sábado, 3 de abril de 2021

A desova do Titanic - Motivações econômicas AH

 MATÉRIAS » TITANIC

AS CARTAS QUE TERIAM REVELADO O TRISTE DESTINO DOS CORPOS DA TERCEIRA CLASSE DO TITANIC

Em 2017, o historiador Charles Haas revelou um capitulo, até então, desconhecido sobre o naufrágio

LARISSA LOPES, COM SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 28/01/2021, ÀS 11H22

Imagem meramente ilustrativa de cartas e navio Titanic
Imagem meramente ilustrativa de cartas e navio Titanic - Pixabay/Domínio público

O dia 14 de abril de 1912 ficou marcado para sempre na história da humanidade. Por volta das 23h40, o navio atingiu fortemente um iceberg sendo eternizado na História após o naufrágio que choca gerações.  

Atualmente, sabe-se que a condição calma do mar já era um indicativo da presença dos gelos colossais. Contudo, por uma neblina que cobria o iceberg, os vigias noturnos não detectaram o fenômeno bem em frente à rota que o navio percorria.

Quando perceberam já era tarde demais, a demora entre a comunicação e o impacto do navio contra a camada de gelo foi fatal, logo, a embarcação começou a afundar no Atlântico Norte.

O navio carregava em seu interior cerca de 2.500 pessoas. Desses passageiros, mais de 1.500 não sobreviveram e sucumbiram no oceano. Somente cerca de 700 viajantes foram resgatados.

Em 2017, um dado desconhecido, até então, chocou o mundo. Na época historiador norte-americano Charles Haas revelou o conteúdo de cartas e telegramas entre o capitão do navio de resgate, Frederick Larnder, e a administradora do Titanic, a White Star Line.

Conforme divulgado pelo Daily Mail na época, essas relíquias teriam sido guardadas por um funcionário da companhia de transporte marítimo Cunard Line, que se fundiu à White Star Line em 1934. Charles Haas só teve acesso ao conteúdo no ano de 1980.

Através dos documentos, o historiador descobriu que dos 334 corpos, 116 deles foram jogados ao mar pelo navio de resgate. A decisão foi tomada porque o transporte que levaria todas as vítimas não suportava o peso.

Então, para decidir quais corpos seriam devolvidos ao mar, o capitão Larnder decidiu priorizar o resgate de corpos das vítimas mais ricas. Assim, os mais de 100 corpos abandonados eram de viajantes das classes mais baixas - a terceira classe.

Imagem meramente ilustrativa. Crédito: Divulgação.

 

“Um registro cuidadoso foi feito de todas as notas de dinheiro e valores encontrados nos corpos. Não seria melhor enterrar todos no mar a não ser que familiares solicitem que sejam preservados?”, questionava o capitão à empresa em um dos telegramas.

O historiador também notou nos registros que as equipes de resgate se assustaram com o número de corpos encontrados, já que foi muito mais do que o esperado.

“Eles mostram abertamente o estresse imenso que estavam todos os envolvidos”, contou Haas ao jornal britânico Daily Mail

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Um herói desconhecido. AH

 MATÉRIAS » PERSONAGEM

HERÓI INJUSTIÇADO: ARISTIDES DE SOUSA, O PORTUGUÊS QUE AJUDOU MILHARES DE JUDEUS NO HOLOCAUSTO

Aristides usou a autoridade que tinha como cônsul de Portugal para emitir vistos, todavia, pagou caro por seu altruísmo

INGREDI BRUNATO, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 20/03/2021, ÀS 09H27

Fotografia de Aristides de Sousa Mendes
Fotografia de Aristides de Sousa Mendes - Wikimedia Commons

O período durante o qual ocorreu o Holocausto foi marcado pela violência e o horror. Em meio ao ódio, inúmeros heróis anônimos fizeram tudo que estava em seu poder para ajudar a salvar os judeus das mãos dos nazistas. 

Um deles foi Aristides de Sousa Mendes, cônsul português que emitiu vistos para refugiados judeus durante a Segunda Guerra Mundial a despeito das ordens contrárias do presidente de Portugal, assim permitindo que a comunidade perseguida se abrigasse no país europeu. 

Na época, inclusive, vale dizer que o território português vivia uma ditadura sob o governo de António de Oliveira Salazar

Os riscos de fazer o bem 

Segundo documentado por uma matéria de 2020 do National Geographic, o cônsul usou do poder que possuía no seu cargo para emitir inúmeros vistos antes de ser descoberto. 

Fotografia histórica de um dos vistos concedidos por Aristides / Crédito: Wikimedia Commons

 

De forma ainda mais impressionante, isso tudo teria ocorrido dentro do período de três dias: entre 17 e 19 de junho de 1940. Para alcançar resultados tão vastos em tão pouco tempo, Aristides teria sido auxiliado pelos seus doze filhos. Já no dia 20, o funcionário público recebeu um telegrama de Salazar o intimando a comparecer em Lisboa. 

Também segundo a reportagem, depois desse fato, Mendes foi severamente punido por suas infrações: ele foi demitido de seu cargo de cônsul, obrigado a se afastar do trabalho, e quando o afastamento terminou, no fim daquele ano, ainda foi considerado aposentado.

Para piorar a situação, Salazar fez com que a licença de advogado do ex-cônsul fosse retirada, de forma que ele não pudesse recorrer ao exercício dessa profissão como uma segunda opção à que havia perdido.

Assim, o sustento do português passou a depender do seu salário de aposentadoria, que era escasso, condenando ele, sua esposa e doze filhos a enfrentar dificuldades financeiras pelas décadas seguintes. 

Fotografia de Aristides em família, antes dele ter doze filhos / Crédito: Wikimedia Commons

 

Apesar do sofrimento que lhe foi imposto em resposta às suas ações altruístas, vale mencionar que Aristides continuou a ajudar judeus como podia, chegando a ceder o espaço de sua própria casa para alguns dos que haviam acabado de chegar em Portugal. 

Reconhecimento tardio 

Mais tarde, em vida, o ex-cônsul recorreu ao auxílio de um órgão de assistência judaica internacional, afirmando que ele e sua família também haviam se tornado refugiados. 

A esposa de Aristides chegou a falecer em decorrência da situação de carência vivida por eles, e mais tarde o português também precisou vender todos os seus bens de valor para conseguir sobreviver. 

Foi apenas em 1966 que o memorial do Holocausto localizado em Jerusalém homenageou Mendes, concedendo-lhe pela primeira vez o reconhecimento merecido. Na época, ele já estava morto fazia 12 anos. 

Posteriormente, em 1986, Mário Soares, que era então primeiro-ministro de Portugal, também emitiu um pedido de desculpas público à família de Aristides pelas injustiças sofridas por eles

A gripe espanhola, por Nelson Rodrigues

 MATÉRIAS » PERSONAGEM

MEMÓRIAS DE NELSON RODRIGUES SOBRE A GRIPE ESPANHOLA MOSTRAM QUE NADA MUDOU: 'O VELÓRIO SERIA UM LUXO INSUPORTÁVEL'

No ano de 1967, Nelson Rodrigues escreveu um livro de memórias no qual tratou sobre diversos momentos que vivenciou, entre eles, a triste pandemia

GIOVANNA GOMES, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 23/03/2021, ÀS 11H43 - ATUALIZADO ÀS 14H28

Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues - Wikimedia Commons/ Arquivo Nacional


Enfermeira e paciente infectado, durante surto da gripe espanhola / Crédito: Wikimedia Commons

 

O passado e o presente 

Conforme documentado pela Biblioteca Nacional, em determinado trecho de seu livro, o carioca diz que "morrer na cama era um privilégio abusivo e aristocrático. O sujeito morria nos lugares mais impróprios, insuspeitados: - na varanda, na janela, na calçada, na esquina, no botequim."

Em seguida, Rodrigues afirma:

 "Normalmente, o agonizante põe-se a imaginar a reação dos parentes, amigos e desafetos. Na Espanhola não havia reação nenhuma. Muitos caíam, rente ao meio-fio, com a cara enfiada no ralo. E ficavam, lá, estendidos, não como mortos, mas como bêbados. Ninguém os chorava, ninguém..."

Em 1918, o mundo passou por uma pandemia semelhante à que vivemos hoje - Crédito: Wikimedia Commons

 

"Ora, a gripe foi, justamente, a morte sem velório. Morria-se em massa. E foi de repente. De um dia para o outro, todo mundo começou a morrer. Os primeiros ainda foram chorados, velados e floridos. Mas quando a cidade sentiu que era mesmo a peste, ninguém chorou mais nem velou, nem floriu. O velório seria um luxo insuportável para os outros defuntos."

A morte torna-se trivial


"Era em 1918. A morte estava no ar e repito: - difusa, volatizada, atmosférica; todos a respiravam....", recorda o autor do livro. "De repente, passou a gripe. Ninguém pensava nos mortos atirados nas valas, uns por cima dos outros. Lá estavam, humilhados e ofendidos, numa promiscuidade abjecta."

Por fim, Nelson ressalta que devido ao fato da morte ter se tornado cotidiana na vida dos brasileiros, a "peste deixara nos sobreviventes, não o medo, não o espanto, não o ressentimento, mas o puro tédio da morte."

Fundamentalismo islâmico

 MATÉRIAS » MUNDO

O DRAMA DAS 'NOIVAS DO ESTADO ISLÂMICO' QUE NÃO PODEM MAIS RETORNAR AOS PAÍSES

Documentário premiado entrevistou diversas mulheres que, quando jovens, juntaram-se ao grupo jihadista, porém depois arrependeram-se

INGREDI BRUNATO, SOB SUPERVISÃO DE THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 24/03/2021, ÀS 09H34

Fotografia de Shamima Begum, uma das noivas do Estado Islâmico
Fotografia de Shamima Begum, uma das noivas do Estado Islâmico - Divulgação

O festival anual de cinema, música e tecnologia chamado South by Southwest, que ocorreu na semana passada no estado norte-americano do Texas, trouxe diversas produções interessantes. Entre elas, o documentário premiado "The Return: Life After Isis" (Ou “O retorno: Vida depois do ISIS”, em tradução livre) se destacou. 

A produção se aprofunda na situação das jovens que deixaram seus países para se juntar à organização fundamentalista islâmica, as chamadas “Noivas do Estado Islâmico”. O filme foi dirigido pela espanhola Alba Sotorra, que conseguiu permissão da coalizão das Forças Democráticas Sírias (FDS) para adentrar um dos maiores campos de refugiados da Síria, o Roj. 

Uma das personagens de relevância mostradas no longa é Shamima Begum, uma figura já conhecida que teve a volta ao seu país de origem, o Reino Unido, barrada. As informações foram repercutidas pelo UOL, através da agência AFP.

Quando a garota tinha apenas 15 anos de idade, ela viajou com duas amigas para a Síria, onde se juntou ao Estado Islâmico, que controlava o território na época, casando-se ainda com um jihadista holandês que era oito anos mais velho.

Após alguns anos dentro da organização, todavia, Shamima se arrependeu de sua decisão. Para o governo britânico, todavia, seu erro foi considerado imperdoável. "Eu gostaria de dizer ao povo do Reino Unido: me dê uma segunda chance porque eu ainda era jovem quando parti”, pede a jovem, que hoje tem 19 anos, em um dos trechos do documentário. 

Fotografia de Shamima Begum / Crédito: Divulgação 

 

Passado condenável 

Outra característica da trajetória de Begum é que, em 2019, ela já havia aparecido publicamente ao dar declarações à imprensa inglesa durante outro período de sua estadia no Roj, o campo de refugiados sírio. Nesta época, todavia, a garota exibia opiniões muito diferentes, não apresentando qualquer arrependimento em relação à sua decisão de juntar-se ao grupo jihadista. 

“Eu só quero que deixem de lado tudo que ouviram sobre mim na mídia”, comentou Shamima a respeito disso, de acordo com o que foi repercutido pela agência. Segundo a jovem, dentro do campo havia antes um núcleo de mulheres que eram “radicalizadas”, não apenas mantendo-se fiéis ao ISIS mas também pressionando as outras a terem o mesmo posicionamento. 

"Vivia com medo de que essas mulheres viessem à minha tenda um dia e me matassem e me matassem meu bebê", declarou Begum, que estava grávida na época de seus pronunciamentos controversos. 

Em entrevista à AFP, a diretora do documentário contou: "Nunca vou conseguir entender como uma mulher ocidental pode tomar a decisão de deixar tudo para trás e se unir a uma organização que está cometendo atrocidades como as do EI [Estado Islâmico]. Mas agora eu entendo como se pode cometer um erro”. 

Fotografia de Alba Sotorra, diretora espanhola do documentário / Crédito: Divulgação/ Instagram 

 

"Sabíamos que a Síria era uma zona de guerra e eu fui para lá mesmo assim com meus filhos; quando penso, nem entendo como pude fazer isso", comentou outra mulher no longa, ainda segundo repercutido. 

Uma última alegação de Begum e de outras que, como ela, são noivas do EI, é que nunca participou e sequer sabia dos crimes realizados pela organização jihadista, que incluem estupro, tortura, terrorismo, massacres e muitos outros.

João Paulo II - O 'santo' que matou um Santo

 MATÉRIAS » CRIMES

HÁ 41 ANOS, O ARCEBISPO ÓSCAR ROMERO ERA ASSASSINADO DURANTE UMA MISSA

Antes da morte do sacerdote, o mesmo havia pedido ajuda para João Paulo II. "Como um mendigo, tive que implorar para conseguir [sua atenção]", disse

FABIO PREVIDELLI PUBLICADO EM 24/03/2021, ÀS 11H49

Mural em homenagem ao arcebispo na Universidade de El Salvador
Mural em homenagem ao arcebispo na Universidade de El Salvador - Wikimedia Commons

Durante 12 anos (de outubro de 1979 até janeiro de 1992), El Salvador viveu uma intensa Guerra Civil, que colocou frente a frente o governo ditatorial de direita — apoiado pelos Estados Unidos — e a guerrilha de esquerda — organizada em torno da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) —, conforme explica o autor Noam Chomsky no livro ‘O que o Tio Sam Realmente Quer’, publicado em 1999. 

Temendo pela repetição de processos como o da Revolução Cubana na América Latina, os americanos injetaram 7 bilhões de dólares às forças governamentais e paramilitares do país da América Central durante uma década, segundo aponta relatório da Comissão da Verdade de El Salvador. 

Porém, assim como outros grandes momentos da história, esta passagem também possui um mártir: trata-se do Arcebispo Óscar Romero, que foi assassinado em 24 de março de 1980, há extados 41 anos.  

O ponto mais triste disso tudo, segundo biografia do religioso que foi escrito pela jornalista cubana María López Vigil, é que, pouco antes de ser morto, Romero chegou a pedir ajuda do Papa João Paulo II, que desprezou seu pedido de socorro. 

Uma vida dedicada à Igreja e ao próximo 

Nascido em 15 de agosto de 1917, Óscar Romero era um entre os oitos filhos do casal Santos Romero e Guadalupe de Jesús Galdámez. Oriundo do município de Ciudad Barrios, ele foi criado em uma família simples, tanto é que aos 12 anos teve que trabalhar como carpinteiro para ajudar nas despesas da família, como explica Robert Royal em ‘Os Mártires Católicos do Século XX’. 

Retrato de Dom Óscar aos 11 anos / Crédito: Wikimedia Commons

 

Paralelamente a isso, ele passou a estudar o sacerdócio, algo que sempre lhe chamou a atenção, conforme exposto em sua biografia. Logo, em meados dos anos 1930, ele acabou entrando para o seminário e, décadas depois, em fevereiro de 1977, foi nomeado Arcebispo de San Salvador, capital do país.  

Apesar de ser adorado e reunir uma quantidade cada vez maior de fiéis, muitos não gostavam do jeito combativo do religioso, que era árduo crítico das violações dos Direitos Humanos que via em sua comunidade, como apontam Michael A. Hayes e David Timbs em ‘Verdade e memória: a Igreja e os direitos humanos em El Salvador e na Guatemala’. 

A perseguição fecha o cerco 

No mês seguinte a sua nomeação como Arcebispo de San Salvador, Óscar viu camponeses e sacerdotes sendo assassinados pelas forças de segurança de El Salvador. Entre as vítimas estava Rutílio Grande García, padre jesuíta e um de seus grandes amigos, que vinha criando grupos de autossuficiência entre os pobres do país.  

Retrato de Dom Óscar em um seminário em Roma, em 1940 / Crédito: Wikimedia Commons

 

A perda teve um grande impacto na vida de Romero, que passou a denunciar cada vez mais as injustiças sociais presentes em El Salvador. Por meio de um espaço na rádio católica, logo passou a ser conhecido como “A voz dos sem voz”, como aponta artigo do Instituto Humanitas Unisinos.  

Além do mais, o arcebispo também pressionou o governo a investigar as mortes. Mas, segundo Hayes e Timbs, seu pedido foi ignorado. Como se não bastasse, a imprensa do país, que sofria censura, permaneceu em silêncio com o episódio.  

Quando a Junta de Governo Revolucionário chegou ao poder, em 1979, por meio de uma onda de abusos dos Direitos Humanos, Romero apostou todas as suas fichas em alguém que achava que pudesse lhe ajudar: o Papa João Paulo II

O encontro papal 

Em um primeiro momento, esse encontro entre os dois foi negado, mesmo assim, o arcebispo viajou até Roma para tentar conversão com João Paulo II. Segundo relatou à jornalista María López Vigil, que escreveu a biografia ‘Monsenhor Romero: Peças para um retrato’: “Como um mendigo, tive que implorar para conseguir [uma conversa com ele]”. 

Para isso, segundo explica, teve que acordar cedo para conseguir um lugar na primeira fila da Praça de São Pedro, onde João Paulo II fazia suas missas. Ao término das orações, pegou nas mãos do Papa e disse: “Sou o arcebispo de San Salvador, preciso falar com o senhor”, contou à María.  

Na reunião, levou diversos recortes de jornais e documentos que mostravam as atrocidades cometidas pelos militares em seu país. Os arquivos mostravam que a Igreja, ele e a população de El Salvador eram constantemente ameaçados.  

O encontro entre Dom Óscar e o Papa João Paulo II / Crédito: Wikimedia Commons

 

Porém, mesmo com todos os artigos, o que incluía uma foto do padre Octavio Ortiz, que foi assassinado, João Paulo II não pareceu sem importar com os relatos. 

A indignação ficou maior ainda quando Romero tentou dizer ao papa de que Ortiz era acusado de ser um guerrilheiro. Como resposta, ouviu um assombroso: “E ele não era. Monsenhor?”. Segundo a jornalista, a fala lhe deixou desconsolado, não acreditou que João Paulo II duvidada da índole do padre que havia sido cruelmente morto.  

O triste fim de Óscar Romero 

Depois de voltar da Europa, em 23 de março de 1980, Romero fez um sermão no qual exortou os soldados salvadorenhos, como cristãos, a obedecer à ordem superior de Deus e a parar de realizar a repressão do governo e as violações dos direitos humanos básicos, como aponta matéria da BBC. 

Na noite seguinte, em 24 de março de 1980, há exatos 41 anos, terminava de celebrar uma missa em uma pequena capela, no Hospital de la Divina Providencia, quando um automóvel vermelho parou na rua em frente à capela.  

De acordo com a BBC, um atirador saiu do veículo, foi até a porta da capela e disparou um — provavelmente dois — tiros em direção à Romero, que foi atingido no coração. Logo em seguida o carro saiu em disparada.  

O Arcebispo Óscar Romero foi sepultado na Catedral Metropolitana de San Salvador em 30 de março de 1980. Durante a cerimônia, bombas de fumaça explodiram nas ruas próximas à catedral e, posteriormente, houve tiros de rifle vindos de prédios ao redor, incluindo o Palácio Nacional, conforme aponta Roberto Morozzo della Rocca em ‘Oscar Romero: The Prophet of Hope’.   

Muitas pessoas foram mortas a tiros e pisoteadas na dispersão das pessoas ,que fugiam das explosões e dos tiros. Fontes oficiais relataram 31 vítimas no total, enquanto jornalistas afirmaram que entre 30 e 50 morreram, segundo Morozzo

Enquanto o tiroteio continuava, o corpo de Romero foi enterrado em uma cripta sob o santuário. Mesmo depois do enterro, as pessoas continuaram a fazer fila para homenagear o religioso martirizado, conta matéria da BBC. 

Em 1992, uma investigação conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu que o autor intelectual do assassinato foi o político de direita e ex-oficial do exército Roberto D’Aubuisson

Beatificado em 2015, Dom Óscar foi reconhecido como santo em 2018.