Como prova de que em tudo há exceção temos publicamos aqui um samba enredo muito bonito e rico editado em 1989.
Como prova de que em tudo há exceção temos publicamos aqui um samba enredo muito bonito e rico editado em 1989.
Nascido em família protestante, bíblica, sectária, moralista ou puritana não conhecia ou sabia muito bem o que era Carnaval.
E a mentira começava pelo sentido dado a palavra - Habitualmente desonestos e mentirosos os crentelhos diziam que Carnaval significava: Carne vai kkkk, ou seja, vai corpo, vai sexo... quando na verdade significa exatamente o oposto: Carne levare i é afastamento ou abstinência da carne vermelha, aludindo prática quaresmal das igrejas apostólicas.
Tampouco sabíamos qualquer coisa sobre o carnaval dos blocos de rua ou sobre o carnaval de salão.
O objeto dos ataques, alias sempre bem sucedidos, era esse carnaval das escolas e do sambódromo, e da globosta, com seus abusos e excessos até a bizarrice.
Passados mais de trinta e cinco anos a coisa não mudou... Pois vivemos num tempo de extremos.
Temos assim a um lado os fanáticos, fundamentalistas e tarados religiosos que condenam irremissivelmente os festejos carnavalescos... e a outros os foliões 'debochados'.
Nós assumimos, como sempre, uma postura crítica, equilibrada e de meio termo.
Quanto aos fanáticos bíblicos a manobra consiste em condenar qualquer irrupção espontânea de alegria popular, assim o carnaval. E há um premeditado designío ou intuito nisso, uma intencionalidade mórbida que consiste em tornar a presente vida amarga, chata e desagradável... Azeda, intragável.
Monstruoso esse método que consiste em tornar o céu ou o paraíso apetecível a força de apresentar tudo quanto haja de bom na face da terra como pecaminoso. E no entanto o protestantismo yankee, com seu ranço calvinista é isso...
Carnaval tem abusos ou excessos, alias localizados, mas não é ele mesmo o excesso ou abuso. Daí a necessidade de formar uma opinião equilibrada.
Quanto aos debochados e seus abusos temos - E temos... - crianças de seis ou sete anos rebolando semi nuas sobre o gargalo de uma garrafa - Embriaguez, hiper erotização, adultério, gravidez precoce, agressão, estupro, etc o que não é coisa de pouca monta e deve ser problematizado, para o bem do próprio Carnaval.
Diante disso farei uma série de reflexões sobre uma porção de temas relacionados com o Carnaval, assim: Diversão, nudez, sexo, adultério, mídia, lucro, alienação, emancipação, embriaguez, agressão, estupro, escolas de samba, blocos, salão, etc
De fato em tempos de liberdade não precisamos mais de um período dedicado a permissividade absoluta, durante o qual quase todas as convenções sociais caiam por terra, equivalendo a uma válvula de escape.
Apesar disso um momento consagrado a diversão, a alegria, ao contentamento, ao festejar, etc é sempre muito bem vindo e o feriado dele resultante mais ainda...
Mormente quando não passamos por turbulências políticas demasiado sérias, e não estejam nossos parlamentares reunidos em conluio um bailezinho vem a calhar.
Agora quanto a nudez.
Tenho a nudez como algo absolutamente natural.
Não a hiper sexualização ou erotização.
Entre as quais, por sinal, não há qualquer nexo ontológico - Como imaginam os ignorantes.
Nossos índios circulavam nus por ai 'Com suas vergonhas limpinhas e saradas.' e não eram hiper sexualizados... Mor das vezes agiam com absoluta naturalidade ou se ostentação.
O que lamentavelmente não se dá em nosso contexto -
Problema aqui é justamente essa conexão ou relação entre nudez e hiper sexualização e, ainda hoje - Se bem que menos! - entre a hiper sexualização e a procriação e o crescimento populacional, este último uma tragédia.
Porém - Desde que tais pessoas façam uso de métodos contraceptivos, não temos nada a ver com isso...
E aqui tocamos a questão do sexo - Que é subjetiva.
Pois não somos juízes autorizados para mensurar e julgar a sexualidade alheia.
Então que é hiper sexualização...
Dá-se a hiper sexualização, na dimensão pessoal, quando a busca pelo prazer ou o exercício da sexualidade afirma-se como valor máximo ou absoluto para a pessoa em detrimento de outros setores da existência como a Ética, o trabalho, a estética\arte, o estudo, etc
Na medida em que o exercício da sexualidade ou a busca pelo prazer limita e mutila a formação da personalidade torna-se sem dúvida pernicioso.
Dificilmente numa pessoa equilibrada e sã, a audição de músicas como o pagode, o funk, o sertanojo e alguns tipos de samba, produziria alterações mais sérias. Outro o caso de crianças e jovens, com a personalidade a formar, ouvindo esse tipo de música que focaliza apenas o sexo.
Por mais liberais que sejamos em matéria de sexualidade humana adulta e responsável, não há como deixar de questionar a presença de pequeninos nas proximidades de desfiles em que mulheres aparecem totalmente nuas com marmanjões em torno quase passando as mãos em suas bundas!
Questionar o fato de meninos e meninas semi nus se esfregarem uns nos outros não é puritanismo ou moralismo, é puro e simples bom senso - Pois são mentes e personalidades em formação e que precisam ser integralmente formadas.
Aqui a concentração da mentalidade no sexo apenas torna-se sinônimo de alienação e ingrediente intencionalmente usado com o objetivo de produzir massas...
Usada como fonte de lucro ou forma de alienação é a sexualidade removida de seu contexto e desviada de sua função, podendo, como já dissemos, despersonalizar, desumanizar, brutalizar e barbarizar.
O poder político, a força econômica e a estrutura midiática são especialistas em manipular tudo isto.
Ora o modelo de carnaval canonizado pela imprensa, em particular pela globosta é esse - Representando pelo sambódromo e pelas famigeradas escolas de Samba.
Impossível desvincular esse modelo dos interesses do mercado, do lucro ou do capitalismo, mormente da indústria da cerveja ou das bebidas alcóolicas e aqui a apelação é manifesta na propaganda... Vendida a peso de ouro.
Como C S Lewis nada tenho contra o consumo sóbrio, moderado e racional da cerveja ou dos aperitivos alcoólicos, sendo que eu mesmo consumo habitualmente uma dose de conhaque ou licor após as refeições. Condenar o puro e simples consumo de álcool é por sinal maniqueismo e mais outro aspecto da manobra puritana acima descrita...
Outro o caso da embriaguez, considerava particularmente em seu aspecto social.
Pois já Platão, na República, aludia aos gastos do Estado quanto as enfermidades produzidas por excessos alimentares...
Para além disso há a questão da agressão, que pode chegar ao estupro e ao assassinato.
Faz parte do coquetel - Nudez, hiper sexualização, embriaguez, músicas apelativas de teor acentuadamente erótico, etc com tais ingredientes como estranhar ou reclamar do que se segue depois: Agressões, estupros e mesmo mortes...
Como desassociar tais fatores das consequências desastrosas que se seguem...
Como desejar um carnaval cheio de paz, amor e respeito - Como fez o ingênuo do Marcos Mion. - se o ambiente não está disposto para a afirmação de tais valores.
Ora pois - Imagine só o macho alfa ou machistóide encharcado de pinga - Ou dois, o que é pior, dois dará briga na certa! - diante de uma mulher semi nua... Os vendedores de cerveja ou de pinga farão votos para que eles se comportem respeitosamente...
Nada contra quem está disposto a aceitar o repuxo sem fazer mi mi mi ou chorar depois... Agora não me venham criticar os que questionam, como se fossem obrigados a aderir ou a participar.
Se querem evitar agressões, estupros e mortes evitem os fatores predisponentes e criem um ambiente sadio.
Veremos então se a Globosta dará audiência o levará até lá seus holofotes, uma vez que não haja venda de Antártica, Bhrama ou Amstel.
Lamento, mas devo dizer, esse carnaval urbano, de sambódromo e escola de Samba foi totalmente colonizado pelo Mercado, pela economia, pelo capitalismo... Pelo simples fato de ser transmitido pela Globo ou pela grande mídia. E não se deve esperar redenção alguma dele, pois converteu-se em fonte de lucro para empresários, e de excessos e abusos para a sociedade.
Seguiu este modelo carnavalesco o mesmo destino dos grandes clubes futebolísticos (Em oposição ao futebol de várzea!), do nosso Natal, da nossa Páscoa, do dia das mães, etc Tudo isso foi esvaziado de seu conteúdo de modo a restar apenas uma casca convertida em rótulo e destinada a vender!
Para mim não há qualquer diferença significativa entre grandes clubes futebolísticos, empreJas da TP e as colossais escolas de sambas - Seguem todos o modelo empresarial, cujo principal objetivo é obter lucro!!! Nada de social ou popular, no máximo algum resíduo para enganar como dizia Aristófanes sobre a demagogia ateniense ou a democracia decadente e infestada.
Em tais condições, é esse modelo de carnaval, como esses cultos religiosos e o futebolismo, mais um ingrediente destinado a alienar e a massificar... Pois o ofício do poder político e da mídia - Cooptadas pelo Mercado. - outro não é.
Dirão meus críticos pós modernistas que tais escolas e desfiles promovem a população negra ou dão destaque a ela.
Dão destaque a cerveja ou a melhor, a venda de cerveja...
Bem, dizem o mesmo do BBB...
O que já diz absolutamente tudo.
Quanto a tudo isso estou de acordo com os socialistas mais esclarecidos: A afirmação e promoção das pessoas negras se fará por meio da cidadania, da ação política, da mobilização, das ações afirmativas, do acesso aos cursos superiores, da melhoria da educação de base, etc - E vejam o que o Estado de S Paulo esta fazendo com o Ensino Médio neste exato momento!!!
Nada se pode ou deve esperar da grande mídia ou da Globosta. Tudo quanto querem é alienar e massificar, aprofundando o vazio produzido pela educação pública...
Recordemos que esse povo foi lançado na Avenida despojado de tudo ou sem praticamente qualquer coisa... Para que se contentar-se em desfilar uma vez ao ano, não poucas vezes diante dos olhos dos gringos endinheirados.
Tudo isso foi intencionalmente arquitetado para criar a imagem de um país do futebol e do carnaval, no qual os afro descendentes poderiam sempre avançar como passistas ou jogadores, não como sociólogos, psicólogos, médicos, arquitetos, etc Foi todo um imaginário artificiosos forjado pelos que detinham o poder. E o objetivo sempre foi manipular, jamais emancipar.
Tal o caso dos pouquíssimos pobres colocados pela Globo na vitrine por terem enriquecido honestamente i é trabalhando duro.
Aqui recomendo a leitura da obra de Varela "Soluções psicológicas para problemas sociais." - Não adianta, é ilusório ou aparente.
Problemas sociais, como a miséria que aflige parte considerável de nossa população negra, exigem soluções sociais em sua dimensão política, não desfiles carnavalescos ou BBB...
Desta cartola não saíra coelho algum.
De minha parte já acho inócuo qualquer proposta em torno de uma Revolução (Emprego da força em certas situações sim, Revolução não - No sentido de que qualquer emprego de forças não alterará significativamente a cultura ou produzirá uma nova sociedade.). Agora ver ou querer ver conteúdo revolucionário no Futebolismo, no Carnaval de sambódromo ou nas EmpreJas pentecas é o cúmulo do absurdo... Espantalho do pensamento...
Outro o caso do Carnaval de Rua ou dos Blocos, que como o Futebol de várzea não tem acesso a grande mídia, certamente porque não foram totalmente cooptados.
Aqui uma possível via em torno de uma diversão sóbria, equilibrada, menos invasiva e portanto menos vulnerável aos abusos e excessos já descritos. Uma alternativa para as crianças, Uma opção para as diversas constelações familiares que não se querem expor.
E quiçá uma possível via, acessível, a uma crítica social mais consistente.
Até minha adolescência conheci apenas o carnaval convencional, dos flashes da Globo e sujeito a severa crítica dos fariseus religiosos.
No final dos anos oitenta fui com uns amigos a um Carnaval de salão e aquilo me marcou.
Pois não correspondia a imagem ainda hoje propagada pela Globosta.
Para meus ouvidos certamente havia excesso de barulho.
Reconheço no entanto que o clima era bastante seguro e saudável - Marchinhas inocentes, confete, fantasias, crianças e famílias inteiras reunidas... Um clima perfeitamente familiar, sem nudez, sem músicas apelativas, sem bebidas, etc apenas pessoas comemorando ou festejando juntas.
Vez por outra tocavam um samba enredo escolhido a dedo...
Entre a abolição ou oposição e os abusos diria que temos aqui uma Terceira via...
Até hoje tenho sido partidário dessas matinês para adultos, com as crianças fantasiadas de princesas, vampiros, homens aranhas, pierrotes, colombinas, etc catando marchinhas inocentes. Assim dos blocos, nos quais os adultos fantasiados cantam as mesmas marchinhas pelas ruas num clima de cordialidade e respeito.
Anualmente os amigos solicitam as razões porque não simpatizo com o Carnaval institucionalizado e canonizado pela imprensa - E que são as mesmas porque não simpatizo com o Futebol institucionalizado das grandes corporações. O motivo principal é a conexão existente com a imprensa, os aparelhos midiáticos, etc a produção de massas e enfim a atmosfera ética ou bem pouco ética resultante disso tudo.
Longe de mim condenar quem gosta e adere - Cada um cada um.
Aqui dou a público os motivos de minha reserva.
Sou portanto favorável é um carnaval 'diet' ou 'ligth'.
Nosso capitolino Zeus tonante,
belo, excelente e nobre.
Querem por terra, deitar sonante
Qual fosse pobre!
Querem por terra, a estátua deitar
e num gesto banal,
o porte de Atenea esculhambar
em torpe bacanal.
Pois amam o quanto é ordinário
e fere a vista.
Querendo profanar o relicário,
do fino artista.
Desprezam o consumado escrever,
pois não teem valor.
Não enxergam ou não querem ver,
sentido no lavor.
Marmórea arte não querem cultivar,
tampouco a pedra ferem.
O raro não sabem estimar
e o comum preferem.
Rabiscam apenas o que podem,
em um caderno.
E ler o quanto lhes acode,
é o inferno.
E tão feios borrões de tinta,
triste visagem.
Sequer produz ou pinta,
qualquer imagem.
Sequer a frase embeleza
ou a ideia reveste.
É crime de majestade lesa,
nefanda peste!
Desfaz, enfeia e tudo desarruma,
numa composição,
Jamais melhora, apruma,
a tal da redação!
Cristalina prosódia já não há,
me dói até o peito!
A rima eles chamam de má,
não há mais jeito!
É como se um hálito mortal,
sujo, perverso...
Aos poucos corroesse o tal
do verso!
Quiçá calados não saibam contemplar,
o que há mais dentro...
E dispersos não possam avistar,
o próprio centro!
Talvez lhes seja a benção do silêncio,
molesta e perturbadora.
Sinal de um colossal vazio intenso,
e vida aterradora!
Escrever com marcada excelência...
Mulher ou homem!
Afetados por essa decadência,
já não podem!
Tal ofício não mais prezam...
Homem ou mulher!
Antes com rancor o menosprezam,
ninguém mais o quer!
Perdeu-se oh Deus da forma,
belo atavio...
E das musas a suprema norma,
não resta um fio!
Ao crestar do calor tombou a pena,
airosa e altiva!
A falta de brisa gentil e amena,
não mais é viva!
Mulher divina que pereceu tão cedo,
nesse atoleiro vil...
Tua falta me faz tremer de medo,
pelo Brasil!
Cujo o estro ecoando entre povos mil,
flor das nações
Estro formoso e sutil,
foi de um Camões!
A chusma porém envolve o mundo,
da criativa arte.
E já não resta face ao turbilhão imundo,
poupada ínfima parte!
Contra os céus erguem as mãos e gritam,
os conjurados...
Bárbaros que o idioma estripam,
rebelados!
Vociferando vão e assomam,
impetuoso bando.
Torpe multidão a que se somam,
Vermes babando...
Vermes babando sujidades,
castigo atroz!
E quem terá nessas cidades,
Pena de nós...
Fita-os com a vista radiante,
meiga donzela!
E fulmina-os com teu raio brilhante -
Que és pura e bela!
Sobre esta que se aproxima,
rude e loquaz!
Esmaga e enfim passa por cima,
Solene e audaz!
Este que vem sobressaltando,
nos calcanhares!
E que te vai insultando,
sem alamares.
Esse que o porrete rijo ergue,
com mão brutal!
E que com sanha te persegue...
Vírus letal...
Superna dea, não te atingirá,
o golpe duro!
Deles não te maculará
Semblante escuro.
Impassível a tudo, assistirás,
deusa invencível!
Excelsa forma subsistirás,
imperecível!
Sobre o assento teu inabálavel,
verás a horda recuar.
E atemorizada é bem provável,
Cerviz curvar!
Todavia se por um triste fado,
vieres a cair.
Possa tombar eu a teu lado,
e sucumbir!
Não vejam mais os olhos meus,
a grata luz!
Deste mundo retire-me o Deus
que nos conduz.
O escrínio teu, ver por terra,
derribado.
Tudo quanto um bem maior encerra,
profanado!
Teus marmóreos altares,
já partidos.
Sob estes meus fundos olhares,
consumidos!
Teus sublimes mistérios,
sem sentido.
Convertidos em sacramentos, ermitérios,
do olvido!
Paradisíaco jardim, ressecado,
sem frescor!
Teu mimoso semblante afetado,
e sem vigor!
Este solo fecundo,
já crestado.
O universo e todo mundo,
Esfacelado!
O Partenon em ruínas,
desfigurado!
Por sombras peregrinas,
assombrado!
Efesino templo outra vez,
incendiado...
O Panteão talvez,
vilipendiado.
Da cruz, o sagrado emblema,
junto ao chão.
Da academia, o eterno lema,
já na contramão!
Extinto o régio sacerdócio,
a crença extinta.
E convertido o lodo do comércio,
nessa tinta!
Do Lácio o mais nobre rebento,
descomposto!
Sobre o frio e o relento,
aqui exposto!
De Bilac idioma tão caro,
descuidado!
De Abreu estro tão raro,
mal falado!
Não me rendo porém, jamais,
me renderei!
Inda que lute demais,
não cederei!
Contigo mulher eu cairei,
entre as fileiras tuas!
E os olhos fecharei,
óh letras fátuas!
Ostente minha pobre lousa,
essa inscrição:
Sob esta campa repousa,
um coração,
que soube amar a bela lingua,
de seus pais.
E em tempos de mingua,
os principais,
testemunhos literários da nossa
Tradição.
Lançados por eles numa fossa,
A traição...
Tal seja o epitáfio meu,
fui um guerreiro!
Entre os anti modernistas eu,
fui o primeiro!
DOMINGOS PARDAL BRAZ
Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
Que outro – não eu! – a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.
Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal… nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!
Blasfemo> em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando…
Deixa-o: que venha e uivando passe
– Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!
Olha-os somente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo> a raiva afronta
Dessa procela!
Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,
Cruel e audaz;
Este, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:
É em vão que as forças cansa, e â luta
Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
A bruta mão.
Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.
E, se morreres por ventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!
Ah! ver por terra, profanada,
A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!…
Ver derribar do eterno sólio
O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!…
Sem sacerdote, a Crença morta
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!…
Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!…
Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!
Que a minha dor nem a um amigo
Inspire dó…
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
Celebrarei o teu oficio
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
Publicaremos sempre por série ou tematicamente, assim: Deuses gregos, Cidades gregas, Cidades romanas, Batalhas romanas, Batalhas gregas, Escolas Filosóficas, Teatro, Artes e arquitetura grega, Artes e arquitetura romana, Crenças religiosas, Atividades econômicas, Maravilhas do mundo, Imperadores romanos, Ciclos de personalidades, A mulher na Grécia, A mulher em Roma, Os vasos gregos, Poetas romanos, História primitiva - Pasta Homo, Arqueologia geral, Mapas e viagens, etc
Também ofereceremos vídeos e cursos em Espanhol, Italiano, Inglês e Francês sobre diversas outras culturas, assim Egípcia, Suméria, Mesopotâmia em geral, Etrusca, Hitita, Celta, etc sobre o Cristianismo primitivo, Bizâncio, etc
Entrará em nossa pauta tudo quanto esteja remotamente relacionado com a Cultura clássica, assim as culturas mais antigas do Ocidente e o Cristianismo primitivo.
Eventualmente abordaremos algum tema religioso, artístico ou literário sobre a Idade média e a América pré colombiana.
Iniciaremos, como foi divulgado, com as conferências da profa Eva Tobalina sobre os Imperadores romanos, um ciclo bastante valioso.
Nossa único objetivo é que possais desfrutar ao máximo das aulas, cultivar o espírito e formar o caráter!
A tantos quantos assistirem, divulgares e promoverem o nosso muito obrigado e manifesta gratidão!
Vez por outra, de quando em quando, costumo ler algum 'manuel', digo, Manual de Sociologia - Também leio os de Filosofia, de Psicologia ou de Pedagogia > E há alguns muito bons (Guido de Rugiero, Jaspers, Thonard... Th Ribot, Wundt... Herbart, Comenius, Backheuser, etc).
Por hora estou lendo "El hombre y la gente" de Ortega Y Gasset - Revista de Ocidente, Madrid, 1958, juntamente com a edição das Epístolas de Caio Cecílio Segundo, o 'Plínio' Jovem ou Jovem Plínio - Estranha mistura ao que parece... Se bem que não da para confundir o escritor latino com o humanista espanhol.
Todos sabem que considero Gasset um dos nomes mais representativos em termos de genialidade, juntamente com Freud, Adler, Darwin, Weber, Malthus, Sorel, Decrolly, Hitchcock, Valéry, Horney e Goodall.
Quem quiser adicione o nome de Marx. Sua crítica foi positiva mas, penso eu, sua construção positiva ou 'solução' de muito pouco valor, e o comunismo se nos parece tão desastrado quanto o capitalismo.
Outros desejarão adicionar um Einstein ou um Fermi, aos quais de fato não faltou genialidade.
No entanto, confessadamente socrático, penso ser patético ou até calamitoso, o caniço pensante explorar o universo - Das partículas elementares as grandes estrelas, passando pelo fundo dos oceanos. - sem conhecer suficientemente a si próprio ou explorar a mente que dita nosso comportamento e tudo comanda.
Sim, em tempos de Ética, de crise e de suicídio comum (Em termos de espécie.) temos que questionar absolutamente tudo, inclusive a prioridade em termos de conhecimento.
Pois controlar a força contida nas partículas sem comandar a si mesmo pode ser algo bastante perigoso.
Tal reflexão foi que me fez por optar pelas Humanidades e não pelas ciências exatas ou pela técnica, tão queridas a ideologia positivistas e tão lucrativas.
Necessário registra-lo.
Pois em nossa cultura degenerada quem opta por ganhar menos traduzindo clássicos como as Antiguidades romanas de Dionísio de Halicarnasso ou a História geral de Diodoro Sículo, ao invés de tornar-se físico ou químico, i é partidor de moléculas ou analista de substâncias é tido em conta de inepto, incapaz ou imbecil.
Chega de divagação e prolixidade, como dizia minha saudosa mestra Isamar Alcover do Amaral Loureiro> Sr Domingos, o sr é prolixo e tão prolixo como Rui - Quem me derá ser a metade ou um quarto de um Rui... Mas tornemos a Gasset, nosso Ortega.
Antes porém devo dizer que já havia lido, e há um bom tempo, A unidade social, de P A Silvestre, São Paulo, 1956, obra atualmente bastante rara sobre a percepção social em Tomás de Aquino e, por ext. nos escolásticos e contratualistas.
Curiosamente Gasset define o associacionismo com precisão: "... Que assim fosse mera combinação ou resultado de outras realidades, como os corpos são 'na realidade' mais do que combinações de moléculas e estas de átomos." p 22 a qual, substituindo-se moléculas e átomos por tecidos e células, teria sido absoluta.
Importa saber que o ilustre pensador espanhol após definir avalia: "Se como sempre se tem crido... é a Sociedade uma criação dos individuos... que se congregam e portanto se não é ela mais que uma associação, a Sociedade não tem própria e autêntica realidade e não precisamos de uma Sociologia." p 22
E foi um pensador genial, um Ortega Y Gasset, quem o disse, como que copiando trivialidade repetida nos manuéis ou manuais de Sociologia.
Achei digno de nota ou reflexão a assertiva do Ortega.
Afinal nossos corpos são agregados de células e tecidos. O que não os priva de existência real.
Curioso isso - Que aquela treva chamada positivismo tenha produzido há um tempo introduzido materialismo mecanicista no campo da Psicologia e Metafísica muito mal feita no campo da Sociologia.
Mais - Agregado sim, agregado e agregação. Nem por isso uma célula sozinha se converte em tecido ou corpo, menos ainda o corpo ou o tecido numa única célula. Pois de modo algum a existência do agregado basta para confundir o agregado com o todo e vice versa... A simples existência particular da célula no conjunto do tecido não a transforma a célula particular em tecido e vice versa.
Sucede porém que a simples união da célula em tecido, órgão ou corpo confere a cada um desses agregados novas propriedades, as quais não se encontram presentes em cada célula separada mas comente nos agregados: Tecido, órgão e corpo. E conforme o tipo ou forma de união assume diferentes formas é natural que cada forma possua propriedades diversas - Assim que o corpo possua propriedades que não se acham presentes no órgão ou no tecido.
Naturalmente que há algumas propriedades comuns a todo fenômeno vivo. Como certamente há propriedades diversas na célula, no tecido, no órgão e no corpo - Pois unidade não significa identidade. Por isso dizemos que o agregado tecido difere da unidade particular célula na medida em que apresenta atributos ou propriedades diversas. Pois só pode apresentar propriedades novas e diversas na medida em que sua estrutura difere da unidade particular.
Observe que toda essa comparação estabelecida pelos positivistas em torno de fenômenos biológicos está totalmente equivocada.
Pois o considerar o corpo humano em sua totalidade como agregado de agregados - Cujo elemento mínimo seria a célula! - não reverte a Biologia, a medicina ou a realidade em citologia. Um corpo mais desenvolvido olha, ouve e fala. O corpo ouve, fala, olha, pensa, etc por meio dos tecidos e células. Há tecido apto para ativar a audição. Posso dizer no entanto que esse tecido ouve ou que células olhem ou falem - Mesmo quando pertencentes a tecidos relacionados com a visão ou a fala posso eu dizer que tais células enxergam ou falam... O caso é que as células não possuem sistema nervoso central... E nossos corpos o possuem... E pensam...
Percebe como sendo formado por células ou sendo um agregado de tecidos o corpo não é irredutível a células ou tecido, por possuir outras propriedades e corresponder a uma estrutura diversa. Como a medicina - a Mesma medicina que reconhece ser um corpo um agregado de células é irredutível a mera citologia...
Diante disto, o quanto podemos afirmar é que a Sociedade, a modo do corpo físico, não é uma fusão de células ou pessoas, e portanto algo essencialmente diverso dos agentes que a compõem.
Agora se não estamos diante de um novo ente ou fenômeno, produzido por fusão, só nos resta concluir que ligação entre as pessoas, a modo da ligação entre as células, se dá por conexão ou contato.
Essa percepção é importante porque nos impede de imaginar a Sociedade como algo a parte dos agentes que a compõem ou como um organismo essencialmente distinto deles.
E no entanto ela, a Sociedade ou melhor as diversas Sociedades, da mais elementar a mais difusa, apresentam propriedades que não se encontram nos agentes.
Impõem-se aqui outra pergunta ou questionamento, muito comum nos compêndios de Sociologia.
A qual é posta nos seguintes termos.
Se a Sociedade ou as Sociedades apresentam propriedades com que não nos deparamos nos agentes que a compõem é justamente porque a natureza do agente e da Sociedade são distintas.
Claro que há alguma diferença entre os agentes e a Sociedade.
Será no entanto uma diferença essencial ou ontológica, no sentido de que a Sociedade seja algo totalmente diversa dos agentes ou alguma outra coisa ou apenas um estado diverso apresentado pelos agentes.
Teríamos assim o indivíduo hipoteticamente isolado do corpo social ou num Estado pré social (Quiçá ante histórico ou primitivo!) - Veremos que o homem não social, em qualquer momento histórico, é uma ilusão - e o humano em Estado social tal como o conhecemos.
Ocioso dizer que o 'social' precede a própria existência do fenômeno humano. Porquanto nossa espécie aparece já num contexto social ou num contexto social pré humano legado por outras espécies de primatas.
Jamais houve Homo ou Homo Sapiens a parte de uma organização social, exceto se confundamos, maliciosamente, a Sociedade com o Estado.
O homem de Rousseau, bem se vê, é um ser imaginário, se, como se pensa ou crê, postulou a existência de indivíduos isolados ou separados uns dos outros antes de um contrato que tenha dado origem ao grupo social mais primário. Rousseau só cessa de ser perfeito idiota caso consideremos que seu contrato da origem ao Estado ou a Sociedade política...
Podemos portanto supor ou presumir que a questão sequer toque a forma ou a estrutura do conjunto ou grupo social mas apenas AO MODO E EXTENSÃO DO CONVÍVIO: As Sociedades apresentam propriedades diversas entre si e ausentes no 'indivíduo' conforme o contato seja mais íntimo ou mais extenso.
Então não temos porque imaginar uma transformação essencial.
Nem por isso fica a Sociedade sendo irrelevante e menos ainda a Sociologia, pelo simples fato de que apresenta propriedades com as quais não nos deparamos nos humanos que tentam, em certa medida, viver a parte delas.
A conclusão aqui já foi antecipada pelos sociologistas de Comte e também de Durkheim, este por sinal um homem de grande mérito. Tinham esses autores - Sobretudo o segundo em sua acirrada polêmica travada com Gabriel Tarde.- receio de que caso a Sociedade não formasse um ser essencialmente diverso dos seres que a compõem, reverteria a algum tipo de Psicologia, marcadamente em Psicologia social. E esse temor, mais ou menos fundamentado no século XIX, refletiu em toda essa construção, no sentido de afirmar-se que a Sociedade constituía um organismo totalmente a parte de seus agentes pessoais.
Bom bater nessa tecla, sobre os estragos feitos pela Ideologia positivista no campo dos conhecimentos humanos ou das humanidades - Cujo valor científico e objetivo contínua sendo negado por seus janízaros até nossos dias > Mais de século após a morte de Wilhelm Dilthey (Esse gigante do Espírito!!!). O epílogo dessa invasão da psicologia pela Ideologia materialista (Sob o termo de positivismo ou ciência.) foi essa pasmaceira chamada Behaviorismo > De Watson e Skinner até G Roth e o queridinho dos ateístas (Dalkins, Denett, etc) S Pinker.
Certo é que a destruição ou negação da mente equivale a destruição ou suicídio da Psicologia, pela simples negação de seu objeto de estudos, que é a mente (cf Fechner, Wundt, etc). Caindo a psicologia nos domínios da Biologia e revertendo a Psiquiatria. Pois tudo no Behaviorismo conduz a Psiquiatrismo...
Outro o caso dos sociologistas, os quais sempre temeram que admitido qualquer nível de influência da pessoa não diretamente associada na 'engrenagem' social ou como se queira, nos fatos ou fenômenos sociais, ficava comprometida a própria Sociologia.
E no entanto essa mesma pessoa capaz de interagir com o construto social e de altera-lo é ela mesma, grande parte, resultado de interações sociais e um ente social e não um indivíduo isolado, porquanto a existência de um indivíduo isolado, que nada deva ao grupo social, é um ente abstrato e ilusório.
Perceba-se o óbvio - A Sociedade ou o grupo social plasma a condição de todos os seres humanos e todo ser humano é em parte resultado de interações sociais diretas e indiretas. Por outro lado algumas pessoas, satisfazendo certas condições sociais dadas e externas a sim, são capazes de alterar essas condições ou de interferir na dinâmica social. E é justamente essa intervenção ativa de alguns humanos que altera as estruturas sociais, as quais doutra forma sendo externas, formais e mecânicas seriam fixas, constantes e irreformáveis - A exemplo das reações físicas e químicas. A Sociedade se transforma justamente porque não é engrenagem fechada e impermeável a ação humana.
Por mais que atribuamos esta ou aquela propriedade específica aos diversos grupos sociais seria absurdo admitir que os grupos sociais possam alterar a própria dinâmica ou transformar a si mesmos, impondo novos sentidos, a parte dos agentes que lhes conferem existência.
A Psicologia social caberá investigar o quanto o fenômeno humano recebe do corpo social. A Sociologia Pessoal como e em que condições um agente humano qualquer é capaz de alterar a dinâmica social e a Sociologia examinar as propriedades dos grupos ou fatos sociais em si mesmos bem como a estrutura dos grupos citados.
Tais as reflexões que me foram suscitadas pela leitura de Ortega Y Gasset.