quarta-feira, 15 de março de 2017

Programa de restauração das fontes da cultura

Este programa é antes de tudo um programa cultural, que diz respeito as fontes ou raízes de nossa cultura.

Opo-mo-lo:

  1. Ao relativismo cultural
  2. Ao americanismo ou civilização protestante
  3. A Umma ou ideal islâmico de arabização mundial
  4. Aos esforços estéreis das culturas de morte ou sistemas naturalistas. 

A falácia do relativismo cultural


Acreditamos firmemente que todos os homens sejam genericamente iguais tendo em vista os apanágios:

  • Da sensação
  • Da percepção
  • Da inteligência
  • Da racionalidade
  • Da livre vontade

No entanto como o desenvolvimento de tais apanágios depende sempre de algum estímulo fornecido por agentes externos e portanto do tempo, do espaço, do meio, etc

Ao menos quanto a dimensão social em que se dá a produção da cultura, a condição do meio é bastante relevante.

Por isso que as culturas não são iguais. Nem sob o aspecto material e tampouco sob o aspecto imaterial.

De modo que toda produção humana sendo cultura tem valor, mas o valor dessa produção não é nem pode se idêntico. Pois a cultura não se esgota em si mesma e o homem não produz cultura pro produzi-la, mas para relacionar-se com o mundo externo e dialogar com ele.

Temos o critério de cultura ou do valor da cultura na realidade externa do mundo.

Evidentemente que aqueles que repudiam a realidade externa do mundo ou sua intelegibilidade, como os kantianos, pós modernos e relativistas, e subjetivistas... descartam este critério, adquirindo esta questão uma conotação filosófica.

Em que nós vamos pelo realismo, pelo objetivismo, pelo senso comum... ou seja pelo caminho oposto ao dos modernos e pós modernos, na direção do estagirita.

O que nos leva a encarar a função da cultura como uma espécie de dialogo ou tentativa de compreender o mundo externo, de adaptar-se a ele ou de transforma-lo; mas sempre tomando por padrão a realidade.

Culturas que deslindam a realidade tornariam a vida do homem mais fácil ou melhor.

Culturas que conseguem fazer com que este homem consiga compreender a si mesmo, sua origem, o meio em que vive, sua história, etc merecem ser consideradas como superiores.

Nós opinamos que neste sentido nenhuma foi melhor sucedida do que a cultura greco romana com seus ideais de: Sociedade democrática, direito natural, orientação racional para a vida, bem comum, ideal estético, etc E que esta cultura foi enriquecida ainda mais pena contribuição do Cristianismo ou Catolicismo antigo com seus ideais de liberdade pessoal e ética; isto a ponto de formar um complexo harmonioso, perfeito e capaz de desenvolver-se organicamente a partir da idade média... Conhecendo de fato certa evolução até a França do século XVIII ou mesmo dos séculos XIX e XX.

É A ESTA NOSSA HERANÇA CLÁSSICA - e não ao capitalismo, ao protestantismo OU A QUALQUER COISA SURGIDA DEPOIS e em oposição aqueles ideais - QUE NOS REPORTAMOS SEMPRE QUANDO NOS REFERIMOS A NOSSA CULTURA OU A CULTURA PROPRIAMENTE OCIDENTAL. 

Portanto se outros tomam por cultura ocidental ou por nossa cultura qualquer outra coisa produzida na Inglaterra moderna, não estamos falando a mesma lingua. E estamos na contra cultura e em oposição marcada a essa cultura oficial ou midiática.

NÓS NÃO SOMOS A FAVOR DO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO, O QUAL HÁ CERCA DE MEIO MILÊNIO OU QUINHENTOS ANOS TRAIU SUAS PRÓPRIAS RAÍZES ANCESTRAIS DANDO ORIGEM A UMA CRISE EM PRECEDENTES NA HISTÓRIA HUMANA.





Ainda o veneno americanista


Leon Chestov
em suas esquisitas lucubrações achou por bem, a exemplo do velho Tertuliano de Cartago, opor Jerusalém a Atenas, os apóstolos e o Cristo aos filósofos, a Eklesia Cristã a Ágora e ao Areópago, discordo dele e não entrarei no mérito; mas admitida tal oposição ainda haveria mais e maior oposição entre Jerusalém e Atenas e a Berlim ou a Londres modernas e aqui a oposição é por assim dizer drástica e os valores antagônicos.

E sequer transpomos o mar Oceano chegando aos confins de Nova York.

O Ocidente, já o dissemos, sofre e sangra porque vive um conflito de culturas. Na Europa ou mesmo na América latina temos ainda 'vivos' e em atividade diversos elementos de nossa cultura imaterial clássica ou antiga. No entanto lá nos EUA, aqui e mesmo na Europa temos também um novo padrão de cultura produzido no século XVI ela reforma protestante e este sim organicamente relacionado com o modelo de produção capitalista e todo desenrolar subsequente. E essa cultura contemporânea não é racional, não é coerente e não é realista mas a um tempo idealista a outro materialista, amorfa, híbrida, contraditória... É uma cultura de paradoxos e extremos.

Essa cultura levada adiante pelas necessidades globais do mercado sob a forma de imperialismo cultural, sobrepôs-se e busca sobrepor-se ainda mais a antiga de modo a elimina-la. E temos aqui um conflito de morte entre o economicismo do tempo presente (que é materialista) e o ideal humanista legado por toda antiguidade.

É em suas fontes uma cultura inumana e anti humana, pelo simples fato de remontar em última analise ao maniqueismo agostiniano, assumido dogmaticamente por Lutero e Calvino. É cultura que desconfia do homem e que o tem por essencialmente corrupto e degenerado. É cultura que encara o homem como um coitadinho ou miserável. É cultura que nega sua liberdade e questiona sua racionalidade... E a partir daí não se constrói nada mas substitui-se esse ser indesejável pelo TER.

O protestantismo não nos deu a liberdade. Foram suas seitas e divisões ou seu defeito de estrutura, que impediram uma a outra de assumir o controle efetivo da sociedade, substituindo o papismo e criando uma sociedade Bíblia (ideal ainda hoje buscado por muitos protestantes ortodoxos sob a forma da teocracia). Hábil em questionar e fragilizar a igreja antiga, para nossa suprema felicidade, o protestantismo não foi capaz de tomar o lugar dela na direção da Sociedade. Não é que não o quisesse, - Calvino queimou Servet a lenha verde e Benedict Karpzov queimou bruxas como queimamos palha, - apenas não pode faze-lo. Uma vez que criticou a igreja anterior ou velha foi também ele submetido a crítica (e com ele o ídolo Bíblia) pelos pósteros, vitimizando-se até o dia de hoje... Do contrário a Sociedade Ocidental teria revertido ao século IX a C - Segundo o modelo do antigo Israel e algo bem próximo do islã sunita ou salafita - pois a maior parte dos primitivos protestantes odiavam tudo quanto cheirasse a paganismo e estavam determinados a erradicar nossa herança clássica.

Importa saber que suas aspirações falharam ou estouraram como uma bolha de sabão e que ele perdeu a direção espiritual da Europa em menos de um ou dois séculos. Por volta do século XVII já a Inglaterra achava-se apinhada de deístas a exemplo de Tolland ou Cherbury e na França pontificava Pierre Bayle. Foi Nietzsche que ao contemplar o presente da Europa no século XIX, encarou-o a semelhança do fórum romano, juncado por ruínas, apresentando Lutero como responsável por semelhante estado de coisas... E assomavam entre tais ruínas as colunas truncadas e capitéis da escolástica...

Foi algo poderoso para destruir, mas não para construir qualquer coisa de espiritual porque espiritualmente falando ceticismo, religioso ou metafísico, é sempre sinal de desespero. O protestantismo saiu de cena, mas não sua cultura envenenada pelo ceticismo e infensa as capacidades cognitivas do homem vindicadas pela Filosofia Clássica. Kant será sempre o filosofo portátil de Lutero ou seu padrinho filosófico e Aristóteles o guia daqueles que acreditam piamente nas mesmas capacidades e que os sentidos existem para informar o homem sobre a realidade externa que o envolve e não para engana-lo, distorcendo-a.

Se há engano há corrupção e se a corrupção não saímos de Lutero e de seu pretenso paulinismo. Mesmo porque tanto Paulo quanto Pedro admitem expressamente a capacidade cognitiva do homem, inclusive para os elementos da fé. Lutero reporta a Agostinho e Agostinho a Mani... Perdoem-me mas é História das ideias que vai as fontes. Conteste quem quiser mas Agostinho, Lutero e Kant abrem as portas da Acadêmia a Mani... E o homem fica sempre e eternamente fadado a ignorância.

Fica ignorante para que reine a fé e a fé cega.

De todo impotente para controlar as mentalidades ou melhor para dirigi-las é claro que o protestantismo falha ainda mais em termos de ética no sentido de inspirar ação política ou social. Alias pelo dogma da fé somente ele se refugia nas nuvens ou no além e entrega por completo o domínio da Sociedade a política absolutista dos príncipes ou a 'polícia'. Jesus é Salvador espiritual para o além e não legislador ético para o tempo presente, isto em termos de princípios e valores. O que os chineses pagãos concedem a Confúcio, os nipônicos a Sidarta, os maometanos ao filho de Ahmina e os hebreus a Moisés, Lutero e seus protestantes recusam-se conceder a Jesus Cristo! Ficando completamente despojado de sua autoridade Ética, reguladora de todas as atividades humanas. E deixa a Cristandade de buscar inspiração para a vida nos Santos Evangelhos.

Estabelecendo-se uma nova ordem naturalista tanto na produção de bens ou economia quando na ordem política; assim capitalismo e absolutismo e depois formalismo democrático. Não é que a economia sequer o tivesse revindicado antes, a nova religião luterânica é que abdicou oficialmente de inspirar tais setores da vida humana secularizando-os de maneira absoluta, até engendrar o 'espírito' do materialismo. E nos acostumamos, por convivência com essa cultura apóstata, a crer que o Cristianismo não diz respeito ao mundo material e que nada tem a ver com este mundo, passando como uma fórmula fetichista de redenção mágica, quando no passado foi lei e lei a ponto de provocar a queda de um império como o romano, o que não se consegue com orações!

Por outro lado se o protestantismo não era capaz de assumir a direção espiritual e ética da Europa tampouco permitia que a igreja romana torna-se a assumi-la no passado enfrentando dos déspotas e banqueiros e não mais haveria de surgir Ambrósio que ousasse enfrentar o tirano Teodósio ou Antonio de Pádua que impusesse penitência aos banqueiros e avarentos na Europa! Reis e banqueiros podiam trilhar livremente seu caminho de sangre, suor e lágrimas sem que qualquer poder os contivesse, e há quem veja amplos benefícios nisto. Foi grande, não o negamos, o benefício de não mais se poder matar em nome do Cristo, profanando-o. No entanto não havia e nem parece haver quem contenha a fúria assassina dos banqueiros e governantes, e a fome é uma expressão dela que ainda nos passa desapercebidamente no século XXI, sem que hajam milhões de monges dispostos a mitiga-la, como dizia o anglicano Cobett.

Após a revolução protestante uma igreja romana fragilizada e ameaçada pelos poderes seculares, converte-se em capachos dos reis por trezentos anos, sem que disto adviesse qualquer benefício concreto. Por toda Europa temos um Cristianismo socialmente morto e eticamente irrelevante, em que pesem as vozes proféticas de um Hugh Latimer, de um Thomas Morus, de um Thomazzo Campanella, de um William Laud, de um Mably, de um Morelly e enfim de um Lammenais, o qual no exato instante em que a nova ordem capitalista impõe-se politicamente na Inglaterra, faz-se porta voz do Catolicismo social na França e assim Wietling na Alemanha.

No entanto por trezentos anos ou seja por três séculos este gigante espiritual esteve prostrado e arruinado após a rebelião luterana.

Diante deste vácuo ou vazio espiritual provocado e alimentado pelo protestantismo haveis de estranhar que os naturalismos tenham assomado e assumido a direção espiritual da Europa a partir do Capitalismo???

Graças a total inépcia do protestantismo e a fragilização da igreja romana, diversas e sucessivas culturas de morte afirmaram-se por toda Europa, renovando inclusive os erros letais do paganismo antigo como o autoritarismo, o nacionalismo, o racismo e o odinismo; a estatolatria enfim. Foi o caminho ou direção tomada por muitos com o intuito, as vezes honesto, de contra atacar o liberalismo econômico e posteriormente o americanismo abjetos. Atacaram os inimigos certos mas com armas erradas porque não souberam empunhar as armas afiadas da cultura.

Já explicamos em diversas ocasiões como a civilização americanista ou yankee com sua KKK, seu destino manifesto, extermínio de peles vermelhas, etc, etc, etc é produto da crença protestante calvinista transplantada ao Novo Mundo. Destruída a cultura indígena e sem qualquer concorrência por parte de uma cultura humanista mais antiga - como no caso do velho mundo - pode o calvinismo engendrar um novo padrão de cultura anti humanista em conexão com o modelo capitalista de produção, com a democracia meramente formal e até mesmo, posteriormente, com o darwinismo social.

A cultura protestante norte americana é herdeira e legatária dos delírios judaicos iconoclásticos, anti 'pagãos' e consequentemente anti humanistas e anti imanentes. Daí seu completo repúdio a tudo quanto precede a reforma protestante com seu ideal vetero testamentário de cultura. De Sócrates a Tomas de Aquino tudo quanto havia foi pintado como diabólico... Daí a busca por uma terra incontaminada, pura e vazia de cultura, por uma terra sem sinos, cruzes, catedrais e Bispos, tal o ideal do puritanismo, com sua busca doentia por uma sociedade bíblica nos moldes do antigo Israel...

Esse solo impoluto, em termos de cultura, foi a America do Norte. E ali a cultura puritana, calvinista, individualista, anti humanista e 'biblica' pode nascer, e medrar, e florescer até ser encampada pelo materialismo economicista, sem que todavia sua simples presença e resíduos culturais desaparecessem por completo. Por fim, em meados do século XIX/XX protestantismo, capitalismo e democracia formal converteram-se num só organismo, estabelecendo laços de solidariedade.

Agora, isto é após a segunda grande guerra em especial, esta cultura essencialmente maligna, despenha-se sobre todo mundo visando coopta-lo e estabelecer um império mundial ou global, não apenas econômico mas também religioso, político e cultural. Os EUA aspiram converter-se em novo polo mundial de civilização, a semelhança do Império romano ou da cultura helenística... Quando na verdade sua cultura é a negação de toda nossa herança helenística e romana e a afirmação a um lado do ideal semítico e descarnado de divindade e cultura e a outro do ideal materialista e economicista com seu reducionismo e pobreza infinitos.

Continua -

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