quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sobre o conceito de inutilidade em filosofia e sobre a arte

A arte deve enobrecer o espírito humano e não degradá-lo que foi o caso do infeliz que deixou um cão morrer de fome para mostrar a arte, mas ele não é o pior, o pior é aquele que foi assistir e aplaudir. A arte deve nos apontar três paradigmas: O Bom, O Belo e o Verdadeiro, que era exatamente isso que ensinava do divino Platão. O Bom para nos tornar melhores, o belo porque aspiramos sempre ao belo e o verdadeiro para não sermos falsos nem para sermos ludibriados. Dostoiévski afirmou que "a beleza salvará o mundo". Eu creio nisso. Enquanto houver a feiúra, a humanidade não tem esperanças de salvação. Porque essa "arte" torna o homem selvagem, brutal, faz com que retorne aos seus instintos animalescos. Eu detesto poesia moderna, odeio Carlos Drumond de Andrade e não o consider o poeta, mas um pateta. Poesias que ele compôs qualquer idiota faz e muito melhor. Ele era um embusteiro. Poesias devem ser cultivadas, o auge da beleza poética se deu com o parnasianismo, depois veio o simbolismo e após isso a decadência, ou seja, a arte moderna. Ah, nada como um Olavo Bilac!!!É por culpa da arte moderna que hoje se cultiva poluições sonoras como os funks cariocas, os pagodes de fundo de quintal, "músicas" da banda Calypso entre outras. Mas os advogados da Arte Moderna dizem que a arte tem como fim a denúncia, enquanto que os que amam a arte pela arte dizem que o seu fim é a arte em si, isto é, a arte é inútil. Como assim inútil? Aí entramos em filosofia e se me permite faço uma breve explanação sobre a inutilidade da arte. Tudo o que existe tem um fim, uma finalidade, isto é, um objetivo. Exemplo: o fim do lápis é escrever, se o lápis não escreve então ele é inútil, não tem utilidade. Mas há dois tipos de inutilidades, a primeira nos é conhecida, chamamos de inútil tudo aquilo que não presta ou não alcançou o seu objetivo, o rádio pifou, o fim do rádio é captar as ondas para que possamos ouvir, se não faz isso, não presta, ou seja, é inútil! A outra inutilidade é desconhecida da maioria, é aquela inutilidade que não tem um fim noutra coisa, mas que tem fim unicamente em si. Por exemplo a tela de um Van Gogh é inútil, isto é, não tem uma finalidade em outra coisa, sua finalidade está em si mesma. O quadro não serve para pentear o cabelo, não serve para cantar, só serve para ser contemplado. Enquanto o fim do pente é pentear e se não penteia é inútil no sentido de não servir a um propósito, o fim de uma poesia é apenas uma beleza inerente a si. Énisso que diferimos dos modernistas poiis eles desprezam a beleza para fazer arte denúncia, eles transformam arte em algo útil, algo no qual todos podem se tornar "peritos". O fim da arte moderna é a denúncia, seu fim não é em si mesma, mas naquilo para o que aponta, e nesse ponto deixa de ser arte.

Um comentário:

Ernesto von Ruckert disse...

Sobre este tema já escrevi alguma coisa em meu primeiro blog ( www.ruckert.pro.br/blog ), que trancrevo aqui por comodidade:

Na acepção mais básica possível, arte é o fazer e seu produto, englobando aí o artesanato, a engenharia, a indústria e as belas-artes. Em oposição ciência é o conhecer, o saber, também englobando aí, nesta acepção básica, saberes empíricos e mitológicos. Numa acepção mais restrita a arte (neste caso as belas-artes) é um fazer no que ele está comprometido com levar à fruição de um prazer sensorial e intelectual advindo de alguma qualidade do produto (denominada estética) que leve a isso, não importando outras qualidades que possa ter, de caráter utilitário ou outros. Assim a arte é inútil.
Esse caráter (estético) pode ser visto do ponto de vista do autor ou do apreciador. Um quadro pintado por um macaco pode não ser arte na intenção do autor mas pode o ser na apreensão do apreciador. Do ponto de vista do autor a arte tem a intenção de provocar aquele prazer. Notem-se três coisas: A arte não tem compromisso com mensagem alguma, exceto a estética. O prazer estético não tem nada a ver com beleza. O conceito de belo é outro. O feio pode ser arte. Como qualquer ação humana, a arte não pode se furtar a ter um valor ético, que pode deliberadamente ser descartado, mas não deixa de estar presente.

Minha opinião é de que a arte não tem utilidade. Não é este o seu propósito. Mas justamente para as inutilidades, o supérfluo, é que faz sentido se lutar pela vida. O necessário à sobrevivência é mínimo. O que distingue o homem é almejar o inútil e se comprazer nisso. Trabalha-se para afinal se conserguir ser feliz e se é feliz quando se desfruta da vida com prazer. A arte dá esse prazer. E a arte não precisa levar mensagem alguma para ser arte. Basta, do ponto de vista do apreciador, dar prazer em ser contemplada. Do ponto de vista do criador certamente a arte não é mero externar de sentimentos e emoções. É, principalmente, um produto da inteligência, do trabalho, da vontade. Um quadro feito por um macaco não é uma obra de arte porque não foi produzido intensionalmente para tal. Mas pode ser apreciado como tal se levar a quem o vê uma sensação de prazer estético (é claro que eu estou descartando a atitude imbecil de fingir que gosta ou entende para dar a impressão de ser intelectual).

Dizer que a arte é inútil envolve uma ambiguidade proposital. A questão é o conceito de “útil”. No sentido pragmatico, do que é necessário para a sobrevivência, a arte não tem utilidade. Mas ela se presta a promover o bem estar e a elevar o nível de felicidade. Quanto ao caráter formativo (no sentido de passar uma mensagem trans-estética, de valor moral ou ideológico) a arte se presta muito para tal, mas este não é o seu compromisso. Uma obra de arte conserva o seu valor estético mesmo que não tenha compromisso com nada ou que seja comprometida com valores equivocados. Mas, é claro, que a ética perpassa todo o fazer humano e, logo, não há como escapar. Mas a arte não precisa ter um compromisso, digamos, pedagógico.

Essa questão das inutilidades, da arte e de muita coisa nas ciências, na verdade é a mola mestra do progresso não só técnico e material, mas principalmente cultural. Veja minha especialidade em física: Cosmologia. Serve para quê? Para o mesmo que serve a poesia, a música, as belas artes: para elevar a mente, expressar o sentimento de deslumbramento frente ao universo e principalmente em relação ao prodígio que somos nós mesmos. Não tem nenhum valor prático e nem precisa ter. É para o inútil que a humanidade aplica tanto esforço em produzir além do necessário para a mera sobrevivência. E é nas inutilidades que se compraz o homem e alcança a felicidade de gozar um prazer inteiramente descompromissado.

Uma característica importante da arte é que o artista tem que ser livre. A arte por encomenda só tem valor quando quem a encomenda deixa o artista livre. Mozart e Haydn compunham sob encomenda, mas Mozart, especialmente, fazia o que queria. Isto porque Mozart era um gênio e Haydn um grandioso talento. Já Beethoven rebelou-se completamente das encomendas. É claro que, mesmo sendo livre, a arte pode não ser boa, mas se não for livre é certo que não será boa. Veja que disse boa, e não bela. O belo, na arte, não é necessariamente belo, na acepção corriqueira da palavra. A beleza da arte não é a beleza do que ela retrata. O artista pode passar ao apreciador algo feio como recurso de comunicação do que pretende externar com sua arte. Mas, fazendo-o com valor artístico, esse feio é belo.

Acho que a arte, como criação, é um construto intelectual do homem em que ele usa sua sensibilidade, inteligência, vontade, habilidades, técnica adquirida e talento nato para fazer uma representação que sua mente forja do mundo real ou imaginário, almejando levar ao apreciador uma sensação de prazer no ato de percebê-la, que consiste em uma emoção advinda da interpretação que a inteligência faz do que a sensibilidade comunica.

Quanto à questão do belo e da relação entre o belo e a arte é preciso, antes de tudo, ver que são conceitos disjuntos. A noção de beleza tem a ver com a percepção do mundo por um ser sensiente e consciente. A arte tem a ver com o fazer, uma certa produção, também de um ser inteligente (um ninho de passarinho não é uma obra de arte). Assim alguma coisa é bela se provoca no observador sentimentos prazerosos ao percebê-la. Pode ser algo inteiramente natural ou um produto intencionalmente feito para provocar este tipo de emoção, dita estética. Assim concebida, a beleza de uma obra de arte não é necessariamente superior à beleza da natureza. Mas também não é necessariamente inferior. Depende de que obra de arte.

Artista é isso: quem é capaz de expressar o sentimento em algo palpável, que outrem possa contemplar e captar. Mas arte não é só emoção e sentimento: é reflexão sobre como colocar o que se pretende, é inteligência, é trabalho, é vontade. São as idas e vindas, as decisões e indecisões. É o cansaço em cima da obra até que se chegue ao que se concebeu. E, finalmente, o júbilo do parto, a contemplação da própria criação, aquela satisfação interna de ser um criador e não apenas uma criatura. Dá vontade de reter tudo consigo. Mas não se pode esquecer de ganhar a vida… E vender também é uma arte. A arte só vale se for para o outro, para o povo, para disseminar a beleza e, principalmente uma postura de quem acredita na vida e nos valores maiores da humanidade. Assim sendo, rejubile-se o artista, pois é colega de Deus

Iniciei-me como cientista, mas desde cedo percebi que não se pode fazer ciência sem filosofar. E filosofar é debruçar-se, principalmente (mas não só) sobre a vida. Mas a vida só tem sentido se viver for a eterna busca de um significado que traga a felicidade de se estar vivo. Tal significado é dado principalmente pela arte. A arte, como expressão livre do espírito criativo do homem é sua maior realização, pois que não está comprometida com nenhuma utilidade, sendo, portanto, aquilo que o homem faz por puro deleite, mesmo que possa usufruir retorno por ela. Mas quem faz arte só pelo retorno (financeiro) não está fazendo arte. Assim comecei com o desenho e a pintura, depois a música (inclusive o canto), o ensaio, a crônica e, por fim a poesia. Meu ciclo se fechou e eu concebo todas as artes num único arcabouço, em que os diferentes sentidos se expressam por variados meios. Mas sempre há música e poesia na pintura, como há imagens na música, música na poesia e assim por diante. Chico Buarque sempre compunha a letra a a música num único ato criativo. Esta é a minha concepção que, inclusive, vai mais longe. Vejo uma imensidão de música, poesia e beleza plástica na construção da ciência, especialmente na que me dedico, a cosmologia, na qual me debruço sobre a origem, estrutura e evolução do Universo. E a filosofia, então, nem se fala. Da mesma maneira eu faço arte filosofando e coloco nela toda a ciência de que sou senhor. Assim é a série de "paisagens cósmicas" que estou pintando ou vários poemas que escreví e podem ser lidos no blog do meu site (procurar pela categoria "poesia"): www.ruckert.pro.br/blog .