Que Huizinga, Toynbee, Spengler, Lewis Whydan, T S Elliot, Berdiaeff, L Bloy, Maritain e outros tantos pensadores tem em comum...
Sabido é que todos eles, em maior ou menos grau, reconheceram que nossa cultura e civilização estão em crise.
Nossas raízes clássicas ou greco romanas tem sido arrancadas desde seus fundamentos mais remotos pelo protestantismo judaizante, pelo capitalismo, pelo comunismo, pelo anarquismo, pelos modernismos, etc e após tudo isso está e vem o islã iconoclasta e arabizante...
Considere amigo leitor que cerca de seis séculos antes de Cristo floresceu uma cultura refinada que logrou manter-se por mais de mil anos...
Uma constelação de Filósofos, poetas, dramaturgos, historiadores, geógrafos, astrônomos, ensaístas, novelistas, etc
Basta dizer que suas obras foram reunidas na grande Biblioteca de Alexandria - A qual em seu zênite deve ter contado com certa de meio milhão de tomos ou meio milhões de capítulos e umas setenta ou oitenta mil obras produzidas por cerca de uns dezesseis ou mesmo vinte mil autores, talvez um pouco mais.
Nas principais cidades do Império - Roma, Cartago, Atenas, Constantinopla, Antioquia... Haviam instituições similares, como se fossem uns arquivos do saber ou CPUs de computadores... Toda nossa cultura ancestral estava concentrada nos centros urbanos acima citados.
Ali estavam umas oitenta peças de Ésquilo, umas setenta de Sófocles, outras sessenta de Eurípedes, as poesias completas de Sapho e Cneus Nevius, as crônicas Históricas de Adibenos, Beroso, Apion, Maneton, Justo de Tvérias, Craterus, Alexandre Polihistor, Xanto, Helânicos, Ctsias, Éforos, Teopompo... Os cento e quarenta tomos de Lívio, M T Varrão, Catão - o antigo, Labeão, Tuberão... As Histórias do Imperador Claúdio sobre os estruscos e os cartagineses... os cento e quarenta e dois tomos dos Pinakes de Callimaco de Cirene, os Mapas de Eratóstenes, o Mapa celeste de Hiparco (Primeiro catálogo de constelações!)... Os textos de Alexemenos, Simão e Esquines sobre Sócrates; as obras de Antístenes, Cleantes, Crísipo, Clitodemo, Critóbulo, Diógenes, Fílon, Antíoco, etc As Doxografias de Teofrasto, Antístenes; o jovem, Antígono de Caristo, Sátiro, Sósion, Sosícrates, Hêrmipo, Heráclides, etc Os periplos de Eudóxio, Piteas, Ciláx, etc O cânone de Polikleitos, os planos de Ifictinos e Callicrates, etc, etc, etc Tudo muito bem disposto e catalogado em uma ou meia dúzia de Bibliotecas - De modo a atravessar os séculos, os milênios ou as eras e chegar até nós...
E no entanto...
Que podemos ler de tudo isso...
Praticamente nada.
Isso mesmo - Umas oito peças de Ésquilo, entre sete e nove de Sófocles e não mais que vinte de Eurípedes. Um fragmento considerável de Éforos e seu Mapa mundi em Cosmas Indicopleutes, trinta e cinco livros de Lívio i é cerca de 25%, alguns mapas estelares de Hiparco recentemente recuperados, um diálogo lacunoso de Esquines > É praticamente o que temos das obras acima citadas! E menos teríamos não fossem os preciosos papiros de Oxirrinco, aos quais tanto devemos em termos de literatura clássica, bem como os rolos carbonizados de Herculano, os quais são para nós como que duas janelas postas para nossa cultura ancestral.
Que teria ocorrido então...
De um lado os povos germânicos... os quais por diversas vezes incendiaram a capital do Império com suas quarenta Bibliotecas, sendo que a primeira foi organizada por Asínio Póllion sob os auspícios de Júlio César ou de Otávio.
A outro foram as hordas dos sarracenos saídas dos desertos.
E o Epílogo dessa triste história foi a destruição da grande Biblioteca de Alexandria, no século VII, por Amr Ibn al As, sob as ordem do califa muçulmano Omar ibn Katab - "Caso os livros sejam contrários ao Corão, devem ser lançados ao fogo, caso estejam de acordo com o Corão, ao fogo com eles, pois o Corão basta a si mesmo." Tais as palavras com que foi consumado o maior atentado cultural já cometido em toda a História.
É como se naquele ano a Humanidade tivesse seu cérebro extraído, declarou um autor. Foram séculos de atraso cultural, sentenciou outro. Pois fomos simplesmente alienados de nossas raízes...
Posteriormente, o que havia sobrevivido em Constantinopla foi paulatinamente destruído pelos iconoclastas, pelos cruzados (Em 1204) e por fim durante a tomada da velha capital por Maomé IV em 1453...
Eis porque não devemos estar seguros de que o quanto chegou até nós esteja seguro e venha a ser conhecido pelas futuras gerações.
Pois não se trata duma questão de técnica mas antes de tudo de uma questão de cultura, de amor, de pertencimento, de identidade... E essa identidade ou sensação de pertencimento esta seriamente ameaçada por diversas correntes ideológicas.
Assustador observar como o número de estudiosos dedicados ao estudo dos clássicos tem diminuído geração após geração seja na Alemanha, na França, na Inglaterra ou nos EUA - Basta comparar o número dos que florescem atualmente com o número daqueles que floresceram no século XIX ou mesmo no curso do século XX.
Vários os fatores que contribuem com essa calamidade.
Antes de tudo o fechamento dos cursos de latim e grego, sob a alegação de que não trazem proveito imediato algum, de que não são práticos ou lucrativos. O primeiro e mais rude golpe, não nos enganemos, procede do Mercado ou dos interesses financeiros, pragmáticos e, numa palavra, profissionalizantes > Top é dirigir a molecada ao universo digital ou a contabilidade (sic). Apresentar-lhes Virgílio, Horácio, Ovídeo, Estácio, Tíbulo, Marcial, Lucrécio, Lucano, Catulo, Propércio, Arquílogo, Hesíodo, Homero, etc é pura perda de tempo...
O desastre aqui é duplo: Tais obras ficam cada vez mais abandonadas e desconhecidas do grande público e o grande público cada vez mais inculto, bárbaro e massificado - Pura intencionalidade política a serviço interesses financeiros e\ou credais...
Observe-se a tendência reinante no Estado de São Paulo - Profissionalizar a juventude ou ministrar-lhes uns cursos bastante sumários nos pisados termos do positivismo: Ler, escrever, contar, somar e conhecer algum modo de fazer ou técnica. Nada além - e o resultado é a eliminação o a diminuição do conteúdo humano, crítico e reflexivo de tais cursos. Nos quais é negado ao sujeito o direito de pensar solidamente, de formular juízos éticos ou de posicionar-se diante de um fenômeno estético como uma obra de arte.
Não ignoro, que infelizmente, o curso de Filosofia e as demais humanidades, estejam, em sua maior, parte contaminados pelo pós modernismo, e isso com pleno assentimento da esquerda cirandeira. Concedo que a orientação ideológica de tais cursos, quando oferecidos por instituições públicas ao grande público, deva ser exaustivamente discutido ou problematizado. De modo a abrir algum espaço que permita a retomada dos clássicos e da Filosofia perene. Subtrair tal conteúdo é, a meu ver, a pior das soluções possíveis. Por que não resgatar e introjetar qualidade ao invés de eliminar...
Outro aspecto lastimoso da questão é o empenho do Mercado em cooptar as mentalidades mais brilhantes para o domínio das finanças ou ao menos para os setores considerados como mais valiosos e lucrativos. Afinal dedicar-se ao estudo e intepretação dos clássicos, via de regra, não é nem um pouco lucrativo, em que pesem os esforços.
Do outro lado, das massas alienadas, temos Caríbdes: Habitualmente as mentes mais rasteiras, cooptadas por alguma das diversas seitas protestantes ou bíblicas, não apenas preferem estudar os livros judaicos do antigo testamento, como manifestam imenso desprezo para com tudo quanto envolva nossa herança clássica, a começar pela Mitologia. O que justificam pela disparidade religiosa...
Com efeito, desamparados pelas instituições escolares, e premidos; a um lado pelas necessidades e esforços econômicos - Num contexto cultural economicista, e a outro pelo fundamentalismo sectário, os estudos clássicos tem declinado ano após ano desde o século precedente.
Então a pergunta que se faz é qual seriam, futuramente, os efeitos de tal abandono.
Abandono que alias, atinge já, os clássicos de nossa lingua. Especialmente por parte dos fanáticos religiosos e sob a mesma alegação: Nos recusamos a estudar seriamente as obras de um Antonio Vieira, de um Manoel Bernandes, de um Heitor Pinto, etc porque eram padres...
E pelo mesmo caminho se vai> Um intolerável desprezo por um Dante, um Cervantes ou um Camões pelo simples fato de não terem sido protestantes...
E se o ideal do islamismo é arabizar temos que o protestantismo já angliciza ou germaniza, apartando-nos de nossas raízes greco romanas...
Mas quais serão os resultados de tal desprezo...
Aquele que ao invés de apegar-se aos elementos de sua cultura e valoriza-los, ousa permuta-los, tendem a tornar-se cada vez mais volúvel.
Quero dizer que se alguém está disposto a anglicizar-se ou a germanizar-se por quaisquer motivos que sejam não pensará duas vezes antes de arabizar-se, desde que julgue ter motivos para tanto...
Quem não mostra mínimo amor ou afeto pelos elementos de sua cultura, dificilmente estará seguro no seio de uma cultura que não lhe pertence. E será um peregrino ou vagante.
Por um lado corre a cultura grande risco - O risco de perder-se ou de perder seus conteúdos, exatamente como sucedeu durante a crise do Império romano, quando parte de nossa cultura ancestral foi perdido para todo sempre... E corre-se o risco de perder-se o homem, desumanizando-se, despersonalizando-se, barbarizando-se. Pois é uma via de mão dupla.
A um lado intensifica-se a massificação, por falta de contato com as fontes da cultura ancestral, e a outro se vai dando a perda dos elementos culturais, pelo abandono material ou a falta de trato. Na medida em que as Bibliotecas, Museus e Teatros vão sendo abandonados, se vai perdendo nossa Paideia, e nossa consciência, e nosso espírito e nossa identidade - Somos em parte Europeus e greco romanos, é um conteúdo precioso que faz parte de nossa ancestralidade, de nossa História, de nossas raízes...
Podemos discutir pormenorizadamente as condições em que se deu o contato dos espanhóis, portugueses e particularmente ingleses, com os povos da América, com os povos pre colombianos, com os Maias, Incas, etc Se de fato tivemos uma invasão e em que termos se deu ela... Bem como sobre a relevância de certos elementos culturais oriundos da ancestralidade indígena...
O que não considero justo ou honesto é tudo misturar e, consequentemente confundir, uma vez que tais invasores sequer pertenceram ao contexto do Cristianismo antigo ou apostólico, quanto mais ao contexto cultural pre Cristão greco romano.
Por fim, no contexto de uma cultura que é necessariamente sintética, e ao menos em parte, tributária da Europa, do Mediterrâneo, da Itália, da Grécia e ainda do Egito e da Mesopotâmia, não vejo porque abdicar desse elemento ou desprezar esse conteúdo - Pelo contrário o que vejo é a extrema necessidade de retoma-lo e de tornar a valoriza-lo justamente com o propósito de opo-lo, alternativamente, as ideologias e culturas de morte procedentes dos EUA ou da Europa contemporânea.
Tal o propósito de nossos esforços nos campos da reflexão e das artes.
Por meio da realização de eventos culturais em nossa região (Como a encenação dos clássicos da dramaturgia grega.) e também de aulas, palestras, vídeos, material escrito, etc Este Blog e o presente artigo corresponde a uma dessas iniciativas, todas, sem exceção gratuitas e sem qualquer ônus para os interessados - Nosso único interesse é coloca-los em contato com as fontes da nossa cultura, sejam gregas, romanas ou ibéricas.
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