássia, Verônica Giuliani, Clara de Montefalco, Anna Schaeffer, Clara de Montefalco, e naturalmente Lateau. A respeito de Lateau foi sua peculiar situação física, devidamente verificada por Adolphe Deschamps e pelo Dr Lefebvre.

                           
A maioria das demais também foi devidamente averiguada, mormente quanto eram ostentadas por pessoas que em virtude do horrendo dogma do inferno eterno, dificilmente se atreveriam a mentir. Eram no caso pessoas devotas ou pessoas fanáticas. Todas curiosamente posteriores a S Francisco de Assis, cujos estigmas por sinal, são atribuídos por Donald Spoto, a lepra, o que é bastante plausível - Embora não explique os subsequentes plágios ou imitações.

                             
Excluído o fenômeno psico somático do dermografismo, teriam os positivistas e materialistas de plantão de se haver com o milagre... Pois como disse estamos diante de fatos muito bem averiguados. 

                             
Torno a Silva Mello "Sabido é que as estigmatizações consideradas como miraculosas foram observadas frequentemente na Idade Média, SENDO PECULIARES AOS POVOS CATÓLICOS, JAMAIS APARECENDO EM PROTESTANTES, JUDEUS, MUÇULMANOS, BUDISTAS, E EM QUANTOS NÃO ADMITEM A DIVINDADE DE CRISTO. PORTANTO TAL FENÔMENO ESTÁ, DE ACORDO COM AS RESPECTIVAS CRENÇAS, POIS, ENQUANTO PARA OS CATÓLICOS POSSUEM ESSAS MANIFESTAÇÕES UM SIGNIFICADO DIVINO, NEGAM-LHE OS DEMAIS ESSE CARÁTER, ATRIBUINDO-AS A IMAGINAÇÃO." P 401 (De memória)

                                Manifestam-se somente em romanos ou membros da igreja romana, porque para eles somente, é a tal estigmatização, sinal da benevolência ou do favor divino. Por isso, ao menos inconscientemente, desejam as almas devotas ser estigmatizadas. 

                                 Alguma novidade aqui...

                                 Pois bem, ouçamos Giordano Bruno: "Sabemos bem que algumas pessoas tão longe vão em suas convicções religiosas, que chegam a fazer aparecer, no próprio corpo, as chagas da divindade transpassada, cuja imagem estava gravada em suas mentes, justamente devido ao poder da imaginação." ib ibd

                                 
Vamos então aos fatos:

                                  "Charcot, empregando a sugestão hipnótica, conseguiu obter grande inchação numa das mãos, encontro a outra permanecia normal." 1955 p 399

                                   "Jendrassik empregou papel de escrever, sugerindo que se tratava de sinapismo, e, no dia seguinte, encontrou vermelhidão e vesículas no lugar da aplicação. O mesmo aconteceu quando fez a sugestão de que se tratava da aplicação de um ferro candente, que também provocou sinais de queimadura, deixando inclusive cicatriz." Id, ibd

                                   
Agora veja só o amigo leitor - Por que raios Babinski, Bramwell, Virchow, Schrenck Notzing e outros negaram algo assim tão evidente...

                                     Porque nas experiências realizadas por eles com determinados indivíduos, verificaram que o aparecimento de tais fenômenos, era produzido invariavelmente pelo paciente, os quais irritavam a pela até lesa-la. Id ibd Mesmo quando engessavam o membro sobre o qual deveriam surgir as marcas e colocavam o paciente sob a mais estrita vigilância, os pesquisadores conseguiram detectar minúsculas perfurações de alfinete sobre a camada de gesso. 1955 p 400

                                     
Posteriormente porém, foi o fenômeno rigorosamente demonstrado por Beaunis, Mohr, Janet, Krafft Ebing, Binet e diversos pesquisadores sob um controle ainda mais severo. VEJA PORTANTO COMO UM TESTE NÃO DETERMINA A FALSIDADE DO OUTRO como insinuam impudentemente Dessoir, Heuzé, Silva Mello e os demais positivistas desonestos.

                                      "O médico inglês Wrigth relatou de sí mesmo que era capaz, pela ação da vontade, de produzir urticária em suas pernas e braços. Brunnemann demonstrou, em tempos recentes, ser possível criar, por meio de sugestão hipnótica, furúnculos, eczemas, úlceras e outras manifestações cutâneas, que também podiam desaparecer por meio de sugestão contrária." 1955 p 400

                                        "Essas experiências foram realizadas em tempos mais próximos por Kreibich, Haller
e Schulz, os quais, mais uma vez, demonstraram ser possível reproduzir vesiculação e queimaduras por meio da sugestão, tal como sucede com relação as verrugas, que podem ser criadas e curadas pelo mesmo processo." 1955 p 405

                                         
Sobre o desaparecimento de verrugas por sugestão temos as investigações de Liek, Bloch, Brocq, Ellerbroek, etc as quais são detalhadamente descritas por Silva Mello nas páginas  406 - 411. O que explica o êxito universal de tudo que é simpatia contra verrugas - Caem as verrugas porque o paciente acredita no ritual ou no benzimento. O que muito provavelmente explica o êxito dos curandeiros que se tornaram famosos por extirpar o cobreiro, a erisipela, a cachumba, a espinhela caída, etc 

                                           

                                      

                                        
                                      

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte XI

A metodologia de controle posta em pratica I - Fase 01 < Fenômenos psíco somáticos Anormais: Continuação das pesquisas.


                          Antes de principiar a descrever os fatos ou eventos em questão quero esclarecer que são praticamente todos retirados da obra "Mistérios e realidades deste e do outro mundo" (2 ed. Livraria José Olympio, 1950) Capítulos XV e XVI. Foi essa obra enciclopédia ou melhor esse extenso calhamaço (Propositadamente anti espirítico.) escrito pelo médico, assumidamente ateu, Antonio da Silva Mello. Temos aqui portanto um autor insuspeito (E no entanto honesto.) pois mesmo podendo - Por questões de ordem ideológica. - assumido postulados behavioristas, reconheceu não apenas as contribuições de Janet, Freud, Adler e outros no campo da Psicologia, mas a existência de fenômenos Psico somáticos. Mais - Homem honesto - reconheceu também os fatos estranhos ou anômalos (Paranormais ou espíritas como se queira.) crendo poder explica-los em sua maior parte por meio da Hiperestesia e alguns outros por meio da Hipnose. 

                            "De há muito SE SABE que fatores psíquicos podem atuar de maneira decisiva sobre as mais diversas funções do organismo. Beaunis, em tempos passados, mostrou que por meio da sugestão hipnótica, podiam-se acelerar ou retardar os movimentos cardíacos. Kraft Ebing, em 1889, publicou a OBSERVAÇÃO de que uma histérica, apresentava elevações de temperatura corporal até 41,5 sem haver outros sintomas de febre. Por meio da sugestão, ele podia fazer a temperatura cair até 36 ou eleva-la a 38,5, e prosseguiu REALIZANDO OBSERVAÇÕES DESSE GÊNERO DURANTE MESES SEGUIDOS. Mohr, em tempos mais recentes, conseguiu coisa idêntica com outra histérica, a qual manteve sua própria temperatura em 38 durante várias semanas, caindo de imediato para 36,5 por sugestão...  A secreção de leite pela mama, as funções renais e intestinais, o ciclo menstrual e o próprio metabolismo basal PODEM SER INFLUENCIADOS POR PROCESSOS DE SUGESTÃO, SOBRETUDO HIPNÓTICA... 

                           Por sugestão é possível alterar até mesmo a posição dos órgãos, como foi averiguado, por exemplo, em relação ao estômago.

                           Pela Hipnose, o indivíduo pode deixar de ouvir barulhos violentos, assim como pode sentir o cheiro intenso da amônia como se fosse um perfume delicioso ou tolerar, sem qualquer reação de dor, descargas elétricas, cuja voltagem desencadeia, normalmente, sofrimentos intoleráveis." p 396 e sgs

                           "A sugestão de se espremer cebolas nos olhos os hipnotizados reagem com lágrimas." p 398 
(Nós mesmos os vimos comerem cebolas como fossem maçãs, segundo lhes sugerira o controlador Fábio Puentes.) 

                           "Vimos que a secreção de suco gástrico, da bílis e de outros sucos digestivos, assim como a do leite, podem ser influenciadas por esse fator. Pode também a menstruação obedecer a sugestão hipnótica, HAVENDO ATÉ GRAVIDEZES PURAMENTE PSÍQUICAS, FANTÁSTICAS E IMAGINÁRIAS ACOMPNHADAS DE AUMENTO DO VENTRE E DOS SEIOS, ASSIM COMO DE TODOS OS SINTOMAS HABITUAIS DESSA CONDIÇÃO. ESSA SITUAÇÃO SE PODE PROLONGAR POR MESES SEGUIDOS, SENDO MANTIDA PELA AUTO SUGESTÃO DA PRÓPRIA VÍTIMA, CONVICTA QUANTO A REALIDADE DE SEU ESTADO. O SIMPLES MEDO DA GRAVIDEZ PODE FAZER DESAPARECER AS REGRAS, POR UM MECANISMO INVERSO." 


                            Quer dizer que temos aqui um autor materialista que supreendentemente não se afastou dos fatos, chegando a atribuir, com os Psicólogos, certas capacidades a mente. Cumpre dizer que não reconhecia entretanto a clarividência como algo que atuasse para além dos sentidos excitados e menos ainda dos fenômenos Psi gama.

                             Vamos agora aos fatos - "Gessler, Neunann e Hansen demonstraram que as sugestões de frio e calor podem alterar o metabolismo basal e outras funções do organismo, como se se tratasse de uma influência real e direta desses fatores térmicos.
                             COLOCARAM UM INDIVÍDUO NUM QUARTO DE TEMPERATURA NORMAL, SUGERINDO-LHE QUE O MESMO ESTAVA MUITO FRIO OU PELO CONTRÁRIO, BEM AQUECIDO. No caso da sugestão de frio, o indivíduo ficava arrepiado, punha-se a tremer e o metabolismo basal subia de 30 a 40 por cento. Se, logo depois, era feita uma sugestão composta, isto é, de estar fazendo calor, punha-se ele a transpirar e o metabolismo voltava ao normal." p 397 

                              Partindo da biografia de Neumann julgo que tais pesquisas ocorreram no comecinho do século XX.

                              "Traumann e Maywer verificaram que o metabolismo basal de um indivíduo hipnotizado aumenta quando é feita a sugestão de estar ele acometido por câncer ou cegueira - E parece que esse aumento não é provocado nem por alterações circulatórias nem respiratórias." p 397 e sg

                               "Foram mais de dez indivíduos experimentados. O metabolismo basal de cada sujeito foi determinado sob hipnose profunda, e, em seguida várias emoções foram atribuídas a cada sujeito sob hipnose, assim como, amputação de membros, morte de parentes, lutas, canibalismo, etc Em seis indivíduos UM AUMENTO DISTINTO VARIANDO DE 08 A 25 % FOI DETECTADO, em um caso, apenas leve aumento, e em outro mudança alguma. Dois sujeitos receberam sugestões agradáveis, aqui apenas num observou-se ligeiro aumento na taxa metabólica. 
                                Grafe concluiu que as emoções podem causar um aumento distinto no metabolismo e que as emoções que produzem tristeza aumentam o metabolismo mais do que as que causam alegria." 
Goldwyn 1930 (Arquivo internacional de medicina de Chicago)

                               Foram as experiências acima posteriores as que haviam feitas por Grafe e Traumann - Grafe und Traumann - Zur frage des einfluss psychischer depressionem und der vorstellung schewer muskelarbeit auf den stoffwechsel (Untersuchugen in der Hypnose) - Ztschr ges fd neurol und psych 62:237 - 1920 - e "Nas quais um sujeito sob sugestão hipnótica de depressão, mostrou aumento de 6 a 12 por cento na taxa metabólica, enquanto um outro não manifestou nenhuma mudança apreciável." Goldwyn 1930 (Arquivo internacional de medicina de Chicago)

                                Goldwyn - Opus cit - aferiu que sob sugestões que tendam a produzir inatividade física ou mental ocorre diminuição do metabolismo basal normal. 

                                 Desde a segunda metade do século XIX o Dr Paul Gibier em seu livro sobre o Faquirismo ocidental se havia referido a diversos fenômenos presenciados por seus amigos e correspondentes médicos entre os Yogues da Índia. Outros tantos fatos estranhos foram atribuídos aos religiosos budistas do Tibet por Alexandra David Nell em seu livro "Tibete, magia e mistério" - Os quais todavia jamais atraíram a atenção dos cientistas ocidentais e eram tidos em conta de boatos ou invenção.

                                  Até que Thérèse Brosse atreveu-se a realizar as primeiras experiências nesse campo, como refere Silva Mello - "A doutora Thérèse Brosse, minha companheira de trabalho no Hospital Claude Bernard de Paris, em experiências realizadas com ióguis na Índia,COMPROVOU, POR MEIO DE APARELHOS, QUE ELES CONSEGUIAM PERMANECER EM ESTADO DE APNEIA POR UM TEMPO MAIS OU MENOS LONGO, E PORTANTO, EM ESTADO COMPARÁVEL AO DE ANIMAIS HIBERNANTES, HAVENDO QUEDA DO METABOLISMO BASAL E TAMBÉM DIMINUIÇÃO DA VOLTAGEM NO ELETROCARIDOGRAMA. ESSA MESMA PESQUISADORA PODE VERIFICAR QUE ELES CONSEGUIAM INFLUENCIAR À VONTADE A AÇÃO DOS MÚSCULOS ESTRIADOS E LISOS DO ORGANISMO, DE TAL MANEIRA QUE ERA CAPAZES DE REGULAR OS MOVIMENTOS PERISTÁLTICOS E ANTI PERISTÁLTICOS, O JOGO DO ESFINCTER ANAL E VESICAL, PODENDO ASPIRAR ÁGUA OU LEITE NO RETO A NA BEXIGA EM O AUXÍLIO DE QUALQUER INSTRUMENTO." Silva Mello 1955 p 398


                                 "Marx demonstrou que a sugestão de beber grande quantidade de líquido, feita sob hipnose profunda, era acompanhada de diurese abundante e correlativa ao volume fictício ingerido sob a sugestão. Não somente água, mas também o Cloreto de Sódio e outros sais, sofrem alterações de concentração no sangue e nas gotas eliminadas sob efeito de simples sugestão hipnótica." p 398

                                   "Ubal Tartaruga, num tratado em alemão 'Wunder der hypnose' estuda as maravilhas da hipnose... e entre os fatos citados, refere a um verificado por Grundmann: Crescimento, em quatro semanas, de verdadeiros seios de mulher, volumosos, no tórax de um homem, como demonstra por meio de diversas fotografias e atestados de médicos vienenses. Além disso, relata haver corrigido defeitos na coluna vertebral de um jovem estropiado, considerado incurável." 1955 p 422

                                     "No terreno terapêutico podem ser alcançados resultados extraordinários em diversas doenças, mesmo em muitas puramente orgânicas. Recentemente, o Dr Voelgyesi relatou o caso de uma policitemia mielobástica, que havia resistido a todos os tratamentos, inclusive a aplicação de raios X, e que foi beneficamente influenciada pela hipnose, que fez cair o número de hemácias de maneira quase experimental, pois a sua diminuição coincidia estritamente com os períodos desse tratamento. O mesmo autor refere casos de tuberculose óssea e articular fistulados há muitos anos e que sararam rapidamente pela hipnoterapia." 1955 p 413

                                        "A chamada pequena Psicologia entra, quase toda ela, no domínio da psicoterapia. Hemorragias, corrimentos, esterilidade, manifestações dolorosas, etc traduzem comumente lutas, recalques e desajustes... podendo assim muitas doenças do estômago, intestino, fígado, coração e pulmões, i é, de todos os órgãos depender diretamente do psiquismo do indivíduo, oferecendo excelente campo de ação para os tratamentos psicoterápicos. Goldscheider afirmou que na terapêutica da hipertensão arterial deve a psicoterapia ocupar lugar proeminente. O professor During, de Viena, também observou que a pressão descia quando o doente recebia a sugestão de que, pelo tratamento, ela iria diminuir."  id, ibd

                                           "O doutor Fowler, no 'Medical Record' de 15 de Fevereiro de 1890, publica uma comunicação feia a Sociedade Neurológica de Nova York sobre tumores neuróticos da mama, na qual descreve oito casos de tumores únicos ou múltiplos, alguns dos quais já vistos por cirurgiões que opinavam pela extirpação. Fowler, verificando que essas doentes eram nervosas ou histéricas, institiu tratamento psíquico, que produziu o desaparecimento total daqueles tumores." id, ibd

                                            "Morand relata um caso que Charcot teria mencionado diversas vezes em seu curso: Uma mulher que estava há muitos anos na Salpêtrière, sempre de cama, devido a uma paralisia dos membros inferiores. Um dia lhe disseram bruscamente que havia roubado um objeto de uma de suas companheiras de quarto. 'Eu, uma ladra!' gritou ela, acrescentando: 'Não ficarei nem mais um minuto numa casa onde estou exposta a tão indignas acusações.' . Levantou-se, vestiu-se e retirou-se, completamente curada de sua paralisia." 1955 p 417

                                            "Trata-se de um senhor de idade, vítima de ligeiro insulto cerebral por arterioesclerose, o qual ficou com a marcha prejudicada devido a uma paralisia da perna esquerda. Para levantar-se de uma cadeira, precisa fazer um grande esforço e, mesmo servindo-se de uma bengala, anda com dificuldade, arrastando o pé do lado doente. Está fazendo massagens e exercícios ginásticos há muitos meses, mas a situação não se tem modificado, parecendo ter antes uma tendência a piorar. Nessas condições, é visitado por uma senhora, que emprega um processo especial de tratamento, baseado num ligeiro grau de sugestão hipnótica... equivalendo ela a uma autêntica contemporânea de Mesmer... os resultados foram imediatos e decisivos. Dentro de poucos minutos, o doente conseguiu levantar-se, e andar, pouco depois, sem o auxílio da bengala. Uma massagista estrangeira, que conhecia todas as dificuldades e insuficiências da marcha do doente, ficou estupefata ao encontra-lo andando livremente pelo corredor, sob as ordens imperativas que lhe eram dadas."

                                                 A bem da verdade muitos de nós conhecem narrativas similares, como sobre algum paralítico ou cadeirante que ao ver-se numa situação calamitosa levantou-se da cadeira seja para salvar algum ente querido ou a si mesmo. Tais as narrativas sobre pastores, que como o falecido Davi Miranda, teriam curado diversos paralíticos - Afinal quando a paralisia é psico somática, basta remover o trauma que a desencadeou ou convencer o paciente de que está curado para que recupere definitivamente seus movimentos e torne a caminhar. Outro o caso de uma paralisia de fundo somático ou físico - No qual, passado algum tempo, o enfermo torna a perder seus movimentos, devido ao enfraquecimento da sugestão.

                                                   Foi alias estabelecido o princípio, segundo o qual, a sugestão tem a capacidade de eliminar ou curar todas as enfermidades de fundo psíquico ou psico somáticas - O que explica os sucessos obtidos pela psicanálise e pela psicoterapia. Outro o caso das enfermidades propriamente ditas ou físicas, caso em que a sugestão elimina apenas os sintomas, como a dor.

                                                    Termino este capítulo ou artigo com mais dois exemplos tomados não mais a Silva Mello, mas a um compêndio de Psicologia escrito por H E Garret - "Grandes experimentos da Psicologia", Nacional -1969

                                                     "Outro caso narrado por Franz ilustra o poderoso efeito estimulante da sugestão positiva. Tratava-se de um soldado que havia sido atingido por uma granada. Desse ferimento resultou paralisia unilateral do rosto, braço e perna, estado em que permaneceu por nove meses. Esse doente entrou na sala de exames coxeando e apoiado numa bengala. O experimentador ordenou-lhe, imediata e incisivamente, que largasse a bengala e fossem sentar-se numa cadeira que se encontrava a distância de 12 pés. O doente, a princípio insistiu em que não podia andar sem a bengala, mas quando o experimentador lhe afirmou categoricamente que podia, o doente pôs a bengala de lado e caminhou, com dificuldade, mas sem auxílio algum, até a cadeira." p 36

                                                       "O caso de outro paciente, parcialmente paralítico, ilustra muito bem os efeitos que pode exercer um incentivo ou um estímulo emocional forte, que leva o doente a 'esquecer' sua condição. Esse homem havia andado com uma bengala por dezenove anos. No entanto, durante um jogo de baisebol, esse homem, entusiasmado, tomou da bola, sem parar sequer para pegar a bengala, saiu correndo e marcou um ponto. É significativo notar que, apesar dessa façanha, o homem imediatamente pediu a sua bengala, dizendo que sem ela não podia se locomover." 1969 p 37           







Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte X

                                       

A metodologia de controle posta em pratica I - Fase 01 < Fenômenos psíco somáticos normais>

                     



                      Como certificamos no artigo anterior, uma das principais queixas dirigidas pelos cientificistas diz respeito ao controle das experiências, o qual consideram negligente. Quiçá por não terem, pelo menos a maior parte deles, consultado os relatos. É a única conclusão a que podemos chegar... 

                      Neste e nos próximos artigos nos esforçaremos por demonstrar que tal crítica carece por completo de fundamento. Para tanto nos daremos ao desgastante trabalho de acompanhar a investigação de tais fenômenos desde o período mesmérico até as fases mais recentes, desenvolvidas na Universidade de Duke. 

                      Será um estudo tanto substancial quanto fastidioso para o leitor de lingua portuguesa, pois tudo quanto faremos será dar a palavra aos próprios cientistas que constataram os fenômenos mormente quando descrevem, com Hare, Mapes, Varley, Thury, Gasparin, Croockes, Richet, etc antes de tudo as máquinas, aparelhos e instrumentos que criaram com o intuído de esgotar tal finalidade, e, em seguida, seus procedimentos, cuidados, observações, repetições, etc i é o controle, isto para que cada um possa aquilatar o grau de seguridade.

                         É isto absolutamente necessário porquanto se os humanos podem alucinar máquinas e instrumentos jamais alucinam, sendo exatos quanto a precisão - A menos que se admita que a mente do sensitivo possa atuar diretamente sobre eles. Admitido isso não temos mais o que discutir, posto que não pretendemos demonstrar peremptoriamente a sobrevivência, mas apenas e tão somente a atuação física ou não da mente fora do corpo ou para além dele. Portanto é o escopo desta obra bastante humilde por ser animista e naturalista ou Psicológico, não espírita.

                           O quanto for possível traduziremos algumas peças do inglês, do francês, do italiano e do espanhol. 

                           Segue uma indicação bibliográfica bastante sumária destinada aos que aspiram aumentar seus conhecimentos na área em questão:

                            - William Croockes "Fatos espíritas"


                            - Charles Richet "Tratado de Metapsiquica"


                            - René Sudre "Tratado de Parapsicologia"


                            - Silva Mello "Mistérios deste de doutro mundo"


                            - Sérgio Valle "Silva Mello e seus mistérios"


                            - Robert Tocquet "Os poderes secretos do homem"


                            - Robert Amadou "Parapsicologia"


                            - César Lombroso "Hipnotismo e mediunidade"


                            - René Warcollier "Experiments in telephaty"


                            - Friedrich Zoellner "Provas científicas da sobrevivência"

                            - Schrenck Nottzing "Problemas basicos de la Parapsicologia"

                            - Leon Denis "No invisível"

                            - Ernesto Bozzano "Enigmas da Psicometria"

                            - Ernesto Bozzano "Metapsíquica humana"

                            - Carl Sagan "O mundo habitado por demônios"

                            - Oscar G Quevedo "Antes que os demônios voltem"

                            - Oscar G Quevedo "A face oculta da mente"

                            - Oscar G Quevedo "As forças físicas da mente"

                            - Gabriel Delanne "O fenômenos espírita"

                            - Gabriel Delanne "O espiritismo perante a ciência"

                            - Eudes de Mirville "Questions des esprits..."

                            - Zeus Wantuil "As mesas girantes e o espiritismo"

                            - Picone Chiodo "A verdade espiritualista"

                            - Agenor de Gasparin "Des tables tournantes..."

                            - Louis Figuier "Histoire du marveilleux"

                            - Carlos Imbassahy "A farsa escura da mente" 

                            - Carlos Imbassahy "Hipóteses em parapsicologia"

                            - Carlos Imbassahy "O espiritismo a luz dos fatos"

                            - Carlos Imbassahy "Enigmas da Parapsicologia"

                            - Paul Gibier "Análise das coisas"

                            - Paul Gibier "Espiritismo, o faquirismo ocidental"

                            - Louisa Rhine "Canais ocultos do espíritos"

                            - J B Rhine "Novo mundo do espírito"

                            - J B Rhine "Parapsicologia - fronteira científica da mente"

                            - J B Rhine "O alcance do espírito"

                            - J B Rhine "Parapsicologia atual"

                            - J B Rhine "Novas fronteiras da mente"

                            - J B Rhine "Novas perspectivas da Parapsicologia"

                            - Joseph Grasset "O ocultismo ontem e hoje"

                            - Puységur "Memórias para servir a história e estabelecimento do magnetismo"

                            - Du Potet "Magnetismo em oposição a medicina"

                            - Boirac "A psicologia desconhecida"

                            - Gustave Geley "L ectoplasmie et la clairvoyance - Observation et espériences personnelles"

                            - Eugéne Osty "Lucidité et intuition - E'tude experimentale"

                            - Herculano Pires "Parapsicologia hoje e amanhã"



                         
Já nos referimos que a primeira fase das pesquisas Psicológica e Parapsicológica correspondem ao que chamamos de magnetismo, e que foram iniciadas da primeira década do século XIX e portanto a exatos dois séculos.

                         Começarei, muito naturalmente pelas experiências realizadas por Du Potet:

                         "Sabeis - diz ele - que o sonambulismo se apresentou a nossa observação e que GRANDE NÚMERO DE MÉDICOS INCRÉDULOS, atraídos pela novidade do espetáculo, DELE ACABARAM SENDO TESTEMUNHAS. POIS QUERIAM ASSEGURAR-SE DA VERDADE QUE LHES DIZIA EU. PERMITI QUE ELES FIZESSEM O QUE BEM QUISESSEM, PORQUE EM MATÉRIA DE FENÔMENOS ESTRANHOS, SÓ SE DEVE ACREDITAR PELO TESTEMUNHO DOS SENTIDOS. 

                          A PRESENÇA DE MUITA GENTE NÃO IMPEDIU A MANIFESTAÇÃO DOS FENÔMENOS, E TUDO PUSERAM OS ASSISTENTES EM PRÁTICA PARA VERIFICAR a insensibilidade dos hipnotizados. Começaram a passar uns fios de pena muito finos sobre os lábios e nas asas dos narizes, em seguida se lhes picaram a pele de tal modo que se produzam equimoses, logo mais se lhes inseriram fumaça nas fossas nasais e também puseram os pés de uma sonambula em um banho de mostarda fortemente sinapizado e com água bastante quente.
                           Nenhuma dessas ações determinou a menor alteração ou o mais leve sinal de dor e o pulso se mantinha regular. Porém, quando despertaram, todas as dores que deviam ser provenientes das experiências fizeram-se sentir vivamente, de modo que os pacientes se indignaram, com o tratamento que os fizeram experimentar." 

                            Necessário salientar que as verificações não foram realizadas por Du Potet mas pelos céticos ou duvidosos, como refere o Dr Roboam em Ata:

                            "Certifico que a o8 de Janeiro de 1821, a pedido do Dr Recamier, pus em sono magnético a assim chamada Le Roy (Lise) do leito n 22, da sala S Agnès; ele a tinha, anteriormente, ameaçado com um caustico caso se deixasse adormecer.
                             Mesmo contra a vontade da enferma, logrei induzi-la ao sono e, durante ele, Gilbert queimou agárico junto a suas fossas nasais e essa fumaça nada produziu de notável. Contínuo Recamier aplicou-lhe o caustico na região epigrástrica, o qual veio a produzir uma escara de 15 linhas de comprimento por 09 de largura, durante a citada aplicação a enferma não manifestou menor sinal de dor, seja por meio de gritos ou por alteração do pulso; permanecendo em insensibilidade completa; despertada porém sentiu muita dor. - Assinam Gilbert, Créqui e muitos outros além de Roboam."

                             
Diante disso o Dr Margue, que seguiu para Salpêtrière, realizou outras tantas experiências, não somente com a anuência do grande Esquirol mas com autorização para que fossem publicados - Como se vê Esquirol não se opunha a livre investigação em nome de certos princípios apriorísticos. 

                             "Renovaram nas pobres mulheres as experiências da casa de Misericórdia; depois, como acreditassem que a dor pode ser suportada, até certo ponto, sem ser manifestada, que se podia sofrer a mais forte queimadura sem mostrar qualquer sinal externo, supôs-se que o melhor seria dar-lhes a respirar amoníaco concentrado. Para tanto, procurou-se no Hospital um vaso que contivesse quatro onças de amoníaco e o colocaram muitos minutos seguidos no nariz de cada sonâmbula, tendo-se o cuidado de fazer com que a inspiração levasse ao peito o gás deletério. Repetiram eles a operação diversas vezes e nunca puderam os observadores surpreender a sombra de qualquer manifestação de incômodo ou mal estar.

                            "Um doutor, sem dúvida incrédulo, querendo certificar-se de que aquele recipiente continha amoníaco, aproximou-se para cheira-lo e quase pagou com a própria vida a imprudente curiosidade." Dellane 1952 

                             
Foram essas últimas experiências testemunhadas por Husson, Bricheteau, Delens e muitos outros médicos e os relatórios depositados com Dubois, o Tabelião de Paris, sendo uma cópia editada em brochura e os fatos jamais contestados, ao menos, aquele tempo. iden Ibd 

                             

                             


                         

segunda-feira, 20 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte IX

A QUESTÃO DA METODOLOGIA OU DO CONTROLE!A


               

               A propósito dos fenômenos ou fatos parapsicológicos, ainda em 1966 o profo Otto Lowestein, em seu livro "Os Sentidos" expressou seu ceticismo quanto esse tipo de pesquisas avaliando-as como pouco rigorosas. 


               Séria a questão da Metodologia científica, a qual sequer é empírica ou científica mas Filosófica, gnoseológica, epistemológica... dependendo sempre de certos postulados metafísicos e é claro da natureza do que se pretende investigar. Quanto os pressupostos, após Hume Kant, pode-se dizer que são bastante numerosos, pois temos - Dentre outros os de Putnam, Popper, Kuhn, Medawar, etc já quanto a natureza do que se pretende investigar temos o clássico modelo material e monocausal legado pelo positivismo e ainda a pouco defendido fervorosamente pelo recém falecido Mario Bunge e o modelo compreensivo de Dilthey. 

                
O autor destes linhas, guiado por Aristóteles, Antíoco de Ascalon Reid assume o modelo de Hiraly Putnam, o qual bem pode ser expresso por três postulados:

Realismo metafísico: O mundo externo não é produto de nossa mente e existe independentemente dela. Contra Kant, Husserl e outros tantos psicologistas, subjetivistas e antropocênticos.

Realismo epistemológico: O mundo, ao menos em parte, pode ser percebido pelos sentidos e compreendido. Contra os céticos representados por Hume.

Realismo semântico: A verdade é uma correspondência entre a representação mental e o objeto externo.

                  Portanto, como todo conhecimento deriva remotamente da experiência sensível i é da sensação, da percepção, do contato com o mundo ou da experiência, toda e qualquer opinião, tese, ponto de vista, conceito, ideia, etc não poderá de modo algum corresponder a verdade caso repudie aprioristicamente quaisquer fatos devidamente demonstrados. Toda e qualquer princípio, lei, conceito, etc deverá partir sempre de fatos concretos ou firmar-se sobre a unidade dos fatos. 

                    Resulta disto que demonstrado um único fato irredutível a ideologias como o materialismo, o mecanicismo, o positivismo, etc todo construto mental ou crença caí fragosamente por terra. 

                     Daí a necessidade desses construtos mentais barrarem qualquer tentativa de demonstração empírica ou mesmo de pesquisa, começando por delimitar que seja ciência, sempre de acordo com a dita construção mental, taxando todas as áreas do conhecimento que nelas não se enquadrem como não ou anti científicas. 

                       Não estou aqui, de modo algum, defendendo frioleiras ocultistas ou esotéricas - Como as da H P Blavatsky, que a tantos espíritas desencaminhou. - a astrologia, a solução 'moral' comunista ou outras quejandas. Ouso porém distinguir a Psicanálise e a Parapsicologia desse cipoal de crendices imbecis, assim a Teoria da Evolução das Espécies, a princípio impugnada por K Popper (The poverty of historicism - 1957) por enquadrar-se no mesmo tipo (Da Psicanálise e da Parapsicologia - Ocultismo e astrologia são coisa totalmente distintas!). 

                         Alias quando concordo com Popper a respeito da ideologia Comunista ou mesmo dos diversos modelos socialistas utópicos ou heterodoxos devo esclarecer, que me refiro - No sentido dado por Max Weber - a solução ou ao que deveria ser feito (Ideativo ou futuro) e de modo algum a análise crítica - Negativa por sinal. - que fizeram e fazem sobre o liberalismo econômico ou capitalismo a qual tenho em conta de válida e verídica. 

                           Tornemos porém aos cientificistas e positivistas, os quais desprezando, como de costume, a própria Filosofia do Conhecimento - Enquanto produto de especulação metafísica. - ousam reivindicar, arrogantemente, o monopólio da Ciência até converte-la em propriedade sua. Claro que o principal objetivo aqui é dar suporte a crença materialista em oposição aos fatos percebidos e testados. 

                             O que esses senhores não percebem - E aqui são tão cegos quanto qualquer místico comunista, anarquista, fascista, etc - é que impugnando fatos rigorosamente demonstrados e por assim dizer as fontes mesmas do empirismo e do conhecimento, beneficiam o ceticismo, com o qual de fato, em maior ou menor medida - Segundo a conveniência. - tem flertado, sem avaliar os perigos. 

                              Quiçá o conflito ou choque mais significativo que verificamos entre a Parapsicologia e os cientificistas/positivistas diga respeito ao que seja ou a como deva ser a dita experiência em temos de observação e controle dos fenômenos em questão. 

                               Pois os físicos, químicos e biólogos, habituados a lidar com a materialidade, que é mecânica, insistem doentiamente sobre a questão do controle dos fenômenos e também na previsibilidade. O que é perfeitamente compreensível em termos de materialidade, pelo simples fato da materialidade ser mecânica. Longe de negarmos que os experimentos nos âmbitos da Física, da Química e de parte da Biologia devam ser reproduzidos a ponto do cientista poder prever os resultados mais remotos com absoluta precisão. 

                                Quanto a observação e comprovação estamos de pleno acordo. Pois só podemos atribuir existência real a algo que percebamos. 

                                 Outro o caso da repetição mecânica e da previsibilidade. 

                                  Pois os fatos parapsicológicos ou metapsíquicos não se enquadram nesse esquema posto para as ciências materiais ou exatas. 

                                  E por que raios não se enquadram...

                                  A questão é de prístina simplicidade > Não podem os fenômenos parapsicológicos comportarem-se tal e qual os fenômenos puramente materiais - A exemplo das forças, dos átomos ou das moléculas. - porque admitida ou não a sobrevivência do espírito, continuam sendo eles fenômenos puramente humanos por serem acionados pela Mente humana, que é - Engulam Steven Rose - Indeterminada. 

                                  Quer Rose dizer com isso que a mente humana não obedece a um rígido modelo determinista mecanicista, tal e qual observamos nos domínios das já citadas áreas. 

                                   Portanto quando os cientificistas como Dessoir, Heuzé ou Randi exigem repetição por parte dos sensitivos, acabam inclusive impulsionando os mais ambiciosos a fraude. Pois embora possam tais fenômenos ser observados, não é de sua natureza ser reproduzidos artificialmente ou provocados quando se deseja (O que obviamente tem repercussão nas tais sessões ou evocações espiriticas!). Mentais e humanos são tais fenômenos irredutíveis a um controle mecânico - Portanto quando apresentamos tal exigência a um sensitivo é como se exigíssemos que um peixe voasse ou que um pássaro nadasse. 

                                    Mas se não há repetição e previsão não há controle, se não há controle não há demonstração não há ciência, logo é a Parapsicologia um pseudo ciência.

                                    Admitirei por hora sua alegação, com a condição de que ao fim de minha reflexão você esteja disposto a proceder com estrita justiça, aplicando as mesmas premissas a outros campos do saber. Pois se aplica-as apenas e tão somente a parapsicologia a desonestidade e o oportunismo sectário são manifestos.

                                     Um homem honesto, tanto próximo das tonterias positivistas e cientificistas, foi o já citado K Popper. Vejamos agora que fez ele. Por questão é ética ou justiça aplicou ele as mesmas premissas a diversas áreas do conhecimento ou a pretensas áreas. Qual o resultado disso...

                                      Embora os cientificistas e positivistas de plantão tentem esconde-lo (Tal e qual os fundamentalistas bíblicos buscam esconder as mazelas do antigo testamento.) Popper classificou a Teoria da Evolução das espécies na mesma linha que Kant o teria feito, como um construto metafísico indemonstrável, tal e qual o futurismo comunista, a astrologia e a parapsicologia.

                                        Tanto que até mesmo um líder fundamentalista como o Silas Malafaia (!!!) recorrer ao esquema popperiano ou positivista para ensinar-lhes que não é possível sequer - Pasmem! - observar a Evolução (O que é pura verdade!), quanto menos controla-la e menos ainda prever seus rumos. Eternos céus: A Evolução das espécies (Fenômeno a respeito do qual não pode pairar mínima dúvida!) não é, nem observável, nem controlável e tampouco previsível. Salve-nos Dilthey: Não pode ser demonstrada empiricamente num laboratório ou testada por meio de uma única experiência, mas pode ser compreendida em sua complexidade.

                                          Captem agora a profundidade do pensamento Diltheiano: A compreensibilidade. Pois há fenômenos tão complexos que não nos é dado demonstrar, controlar, reproduzir, etc mas apenas observar e compreender, outros inclusive apenas aduzir...

                                            Do contrário, submetida as exigências descabidas do positivismo ou do cientificismo fica a Evolução das espécies classificada como especulação metafísica, imaginação ou fantasia... Afinal o positivismo tem suas origens no pensamento defeituoso de I kant.

                                            Apenas isto...

                                            De modo algum. Pois se já temos problemas no campo da Biologia imagine então nos outros campos que seguem - Muitos deles repudiados pelos cientificistas 'Ortodoxos'... 

                                             Imagine a História tanto mais recente com seu esquema de depoimentos orais... 

                                             E imagine por fim a Psicologia.

                                             Pelo que chegamos mais uma vez ao behaviorismo (Sempre) e a Watson, Skinner, Eysenck, Pinker, Rooth, etc os facilitadores do materialismo. 

                                             Praticamente todo nosso conhecimento na área de Psicologia profunda foge a dinâmica positivista ao menos quanto o controle. Ainda que os fenômenos Psicológicos sejam observáveis e outros tantos possam ser previstos, diversos outros fenômenos não podem ser controlados ou reproduzidos e repetidos num laboratório. Daí o recurso a um método propriamente subjetivo descritivo que é a introspecção e a inferência a partir de dados obtidos. 

                                               Pois deve a metodologia, como aventou Dilthey estar de acordo com a natureza íntima do objeto estudado, no caso a mente. Quiçá alguém declare que há uma via de acesso controlada na Hipnose. Já nos manifestamos sobre isso, dando pela negativa. Pois como advertiram os de Nancy, a hipnose deve ser empregada com suma cautela. Tanto que Freud a abandonou. Basta dizer que o Inconsciente tem o péssimo hábito de fantasiar, especialmente quando artificialmente abordado, é é exatamente isso que põem em xeque tanto as evocações espíritas - Com seus transes. - quanto as supostas regressões, estás indubitavelmente forjadas pelo inconsciente. Outro grande risco apontado pelos de Nancy foi a contaminação ou direcionamento do hipnotisado pelo hipnotizador, inclusive por via de Hiperestesia. 

                                                  Por isso a Psicologia profunda ou dinâmica, seja tradicional, psicanalítica, psicoterápica ou de Gestalt, reivindica - Não menos que a Parapsicologia. - o direito de ter um método próprio de trabalho não sujeito as exigências de um positivismo fundamentado na materialidade mecanicista. Sem método e conteúdo próprio sessa de ser o que é. Eis porque, em contrapartida, os mesmos e exatos adversários da Parapsicologia.

                                                    Perceba o amigo leitor que a questão da metodologia e da cientificidade não toca apenas a parapsicologia porém a autêntica Psicologia em sua totalidade. Apenas por questão de tática insistem os cientificistas em desqualificar a parapsicologia, devido a seu reduzido número de corajosos defensores. Outro o caso da Psicologia profunda, ou da Psicanálise e da Psicoterapia, pelo simples fato de contarem ainda com um grande número de aderentes. No entanto os mesmíssimos e surrados argumentos com que buscam desmascarar a Parapsicologia - Os quais concentram-se na metodologia. - arremetem contra a Psicanálise e ao fim das contas contra a Gestalt. 

                                                       Sempre bom lembrar que Skinner, Popper, Dittes, Eysenck Pinker já arremeteram contra a Psicanalise ou contra o Freudismo... Investir contra a totalidade da Psicologia profunda e o conceito dinâmico de mente é apenas uma questão de tempo ou como dissemos, de tática. O quanto podemos afirmar é que a Psicologia profunda está prestes a sofrer um ataque global pelos behavioristas e seus aliados positivistas, e isto pelo simples fato de não suportar a velha crença materialista ou mesmo fugir aos parâmetros da simples materialidade. Resta dizer que o único domínio poupado será o behaviorista, e por questões mais do que óbvias.

                                                        Concluímos por fim que toda essa questão em torno de uma metodologia única e restrita é meramente ideológica, correspondendo aos interesses de um determinado grupo. Não tenham os parapsicólogos e psicólogos receio de discordar. Não poderão publicar da Science ou na Nature mas terão o benefício da verdade, e poderão repetir com Aristóteles, amigo da Science ou da Nature porém mais amigo dos fatos e da verdade.            

domingo, 19 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte VIII



 Parapsicologia e Epistemologia



            Agora imaginem os leitores - Se o advento da autêntica Psicologia (James E Dittes sequer precisou ser genial ao relacionar Thouless com Freud - Embora pudesse relaciona-lo do mesmo modo com Wertheimer, Kohler, Koffka e toda Psicologia profunda.) espantou os ideólogos materialistas, imaginem então a aparição de um conhecimento precipuamente empírico ou experimental... 

            Foi essa nova área do conhecimento cognominada Psicologia supranormal por Enrico Morselli, metabiologia ou psicobiofisica por F Cazzamali, Metapsíquica pelo prêmio Nobel Charles Richet e enfim Parapsicologia por Max Dessoir com o posterior Placet de J B Rhine. 

            
Vejamos agora em que circunstâncias surgiu. Pois por si mesma é a História da Parapsicologia bastante curiosa.

             Ao que parece o interesse por esse tipo de fenômenos e investigações foi acionado pelo  austríaco Franz Anton Mesmer um dos pioneiros quanto a exploração de certas técnicas de controle ou manipulação psicológica como a auto e a hétero sugestão, esta última por meio do sono hipnótico.
             

             Do quanto realizou esse Mesmer podemos dizer que parte dos fenômenos ou resultados obtidos eram reais e que a etiologia em questão veio a receber posteriormente o nome de Psicosomatose. Quiçá houvessem também alguns fenômenos parapsicológicos por assim dizer residuais. 

               Já em 1778 Mesmer solicitou que as curas por ele realizadas fossem verificadas pela Sociedade Real de Medicina de Paris, obtendo a negativa por meio de seu diretório. Contrariando o princípio científico do exame os sábios recusaram-se a examinar o que Mesmer - Supondo um fluído sutil. - cognominava Magnetismo animal. Mesmo assim ele recorreu a diversas outras instituições, obtendo sempre a mesma resposta: Os cientistas recusavam-se a ir contra os princípios admitidos e assumindo uma postura dogmática recusavam-se a investigar. Devo dizer que o mesmo se havia sucedido em Viena. 

                Afinal eram os tempos em que os materialistas De Holbach, Clothes, Helvetius, Cabanis La Metrie pontificavam na França. 

                Por fim a 18 de Setembro de 1780, a Faculdade de medicina de Paris, em sua Assembléia geral, repudiou as opiniões de Mesmer com animosidade e desdém, chegando inclusive a excomungar o Dr D'Eslon, por se haver discípulo seu. Redarguiram os apoiantes de Mesmer acusando os adeptos da medicina tradicional de terem condenado o curandeiro austríaco apenas porque ameaçava tirar os pacientes ou clientes que não conseguiam curar. Stengers, 1995 fala numa estratégia de desqualificação.

               Finalmente em 1784 uma Comissão da Academia de Paris, nomeada pelo próprio Rei e formada por Bailly, Sallin, Borie, D'Arcet, Le Roy, Bory, Lavoisier, Francklin e Guillotin repudiou a tese dos fluídos - Porque não era perceptível aos sentidos humanos, dizia Bertrand já em 1826 - Mas reconheceu a sugestão. Da mesma maneira a Comissão da Sociedade Real de Medicina - Composta por Poissonnier, Caillie, Mauduyt, Andry Jussieu
 repudiou a existência dos fluídos - O grande Jussieu o entanto admitiu as curas e relatou situações de hiperestesia ou mesmo de telecinesia corporal. 

                  Temos aqui que, por primeira vez na História das ciências, o reconhecimento oficial de um fenômeno psico somático produzido pela sugestão - Tal o veredito do redator Bailly: "É a imaginação, essa potência ativa e terrível, que opera os grandes efeitos que se observa com espanto nos tratamentos físicos." (1826/2004a ps 111 e sg)


               Por sinal o fato de que as origens mais remotas da Psicologia e da Parapsicologia remontem a figura controvertida de Mesmer - O qual, segundo algumas fontes, veio a tornar-se charlatão. - tem servido como motivo para os positivistas ou cientificistas argumentem contra ambas e repudiem a cientificidade delas. 

                Esqueceram-se esses péssimos estudantes de História que a origem da Astronomia foi a astrologia, que a origem da Química foi a Alquimia e que a origem da medicina foi o embalsamamento de caráter religioso ou o curandeirismo - Sem que qualquer uma delas deixe de ser Ciência, de modo que a origem de uma Ciência ou área do conhecimento é absolutamente irrelevante.

                 Tornemos porém a Mesmer. Pois os fenômenos obtidos por ele principiaram a ser estudados seriamente pelos idos de 1807 pelo Sr Mqs de Puysègur na monografia "Du magnétisme animal..." a qual se seguiram mais quatro publicações. 

                               Segundo o historiador Henri Hellenberger "Puységur foi um dos grandes contribuidores esquecidos para História das ciências psicológicas." (1970, p 72) Pois reconheceu como principal agente do mesmerismo a vontade do magnetizador. Ele estudou o sonambulismo juntamente com Deleuze, o qual testemunhou sua gratidão para com ele no prefácio de uma de suas obras editada em 1825 sic - (1826)

               Já em 1813 são editados as "História crítica do magnetismo animal" Mame, Paris - 2 Volumes do naturalista François Deleuze, o qual em 1834 editou umas memórias "Sobre a faculdade da previsão"  talvez o primeiro estudo sério sobre a pre cognição e portanto o primeiro estudo na área da Parapsicologia, matéria que até então - Por polêmica que era. - ficará a margem daqueles estudos.


               Em 1818 o Dr Martorelli, auxiliado pelo Barão Du Potet realiza a primeira extração dentária indolor em paciente hipnotizado e experimenta diversos outros procedimentos dolorosos sem que os pacientes sintam mínima dor.

               Já em 1821 são os estudos em matéria de Psicologia retomados com toda força pelo futuro presidente da Academia Real de Medicina, Henri. Marie Husson, Alexandre Bertrand J C Anthelme Recamier - Com Du Potet e Robouam - assistidos por outros trinta médicos. Esses relatos de experiências são frequentemente encontrados em diversos livros de Psicologia, destinados a exemplificar a psico somatose. Como resultado dessas pesquisas Bertrand publica, em 1823, o "Traité du sonambulisme et des différentes modifications qu'il presenté" foi este sucedido pelo "Êxtase" editado três anos depois i é em 1826. - Tais os primeiros estudos verdadeiramente científicos sobre esses fenômenos até hoje postos em dúvida por alguns opinões. 

                 Nas décadas seguintes Du Potet foi interessando-se cada vez mais pelos fenômenos estranhos ou pela Parapsicologia, isso a ponto de - A exemplo de muitos outros como: Nus, Mirville, Vesme, Figuier, Grasset, etc - propor uma História natural da magia. 

                  Em 1837 G P Billot publicou suas investigações e sua correspondência com o citado Deleuze. 

                   Aqui um importante aparte, pois convém observar que o arguto Schopenhauer opinou ter sido a descoberta de Puységur uma das descobertas mais importantes para a História das ideias humanas. 

                   Do outro lado do Reno tais investigações principiaram quando, em 1830, o médico alemão Justinus Kerner, publicou - No livro intitulado "Die Seherin Von Prevorst..." (A vidente de Prevorst.) - um estudo de caso (Feito desde 1825) sobre os fenômenos estranhos que acometiam a sonambula Frederica Hauff. Foi seguido pelo Barão de Riechenbach o qual publicou seu relatório sobre os fenômenos estranhos em 1845.

                    Até aqui a maior parte das explicações propostas eram de teor naturalista embora, não materialista e giravam em torno de um suposto magnetismo, da força Od ou ódica, etc 

                     Quase que imediatamente após a fase mesmérica ou magnética -E cerca de trinta anos após as primeiras investigações na área da Psicologia e da Parapsicologia. - inaugurou-se a assim chamada fase espírita, ainda que não doutrinária. (Pelo simples fato de ser anterior a Edmonds e a Kardec). Começou ela no ano de 1848, em Hydesville (EUA), com as irmãs Fox. A princípio eram apenas umas batidas que correspondiam a Sim ou Não. Posteriormente o sr David S Fox associou o alfabeto a tais batidas, o que corresponde a origem mais remota do tabuleiro de ouija.

                        Cerca de 1849, pelos idos de Novembro, principiam as mesas a dançar, dando início a uma nova fase a das 'Table moving' ou Tables tournantes', as quais não tardaram a ser investigadas por Mirville, Roubaud, Thury, Chevreul, Babinet, Faraday, Baragnon, Gentil, De Gasparin, Eugène Nus, Guldenstubbé, Forni, Pellegrini, D'Ourche, Mapes, Hare, R N Wallace, A Morgan, F C Varley, Barkas, Chambers, Gully, Chevillard, Vacquerie, Mme Girardin, Victor Hugo, Owen, Sardou, etc

                     
A esse tempo, apesar da atribuição de tais eventos a ação de espíritos desencarnados e da existência de mensagens, era o espiritismo adoutrinário. Principiando a doutrina a ser criada no ano de 1853, ocasião em que o juiz W Edmonds juntamente com T Dexter publicam a obra intitulada 'Spiritualism' em N Y. Apenas quatro anos depois (Em 1857) Allan Kardec publicou o seu 'Le livre des spirits.' em Paris. Na verdade tanto Edmonds quanto Kardec foram precedidos por Andrew Jackson Davis ('Livro dos espíritos' 1848) L A Cahagnet ('Vida futura, arcanos desvelados' 1848) - 

                      A partir daqui é importante estabelecer aqui uma preciosa distinção - Naturalmente que os pesquisadores ou investigadores: Sejam eles metapsíquicos ou espíritas estão de acordo quanto o óbvio i é quanto aquilo que é sensível, manifesto ou empírico: A realidade dos fenômenos ou se preferem - Na expressão de Amadou (Da parte dos parapsicólogos) - ao menos de alguns raros fenômenos que fogem ao que comumente chamamos normalidade. Divergem porém, via de regra, quanto a explicação etiológica ou causal dos mesmos, pois enquanto os espíritas postulam - Acriticamente - quase sempre a intervenção de um agente espiritual ou espírito desencarnado, os parapsicólogos - Por vezes, acriticamente, como o Pe Quevedo SJ - postulam a suficiência de poderes ou forças mentais i é a uma origem natural (Naturalista).

                         Há no entanto preciosas exceções -
                         

                         Assim o profo Whately Carrington de Cambridge, após ter realizado as primeiras investigações sobre telepatia com desenhos que demonstraram a realidade da pre cognição, veio a admitir, por inferência lógica, a sobrevivência post mortem. Assim o extremamente crítico e exigente Harry Price concluí pela mesma hipótese, sugerindo inclusive a possibilidade de que tais mentes possam possuam as mesmas capacidades que possuíam em vida, sendo portanto capazes de influenciar outras mentes e de atuar no mundo físico. Samuel Soal da Universidade de Londres chegou a mesma conclusão após examinar o som das vozes dos sensitivos incorporados. Por fim J F Rhine, que nos anos 60 havia opinado negativamente, em obra posterior - O Novo mundo da mente, acabou por admitir que ao menos alguns fenômenos demandam a existência ou ação de uma entidade extra corpórea consciente. 
                         
                         De minha parte, quero esclarecer que após ter examinado, ao cabo de trinta anos, as obras de Richet, Bozzano, Aksakoff, Sudré, Warcollier, Amadou, Heredia SJ, Silva Mello, Rhoden, Granja, Imbassahy, Rhine, Quevedo SJ, Lepicier, Sagan, etc além das memórias específicas de Flamarion (As casas mal assombradas A morte e seu mistério), G Delanne (Aparitions matérialisées des vivants et des morts - Paris 1909), Gurney, Myers e Podmore 'Phantasms of de living, London, 1882), etc assumi uma posição intermediária - De Rhine - a qual expressei já diversas vezes: A prevalência
 
majoritária - Mas de forma alguma absoluta. - de causas naturais ou mentais (Explicação), sem excluir no entanto, que ao menos alguns fenômenos, bastante raros (E de comprovação um tanto problemática.) tenham sido provocados por espíritos. 

                            Portanto, tal e qual alguns autores romanos e protestantes, considero que ao menos alguns dos fenômenos verificados e descritos não podem ter sido produzidos por humanos (Exceto se admitimos a doutrina aberrante do inconsciente coletivo ou da pan cognição absoluta.) sendo manifestamente sobrenaturais e portanto, segundo meu ponto de vista, causado por humanos desencarnados. 

                             Agora a questão principal não é esta, pertinente a interpretação ou a compreensão e a causalidade, e sim a questão atinente a realidade dos fenômenos ou a metodologia de pesquisa, a experiencialidade e o controle. Eis o ponto, por assim dizer, crucial. Pois implica optar por falsos princípios metafísicos ou ideologias queridas ou pela empiria i é a sensação, a a percepção, a observação, a experiência. 

                              "Contra fatos não há argumentos." é confissão que partiu do próprio pai do positivismo Auguste Comte. E assim o é - Lealdade absoluta a experiência e as favas com as opiniões, inda que emitidas por grandes cientistas, pois continuam sendo opiniões.

                               No caso a única via de escape para os cientificistas são o Kantismo ou o ceticismo, com os quais flertam já a um bom tempo - Criando mais uma mixórdia ou panaceia modernista. Nada animador... Haja visto que um deles acaba de fazer "Mea culpa" reconhecendo que essa beleza de ceticismo cientificista tem alimentado movimentos como o negacionismo vacinal...

                                Então o que temos de fazer e de honestamente fazer é muito, muito simples: Decidir entre o empirismo ou o materialismo i é entre fatos observáveis e uma Ideologia. E pouco importa caso esses senhores aleguem que parapsicologia não é ciência, pois pessoa alguma precisa ser parapsicóloga ou cientista para observar ou compreender a seriedade de um teste. 

                                 O quanto devemos saber é que temos três prêmios nobeis dedicados a esse tipo de investigação - W Croockes, Oliver Lodge Charles Richet, como se vê nenhum beato ou imbecil. E que seus críticos, os negadores da Parapsicologia, também costumam a impugnar a História, o Direito, a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia... e tudo quanto ultrapasse a Química, a Física e a Biologia. Portanto não atribuamos maior valor a esse arremedo de Vaticano, cúria romana ou partido comunista...

                                   Principiam como sempre criticando a metodologia. Naturalmente...

                                   Porém se a metodologia de Croockes, Lodge, Richet, Kerner, Deleuze, Grasset, Gibier, Rhine, Soal, etc é defeituosa e falha quanto as pesquisas no campo da parapsicologia, por que não haveria de ser igualmente falha, displicente e ineficaz nos campos em que ordinariamente trabalharam e obtiveram tantos resultados e premiações... Afinal não são os mesmos agentes operatórios... Se foram tão ruins, idiotas ou ainda perfeitos imbecis quanto o controle das experiências metapsíquicas como poderiam ser sábios, prudentes, profícuos e bem sucedidos no controle das demais experiências que realizavam... Gostaria que alguma sumidade em cientificismo me explicasse isso...

                                    Acaso as balanças, medidores, etc não eram muitas vezes os mesmos...

                                    Ademais os observadores pertenciam a praticamente todas as áreas do mundo científico: Pois haviam psicólogos  e psiquiatras como Freud, William James, James Hyslop, Thouless, N Fodor, Cazzamali, Geley, Tamburini, Morselli, Srenck Notzing, Jung. Médicos como J R Buchanan, Osty, B Wiesner, Gurney, Roubaud, Th Bret, R Tischner, J Maxwell, Lombroso, P Baragnon, Paul Gibier, Richet, G Forni, Grasset, Baraduc, Kerner, etc Filósofos como Aksakoff, Hodgson, F Paronelli, Owen, Myers, E Boirac, Vezzani, E Bozzano, Carl du Prel, Ballou, Hartmann e Driesh. Biólogos como A R Wallace, J B Rhine Ochorowicz. Químicos como Robert Hare, Butlerov. Warcollier, Chevreul e W. Croockes. Físicos como Zollner, Finzi, M Thury, Ermacora Oliver Lodge. Astrônomos como Flammarion, Schiaparelli Gerosa. Matemáticos como Augustusde Morgan, Schepis, Dellane e De RochasPedagogos como Robert Tocquet. Literatos como Erny, Mirville V Sardou. Um nobre como o Barão de Guldenstubbé. O político Agenor de Gasparin.

               Apenas para ser suscinto cito aqui os nomes de quase sessenta intelectuais atuantes nos mais diversos campos do saber - O que é absolutamente relevante devido aos diferentes nuances de visão! - os quais, em que pesem as diferenças de compreensão, admitem todos, sem exceção, a realidade dos eventos que classificamos como paranormais ou metapsíquicos. 

                No entanto, para os cientificistas e positivistas, da escola dos srs Max Dessoir, Heuzé, Randi Dennett... Não passam, todos eles, de um bando de ingênuos ou tontos enganados por alguns espertalhões semi analfabetos.


                 Continua -  



sábado, 18 de março de 2023

Psicologia, psicanálise, Freud e a questão da multiplicidade de existências - Reflexões sobre a obra de Hermínio C Miranda 'A memória e o tempo' Edicel 1984 - Parte VII


UM AMONTOADO DE PRECONCEITOS - O MATERIALISMO, O DOGMATISMO E A RECUSA.


           Certa vez o conselheiro Aksakoff assim se expressou a propósito dos fenômenos paranormais ou 'heterodoxos': "Os fenômenos correm atrás dos cientistas e os cientistas fogem dos fenômenos.". Já a mistagoga Blavatsky referiu-se a certos acadêmicos como "Psicofobos" talvez parafraseando Platão. 

            Ao contrário do que se poderia pensar não era a importância do cérebro e sua conexão com o pensamento ignorada pelos antigos. Bastando para tanto mencionar Herófilo de Kalkedon e Eresístrato de Chios. Eresístrato no entanto, juntamente com os hormônios ou fluídos cerebrais um Pneuma que pode ser compreendido como força vital ou espírito.

              Efetivamente uma teoria materialista ou atômica foi elaborada pelo pensador Demócrito de Abdera, mas não com base empírica ou pautada em observações fisiológicas em torno do cérebro. 

              No entanto, ao que parece, a ideia de que o pensamento corresponde a uma espécie de secreção produzida pelo cérebro, surge apenas na segunda metade do século XVIII. Impõem-se no entanto a alguns cientistas como dogma ou princípio fundamental e indiscutível.

               Sobre a primeira síntese materialista contemporânea, o "Sistema da natureza" (1770) do Barão de Holbach temos duas apreciações que falam por si mesmas: A primeira é a do Marquês de Sade (A respeito do qual disse o ultra insuspeito Michel Onfray "Fazer de Sade um herói é intelectualmente bizarro.") segundo o qual era esse livro - Que lera seis vezes e de cujo sistema se considerava um 'mártir' - um "Livro de ouro" que "Deveria estar em todas as bibliotecas e cabeças."

               Necessário dizer que o Sistema de De Holbach sendo determinista e mecanicista excluía por completo a noção de livre arbítrio ou de liberdade. Eis porque, para Sade, imoralidade e crime eram palavras vazias uma vez que todas as ações humanas eram fruto da necessidade, assim o estupro, a tortura, a agressão, o assassinato, etc

               Afinal, como ensinava o profo Carus, o materialismo "sendo mecanicista por necessidade, tudo explica por combinações e agrupamentos de átomos. Sendo assim todas as variedades de fenômenos existentes: O nascimento, a morte, etc não são senão o resultado puramente mecânico das composições e decomposições, mera manifestação externa de átomos que se agregam e separam." Não há portanto outras opções ou possibilidades e tudo, absolutamente tudo, inclusive o crime - Como ensina Sade - torna-se não apenas necessário mas inevitável. 

               Vejamos agora que diz o grande Goethe sobre a obra prima de De Holbach: "Quintesência da velhice enfadonha e insípida." 

                Moleschott no entanto concorda perfeitamente com De Holbach e Sade "Caso uma razão ou personalidade dirigisse a matéria a um determinado fim, A LEI DA NECESSIDADE DESAPARECERIA da natureza, e cada fenômeno seria apenas possível."

                Agora demos a palavra a Pierre Cabanis: "Vemos as impressões chegarem ao cérebro por intermédio dos nervos; elas se acham, então, isoladas e sem coerência. O órgão entra em ação, age sobre as impressões e as reenvia metamorfoseadas em ideias que se manifestam, exteriormente, pela linguagem da fisionomia ou do gesto, pelos sinais da palavra ou da escrita. Concluímos, com a mesma segurança, que o cérebro DIGERE, DE ALGUM MODO, ESSAS IMPRESSÕES; E QUE REALIZA A SECREÇÃO DO PENSAMENTO." Eis o que diz o homem... e o que dá por demonstrado - Sem que o seja.

             Completa-o Carl Vogth "Os pensamentos tem com o cérebro a mesma e exata relação que a bílis tem com o fígado e a urina com os rins." só faltou completar: E as fezes com os intestinos...

              Ouçamos agora a Broussais: "Desde que eu soube, pela cirurgia, que o pus acumulado à superfície do cérebro destruía nossas faculdades, e que a saída desse pus lhes permitia o reaparecimento, não as pude considerar mais de outras forma, as ideias, como produtos do cérebro vivo, mesmo sem saber que era cérebro e que o que era vida." Testamento.

               Observem agora a lógica desse senhor - Tens um revólver que não funciona porque está enferrujado, removes e ferrugem, ele funciona... pronto, o tiro é produzido apenas pelo revólver, se necessidade de uma gente humano que lhe puxe o gatilho...

                Demos no entanto a palavra a Moleschott: "O pensamento não é mais que um fluído, assim como calor e som, é um movimento, uma transformação da MATÉRIA CEREBRAL, a atividade cerebral é uma propriedade do cérebro, tão necessária como a força, por toda parte inerente a matéria, de que é caráter essencial e inalienável. É IMPOSSÍVEL QUE O CÉREBRO INTACTO NÃO PENSE, COMO É ABSOLUTAMENTE IMPOSSÍVEL QUE O PENSAMENTO SEJA LIGADO A OUTRA MATÉRIA QUE NÃO O CÉREBRO." 

                     E noutra parte continua: "Bem sabeis que a abundância excessiva do líquido céfalo raquidiano produz a idiotice, a apoplexia é seguida pela aniquilação da consciência, a inflamação no cérebro causa o delírio, a síncope - Que diminui a circulação do sangue, no cérebro provoca a perda do conhecimento, a afluência de sangue venoso provoca alucinações e vertigens, uma completa idiotia é efeito necessário e inevitável da degeneração dos dois hemisférios cerebrais; enfim toda a excitação nervosa na periferia do corpo só desperta sensações conscientes no momento em que repercute no cérebro." Até aqui Moleschott.

                   
Passemos a palavra ao Dr H Tutlle "Tudo - diz ele - desde a lagarta que dança aos raios de sol até a inteligência humana que EMANA DAS MASSAS MEDULOSAS DO CÉREBRO, é submetido a princípios fixos, isso pelo simples fato de inexistir um deus." 

                    Ouçamos também a Dubois Reymond "O pensamento nada mais é além de matéria em movimento."

                    "Esse negócio de espírito nada mais é do que uma força da matéria que resulta imediatamente de atividade nervosa - Mas donde provém... Do éter em movimento nos nervos." assevera Hermann Schaffle.

                   Tudo perfeitamente aceitável, como Filosofia ou especulação Metafísica.

                   Como dado científico, tudo perfeitamente discutível. 

                   Inclusive para pensadores ou cientistas honestos como Bruchner, o qual assim responde a seus companheiros: 

                   "Em que pese o MAIS ESCRUPULOSO EXAME, não podemos encontrar analogia entre a secreção da bílis ou da urina e o processo porque se forma o pensamento no nosso cérebro. A urina e a bílis são elementos materiais palpáveis, ponderáveis e visíveis; e mais ainda, são matérias excrementícias que nosso corpo usou e agora rejeita. O pensamento, o espírito, a alma, pelo contrário, nada têm de material, não são substâncias, mas o encadeamento de forças diversas que formam unidades, o efeito do concurso de muitas substâncias dotadas de força e de qualidades.
                       Quando uma máquina feita pela mão do homem produz um efeito qualquer, põem em movimento seu mecanismo ou outros corpos, dá uma pancada, indica a hora ou coisa semelhante, esse efeito considerado em si mesmo é coisa essencialmente distinta de certas matérias excrementícias que ela produz, talvez, durante essa atividade.
                         Assim é o cérebro, princípio, fonte, ou melhor dizendo, causa única do espírito ou do pensamento; mas não é por isso seu órgão excretor. Ele produz algo que não é rejeitado, que não perdura materialmente e que se consome no momento mesmo de sua produção. O trabalho ou atividade dos rins ou do fígado se realiza sem que o saíbamos... mas a atividade do cérebro não pode existir sem que dela haja consciência completa..." 

                           
O que o nobre professor Bruchner jamais logrou esclarecer - Como lhe foi solicitado pelo Dr Janet no "Materialismo dos dias atuais, uma crítica ao sistema do Dr Bruchner" - é como o cérebro, sendo um agregado de células materiais, produziria pensamentos imateriais ou o fenômeno da consciência... 

                             Mais adiante de Moleschott foi o professor Bayson que para demonstrar que o cérebro produzia ou excretava pensamentos dava-se ao trabalho de pesar todos os sulfatos e fosfatos que consumia por meio da alimentação, após o que dedicava-se a algum trabalho mental e por fim contabilizava a quantidade de sais presentes em suas excreções i é fezes, urina e suor, visando demonstrar que a quantidade de sais excretados aumentava após qualquer trabalho intelectual...

                              Meio século passou-se até que um outro Nobel, e portanto para que um pesquisador sério, Henri Bergson repudia-se expressamente a doutrina ou ensinamento segundo a qual é a mente humana produto do cérebro ou que o pensamento seja exclusivamente elaborado por ele. O espírito, declara ele, não é matéria e não está demonstrado que seja ele mera função do cérebro. 

                              Todavia, como não houvesse um Bergson a Ideologia materialista impregnou de tal modo a ciência e suas instituições ao cabo dos séculos XIX e XVIII, que elas chegaram a substituir o Vaticano e a Inquisição com suas denuncias por heresia, excomunhões, interditos, etc enfim com seus meios de controle.

                               E já veremos como Mesmer teve seus pedidos de pesquisa ou análise aprioristicamente negados por tais Instituições, o que por si só é comprometedor. Posto que é dever dos cientistas e instituições científicas investigar.

                               Todavia, tanto mais se apegavam a certos princípios apriorísticos ou metafísicos, tanto mais esses acadêmicos temiam a realidade e suas manifestações - Justamente por não se enquadrarem em seus sistemas. Do que resultava a recusa ao exame... 

                                Os tais sábios limitavam-se a cruzar os bracinhos e declarar: Tal coisa não pode ser real - Determinando se algo podia existir ou não, conforme o esquema de mundo vigente.

                                 Foi atitude que vigorou por mais de século e infectou vários homens ilustres, a começar por Lavoisier o qual, apelando a tais e tais princípios, tachou os camponeses de simplórios ou imbecis, por insistirem que pedras caiam do céu. Feito isso compôs a famosa memória contra a existência de meteoritos e enviou-a a Academia, onde foi ovacionada pelos guardiães da ciência. Trinta anos depois tiveram os mesmos guardiões que dar razões aos camponeses imbecis - Que apesar disso tinham olhos e sabiam observar! - e admitir a existência de meteoritos! 

                Passado um século foi a vez de Th Edison, após ter apresentado seu Phonógrafo, quase ser agredido por um acadêmico francês, o qual aos gritos de - Não passais de um ventríloquo! - buscava desmascara-lo.

                Tais os tempos.

                O mais grave no entanto era a peremptória recusa, por parte de alguns, a investigar. 

                De fato, quando o fenômeno das mesas girantes chegou a França, Foulcault, no "Journal des debats" apelando a determinados princípio, não apenas negou o fenômeno, como após ter declarado que era absurdo e impossível, declarou que sequer deveria ser examinado por um cientista sério.

                 No entanto passados mais de cento e vinte anos, pudemos ler com gosto num Carl Sagan que todo e qualquer fenômeno, por insólito que fosse - A exemplo dos discos voadores ou OVNIs - deveria sim ser investigado, sendo dever faze-lo. 

                  Muito antes de Sagan, tanto o estadista Agenor de Gasparin quanto o poeta Victor Hugo - Legítimos expoentes do pensamento crítico e científico. - deram competente resposta ao grande físico -

                   "Substituir o exame pela zombaria é muito cômodo, mas bem pouco científico. O fenômeno da velha trípode, como o da atual mesa, tem, tanto quanto qualquer outro, direito a observação." Hugo in "William Shakespeare

                    "Não, eles não lerão essas coisas, mas julgarão! Julga-las-ão sem mais nem menos, do alto de suas cátedras e apelando a um argumento irrebatível: Não creio porque não creio - Simples, fácil e peremptório. Não admito tais coisas porque são impossíveis. Sendo assim perdeis vosso tempo transmitindo tais narrativas!" De Gasparin
in "Des tables tournantes, du surnaturel en général et des esprits." 

                   Acho absolutamente válido discutir teorias, explicações, hipóteses, etc discutir, por em dúvida ou negar a atuação de espíritos... Postulando a Hiperestesia, a objetivação de tipos ou a Prosopopese metagnomia, os resíduos mentais ou tulpas, desdobramentos psíquicos, etc desde que fatos não sejam aprioristicamente negados e pesquisas seriamente realizadas desdenhadas, pois aqui topamos com a desonestidade. E o fruto da desonestidade e da negação dos fatos será o descrédito da própria ciência, mormente num tempo em que os fundamentalistas e ocultistas buscam desacredita-la.