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HERÓI INJUSTIÇADO: ARISTIDES DE SOUSA, O PORTUGUÊS QUE AJUDOU MILHARES DE JUDEUS NO HOLOCAUSTO
Aristides usou a autoridade que tinha como cônsul de Portugal para emitir vistos, todavia, pagou caro por seu altruísmo
INGREDI BRUNATO, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 20/03/2021, ÀS 09H27

O período durante o qual ocorreu o Holocausto foi marcado pela violência e o horror. Em meio ao ódio, inúmeros heróis anônimos fizeram tudo que estava em seu poder para ajudar a salvar os judeus das mãos dos nazistas.
Um deles foi Aristides de Sousa Mendes, cônsul português que emitiu vistos para refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial a despeito das ordens contrárias do presidente de Portugal, assim permitindo que a comunidade perseguida se abrigasse no país europeu.
Na época, inclusive, vale dizer que o território português vivia uma ditadura sob o governo de António de Oliveira Salazar.
Os riscos de fazer o bem
Segundo documentado por uma matéria de 2020 do National Geographic, o cônsul usou do poder que possuía no seu cargo para emitir inúmeros vistos antes de ser descoberto.
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De forma ainda mais impressionante, isso tudo teria ocorrido dentro do período de três dias: entre 17 e 19 de junho de 1940. Para alcançar resultados tão vastos em tão pouco tempo, Aristides teria sido auxiliado pelos seus doze filhos. Já no dia 20, o funcionário público recebeu um telegrama de Salazar o intimando a comparecer em Lisboa.
Também segundo a reportagem, depois desse fato, Mendes foi severamente punido por suas infrações: ele foi demitido de seu cargo de cônsul, obrigado a se afastar do trabalho, e quando o afastamento terminou, no fim daquele ano, ainda foi considerado aposentado.
Para piorar a situação, Salazar fez com que a licença de advogado do ex-cônsul fosse retirada, de forma que ele não pudesse recorrer ao exercício dessa profissão como uma segunda opção à que havia perdido.
Assim, o sustento do português passou a depender do seu salário de aposentadoria, que era escasso, condenando ele, sua esposa e doze filhos a enfrentar dificuldades financeiras pelas décadas seguintes.
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Apesar do sofrimento que lhe foi imposto em resposta às suas ações altruístas, vale mencionar que Aristides continuou a ajudar judeus como podia, chegando a ceder o espaço de sua própria casa para alguns dos que haviam acabado de chegar em Portugal.
Reconhecimento tardio
Mais tarde, em vida, o ex-cônsul recorreu ao auxílio de um órgão de assistência judaica internacional, afirmando que ele e sua família também haviam se tornado refugiados.
A esposa de Aristides chegou a falecer em decorrência da situação de carência vivida por eles, e mais tarde o português também precisou vender todos os seus bens de valor para conseguir sobreviver.
Foi apenas em 1966 que o memorial do Holocausto localizado em Jerusalém homenageou Mendes, concedendo-lhe pela primeira vez o reconhecimento merecido. Na época, ele já estava morto fazia 12 anos.
Posteriormente, em 1986, Mário Soares, que era então primeiro-ministro de Portugal, também emitiu um pedido de desculpas público à família de Aristides pelas injustiças sofridas por eles
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