sexta-feira, 22 de junho de 2018

Judaísmo, Paganismo e Cristianismo ou - O que a Igreja tomou do Paganismo?

Embora ousemos considerar o Cristianismo Católico (Ortodoxo) enquanto Ética e fé, como um fenômeno sobrenatural ou Revelado não podemos negar que esta auto comunicação do Sagrado tenha ocorrido no tempo e no espaço, alias num contesto cultural judaico, do que resultaram uma série de conflitos, um processo religioso e uma condenação, um homicídio.

Pois bem, nós não negamos que esta Revelação sobrenatural tenha ocorrido num cenário natural, e num cenário dominado pela cultura hebraica. O que nós não enxergamos é a suposta harmônia natural entre esta nova fé e a fé antiga. Jesus não nos parece muito bem enquadrado ou situado na Sinagoga. Foi o quanto procuramos demonstrar no artigo precedente.

Acabo de receber um exemplar da Folha universal ano 25n 1366 Ed de 17 de Junho de 2018 e constato, nas pags 04 e 05 que a IURD adotou vestimentas israelitas... Já construíram uma paródia do Templo dos antigos judeus, além de cultuarem menorás, arcas do pacto, estrelas e outros tantos símbolos do judaísmo antigo... Com dois mil anos de atraso. Grosso modo grande número de seitas pentecostais teem judaizado desde o século XIX ou adotado instituições do judaísmo antigo, após seus ancestrais, os 'deformadores' do século XVI, terem denunciado o sacerdócio Cristão como plagio do judaísmo ou do paganismo antigo e assim quase todo ritual, ao menos segundo a corrente dos calvinistas, os quais, surpreendentemente, morriam de amor pelo antigo testamento.

O calvinismo por sinal canonizou e reforçou um erro basilar, do qual a mente protestante jamais logrou furtar-se por completo. Lutero, aproximando-se do grande Marcion e reforçando algumas posturas do Cristianismo medieval - em que pese ter confundido as coisas e anunciado o anti semitismo - tinha consciência de que o Cristianismo e o Judaísmo correspondiam a mentalidades ou crenças diferentes e repudiava portanto uma dependência total do primeiro face ao segundo. Paradoxalmente o irracionalista Lutero não achou prudente alardear a versão tradicional a respeito da 'revogação' do judaísmo, o qual folgava apresentar como uma falsa religião, sem prestar maiores esclarecimentos. Calvino, embora fosse racionalista, abraçou com fervor a opinião corrente a seu tempo, alardeando que o Judaísmo correspondia a uma Revelação ou dispensação divina revogada em benefício de outra, a saber do Cristianismo... Teria assim o Cristianismo substituído o judaismo segundo ainda podemos ler em diversas apologias...

Num segundo momento os calvinistas foram deparando com diversos pactos ou alianças no corpo do antigo testamento, as quais haviam substituído umas as outras até chegarem ao Cristianismo e em tese atingirem sua perfeição final... Segundo declaram os mal orientados houve uma revelação Davídica, uma Noaquica, uma Abraâmica ou patriarcal e uma Sacerdotal ou Mosaica que teria vigorado até ser derrogada em benefício da Instituição Cristã. De modo geral é assim que contam embora hajam outras versões conforme é próprio da imaginação e da fantasia humanas. Os pentecostais tem partido dessas fantasias, menos e bem menos que de Joaquim de Fiore, deduzindo um novo pacto mais intenso, com o espírito santo... E a quem encaixe a suposta queda da Igreja antiga e a manifestação do protestantismo neste mesmo quadro... Afinal se existiram outras tantas revelações e alianças precedentes, todas revogadas e substituídas, quem nos garante que este movimento haveria de cessar? De modo que a Encarnação de Deus fica correspondendo a um evento apenas dentre tantos outros, até perder seu significado único...

O que queria dizer é que para os calvinistas o Judaísmo foi uma espécie de Cristianismo antigo, cujos mistérios haviam sido anunciados simbolicamente ou por meio de linguagem cifrada... Há inclusive quem empregue o termos 'igreja antiga', 'igreja judaica' ou 'igreja de Moisés', e por ai vai... Uma coisa é certa, todo Cristianismo, em termos de doutrina, ai estava, contido alegoricamente na religião do antigo Israel, na Torá, na Tanak, etc

Apesar disto, de par com os supostos elementos doutrinas Cristãos ou alegóricos, havia também diversas normas, regulamentos, estatutos, ensinamentos... Tipicamente judaicos, os quais, segundo pensam os calvinistas, eram igualmente sagrados enquanto produtos de uma comunicação divina. Os calvinistas acreditam que tudo quanto esteja registrado na Tanak ou AT seja divino. Creem portanto que a ordem para exterminar os cananeus partiu indubitavelmente do 'Bom Deus' de Jesus Cristo ou daquele Pai de Amor descrito no Novo Testamento. Eles creem que a legislação dos antigos hebreus, em sua totalidade, seja de origem divina e portanto que o Deus verdadeiro tenha sancionado não apenas a pena de morte e de morte dolorosa tendo em vista certos crimes de natureza civil, mas que tenha inclusive sancionado a execução de dissidentes religiosos e portanto condenado a doutrina do liberalismo religioso. São obrigados a crer que existam 'bruxas' ou feiticeiras como as de Salém e estão obrigados a queima-las sob pena de irreverência! E em outras tantas normas e regras devem crer como aquela que proíbe o corte da barba, que regula a semeadura dos campos, o uso de tecidos diferentes no vestuário, a dieta, etc E ELES CREEM E ALARDEIAM CRER QUE TUDO ISTO É DE ORIGEM DIVINA, MAS... ao contrário dos judeus ortodoxos, não buscam viver tais leis ou coloca-las em prática!

Mas como???

Observe agora a mágica dos calvinistas ou dos protestantes de modo geral...

A primeira coisa que fazem ao cruzar com um espírita é anunciar que a evocação dos mortos foi proibida pela Lei de Moisés no Antigo testamento... E com que empáfia o anunciam!

Dão sorte quando o espírita é de origem simples, se é ingênuo ou mal informado. Do contrário não tardarão a ouvir boa réplica: Ueh naquela mesma lei que proíbe os fiéis de comerem chouriço ou galinha a cabidela??? - Nosso espírita poderia citar centenas de regulamentos mosaístas que nossos protestantes violam sem maior cerimônia como o da tatuagem, o dos tecidos, o da barba, o da exposição a nudez ( e a maior parte de nossos protestantes vão a praia!), etc

A esta altura nosso calvinista, após engolir um pouco de saliva, responderá sem abalar-se muito (ele sequer tem noção do que esta a dizer!) - Acontece que nem todas as leis do antigo testamento permanecem válidas... Aqui atalhará um papista abelhudo - Mas o que do Antigo Testamento não foi abolido a exceção do DECÁLOGO???

Aqui nosso protestante literalmente pira, pois compreende que sua estratégia seletiva foi desmascarada... Afinal quem é que decide o que vale ou não vale do antigo Testamento; digo das leis civis e cerimoniais??? Afinal os incisos da barba, dos tecidos, da semeadura, da terra, etc JAMAIS FORAM POSITIVAMENTE REVOGADOS PELO MESTRE... Estarão todos valendo??? Neste caso por que nossos calvinistas não os cumprem, começando pela reforma agrária??? Deveriam ser todos confirmados ou validados por Jesus? Neste caso só nos resta a parte imposta ao jovem rico, a Lei moral ou o Decálogo, vindo todo resto da Torá abaixo... Aqui nosso protestante fica já desconsertado pois já não pode condenar o espiritismo ou os espíritas sem que sejam também eles fulminados pela 'boa' lei de Moisés, afinal S Tiago é absolutamente claro: QUEM VIOLA UM INCISO DA LEI VIOLA-A EM SUA TOTALIDADE... portanto se uma norma qualquer Lei judaica foi revogada é porque ela jamais fora revelada por Deus, sendo de origem puramente humana. Afinal Lei divina alguma pode ser revogada... Se você violar uma norma ou regulamento divino torna-se impuro ou sacrílego...

Mas os Cristãos jamais foram obrigados a cumprir qualquer lei judaica ou a viver a moda dos judeus, e por que? Porque os Cristãos sempre souberam que a cultura judaica era de origem puramente humana... Os protestantes, mais do que os papistas - logo avançando - é que divinizaram em vão a totalidade da Torá, criando uma tempestade em copo dágua para si mesmos. Afinal se com um raio fulminam os coitados dos espíritas com outro feixe de raios são fulminados pelo jao, no mesmo momento em que comem torresmo ou fazem a barba... Não podem viver atualmente o judaísmo, como nem mesmo os judeus ortodoxos conseguem vive-lo em sua integralidade. Observem os judeus moderados em compreenderão o que estamos falando.

Então seja assim dirá nosso calvinista contrariado. Se é certo que tais regulamentos e normas não valem mais e não regulam a instituição Cristã é certo que vigoraram no passado e que foram revogadas. Aqui o Neo Católico ou o luterano, por piedade ou complacência silenciará ou concordará e mesmo a quase totalidade dos nossos Ortodoxos. 'Nom nobis', nom nobis; pois em boa consciência perguntaremos a nosso calvinista como poderia Deus, sendo imutável e sem sombra de variação, mudar ou substituir uma 'lei' por outra??? E não se diga que ele, Deus, meramente desenvolveu ou ampliou esta lei na mesma direção porque, como vimos, uma autoriza a matança dos dissidentes religiosos - negando o valor da liberdade religiosa - enquanto outra reconhece que os homens são livres para não querer (Eu quis recolher teus filhos como a galinha recolhe o pintinho debaixo de suas asas e tu não o quisestes) e para resistir, sem que Jesus se mostra disposto a fulmina-los com raios, como queriam os Zebedeus! Aqui, onde há Espírito, parece haver liberdade; e mal sabem os Zebedeus por que espírito ou porque valores estavam sendo guiados, mas certamente não eram os valores daquele que disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei! Ali os sacerdotes assumem o governo secular e comandam o extermínio ou reis são supostamente escolhidos e entronizados por Deus - Aqui a lei ou preceito é totalmente distinto: Daí a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Lá, naquela outra suposta lei divina, é deus quem associa, mistura e confunde... aqui, na Lei divina do Evangelho, a mancebia entre os poderes esta condenada e a teocracia perpetuamente maldita!

São leis totalmente diferentes, dando a antever mentalidades diferentes... Como portanto atribuir ambas as leis a mesma fonte, no caso Deus??? E sustentar ao mesmo tempo, honestamente, que este Deus seja imutável e sem sombra de variação. Quem não percebe que da Torá ao Sermão do Monte a mudança é drástica e alteração clamorosa? Que deduzir sinceramente a partir disto senão que o Verbo Encarnado Jesus Cristo encarava a Lei dos judeus como uma Instituição verdadeiramente humana e não divina? Como poderia ele criticar algo divino sem tornar-se sacrílego ou blasfemo??? Se se opõem, se emenda, corrige, revoga, etc é porque não lhe reconhece a divindade??? Como criticar liberalmente o que é divino? Como selecionar elementos a partir duma Lei revelada??? Todo discurso protestante ou calvinista sobre a matéria mostra-se equivocado e falacioso!

Então prepare-se para o paradoxo!

Pois o judaísmo era uma religião sacerdotal, que atribuía, segundo a Torá, o estabelecimento do sacerdócio a uma iniciativa divina. Pois bem que pensa o Calvinismo sobre o sacerdócio Cristão? Que é uma cópia do judaísmo ou do paganismo... e que o Cristianismo de Jesus - pasme - seja anti sacerdotal!!! No sentido de que Jesus apenas é sacerdote... sem que haja necessidade de outros sacerdotes conectados a ele. E o judaísmo, a que reputam por sagrado e revelado é sacerdotal, obedecendo a um princípio sacerdotal, que eles protestantes condenam!!! Agora como poderia este princípio ter sido divino e vigorado se Jesus é o único sacerdote??? Por conexão, respondem os protestantes. Os sacerdotes judeus representavam e por isso comunicavam algo de Cristo aos antigos judeus... Daí a validade relativa de se sacerdócio. Ueh, mas se o sacerdócio anterior a Cristo, exercido por judeus, podia tomar sua eficácia da conexão, por que raios não poderiam os apóstolos e seus sucessores, que viveram a realidade e na realidade de Cristo, exercer o mesmo sacerdócio ou um tipo análogo por conexão??? Qual o problema??? Não pode - responderá nosso embibliado, posto que a mentalidade de deus é oposta ao sacerdócio ou anti sacerdotal... E haviam sacerdotes no judaísmo antigo cujo sacerdócio era válido... Ao que parece a mentalidade de deus mudou ou sofreu alteração???

Aqui os protestantes, mostrando seu espírito ou viés neo platônico, tomado a Zwinglio, opõem-se tanto ao judaísmo antigo quanto ao antigo paganismo e afastam-se do universo inteiro, por repudiarem o padrão sacerdotal... Mas não ficam por aqui, são ousados, vão além, e negam todo e qualquer aparato simbólico ritual ou litúrgico, opondo-se mais uma vez ao judaísmo antigo e ao antigo paganismo, como neo platônicos que são, a exemplo de Ulrich Zwinglio.

Judeus e pagãos ofereciam sacrifícios sangrentos a seus deuses, e nós não cremos que os sacrifícios dos primeiros ou de quaisquer outros fossem solicitados pela Santa divindade. Mil trezentos e cinquenta anos antes desta Era o faraó Aknaton decretara que os sacrifícios sangrentos fossem substituídos por sacrifícios de flores, frutos e perfumes. Posteriormente foi a vez de Çakia Muni, Sidarta Gautama, Tatagata ou Buda como costumamos dizer, cancelar tais sacrifícios entre as gentes do oriente, substituindo-os do mesmo modo por flores e perfumes... Já o Cristianismo antigo compreendeu que podia ter acesso ao sacrifício de seu fundador manipulando o pão e o vinho, estabelecendo um sacrifício incruento de louvor.

Os elderes do passado, a seu tempo, consideraram que esta quebra do tempo e do espaço ou este sacrifício de pão e vinho era algo demasiado solene para permanecer despojado daquelas cerimônias simbólicas a que a humanidade como um todo atribuía tanto valor. E por isso, guiados pelo Espírito prometido e depois pela prudência e pela sabedoria apropriaram-se do aparato ou linguagem simbólica comum a humanidade, e revestiram este sacrifício de uma pompa e solenidade magníficas. De fato, sabendo que a divindade fosse perfeita, pagaram tributo estético a beleza impulsionando a expressão da arte.

Disto resultou que a exemplo dos queridos hebreus, aos quais não faltava certa noção de reverência, consagraram a Santa divindade as coisas ou objetos que empregavam no culto público e dedicaram-lhe além de altares acessórios e alfaias ou seja cálices, castiçais, turíbulos, vasos, ânforas, cruzes... e toalhas, cortinas, véus... E certas roupas, que vieram a converter-se em paramentos... E cruzes, evangeliários, ícones, etc E templos... e uma arquitetura específica. E instrumentos musicais, como o órgão... E sinos (Jarash)... Tudo com o objetivo de abrilhantar este culto. Mas não se limitaram aos elementos materiais, pensando da mesma maneira na ação humana, em como coordena-la de modo harmonioso e sóbrio. Surgindo a ordenação das preces, os hinos, a poesia... O Calendário litúrgico com as festas do Senhor tomadas ao Evangelho... A regulação do Culto ou liturgia com seus gestos ou sinais simbólicos cada um dos quais contém um ensinamento ou uma mensagem didática a ser comunicada a gente simples - Daí o emprego de cores diferentes para cada tempo.

Tudo isto construiu a mãe igreja com sabedoria e prudência, ao largo dos séculos, servido-se das mais diversas culturas e tentando encontrar elementos comuns. Embora não deixasse de se adaptar a certas particularidades culturais, do que resultaram diferentes liturgias ou ritos numa saudável variedade.

De modo geral os protestantes atribuem a origem de todo este aparato, odioso, ao paganismo antigo e costumam apresenta-lo como uma contaminação, noutras palavras, como a apostasia da igreja apostólica, e isto é necessário para que possam justificar sua reforma i é sua própria existência. Grosso modo os esotéricos como Ledbeater e A Besant, referendam esta versão, aceita por grande parte dos Cristãos Católicos.

Chegando a este ponto temos de fazer algumas observações.

Nem são os atuais judeus neo platônicos ou infensos a simbologia ritual; como seus ancestrais não o eram.

Se é verdade que os antigos judeus não estavam plenamente sintonizados com a imanência - Pelo simples fato de que jao é um ser puramente espiritual e informa que jamais se encarna ou assume aparência humana - seria faltar totalmente com a verdade caso os apresentássemos como totalmente desvinculados dela, a maneira de muçulmanos sunitas ou melhor de neo platônicos e já adiantamos que fé alguma assumiu de tal modo e maneira o ideal neo platônico como o protestantismo de matriz Zwingliano/calvinista.

É verdade que os protestantes esforçam-se por nos apresentar os antigos judeus sob tal prisma pelo simples fato de não poderem confeccionar representações de jao ou mesmo de seus ancestrais, os patriarcas e profetas. Os fariseus, antes dos protestantes, pareciam querer ir em tal direção... No entanto o culto legítimo, autorizado pela escritura ou pela lei deles era oficiado por sacerdotes num templo, o que pressupunha toda uma ordenação ritual bastante semelhante a do Catolicismo ou do Paganismo antigo; não os antigos judeus não fugiam a esta regra e não eram nem um pouco 'espiritualizados' ou neo platônicos, a ponto de olvidar que eram espíritos postos em corpos físicos ou materiais e não espíritos desencarnados.

De fato não possuíam imagens ou representações. O que não tornavam o culto deles menos pomposo ou solene do que o culto pagão. Ficando o culto protestante ou 'espiritualizado' e despojado de símbolos, vagando em mesmo as nuvens da religião a exemplo da sogra de Pedro... Alguns batistas neste sentido assumem de imediato a inusitada pretensão protestante, segundo a qual o cristianismo, em oposição ao judaísmo, ao paganismo e a condição humana, teria inaugurado ou inventando um novo padrão de culto que é só seu e que pode ser definido como um repúdio a todas as formas de aparato simbólico ou mesmo de simples organização ou forma. Não se trata aqui apenas e tão somente de um culto completamente despojado de elementos materiais mas de um culto decididamente espontâneo ou subjetivo conduzido por supostos profetas, videntes ou inspirados... A ponto do culto público protestante nada ter de comum, convertendo-se numa mera associação temporal de cultos individuais - Isto a ponto de cada fiel ajoelhar-se numa direção distinta...

Claro que a pretensão nem é judaica, nem Pagã, nem Cristã, mas protestante e de origem neo platônica. Os antigos judeus como os judeus de hoje possuiam arcas, vasos, tabernáculos, rolos, mantos de oração, menorás, lampadários, trombetas, livros, procissões, gestos, etc Na Sinagoga de Dura, inclusive, representações de seus ancestrais e de outros tantos símbolos que lhes eram caros... Quanto as cerimônias do templo é possível fazer alguma ideia a respeito delas e de sua orientação apenas folheando o antigo testamento. O certo é que muito antes de Cristo os judeus piedosos adicionaram outras tantas festas e criaram um calendário... E que cada uma destas festas possuía simbologia própria, comportando um ritual. Os Salmos que os protestantes tanto estimam (Tehilim) eram o hinário dos antigos hebreus e já se vê por eles que empregavam a repetição ostensivamente... A respeito dos pagãos a regra era mesma e não ficavam atrás dos judeus. Eram tão reverentes a ponto de regressarem ao início de uma cerimônia caso o sacerdote cometesse algum erro mínimo... Como os judeus eles aspergiam seus profitentes com água, ungiam-nos com azeite...

O Cristianismo foi desde o princípio ou desde seu berço que é o Evangelho uma fé sacramental em sintonia com a matéria ou com o corpo físico. Jesus bem podia ter curado o cego com o poder de sua palavra, mas quis empregar barro e saliva - Os protestantes chamem-no de bruxo, mago ou feiticeiro caso queiram. O Certo é que ordenou o uso do pão, do vinho e da água, que são elementos materiais; e isto nos parece muito pouco espiritualizado ou neo platônico. Queiram ou não nossos fanáticos e sectários o batismo e a eucaristia envolvem algo mais do que palavras. A darmos fé ao Evangelista ele também empregou azeite, dizendo que os santos apóstolos ungissem os enfermos e há quem com excelentes razões, nisto veja, o sacramento da unção final. Além disto, segundo lemos no Livro Sagrado, o Senhor quis soprar o Espírito Santo sobre os apóstolos, empregando um gesto... Os apóstolos a seu tempo tomaram alguns dos crentes destinados a funções especiais e impuseram as mãos sobre eles, empregando um outro gesto... Embalde os protestantes fogem aos elementos materiais e ao recurso gestual pois topamos com eles no S Evangelho e cremos que deram origem a cinco grandes ordenanças quais sejam o Batismo, a Eucaristia, a Crisma, a Ordem e a Evkelaion...


Agora por que teria ele empregado livremente tais elementos ou linguagem corporal? Pela mesma razão segundo a qual se fez homem assumindo um corpo físico e uma dimensão material. De modo que a adoração ou o culto, embora partindo do espírito que é a fonte da racionalidade deve englobar a dimensão física do corpo exprimindo por meio de símbolo, e, em se tratando da adoração comunitária de símbolos comuns capazes de unir a congregação num só corpo e numa só mente; o que supõem uma adoração coordenada, sob pena de não ser nem sóbria nem racional. A adoração neo platônica ou espiritualiza foge a tais termos, foge ao judaísmo e foge ao Cristianismo ou ao Evangelho, é um padrão recente e inventado.

Resta esclarecer, a partir do que foi dito acima, que se tomamos muito do paganismo também tomamos aparatos do judaísmo. Assim a túnica preta dos sacerdotes ou batina corresponde a indumentária dos judeus piedosos do tempo do Senhor. Assim os mantos, os turbantes, a Skouphia, etc Assim a túnica habitual ou pastoral a que os latinos chamam batina e nós exorason. A túnica de ofício, alva ou Sticharion é branca porque os sacerdotes tanto judeus quanto pagãos usavam uma túnica branca e acreditasse que os judeus tenham tomado esta costume aos antigos egípcios. Os demais paramentos sacerdotais parecem ter se desenvolvido a partir do antigo vestuário pagão.

O costume de oferecer incenso num turíbulo era comum a todas as religiões antigas. O antigo testamento apresenta-o como uma ordenação divina. O altar Cristão difere tanto do pagão quanto do judaico por ser coberto com alfaias ou toalhas, isto se deve ao fato de não receber sacrifícios sangrentos. As velas ou castiçais são comuns ao judaísmo - o AT atribui essa ordenança a divindade - e ao paganismo antigos; relacionando a divindade com a luz. Os vasos sagrados eram empregados tanto pelo paganismo quanto pelo judaísmo e de tal maneira tidos em conta de sagrados que os judeus atribuíam a morte de Bechurusur de Babilônia ao fato de te-los empregado num festim profano, o que os rabinos diziam sobre Pompeu Magno e Tito Flávio. O calendário como dissemos era comum aos judeus e aos pagãos... A forma ou modelo de nossos templos são associados ora a antiga Basílica pagã, local onde se oficiava a justiça, ora ao templo dos judeus; de modo geral veio a assumir a forma cruciforme. Os sinos (Jarash) substituíram as trombetas empregadas pelos antigos hebreus. O órgão ao que parece era já empregado pelos judeus em seu templo bem como os demais elementos da fanfarra ou banda. Já dissemos que judeus e pagãos faziam aspersões com água e unções com óleo ou azeite. As procissões também eram um costume comum, os judeus no caso carregavam sua arca ou modelos da arca com rolos de livros. Os judeus e pagãos empregavam a prostração, o ajoelhamento e a saudação ou a inclinação em seus atos de culto. A prática de cantar a liturgia ao invés de recitar ou falar foi tomada ao judaísmo ou as religiões orientais.

De modo que nosso aparato simbólico é tributário tanto do judaísmo quanto do paganismo, de ambos os quais tomamos muitas coisas.

O calvinismo, paradoxalmente, mesmo afetando amor intenso pelas instituições judaicas, distorceu a História e buscou apresentar todo aparato simbólico da igreja antiga como pagão na mesma medida em que despojava-se dele assumindo valores neo platônicos. Num primeiro momento o protestantismo apelou ao antigo testamento com o objetivo de julgar e condenar a igreja, já num segundo momento julgou o judaísmo e desprezou tudo quanto possuía em comum com o paganismo e com os catolicismos... De fato o relacionamento dos protestantes ou do protestantismo com aquele livro não foi coerente mas ao que parece marcado pelo oportunismo, o mesmo oportunismo que levou-os a desfigurar os judaísmo antigo e moderno em benefício de um padrão descanado ou espiritualizado que remonta a U. Zwinglio.

domingo, 17 de junho de 2018

De vera doctrina - Fragmentos da Encíclica "Graves de communi re" por Leão XIII > Contra os monarquistas/integralistas e CAPITALISTAS

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1 - O tecnicismo nada resolve:

"As mudanças, também, que as invenções mecânicas da época introduziram, a rapidez da comunicação entre os lugares e os dispositivos de todo tipo para diminuir o trabalho e aumentar o ganho, todos adicionam amargura ao conflito." I 


2 - O remédio é a doutrina pura do Santo Evangelho:

"
Tornamos evidente que os remédios que são mais úteis para proteger a causa da religião, e para terminar a disputa entre as diferentes classes da sociedade, deveriam ser encontrados nos preceitos do EVANGELHO." II



3 - Sugestões concretas em favor dos mais humildes:

"
Na ordem de ação, muito tem sido feito em favor do proletariado, especialmente naqueles lugares onde a pobreza era pior. Muitas novas instituições foram estabelecidas a pé, aquelas que já foram estabelecidas foram aumentadas, e todas colheram o benefício de uma maior estabilidade. Tais são, por exemplo, os escritórios populares que fornecem informações aos não instruídos; os bancos rurais que fazem empréstimos a pequenos agricultores; as sociedades para ajuda mútua ou alívio; os sindicatos de operários e outras associações ou instituições do mesmo tipo. Assim, sob os auspícios da Igreja, uma medida de ação unida entre os católicos foi assegurada..." III 

4 - Se os pobres são explorados pelos ricos?

"
bem como algum planejamento na criação de agências para a proteção das massas que, de fato, são tão freqüentemente oprimidas pela astúcia e exploração de suas necessidades como por sua própria indigência e labuta." III 

5 - O nome Socialismo Cristão foi adotado pelos Católicos embora, segundo o Papa, seja ambíguo ou dúbio:

"
O nome do socialismo cristão, com seus derivados, que foi adotado por alguns, foi muito bem permitido cair em desuso." IV 

6 - O nome 'Cristãos sociais' ou 'Católicos sociais' teve voga:

"
Nos países mais preocupados com este assunto, há alguns que são conhecidos como cristãos sociais. Em outros lugares, o movimento é descrito como a Democracia Cristã e seus partidários como Democratas Cristãos, em oposição ao que os socialistas chamam de Democracia Social. Não é dada muita exceção ao primeiro desses dois nomes, isto é, cristãos sociais, mas muitos homens excelentes consideram o termo "democracia cristã" censurável." IV 


7 - O que o Papa considera equivocado no Socialismo ou na Social Democracia são o materialismo e o naturalismo:

"
O que é a social-democracia e o que a democracia cristã deve ser, certamente ninguém pode duvidar. O primeiro, com a devida consideração pela maior ou menor intemperança de seu enunciado, é levado a tal excesso por muitos a ponto de sustentar que não há realmente nada existente acima da ordem natural das coisas, e que a aquisição e desfrute de corporalidade e externa bens constituem a felicidade do homem." V


8 - A Justiça é preceito sagrado. E o direito a propriedade pessoal:

"
Portanto, para a democracia cristã, A JUSTIÇA É SAGRADA; deve sustentar que o direito de adquirir e possuir propriedade não pode ser impugnado..." VI9 - CONDENAÇÃO DO INTEGRALISMO MONÁRQUICO OU DA MONARQUIA DIVINA:

"
Pois, as leis da natureza e do Evangelho, que por direito são superiores a todas as contingências humanas, são necessariamente independentes de todas as formas particulares de governo civil, enquanto ao mesmo tempo estão em harmonia com tudo o que não é repugnante à moralidade e justiça." VII"São, portanto, e devem permanecer absolutamente livres das paixões e das vicissitudes dos partidos, de modo que, sob qualquer constituição política, os cidadãos possam e devam respeitar as leis que os ordenam a amar a Deus acima de todas as coisas, e a seus vizinhos como eles mesmos. Esta sempre foi a política da Igreja. Os Pontífices Romanos agiam de acordo com esse princípio, sempre que lidavam com países diferentes, independentemente do que pudesse ser o caráter de seus governos. Portanto, a mente e a ação dos católicos devotados a promover o bem-estar das classes trabalhadoras nunca podem ser acionadas com o propósito de favorecer e introduzir um governo no lugar de outro." VII
10 - O TRABALHISMO não pode ser condenado sob qualquer alegação:
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que ninguém condene aquele zelo que, de acordo com as leis naturais e divinas, visa fazer a condição daqueles que trabalham mais toleráveis; permitir-lhes obter, pouco a pouco, os meios pelos quais podem prover o futuro; ajudá-los a praticar em público e em particular os deveres que a moralidade e a religião inculcam; para ajudá-los a sentir que não são animais, mas homens, não pagãos, mas cristãos, e assim capacitá-los a se esforçar mais zelosamente e mais ansiosamente pela única coisa necessária; ou seja, aquele bem final para o qual nascemos neste mundo." X11 - A questão social não é meramente econômica (ERRO POSITIVISTA) diz respeito a Ética e a Religião (conexão com a religião):

"
Nós projetamos especificamente aqui a virtude e a religião. Pois, é opinião de alguns, e o erro já é muito comum, que a questão social é meramente econômica, enquanto na verdade ela é, acima de tudo, uma questão moral e religiosa, e por essa razão deve ser estabelecido pelos princípios da moralidade e de acordo com os ditames da religião." XI12 - O mandamento do amor fraternal abarca o que é necessário para o bem estar desta vida ou para a vida do corpo físico e não apenas o espiritual - CONDENAÇÃO DO ESPIRITUALISMO MANIQUEÍSTA:

"
estar atento ao que Cristo tão amorosamente disse aos Seus:" Eu lhes dou um novo mandamento: que vocês se amem uns aos outros, como eu os amei, que vocês amem-se uns aos outros. Por isso todos os homens saberão que são meus discípulos, se vocês se amam um pelo outro. "(7) Este zelo em vir ao resgate de nossos semelhantes deve, é claro, ser solícito, primeiro para o eterno bem das almas, mas não deve negligenciar o que é bom e útil para esta vida." XIII
"
Ele declarou que levaria em conta especialmente a caridade que os homens exercitavam um para o outro. E nesse discurso há uma coisa que excita especialmente nossa surpresa, a saber, que Cristo omite aquelas obras de misericórdia que confortam a alma e se referem apenas àquelas que consolam o corpo, Ele as considera como sendo feitas a Si mesmo: estava com fome e me deste de comer, estava com sede e me deste de beber, eu era um estranho e tu me acolheste, nu e me cobriste, doente e me visitaste , estive na prisão e viestes a mim. " XIV

13 - As antigas instituições sociais criadas pelos antigos com o objetivo de aliviar o sofrimento humano obedecem a LEI da caridade:


"
Esta lei da caridade que Ele impôs a Seus Apóstolos, eles da maneira mais sagrada e zelosa colocada em prática; e depois deles aqueles que abraçaram o cristianismo originaram aquela maravilhosa variedade de instituições para aliviar todas as misérias pelas quais a humanidade é afligida. E essas instituições continuaram e aumentaram continuamente seus poderes de alívio e foram as glórias especiais do cristianismo e da civilização de que ela era a fonte, de modo que os homens de mente certa nunca deixam de admirar essas fundações, conscientes de que são da tendência dos homens se preocupar com os seus próprios e negligenciar as necessidades dos outros." XV14 - Buscar o BEM COMUM e não apenas o pessoal:

"
Assim, a justiça e a caridade estão tão ligadas umas às outras, sob a lei suave e doce de Cristo, que formam um admirável poder coesivo na sociedade humana e levam todos os seus membros a exercer uma espécie de providência em cuidar dos seus próprios e em procurar o bem comum também. XVI"Pois ninguém vive apenas por sua vantagem pessoal em uma comunidade; ele também vive para o bem comum, de modo que, quando outros não podem contribuir com sua parte para o bem geral, aqueles que podem fazê-lo são obrigados a compensar a deficiência. A própria extensão dos benefícios que eles receberam aumenta o fardo de sua responsabilidade, e um relato mais rigoroso terá que ser prestado a Deus que concedeu essas bênçãos sobre eles. O que também deve exortar todos ao cumprimento de seu dever a esse respeito é o desastre generalizado que eventualmente cairá sobre todas as classes da sociedade se sua assistência não chegar no tempo; e, portanto, é que aquele que negligencia a causa das massas angustiadas está desconsiderando seu próprio interesse, bem como o da comunidade." XIX
15 - Instituições permanentes de auxílio:


"
No que diz respeito não apenas ao auxílio temporário concedido às classes trabalhadoras, mas ao estabelecimento de instituições permanentes em seu favor, é de louvar que a caridade as realize." XVII16 - A caridade e a solidariedade não caem na esfera da liberdade, mas da ESTRITA OBRIGAÇÃO:


"
Faríamos com que eles entendam que eles não são de todo livres para cuidar ou negligenciar aqueles que estão abaixo deles, mas que é um dever estrito que os vincula." XIX

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quarta-feira, 13 de junho de 2018

É o Evangelho produto do judaísmo antigo?

A Claudio Machado



Cristãos, mas antes de tudo homens e homens dotados de sentidos e racionalidade, admitimos, sem maiores problemas, que o 'ritmo' deste universo é progressivo ou que ele se desenvolve de fase em fase, de período em período, de era em era... aumentando em complexidade ou evoluindo. Esta Evolução, incontestável, é a um tempo física, química, biológica, psicológica e social. Sem ser 'simples' ou linear, mas complexa e sujeita já a recuos, já a variações, nem por isso deixa esta dinâmica de ser perceptível ou constatável.

Para nós a teoria sintética ou o que chamam de darwinismo mitigado é 'teoria' destinada a explicar um 'fato', este fato a Evolução. A Evolução não é apenas um esquema conceitual ou teórico elaborado pelo intelecto, foi e é algo real, algo que aconteceu e que acontece, em termos chãos - Um fato... Reconheço que a expressão é defeituosa, mas didaticamente aceitável.

A História do homem em Sociedade - porque jamais damos com o homem de Rousseau isolado dos demais como uma 'ilha' - segue a mesma trajetória, a qual não sendo linear - mas sujeita a crises e recuos em sua assunção cultural - nem por isso tornasse brusca no sentido de que os acontecimentos sucedem-se sem qualquer conexão ou relação, ou dependência face aos precedentes i é como algo totalmente insólito.

Há quem a partir de marcianos e atlantes ou mesmo 'magos' sustente o insólito. Deveriam no entanto começar pela demonstração da existência dos magos ou dos atlantes; ou da vinda dos marcianos a este mundo para carregar pedras... Dão por certo que as grandes construções legadas por Incas e Egípcios foram erguidas pelos extra terrestres, quando por meio da pesquisa séria e sóbria sabemos como, por que e para que nossos ancestrais edificaram tais monumentos - De modo que a navalha de Ockham acaba cortando os Ets ou tornando sua presenta absolutamente inútil... Afirma-los obstinadamente entra pelos domínios da antropologia filosófica, pois implica presumir muito pouco dos homens, digo, de nossos ancestrais. Puro pessimismo infundado.

Claro que a História humana conhece enigmas a serem melhor decifrados, e não são poucos. A escrita de Harappa é um deles, a escrita etrusca ou toscana é outro, o eclipse da civilização Maia, o povoamento das Américas, a trajetória de nossos primeiros ancestrais pela Europa e Ásia, etc São alguns destes enigmas a serem decifrados ou melhor resolvidos. Enigma humano ou ser humano por assim dizer 'deslocado' de seu sítio ou nicho há um só Jesus de Nazaré...

Apesar daqueles que aspiram por fazer de Jesus, numa perspectiva natural ou evolutiva, uma rabino convencional ou um bom judeu em perfeita sintonia com o judaísmo, ele continua deslocado e incompreendido, diria, empregando suas palavras, que ele converteu-se no escândalo da História, justamente por ir na contracorrente do universo natural em que nos movemos, e representar algo insólito.

Grosso modo o insólito não é aceitável do ponto de vista natural ou científico, como não são aceitáveis Ets, atlantes e magos... Mas Jesus ainda ai esta sendo cultuado, de um modo ou de outro, por bilhões de pessoas e quiçá levado mais ou menos a sério por algumas centenas de milhões, o que vem a ser impressionante se o tomamos por Mito. Quero dizer que para alguns cientificistas a única solução possível é negar sua existência afirma-lo como uma construção social feita 'a posteriori' - Compreenda-se um grupo de homens ou de seres humanos de uma época futura (mais evoluída) e certamente muito bem preparados em termos de cultura foram os responsáveis por construir sua 'estória' ou sua farsa...

O 'mito' de Jesus parece não ter sido um mito comum ou ordinário, de elaboração espontânea ou natural com seus defeitos, mas um mito muito bem construído, e por isso, segundo muitos - produto de uma ficção intencional. Jesus só pode ter sido uma falsificação elaborada por um grupo fora do tempo e ambiente natural em que esta situado. Em Jesus parece haver algo do extremo Oriente, associado a algo do pensamento greco romano mais refinado... Mas este Jesus viveu numa das regiões mais remotas e atrasadas do planeta e dentro de uma das culturas mais fechadas do tempo - Na Galileia, entre hostes de fariseus e essênios profundamente ciosos de sua cultura (até a arrogância) e respirando ódio face a tudo quanto fosse politeísta, idólatra ou pagão...

Jesus ficaria um pouco menos enigmático entre os sofisticados judeus de Alexandria, onde floresceu Fílon. Apresentando como poliglota, frequentante diário da Biblioteca de Alexandria e leitor compulsivo. Mas nada indica que tenha frequentado tal estabelecimento ao menos por uma ou duas décadas...

As grande rotas internacionais de cultura passam bem ao Norte, pelo Norte da Síria, outras, menos importantes, descem pelo litoral da Palestina, habitado pelos descendentes dos antigos pagãos fossem filisteus ou fenícios, até chegarem ao Egito. A cultura internacional não flui pelo meio da Palestina por ser pagã ou politeísta e portanto repudiada como má pelos senhores de Jerusalém. Suponhamos Jesus no Khumran, que encontraria ele em termos de literatura grega? Apenas a República ou algum outro livro de Platão... Será que todos os 'monges' essênios tinham acesso franqueado a este tipo de literatura gentílica parcamente representado? Podemos supor seu conteúdo restrito inclusive.

Por ser muito difícil conceber a figura de um Galileu do século I lendo a Darmapada em aramaico ou folheando as obras de Anaxágoras em grego clássico, a figura de Jesus foi lançada aos domínios do mito e sua existência negada desde os tempos de Emílio Bossi. Afinal tudo quanto não podemos compreender perfeitamente em termos de natureza causa espanto e assusta. A negação arbitrária só faz destacar ainda mais as dimensões deste vulto.

Ademais julgo que por mais genial que este homem tenha sido, caso se tivesse limitado a tecer eruditos comentários sobre a Tanak, a compor uns diálogos filosóficos em torno do Ser, a deduzir novas fórmulas que convulsionassem as matemáticas ou a inventar algum instrumento socialmente impactante... não teria sua existência negada. Creio que tentariam compreende-lo ou situa-lo, mas... Jesus foi Mestre de Ética. E que Mestre! Aquele que ensinou-nos a amar o próximo como a nós mesmos, a abster-nos de julgar e condenar, a cultivar a paz, a sobriedade e a misericórdia, a colocar-se no lugar do outro, a ajudar concretamente nossos semelhantes... Diante de tudo isto fica até fácil saber porque sua existência deveria e deve ser negada. Além de ser 'insólito' Jesus nos incomoda a partir de seus ensinamentos Éticos. Ainda hoje não estamos preparados para aceitar o outro, nos incomodamos dele e nos fazemos de vítimas... Se uma mulher se veste como homem ficamos indignados e enfurecidos - se mente, fofoca, agride fisicamente, tortura, mata, etc não nos indignamos!!! Se um homem coloca um vestido ou uma peruca nos mostramos melindrados - caso deixe de pagar pensão ao filho pequenino, nos limitamos a sorrir... O ano 2018, e como ainda estamos próximos do pensamento daqueles 'homens de bem' que mandaram crucificar Jesus após terem-no apontado como imoral, como ainda carregamos alegremente o jugo dos fariseus hipócritas! E mesmo assim, parte de nós paga seu tributo ao fingimento declarando-se Cristão. Poucos estão dispostos, como o Dr Binet Sangleé, a declarar que Jesus era louco ou a classifica-lo como canalha ou positivamente mau.

Claro que aqui a negação apresenta-se como a atitude mais oportuna ou conveniente. Admitir sua existência ou leva-lo a sério e refletir escolasticamente sobre o tema até a derradeira conclusão seria assaz perigoso. Caso admitamos que este homem existiu de fato e consideremos racionalmente sua existência como deixar de concluir com o já citado Rousseau que se a morte de Sócrates foi a morte do maior de todos os mortais, a morte do Nazareno foi como a morte de Deus??? O perigo esta posto e a negação é a melhor saída...

No entanto este Jesus não é um marciano vindo de Órion ou das Plêiades numa nave espacial... Nem cobre seu túmulo uma lápide como a de Pakal, rei de Palenque... Tampouco é este Jesus uma espécie de missionário Atlante como Quetzalquoatl ou Kon tiki Viracocha, ou Tonapa, ou Sumé... o qual evapora-se na direção do mar oceano. Nem é uma espécie de Merlin a mover as pedras de Stonehange com sua varinha de condão... Tampouco apresenta maiores semelhanças com os deuses 'tarados' do paganismo antigo... Afortunadamente ele não se identifica com Hórus, com Tamnouz ou com Mitras como asseveram todos esses panfletários que pouco ou nada sabem sobre mitologia antiga, ignorando seriamente o caráter de tais deidades... Mas eles vão garimpando por ai e a gente simples lhes dá ouvidos.

Evidências Históricas a respeito da existência de Jesus há diversas - O original de Josefo, reconstituído pela soviética e ateia Dra Irina Sventsitskaia, o Talmude dos hebreus, Paulo, Tácito, Plínio, Suetônio... No mínimo.

Assim a negação da existência de Jesus até pode ser um recurso prático e fácil, o que de modo algum supõem é honestidade. Se Jesus não existiu personagem alguma do nosso passado existiu, afinal o que dele se exige, num contesto peculiar inclusive, não é exigido por mais ninguém e pouquíssimos dos grande homens de Roma ou Atenas passariam pela 'prova' arbitrária dos positivistas...

Agora, admitido que este Jesus tenha existido, como teria pensado sua relação com o judaísmo???

Pensou-a ele???

Exprimiu-a???

E com que palavras, luminosas e claras -

"O vinho novo não cabe nos odres velhos - Se você tentar colocar o vinho novo dentro dos odres velhos, os odres se rompem."

Ao que parece Jesus tinha plena consciência de que sua mensagem transcendia os limites estreitos da fé judaica ou da lei de Moisés ou da Tanak. Sabia que estava ultrapassando e superando a religião de seus ancestrais. Estava perfeitamente cônscio quanto a Revolução que suas palavras acalentavam. Sabia muito bem que não era um rabino beócio ou conformado com o judaísmo rabínico. Jesus não apenas contestava, questionava e criticava o que os demais consideravam sagrado ou tabu - sabia que contestava e compreendia o valor da contestação.

Leiam o Sermão do Monte e depois me digam se face uma religião REVELADA como judaísmo ou islã, não temos ai uma declaração de guerra???

Vocês sabem o que foi ensinado aos ancestrais declara Jesus, e adiciona ou acrescenta 'sacrilegamente' (sic): Eu porém vos digo! Ele opõem seu próprio EU, sua autoridade (sic) as tradições religiosas do povo, a Tanak, a Torá, a Moisés, aos Sacerdotes...

É exatamente aqui que manifesta-se a desonestidade, surpreendentemente arquitetada não pelos ateus ou materialistas de nossos tempos, mas por clérigos 'cristãos', pastores protestantes de modo geral, mas também alguns padres (como a besta do Pe Murillo), todos judaizantes. Pois bem que dizem estes senhores? Dizem que Jesus não esta, de modo algum, a criticar ou a contestar Moisés, a Torá, a Tanak ou ao que chamam de Velho testamento, mas as tradições orais dos fariseus que posteriormente vieram a formar o que chamamos Mixná e Guemara... As quais, acrescentam maliciosamente tais homens, haviam corrompido o judaísmo ou a lei de Moisés. De modo que Jesus esta pura e simplesmente removendo a impureza talmúdica e combatendo para restaurar a pureza da lei de Moisés ou para reformar o judaísmo; não para demoli-lo.

Estarão certos?

Basta analisarmos tanto mais de perto cada parcela do Sermão do Monte para constatar indubitavelmente que não. Que Jesus não esta a contestar o rabinismo, o farisaismo, o talmudismo, mas as próprias leis de Moisés, a fonte mais remota do judaísmo antigo e tida em conta de sagrada ou divina. É a ela, a lei de Moisés, que Jesus golpeia sem misericórdia, declarando que estava errada! Por isso contesta a medula por assim dizer daquela lei, que era a doutrina de Talião ou 'Olho por olho - dente por dente'... Mas semelhante expressão não se encontra na lei mosaica, declaram os desonestos. De fato tal expressão não se encontra literalmente presente na Tanak, sem que por isso deixe de ser seu princípio operatório e presente em diversos de seus preceitos, assim 'Aquele que matar será morto'... Poderás odiar tem adversário i é o princípio da vingança ou da justiça com as próprias mãos, de que resultou a instituição dos locais de refúgio... Jesus diz que tudo isto é grosseiro, bárbaro, inaceitável... Não se pode odiar ao inimigo, exercer vingança, perseguir, matar como autorizava expressamente o judaísmo antigo em nome de Deus! É mister amar, estar sempre disposto a perdoar, confiar na justiça divina, abster-se de matar, cultivar a paz, etc Como negar que estamos diante de uma outra lei, a lei do Evangelho, verdadeira lei dos céus, autenticada pelo que há de melhor em nós???

A lei dos judeus autorizava a vingança e a matança. Jesus nos proíbe até mesmo de ultrajar os contrários (dizendo louco) e nos manda dar a outra face quando atacados! Decreta que estejamos perpetuamente abertos ao perdão (perdoai setenta vezes sete). Declara que devemos amar os inimigos, sim amar os inimigos! Você pode buscar por esse amor universal no judaísmo antigo e não o encontrará e menos ainda pelo amor aos inimigos, o qual, como observa S Freud, não existe no judaísmo e nem poderia existir por ser, declara Freud - absurdo.

Quanto ao amor ao próximo ou a todos os homens poderá aventar, com certa plausibilidade, que Jesus tenha plagiado o chinês Mo Tse, que viveu cinco séculos antes dele e a mais de dez mil kilometros - Ah, e cuja doutrina já estava esquecida há muito entre os antigos chineses ao tempo de Jesus. Saberia Jesus ler ideogramas chineses? Teria ido a Chine e voltado? Haviam os escritos de Mo Tse sido traduzidos ao aramaico ou ao grego??? Busquem pelas evidências... Agora uma coisa é absolutamente certa: No contesto do judaísmo estamos diante de uma novidade que não é nem um pouco lisonjeira face a antiga religião - Favorável ao etno centrismo e a vingança.

Mas, dirá algum afoito - Jesus mesmo declarou que traço ou pingo algum da Lei passaria e que não havia se manifestado para demolir a Lei e as profecias.

Claro que não podia demolir as profecias, cujo objetivo era anuncia-lo previamente, mas concretiza-las. E também não podia demolir a essência da verdadeira Lei positiva, expressão da mesma Lei natural, manifestação da vontade de Deus e portanto de sua vontade. O cerne da questão implica em saber qual seja esta Lei divina e é exatamente aqui que Cristãos e judaizantes separam-se definitivamente. Pois os judaizantes como os judeus imaginam que Jesus esta a falar na permanência ou divindade de toda Torá ou mesmo da Tanak, que ora chamam Bíblia. Enquanto nós Cristãos compreendemos que esta Lei divina ou Revelada restringe-se ao DECÁLOGO ou aos assim chamados dez mandamentos, que eram a versão da lei natural corrente entre os antigos judeus. Para nós esta é a Lei divina e inviolável e não a totalidade da Torá ou da Tanak, elemento puramente natural e não revelado que identificamos com a cultura judaica. Essa cultura judaica para nós é puramente humana, nada tendo de sagrada. Assim o restante do código judaico ou as normas e regras que estão para além do Decálogo, as quais puderam ser livremente criticadas e contestadas por Jesus.

Isto é tão certo que atualmente os próprios judeus, em sua maioria, abriram mão de tais leis, reconhecendo-as como puramente humanas, porquanto também entre eles a lei evoluiu e já não podem viver como seus bárbaros ancestrais. Alias os judeus não costumam lançar objeções demasiado sérias a respeito e sentem-se muito pouco apegados a seus mitos, fábulas e leis; a exceção de algumas poucas que são exequíveis. Aqui os judaizantes mostram-se sempre muito mais obstinados... E no entanto, tal e qual os judeus modernos, nem mesmo eles podem viver a Torá em sua totalidade como os antigos judeus; enfim eles defendem uma solução que não colocam em prática porque de modo geral vestem-se e alimentam-se como os demais... Apenas um grupo de protestante peruanos ousou restaurar, em pleno século XX, o modo de vida dos judeus ao tempo de Cristo substituindo calças e camisas por túnicas e automóveis por cavalos e camelos... Nem preciso dizer que habitam em tendas e usam madeira e fogueiras para cozinhar, enquanto suas mulheres manuseiam o tear e o moedor de grãos. Felizmente, esta espécie de menonismo ultra ancestral, é fenômeno isolado. Os demais judaizantes não são tão sérios e contentam-se apenas com discursos pomposos em torno da tal lei de Moisés concentrando seus fogos nos Catolicismos, a que chamam de idolatria e no espiritismo, a que chamam de magia...

Os judaizantes não se mostram menos profanadores do que nós na medida em que, após terem afirmado a integralidade da Lei dos judeus ou da Torá como revelada ou divina, põem-se a selecionar o que vale e o que não vale como se Deus e as coisas divinas pudessem variar, mudar ou sofrer alteração. Por isso estão divididos em tantas e tantas seitas conforme aceitam ou repudiam este ou aquele regulamento da lei dos judeus. Assim há entre eles que retorne a dieta dos antigos judeus como os adventistas do sétimo dia, há quem repudie a transfusão de sangue como as jeovistas, há quem condene o uso de tatuagens como certas seitas pentecostais, há quem condene a moda unisex, há quem condene o corte da barba por parte do homem, etc, etc, etc Cada seita faz seu talho e escolhe seu corte ou pedaço da lei dos judeus, o qual canoniza... Desprezando todos os outros rsrsrsrsrsrs Tal a cegueira deles, porquanto esta escrito: Quem pecar contra um regulamento da lei pecou contra a lei toda! Assim selecionando profanam a totalidade da Lei que teimam em declarar como sagrada; mas que de modo algum vivem ou põem em prática.

Por isso Jesus procedeu liberalmente com relação as demais partes da Lei dos judeus tornando-se Herético para eles - O grande herético do judaísmo. Porque declarou sua dietas e distinções alimentares absolutamente vãs. Porque avaliou suas abluções como inúteis. Porque opôs-se a guarda supersticiosa do Sábado. Porque violou todos os seus preconceitos de natureza moral estabelecendo contado com - Prostitutas, publicanos, homossexuais, pagãos, crianças, leprosos, pescadores, etc tudo quanto era desprezado ou odiado pelo farisaísmo azedo. Deixou-se tocar por leprosos... E conversou a sós com uma mulher - samaritana e pecadora - junto ao poço!!! Para nós, aquele que nós fez o bem, foi santo e impecável, mas para os judeus foi um grande pecador. Pois violou conscientemente a lei que teem por divina.

Jesus foi tão contestatório para os judeus de seu tempo quanto os anarquistas e comunistas de hoje para os conservadores. Não que ele tenha sido anarco individualista ou comunista, as perspectivas de Jesus eram outras e ele não dos parece nem individualista, sob qualquer aspecto, nem autoritário ou totalitário. Postulou a autoridade, no caso divina, sem - a modos de jave - eliminar por completo a esfera da liberdade humana. Postulou a justiça e uma igualdade relativa sem endeusar a autoridade humana ou recomendar métodos violentos como uma bula de remédio. De modo geral exerceu a paz e foi pacífico; mas quando teve de erguer o chicote não hesitou, parece ter sido moderado ou equilibrado em todas as circunstâncias, quando por via de regra são os homens exaltados e amigos do extremismo.

Não me parece que se opusesse as solução democrática ou policrática ou a uma igualdade relativa em termos sócio econômicos - O Evangelho diz que ele pura e simplesmente não levava em consideração as distinções sociais de que tanto fazemos caso, e que tratava a todos, grandes e pequenos, da mesma maneira - Sem fazer acepção de pessoas... Não posso deixar de classifica-lo como socialista. Não é claro como um socialista naturalista, materialista ou economicista do século XIX - sobre o qual pesa a condenação da Igreja - mas como um Socialista Religioso dos tempos pretéritos a maneira de Urukagina de Lagash ou dos antigos profetas (Como aquele que disse: Amaldiçoado seja o que adiciona casa a casa, campo a campo...). Tornou-se vanguardista até nossos dias por ter condenado categoricamente o acumulo ilimitado de riquezas ou bens materiais: 'Não acumuleis bens neste mundo em que a traça e a ferrugem destroem, juntai bens no mundo celestial' foi ordem sua a que muitos ainda hoje se fazem moucos, fingem ignorar ou o que é pior falseiam descaradamente. E para que não pudesse haver escapatória ou alternativa aos desonestos, adicionou: Não podeis servir a Deus e as riquezas. Ai daquele que cogitar 'ganhar o mundo inteiro' - expõem-se a apartar-se de seu destino espiritual... "Mais fácil é uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus."... Em Mateus cap vigésimo quinto, determina que sejamos solidários e atentos as necessidades de nossos semelhantes - Tive fome e me destes de comer... tive sede... - com os quais identifica-se. Retira a caridade da esfera da livre vontade e converte-a em lei > Amai-vos uns aos outros e sereis meus alunos... Como resultado disto temos que os primeiros Cristãos vendiam seus bens e adotavam vida regular e comum, de modo a não existir necessitados entre eles. Pobres certamente existiram durante todo tempo em que viveram os santos apóstolos, fabricados pelo judaismo e paganismo antigo, não pelo Cristianismo, cuja regra de vidas era a partilha. Paradoxalmente os Cristãos acreditavam que quanto mais partiam seus bens materiais com os irmãos, mais ricos se tornavam porquanto investiam nos céus ou no mundo espiritual.

A bem da verdade a Lei dos judeus era muito interessante neste sentido, e como o amigo Carlos Seino, não posso deixar de admirar as instituições da reforma agrária, dos jubileus, da colheita, cobrança de jurus, etc Sabendo que ao tempo do Senhor tais leis já não eram postas em prática há séculos e que, curiosamente, judaizante ou sectário algum tentou restabelece-las (também nenhum deles cogitou cortar a pele do pênis ou restabelecer a circuncisão)... O que quero dizer é que tais reflexões, semelhantes aos do velho Sócrates, em torno da vida sóbria, moderada, regular ou temperante, deve ter chocado bastante os nababos fariseus... Como atualmente choca os neo fariseus 'cristãos'...

Aos que aspiravam pela perfeição recomendou que vendessem todos os seus bens e dessem aos pobres... Se queres ser perfeito... E da perfeição fez uma exigência para os seus: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito...

Alias mesmo sendo de origem divina - Não podemos deixar de chegar a esta conclusão - Jesus reconheceu a livre iniciativa humana, daí ter deplorado a opção dos habitantes de Jerusalém, os quais recusaram-se a tomar seu jugo... E dizem ter chorado a triste sina da cidade.

Não apenas chocou os antigos judeus. Continua a chocar, perpetuamente os judaizantes de toda casta... Os autoritários, os capitalistas/materialistas, os maniqueus, os puritanos... Enfim a toda essa gente...



terça-feira, 12 de junho de 2018

Pitadas de literatura e sociologia - Bancas de jornal, gibis, internet e as três 'Eras' de H P Lovecraft (Diálogos com um Livreiro)

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Mais no passado não muito distante, mas em certa medida mesmo ainda hoje, os sebos ou casas onde se compra e vende livros usados (antigos) sempre foram um local bastante favorável a troca de ideias, a tertúlia amistosa, ao diálogo... enfim um ponto de encontro entre a intelectualidade. Assim na Briguet ao tempo de Rui Barbosa... Assim no Sebo de Olyntho de Moura, onde meu saudoso mestre Jaime de Mesquita Caldas, dizia ter tido acesso ao convívio de Yan de Almeida Prado, Viana Moog, Alfonso de Taunay, Tito Lívio Ferreira e outros notáveis memoristas, historiadores e literatos...

Quando eu era rapazote, no final dos anos 80, e surrupiava uns cobre do papai, logo ia correndo a primeira e mais farta banca sebo de Santos, a Banca do Habib, situada na Praça dos Andradas e onde se comercializada calhamaços do século XIX, verdadeiras raridades, a granel... E por lá garimpando achavamos a profa Maria Aparecida Franco Pereira, a profa Conceição das Neves Gmeiner, Sá Porto, Laudo e muitos outros 'monstros sagrados' cujos nomes ignorávamos. O Brizolinha, recentemente falecido, tinha sua Banca, pequenina, na primeira esquina da Itororó, que sai nos fundos do convento do Carmo. O sebo e livraria Antiquária, do desditoso Ivo, já era antigo e o Ivo muitas vezes recusava-se a vender o que julgava ser raridade rsrsrsrsrs. Dizia: Não, não esta a venda. E não vendia por preço algum. Esperávamos o dia em que ele saía para pagar as contas e deixava seu velho Pai, o sr Joaquim (Alias bem mais educado do que ele) no balcão, tomávamos o mesmo livro (as vezes raro) e pagávamos uma ninharia!

As Bibliotecas públicas estavam apinhadas de livros raríssimos e valiosos. A da ASL, a da Humanitária, a do Centro Português, a do Centro Espanhol, a da Societá Italiana (alias comprada pelo Ivo), etc A fama de algumas Bibliotecas particulares como as de Edgard de Cerqueira Falcão, Sá Porto, seo Frazão, etc corria de boca em boca... Outras tantas eram despejadas mensalmente nos sebos, e garimpadas pela categoria professoral. E entre um livro e outro trocavam-se ideias e telefones, estabelecia-se diálogos, discutia-se e até 'brigava-se'...

Mas não eram só os Sebos não. Recuando aos anos 80 i é ao começo dos anos 80 ou mesmo final dos 70, quando eu era um menino e até onde chegam minhas primeiras memórias as Bancas de Jornal constituiam farto arsenal de cultura face ao que hoje, praticamente nada são. Meu falecido pai, Deus o tenha, adquiria jornais portugueses aqui em S Vicente, na tradicional Banca do Walter e lembro-me de que em 82/83 ainda circulavam jornais japoneses e árabes por estas regiões (recordo-me perfeitamente dos sinais estranhos) além de jornais ingleses ou norte americanos, portugueses, franceses, espanhóis e italianos; era possível encontrar cada um deles nas principais bancas do centro de Santos. Ora eu mesmo nasci ou melhor fui criado, dentro duma dessas enormes Bancas de que meu pai era proprietário pelos idos de 1975/76. Meu tio Domingos era proprietário de outra imensa Banca na Cons Nébias... e os jornaleiros abasteciam-se nos depósitos da Magalhaẽs, ao lado do antigo Presídio da R S Francisco de Paula ou da Castellar, nas proximidades do Fórum; o quanto não era vendido nas Bancas ou as sobras eram levadas para tais depósitos e vendidas a preços econômicos... O que sobrava era quase sempre o melhor... Podia-se fazer grandes compras, e lá estavam os garimpeiros e toda gente que amava gibis e revistas. Sim senhor, aquilo era um mundo.

Alias cada banda Era um mundo na cultura não digital dos anos 80, a derradeira década antes da Net! Haviam gibis e revistas de todo tipo. Recordo especialmente do Zagor, do Fantasma e do Tex que eu a princípio folheava, depois lia e enfim devorava com fervor... Sem falar nas revistas 'preto e branco' eróticas ou de terror ilustradas pelo divino Rodolfo Zalla e Eugênio Colonnese, mestres insuperáveis... Eu não podia nem pensar em folhear as revistas eróticas uma vez que minha mãe era protestante rigorosa, e eu... pobre de mim, tinha de segui-la e temia as 'terríveis chamas do inferno' rsrsrsrs Assim andava a carruagem. Minha mãe não queria mas meu pai não apenas consentia, mas estimulava-me a ler revistinhas de horror como Cripta e Calafrio, cujos exemplares ainda hoje tenho e coleciono. Naquele tempo eu sequer sabia ou imaginava que as ilustrações dos livros de ciência que pegara no Ferro Velho (Minha mãe não permitia que comprasse ou recebesse livros de presente de meu pai pois acreditavam que o excesso de estudos me deixaria louco - acho que ela acertou rsrsrs) e de que tanto gostava haviam sido feitas pelo Zalla, bem como as do livro de História do Julierme, meu preferido e cujas tirinhas sobre sumérios, egípcios, gregos e romanos levavam-me ao delírio.

Apesar de meus medos e limitações podia perceber facilmente a extensão em que todo aquele material circulava. Sem contar com os livrinhos de faroeste, os livrinhos Corin Tellado, os romances da Barbara Cartland, alguns dos quais li, etc Havia um imenso conteúdo etno antropológico em algumas daqueles publicações como Zagor, Fantasma, Calafrio, Barbara Cartland, etc Tudo aquilo fazia reportar a Salgari, Maine Reid, C S Foerester, Karl May, Hall Caine e em última instância a Júlio Verne, cujas 'estórias' eram reproduzidas em não poucos gibizinhos. Haviam encantadores livrinhos para crianças com estórias de Êsopo, La Fontaine, Ch Perrault, Grimm, Verne, etc A Bíblia ilustrada da Abril, a Iliada, a Odisséia, a Távola redonda, Êsopo, La Fontaine, etc

Lembro-me de que os mais idosos não cessavam de falar numa tal EBAL... cujas publicações enfim vim a conhecer 'de visu' - Série Sagrada, Histórias maravilhosas e uma infinidade de super heróis como Homem aranha, Super homem, Homem de ferro, Namor, o príncipe submarino, Flash Gordon, etc Eram tantas publicações que ficava dificil escolher o que ler e podia-se ficar lendo pelo resto do dia que não esgotava o stock daquelas Bancas. E em cada esquina havia uma delas...

Hoje ao sair de uma repartição pública passei no Sebo do amigo Marcos, onde por vezes é possível achar alguns amigos, como o Jorge Alves e formar uma tertúlia... Meu irmão, até pouco tempo, ia semanalmente ao Sebo do falecido Brizolinha para prosear. Conheci algumas pessoas fascinantes ali mas em geral frequentava os velhos Sebos do Centro velho de Santos, cujo número vai se reduzindo dia após dia ou ano após ano. Já não temos o grande Sebo do Habib, mas temos as banquinhas do Marcelo e do Marcos Noriega, o de as vezes 'faço ponto' exercitando a verborragia ou o diletantismo. Então como disse, dei uma passadinha por lá. Sempre se aprende com a maior parte dos sebistas. Brizolinha era um erudito e o Marcos Noriega pessoa sumamente bem informada e inteligente... O Jorge do Sebo S Jorge ou da Dna Cecília é meio rabugento, mas homem de farta ou vasta leitura.

Conversamos justamente sobre o quanto acima escrevi - Os antigos Sebos, Bancas, Bibliotecas... anos 50... anos 80 e ficamos a pensar se a cultura entrou em declínio após os anos 80 ou se passamos por uma crise intelectual. Refletimos juntos e chegamos a uma conclusão paradoxal. A Internet de algum modo, substituiu tudo isto como a imprensa, pelos idos de 1470, substituíra grande parte dos manuscritos. Não é que a cultura acabou, minguou ou entrou em crise porque as Bancas de Jornal se acabaram ou empobreceram. A cultura assumiu outra forma, forma digital. Alias a maior parte desse material antigo mais algum material novo não só é produzido ou reproduzido nos meios virtuais como alcança uma circulação bem mais ampla. É ilusório imaginar que a cultura mingou com relação ao último meio século, apenas deixou de ser impressa no papel e de circular materialmente. Mas transplantou-se para as redes de computadores e acha-se presente nelas. A cultura hoje é digital e o acesso certamente mais democrático e fácil, ao menos para as novas gerações.

Claro que as gerações anteriores a Net e habituadas com aquele universo de papel, tão colorido, belo e sobretudo físico ou material sentiram-se deslocadas ou frustradas, pois assimilaram ou assumiram o hábito de manipular a cultura com as mãos ou de folhear - Hoje não se folheia mais, simples assim... Mas nem por isso a cultura entrou em crise ou acabou, passou a outro meio, mais dinâmico. A Banca se tornou desnecessária face ao PC e o Jornal desnecessário face a Net e aos meios virtuais... Inclusive aqueles imensos calhamaços chamados Enciclopédias, instrumentos essenciais ao estudo até o final dos anos 80 tornaram-se obsoletos. Do 'Speculum' de Beuvais ou da Enciclopedie de Diderot e D Alambert, a 'Trópico' e a 'Conhecer', passando pela Espasa Calpe tudo isto tornou-se supérfluo por ocupar espaço e certamente não será reeditado em tempos de Wikipedia. Para quem podia gastar os olhos da cara adquirindo tantos e tão luxuosos volumes tal transformação corresponde a uma catástrofe, bem como para nós, meninos, que adorávamos folhear as ditas Enciclopédias (cresci folheando a 'Trópico' da Ed Maltese), fazer o que??? Reconheçamos que nem todos podiam arcar com semelhante despesa!

Ah antes que me esqueça - Juntamente com os brinquedinhos de metal ou plástico, que cederam lugar aos dinâmicos jogos eletrônicos, haviam os álbuns de figurinha, que eram colecionados por quase todo jovem ou criança. Lembro de inúmeros - Da Sara Key, dos Bichinhos fofos, da Xuxam do Fofão, da Menina Moranguinho, do Amar é, etc A geração anterior a nossa conhecerá os álbuns históricos ou científicos da EBAL...

Ao fim da prosa a referência feita a Calafrio, levou-nos a Lovecraft H P, o grande gênio do terror. A Calafrio continha estórias de todo tipo ou origem - Havia muito de Edgar A Poe, assim A queda da casa de Usher... Havia terror europeu e conheci a deliciosa narrativa da 'Vênus de Illé' por meio dela... E havia muito terror brasileiro, adaptação de primeira. E é claro havia muito, mas muito Lovecraft. Havíamos falado sobre Conan e a Era Hiboriana, cujos principados representam nossas antigas civilizações. Meu amigo livreiro comentou que Conan era o mundo de Lovecraf por assim dizer anterior a este nosso em que se passam suas narrativas. Daí a presença da magia, dos demônios, dos deuses antigos, etc nas aventuras do cimério. Completei dizendo que Thundar the barber, era a projeção de Lovecraft no futuro, para daqui a dois mil anos... daí magia, demônios, deuses, etc - Afinal os autores de Thundar - e Mad Max entre aqui - partiram de Conan enquanto Howard era amigo e correspondente de Lovecraft...

Há um pouco de Lovecraft em Conan e um pouco em Thundar, tudo bastante diluído é claro; mas reflete o pensamento de H P.

Após ter entretido tão proveitosa conversação com o nobre sebista corri até este PC, responsável pela derrocada das bancas de jornal com seu mundo de papel, ansioso por registrar o quanto fosse possível e partilhar com meus queridos amidos, sempre tão curiosos quanto aquela boa gente dos anos 50 e 80 com a qual tivemos o grato prazer de conviver quando meninos e da qual tomamos o hábito de folhear e de cultuar os livros, revistas, gibis... O que em parte faz de nós cidadãos de outra Era senão de outro mundo.