quarta-feira, 13 de junho de 2018

É o Evangelho produto do judaísmo antigo?

A Claudio Machado



Cristãos, mas antes de tudo homens e homens dotados de sentidos e racionalidade, admitimos, sem maiores problemas, que o 'ritmo' deste universo é progressivo ou que ele se desenvolve de fase em fase, de período em período, de era em era... aumentando em complexidade ou evoluindo. Esta Evolução, incontestável, é a um tempo física, química, biológica, psicológica e social. Sem ser 'simples' ou linear, mas complexa e sujeita já a recuos, já a variações, nem por isso deixa esta dinâmica de ser perceptível ou constatável.

Para nós a teoria sintética ou o que chamam de darwinismo mitigado é 'teoria' destinada a explicar um 'fato', este fato a Evolução. A Evolução não é apenas um esquema conceitual ou teórico elaborado pelo intelecto, foi e é algo real, algo que aconteceu e que acontece, em termos chãos - Um fato... Reconheço que a expressão é defeituosa, mas didaticamente aceitável.

A História do homem em Sociedade - porque jamais damos com o homem de Rousseau isolado dos demais como uma 'ilha' - segue a mesma trajetória, a qual não sendo linear - mas sujeita a crises e recuos em sua assunção cultural - nem por isso tornasse brusca no sentido de que os acontecimentos sucedem-se sem qualquer conexão ou relação, ou dependência face aos precedentes i é como algo totalmente insólito.

Há quem a partir de marcianos e atlantes ou mesmo 'magos' sustente o insólito. Deveriam no entanto começar pela demonstração da existência dos magos ou dos atlantes; ou da vinda dos marcianos a este mundo para carregar pedras... Dão por certo que as grandes construções legadas por Incas e Egípcios foram erguidas pelos extra terrestres, quando por meio da pesquisa séria e sóbria sabemos como, por que e para que nossos ancestrais edificaram tais monumentos - De modo que a navalha de Ockham acaba cortando os Ets ou tornando sua presenta absolutamente inútil... Afirma-los obstinadamente entra pelos domínios da antropologia filosófica, pois implica presumir muito pouco dos homens, digo, de nossos ancestrais. Puro pessimismo infundado.

Claro que a História humana conhece enigmas a serem melhor decifrados, e não são poucos. A escrita de Harappa é um deles, a escrita etrusca ou toscana é outro, o eclipse da civilização Maia, o povoamento das Américas, a trajetória de nossos primeiros ancestrais pela Europa e Ásia, etc São alguns destes enigmas a serem decifrados ou melhor resolvidos. Enigma humano ou ser humano por assim dizer 'deslocado' de seu sítio ou nicho há um só Jesus de Nazaré...

Apesar daqueles que aspiram por fazer de Jesus, numa perspectiva natural ou evolutiva, uma rabino convencional ou um bom judeu em perfeita sintonia com o judaísmo, ele continua deslocado e incompreendido, diria, empregando suas palavras, que ele converteu-se no escândalo da História, justamente por ir na contracorrente do universo natural em que nos movemos, e representar algo insólito.

Grosso modo o insólito não é aceitável do ponto de vista natural ou científico, como não são aceitáveis Ets, atlantes e magos... Mas Jesus ainda ai esta sendo cultuado, de um modo ou de outro, por bilhões de pessoas e quiçá levado mais ou menos a sério por algumas centenas de milhões, o que vem a ser impressionante se o tomamos por Mito. Quero dizer que para alguns cientificistas a única solução possível é negar sua existência afirma-lo como uma construção social feita 'a posteriori' - Compreenda-se um grupo de homens ou de seres humanos de uma época futura (mais evoluída) e certamente muito bem preparados em termos de cultura foram os responsáveis por construir sua 'estória' ou sua farsa...

O 'mito' de Jesus parece não ter sido um mito comum ou ordinário, de elaboração espontânea ou natural com seus defeitos, mas um mito muito bem construído, e por isso, segundo muitos - produto de uma ficção intencional. Jesus só pode ter sido uma falsificação elaborada por um grupo fora do tempo e ambiente natural em que esta situado. Em Jesus parece haver algo do extremo Oriente, associado a algo do pensamento greco romano mais refinado... Mas este Jesus viveu numa das regiões mais remotas e atrasadas do planeta e dentro de uma das culturas mais fechadas do tempo - Na Galileia, entre hostes de fariseus e essênios profundamente ciosos de sua cultura (até a arrogância) e respirando ódio face a tudo quanto fosse politeísta, idólatra ou pagão...

Jesus ficaria um pouco menos enigmático entre os sofisticados judeus de Alexandria, onde floresceu Fílon. Apresentando como poliglota, frequentante diário da Biblioteca de Alexandria e leitor compulsivo. Mas nada indica que tenha frequentado tal estabelecimento ao menos por uma ou duas décadas...

As grande rotas internacionais de cultura passam bem ao Norte, pelo Norte da Síria, outras, menos importantes, descem pelo litoral da Palestina, habitado pelos descendentes dos antigos pagãos fossem filisteus ou fenícios, até chegarem ao Egito. A cultura internacional não flui pelo meio da Palestina por ser pagã ou politeísta e portanto repudiada como má pelos senhores de Jerusalém. Suponhamos Jesus no Khumran, que encontraria ele em termos de literatura grega? Apenas a República ou algum outro livro de Platão... Será que todos os 'monges' essênios tinham acesso franqueado a este tipo de literatura gentílica parcamente representado? Podemos supor seu conteúdo restrito inclusive.

Por ser muito difícil conceber a figura de um Galileu do século I lendo a Darmapada em aramaico ou folheando as obras de Anaxágoras em grego clássico, a figura de Jesus foi lançada aos domínios do mito e sua existência negada desde os tempos de Emílio Bossi. Afinal tudo quanto não podemos compreender perfeitamente em termos de natureza causa espanto e assusta. A negação arbitrária só faz destacar ainda mais as dimensões deste vulto.

Ademais julgo que por mais genial que este homem tenha sido, caso se tivesse limitado a tecer eruditos comentários sobre a Tanak, a compor uns diálogos filosóficos em torno do Ser, a deduzir novas fórmulas que convulsionassem as matemáticas ou a inventar algum instrumento socialmente impactante... não teria sua existência negada. Creio que tentariam compreende-lo ou situa-lo, mas... Jesus foi Mestre de Ética. E que Mestre! Aquele que ensinou-nos a amar o próximo como a nós mesmos, a abster-nos de julgar e condenar, a cultivar a paz, a sobriedade e a misericórdia, a colocar-se no lugar do outro, a ajudar concretamente nossos semelhantes... Diante de tudo isto fica até fácil saber porque sua existência deveria e deve ser negada. Além de ser 'insólito' Jesus nos incomoda a partir de seus ensinamentos Éticos. Ainda hoje não estamos preparados para aceitar o outro, nos incomodamos dele e nos fazemos de vítimas... Se uma mulher se veste como homem ficamos indignados e enfurecidos - se mente, fofoca, agride fisicamente, tortura, mata, etc não nos indignamos!!! Se um homem coloca um vestido ou uma peruca nos mostramos melindrados - caso deixe de pagar pensão ao filho pequenino, nos limitamos a sorrir... O ano 2018, e como ainda estamos próximos do pensamento daqueles 'homens de bem' que mandaram crucificar Jesus após terem-no apontado como imoral, como ainda carregamos alegremente o jugo dos fariseus hipócritas! E mesmo assim, parte de nós paga seu tributo ao fingimento declarando-se Cristão. Poucos estão dispostos, como o Dr Binet Sangleé, a declarar que Jesus era louco ou a classifica-lo como canalha ou positivamente mau.

Claro que aqui a negação apresenta-se como a atitude mais oportuna ou conveniente. Admitir sua existência ou leva-lo a sério e refletir escolasticamente sobre o tema até a derradeira conclusão seria assaz perigoso. Caso admitamos que este homem existiu de fato e consideremos racionalmente sua existência como deixar de concluir com o já citado Rousseau que se a morte de Sócrates foi a morte do maior de todos os mortais, a morte do Nazareno foi como a morte de Deus??? O perigo esta posto e a negação é a melhor saída...

No entanto este Jesus não é um marciano vindo de Órion ou das Plêiades numa nave espacial... Nem cobre seu túmulo uma lápide como a de Pakal, rei de Palenque... Tampouco é este Jesus uma espécie de missionário Atlante como Quetzalquoatl ou Kon tiki Viracocha, ou Tonapa, ou Sumé... o qual evapora-se na direção do mar oceano. Nem é uma espécie de Merlin a mover as pedras de Stonehange com sua varinha de condão... Tampouco apresenta maiores semelhanças com os deuses 'tarados' do paganismo antigo... Afortunadamente ele não se identifica com Hórus, com Tamnouz ou com Mitras como asseveram todos esses panfletários que pouco ou nada sabem sobre mitologia antiga, ignorando seriamente o caráter de tais deidades... Mas eles vão garimpando por ai e a gente simples lhes dá ouvidos.

Evidências Históricas a respeito da existência de Jesus há diversas - O original de Josefo, reconstituído pela soviética e ateia Dra Irina Sventsitskaia, o Talmude dos hebreus, Paulo, Tácito, Plínio, Suetônio... No mínimo.

Assim a negação da existência de Jesus até pode ser um recurso prático e fácil, o que de modo algum supõem é honestidade. Se Jesus não existiu personagem alguma do nosso passado existiu, afinal o que dele se exige, num contesto peculiar inclusive, não é exigido por mais ninguém e pouquíssimos dos grande homens de Roma ou Atenas passariam pela 'prova' arbitrária dos positivistas...

Agora, admitido que este Jesus tenha existido, como teria pensado sua relação com o judaísmo???

Pensou-a ele???

Exprimiu-a???

E com que palavras, luminosas e claras -

"O vinho novo não cabe nos odres velhos - Se você tentar colocar o vinho novo dentro dos odres velhos, os odres se rompem."

Ao que parece Jesus tinha plena consciência de que sua mensagem transcendia os limites estreitos da fé judaica ou da lei de Moisés ou da Tanak. Sabia que estava ultrapassando e superando a religião de seus ancestrais. Estava perfeitamente cônscio quanto a Revolução que suas palavras acalentavam. Sabia muito bem que não era um rabino beócio ou conformado com o judaísmo rabínico. Jesus não apenas contestava, questionava e criticava o que os demais consideravam sagrado ou tabu - sabia que contestava e compreendia o valor da contestação.

Leiam o Sermão do Monte e depois me digam se face uma religião REVELADA como judaísmo ou islã, não temos ai uma declaração de guerra???

Vocês sabem o que foi ensinado aos ancestrais declara Jesus, e adiciona ou acrescenta 'sacrilegamente' (sic): Eu porém vos digo! Ele opõem seu próprio EU, sua autoridade (sic) as tradições religiosas do povo, a Tanak, a Torá, a Moisés, aos Sacerdotes...

É exatamente aqui que manifesta-se a desonestidade, surpreendentemente arquitetada não pelos ateus ou materialistas de nossos tempos, mas por clérigos 'cristãos', pastores protestantes de modo geral, mas também alguns padres (como a besta do Pe Murillo), todos judaizantes. Pois bem que dizem estes senhores? Dizem que Jesus não esta, de modo algum, a criticar ou a contestar Moisés, a Torá, a Tanak ou ao que chamam de Velho testamento, mas as tradições orais dos fariseus que posteriormente vieram a formar o que chamamos Mixná e Guemara... As quais, acrescentam maliciosamente tais homens, haviam corrompido o judaísmo ou a lei de Moisés. De modo que Jesus esta pura e simplesmente removendo a impureza talmúdica e combatendo para restaurar a pureza da lei de Moisés ou para reformar o judaísmo; não para demoli-lo.

Estarão certos?

Basta analisarmos tanto mais de perto cada parcela do Sermão do Monte para constatar indubitavelmente que não. Que Jesus não esta a contestar o rabinismo, o farisaismo, o talmudismo, mas as próprias leis de Moisés, a fonte mais remota do judaísmo antigo e tida em conta de sagrada ou divina. É a ela, a lei de Moisés, que Jesus golpeia sem misericórdia, declarando que estava errada! Por isso contesta a medula por assim dizer daquela lei, que era a doutrina de Talião ou 'Olho por olho - dente por dente'... Mas semelhante expressão não se encontra na lei mosaica, declaram os desonestos. De fato tal expressão não se encontra literalmente presente na Tanak, sem que por isso deixe de ser seu princípio operatório e presente em diversos de seus preceitos, assim 'Aquele que matar será morto'... Poderás odiar tem adversário i é o princípio da vingança ou da justiça com as próprias mãos, de que resultou a instituição dos locais de refúgio... Jesus diz que tudo isto é grosseiro, bárbaro, inaceitável... Não se pode odiar ao inimigo, exercer vingança, perseguir, matar como autorizava expressamente o judaísmo antigo em nome de Deus! É mister amar, estar sempre disposto a perdoar, confiar na justiça divina, abster-se de matar, cultivar a paz, etc Como negar que estamos diante de uma outra lei, a lei do Evangelho, verdadeira lei dos céus, autenticada pelo que há de melhor em nós???

A lei dos judeus autorizava a vingança e a matança. Jesus nos proíbe até mesmo de ultrajar os contrários (dizendo louco) e nos manda dar a outra face quando atacados! Decreta que estejamos perpetuamente abertos ao perdão (perdoai setenta vezes sete). Declara que devemos amar os inimigos, sim amar os inimigos! Você pode buscar por esse amor universal no judaísmo antigo e não o encontrará e menos ainda pelo amor aos inimigos, o qual, como observa S Freud, não existe no judaísmo e nem poderia existir por ser, declara Freud - absurdo.

Quanto ao amor ao próximo ou a todos os homens poderá aventar, com certa plausibilidade, que Jesus tenha plagiado o chinês Mo Tse, que viveu cinco séculos antes dele e a mais de dez mil kilometros - Ah, e cuja doutrina já estava esquecida há muito entre os antigos chineses ao tempo de Jesus. Saberia Jesus ler ideogramas chineses? Teria ido a Chine e voltado? Haviam os escritos de Mo Tse sido traduzidos ao aramaico ou ao grego??? Busquem pelas evidências... Agora uma coisa é absolutamente certa: No contesto do judaísmo estamos diante de uma novidade que não é nem um pouco lisonjeira face a antiga religião - Favorável ao etno centrismo e a vingança.

Mas, dirá algum afoito - Jesus mesmo declarou que traço ou pingo algum da Lei passaria e que não havia se manifestado para demolir a Lei e as profecias.

Claro que não podia demolir as profecias, cujo objetivo era anuncia-lo previamente, mas concretiza-las. E também não podia demolir a essência da verdadeira Lei positiva, expressão da mesma Lei natural, manifestação da vontade de Deus e portanto de sua vontade. O cerne da questão implica em saber qual seja esta Lei divina e é exatamente aqui que Cristãos e judaizantes separam-se definitivamente. Pois os judaizantes como os judeus imaginam que Jesus esta a falar na permanência ou divindade de toda Torá ou mesmo da Tanak, que ora chamam Bíblia. Enquanto nós Cristãos compreendemos que esta Lei divina ou Revelada restringe-se ao DECÁLOGO ou aos assim chamados dez mandamentos, que eram a versão da lei natural corrente entre os antigos judeus. Para nós esta é a Lei divina e inviolável e não a totalidade da Torá ou da Tanak, elemento puramente natural e não revelado que identificamos com a cultura judaica. Essa cultura judaica para nós é puramente humana, nada tendo de sagrada. Assim o restante do código judaico ou as normas e regras que estão para além do Decálogo, as quais puderam ser livremente criticadas e contestadas por Jesus.

Isto é tão certo que atualmente os próprios judeus, em sua maioria, abriram mão de tais leis, reconhecendo-as como puramente humanas, porquanto também entre eles a lei evoluiu e já não podem viver como seus bárbaros ancestrais. Alias os judeus não costumam lançar objeções demasiado sérias a respeito e sentem-se muito pouco apegados a seus mitos, fábulas e leis; a exceção de algumas poucas que são exequíveis. Aqui os judaizantes mostram-se sempre muito mais obstinados... E no entanto, tal e qual os judeus modernos, nem mesmo eles podem viver a Torá em sua totalidade como os antigos judeus; enfim eles defendem uma solução que não colocam em prática porque de modo geral vestem-se e alimentam-se como os demais... Apenas um grupo de protestante peruanos ousou restaurar, em pleno século XX, o modo de vida dos judeus ao tempo de Cristo substituindo calças e camisas por túnicas e automóveis por cavalos e camelos... Nem preciso dizer que habitam em tendas e usam madeira e fogueiras para cozinhar, enquanto suas mulheres manuseiam o tear e o moedor de grãos. Felizmente, esta espécie de menonismo ultra ancestral, é fenômeno isolado. Os demais judaizantes não são tão sérios e contentam-se apenas com discursos pomposos em torno da tal lei de Moisés concentrando seus fogos nos Catolicismos, a que chamam de idolatria e no espiritismo, a que chamam de magia...

Os judaizantes não se mostram menos profanadores do que nós na medida em que, após terem afirmado a integralidade da Lei dos judeus ou da Torá como revelada ou divina, põem-se a selecionar o que vale e o que não vale como se Deus e as coisas divinas pudessem variar, mudar ou sofrer alteração. Por isso estão divididos em tantas e tantas seitas conforme aceitam ou repudiam este ou aquele regulamento da lei dos judeus. Assim há entre eles que retorne a dieta dos antigos judeus como os adventistas do sétimo dia, há quem repudie a transfusão de sangue como as jeovistas, há quem condene o uso de tatuagens como certas seitas pentecostais, há quem condene a moda unisex, há quem condene o corte da barba por parte do homem, etc, etc, etc Cada seita faz seu talho e escolhe seu corte ou pedaço da lei dos judeus, o qual canoniza... Desprezando todos os outros rsrsrsrsrsrs Tal a cegueira deles, porquanto esta escrito: Quem pecar contra um regulamento da lei pecou contra a lei toda! Assim selecionando profanam a totalidade da Lei que teimam em declarar como sagrada; mas que de modo algum vivem ou põem em prática.

Por isso Jesus procedeu liberalmente com relação as demais partes da Lei dos judeus tornando-se Herético para eles - O grande herético do judaísmo. Porque declarou sua dietas e distinções alimentares absolutamente vãs. Porque avaliou suas abluções como inúteis. Porque opôs-se a guarda supersticiosa do Sábado. Porque violou todos os seus preconceitos de natureza moral estabelecendo contado com - Prostitutas, publicanos, homossexuais, pagãos, crianças, leprosos, pescadores, etc tudo quanto era desprezado ou odiado pelo farisaísmo azedo. Deixou-se tocar por leprosos... E conversou a sós com uma mulher - samaritana e pecadora - junto ao poço!!! Para nós, aquele que nós fez o bem, foi santo e impecável, mas para os judeus foi um grande pecador. Pois violou conscientemente a lei que teem por divina.

Jesus foi tão contestatório para os judeus de seu tempo quanto os anarquistas e comunistas de hoje para os conservadores. Não que ele tenha sido anarco individualista ou comunista, as perspectivas de Jesus eram outras e ele não dos parece nem individualista, sob qualquer aspecto, nem autoritário ou totalitário. Postulou a autoridade, no caso divina, sem - a modos de jave - eliminar por completo a esfera da liberdade humana. Postulou a justiça e uma igualdade relativa sem endeusar a autoridade humana ou recomendar métodos violentos como uma bula de remédio. De modo geral exerceu a paz e foi pacífico; mas quando teve de erguer o chicote não hesitou, parece ter sido moderado ou equilibrado em todas as circunstâncias, quando por via de regra são os homens exaltados e amigos do extremismo.

Não me parece que se opusesse as solução democrática ou policrática ou a uma igualdade relativa em termos sócio econômicos - O Evangelho diz que ele pura e simplesmente não levava em consideração as distinções sociais de que tanto fazemos caso, e que tratava a todos, grandes e pequenos, da mesma maneira - Sem fazer acepção de pessoas... Não posso deixar de classifica-lo como socialista. Não é claro como um socialista naturalista, materialista ou economicista do século XIX - sobre o qual pesa a condenação da Igreja - mas como um Socialista Religioso dos tempos pretéritos a maneira de Urukagina de Lagash ou dos antigos profetas (Como aquele que disse: Amaldiçoado seja o que adiciona casa a casa, campo a campo...). Tornou-se vanguardista até nossos dias por ter condenado categoricamente o acumulo ilimitado de riquezas ou bens materiais: 'Não acumuleis bens neste mundo em que a traça e a ferrugem destroem, juntai bens no mundo celestial' foi ordem sua a que muitos ainda hoje se fazem moucos, fingem ignorar ou o que é pior falseiam descaradamente. E para que não pudesse haver escapatória ou alternativa aos desonestos, adicionou: Não podeis servir a Deus e as riquezas. Ai daquele que cogitar 'ganhar o mundo inteiro' - expõem-se a apartar-se de seu destino espiritual... "Mais fácil é uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus."... Em Mateus cap vigésimo quinto, determina que sejamos solidários e atentos as necessidades de nossos semelhantes - Tive fome e me destes de comer... tive sede... - com os quais identifica-se. Retira a caridade da esfera da livre vontade e converte-a em lei > Amai-vos uns aos outros e sereis meus alunos... Como resultado disto temos que os primeiros Cristãos vendiam seus bens e adotavam vida regular e comum, de modo a não existir necessitados entre eles. Pobres certamente existiram durante todo tempo em que viveram os santos apóstolos, fabricados pelo judaismo e paganismo antigo, não pelo Cristianismo, cuja regra de vidas era a partilha. Paradoxalmente os Cristãos acreditavam que quanto mais partiam seus bens materiais com os irmãos, mais ricos se tornavam porquanto investiam nos céus ou no mundo espiritual.

A bem da verdade a Lei dos judeus era muito interessante neste sentido, e como o amigo Carlos Seino, não posso deixar de admirar as instituições da reforma agrária, dos jubileus, da colheita, cobrança de jurus, etc Sabendo que ao tempo do Senhor tais leis já não eram postas em prática há séculos e que, curiosamente, judaizante ou sectário algum tentou restabelece-las (também nenhum deles cogitou cortar a pele do pênis ou restabelecer a circuncisão)... O que quero dizer é que tais reflexões, semelhantes aos do velho Sócrates, em torno da vida sóbria, moderada, regular ou temperante, deve ter chocado bastante os nababos fariseus... Como atualmente choca os neo fariseus 'cristãos'...

Aos que aspiravam pela perfeição recomendou que vendessem todos os seus bens e dessem aos pobres... Se queres ser perfeito... E da perfeição fez uma exigência para os seus: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito...

Alias mesmo sendo de origem divina - Não podemos deixar de chegar a esta conclusão - Jesus reconheceu a livre iniciativa humana, daí ter deplorado a opção dos habitantes de Jerusalém, os quais recusaram-se a tomar seu jugo... E dizem ter chorado a triste sina da cidade.

Não apenas chocou os antigos judeus. Continua a chocar, perpetuamente os judaizantes de toda casta... Os autoritários, os capitalistas/materialistas, os maniqueus, os puritanos... Enfim a toda essa gente...



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