sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Da educação libertária



Não há quem não se interesse pelo tema educação, sociólogos, jornalistas, filósofos, padres, militares, pastores, políticos, marxistas e até anarquistas. Pois todos esses grupos sabem como a educação é importante. Se querem dominar o povo (no caso dos anarquistas emancipar o povo) precisam assenhorar-se da educação.

Durante muito tempo no Brasil a educação esteve à cargo da Igreja Católica Romana e mesmo depois da separação entre a igreja e o Estado, a Igreja romana continuou a se imiscuir na educação oferecendo educação religiosa nas escolas públicas. Mas quando a Igreja já não tinha mais tanto poder sobre a educação pública o Estado tomou o encargo da educação e lançou outros vícios nas mentes juvenis, vícios como o amor à pátria, ensinando obrigatoriamente o hino nacional, o hino da cidade, exigindo uma disciplina militar dentro das escolas e não permitindo questionamentos, claro que desde à década de 1930 muita coisa tem mudado e a educação pública hoje é deficitária mas já não ensina aquele amor despudorado pelo conceito abstrato de pátria, ou de servir à nação contra os "inimigos externos", os estrangeiros.

Eu sou professor de escola pública e, faço o meu melhor enquanto professor, porque acredito na educação e acredito na educação porque antes de tudo acredito em mim, acredito em meu potencial. Quando vou à escola é para lecionar e mais para ser professor, porque nos dias atuais ser professor não é apenas ser mediador do conhecimento mas também ser psicólogo, confidente e mesmo pai e mãe, de jovens que não são aceitos por seus pais.

Mudando um pouco de assunto, tenho ouvido em rodas de conversas e também lido no facebook assuntos que versam sobre a revolução, mas vou confessar uma coisa, eu não acredito mais em imediatismo e tampouco em espontaneísmo, principalmente quando as massas seguem líderes, a vanguarda do partido, quadros ou quando não seguem ninguém mas estouram em manifestações tal e qual uma boiada, muitas dessas pessoas rebeldes sem causa. Sinceramente, não acredito que isso vai mudar uma vírgula sequer na vida desse povo sofrido.

Por isso penso que o anarquista mais inteligente ou um dos mais inteligentes de todos os tempos foi Francisco Ferrer Y Guardia criador da Escola Moderna que sabia da importância da educação e sabia que para engendrar uma sociedade nova precisava de novos homens e novas mulheres sem esses preconceitos embutidos pela religião e pela escola laica com seu nacionalismo e pregação das "virtudes do cidadão de bem". Ferrer sabia mais que ninguém que para criar uma sociedade nova não se faz necessário uma revolução ou manifestações espontaneístas como querem certos revolucionários e anarquistas que amam mais o sangue que a instrução. Sim, sim Ferrer sabia que uma sociedade nova se faz através de uma nova educação, educação laica, racional e científica, que não ensine o medo de Deus às crianças, que não ensine à submissão aos padres (no caso hoje que não ensine submissão aos pastores), que não ensine o amor pela pátria e os valores cívicos para que não se venha a gerar nacionalistas que vejam os estrangeiros como inimigos e para que não se tornem carne sacrificada à Ares. Francisco Ferrer tinha muita razão quando escreveu a senhorita Henriette Meyer: "Para transformar a maneira de ser da humanidade, não compreendo que haja coisa mais urgente do que o estabelecimento de uma educação, tal como o concebemos, que dando frutos facilitará o progresso e tornará a conquista de toda ideia generosa muito mais fácil. Eis porque me parece que trabalhar agora para a abolição da pena de morte e para a greve geral, sem saber como havemos de educar os nossos filhos é começar pelo fim e perder tempo". [1]

Fonte:
1. PENTEADO, João. A Gerra Social. Ano 01 - Nº 19 - Rio de Janeiro - RJ. 03.04.1912.

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