Quando se lê uma história da filosofia o leitor espera encontrar imparcialidade mas infelizmente não encontra até porque tudo o que somos e o que fazemos leva o cunho partidário, ideológico de modo que não existe neutralidade.
Leio manuais de filosofia desde minha adolescência (faz tempo!) e com o tempo tenho aprendido que os manuais diferem não pela matéria mas pela tendência, exemplo: Se o leitor ler o livro Vivendo a filosofia de Gabriel Chalita e ler os Fundamentos de filosofia de Afanasiev vai perceber que no primeiro livro a tendência do autor é acentuar a importância de autores católicos e dedicar mais páginas à Santo Agostinho e a Santo Tomás de Aquino assim como toda a Idade Média em detrimento dos filósofos acatólicos teístas ou não; já no segundo livro o autor trilha toda a história de filosofia, mostrando duas correntes: a idealista e a materialista que permeiam toda a história da filosofia. O autor do segundo livro é marxista-leninista então ele se propõe a mostrar todos os defeitos do idealismo e engrandecer o materialismo até chegar ao ápice que é o materialismo histórico/dialético, pois mesmo os materialismos anteriores carregavam vícios, o único bom é o da então URSS.
Agora quando se trata de levar livros didáticos de filosofia (o do Chalita é didático) os professores devem ser bem criteriosos e escolher aqueles livros que sejam os menos parciais possível, de modo que seus alunos possam conhecer todas as correntes da filosofia por si mesmos e possam ter autonomia para escolher a corrente que mais lhes agradar ou nenhuma. Num livro didático tendencioso o aluno praticamente é levado a escolher tal ou tal tendência filosófica.
Agora quando se trata de livros específicos como Filosofia na Idade Média de Etienne Gilson é evidente que se trata de filosofia católica, além é claro de não se tratar de um manual de filosofia, mas uma exposição da filosofia medieval e da Igreja Católica Romana. Nesse caso o leitor não tem do que reclamar porque o autor está delimitando o tema. O mesmo se diga dos livros de Michel Onfray Contra-história da filosofia trata de pensadores materialistas, então o leitor está advertido sobre os temas de um e outro livro.
Nada tenho contra os manuais de filosofia mas não pense que são imparciais porque não são e nem infalíveis, daí que é bom ter vários manuais para confrontar um com o outro, para eventuais esclarecimentos. Os manuais de filosofia muito auxiliam na ajuda de certas leituras difíceis de serem assimiladas, mas o melhor mesmo depois das leituras dos manuais é iniciar a leitura dos filósofos por si mesmo pois aí você não encontrará interpretações, verá os filósofos tais como são e a interpretação do que ele disse de fato ou do que se cogita fica por sua conta leitor. Os manuais servem apenas para uma orientação, são como bússolas que apontam para o norte, mas se você não sabe os pontos cardeais as bússolas para nada servem.