quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dos manuais de filosofia




Li vários manuais de filosofia mas não vi nenhum imparcial, (isso não quer dizer que não existam autores imparciais, até porque não li todos os manuais de filosofia do mundo) quase todos os manuais e histórias da  filosofia carregam as tendências de seus respectivos autores.

Quando se lê uma história da filosofia o leitor espera encontrar imparcialidade mas infelizmente não encontra até porque tudo o que somos e o que fazemos leva o cunho partidário, ideológico de modo que não existe neutralidade. 

Leio manuais de filosofia desde minha adolescência (faz tempo!) e com o tempo tenho aprendido que os manuais diferem não pela matéria mas pela tendência, exemplo: Se o leitor ler o livro Vivendo a filosofia de Gabriel Chalita e ler os Fundamentos de filosofia de Afanasiev vai perceber que no primeiro livro a tendência do autor é acentuar a importância de autores católicos e dedicar mais páginas à Santo Agostinho e a Santo Tomás de Aquino assim como toda a Idade Média em detrimento dos filósofos acatólicos teístas ou não; já no segundo livro o autor trilha toda a história de filosofia, mostrando duas correntes: a idealista e a materialista que permeiam toda a história da filosofia. O autor do segundo livro é marxista-leninista então ele se propõe a mostrar todos os defeitos do idealismo e engrandecer o materialismo até chegar ao ápice que é o materialismo histórico/dialético, pois mesmo os materialismos anteriores carregavam vícios, o único bom é o da então URSS. 

Agora quando se trata de levar livros didáticos de filosofia (o do Chalita é didático) os professores devem ser bem criteriosos e escolher aqueles livros que sejam os menos parciais possível, de modo que seus alunos  possam conhecer todas as correntes da filosofia por si mesmos e possam ter autonomia para escolher a corrente que mais lhes agradar ou nenhuma. Num livro didático tendencioso o aluno praticamente é levado a escolher tal ou tal tendência filosófica. 

Agora quando se trata de livros específicos como Filosofia na Idade Média de Etienne Gilson é evidente que se trata de filosofia católica, além é claro de não se tratar de um manual de filosofia, mas uma exposição da filosofia medieval e da Igreja Católica Romana. Nesse caso o leitor não tem do que reclamar porque o autor está delimitando o tema. O mesmo se diga dos livros de Michel Onfray Contra-história da filosofia trata de pensadores materialistas, então o leitor está advertido sobre os temas de um e outro livro. 

Nada tenho contra os manuais de filosofia mas não pense que são imparciais porque não são e nem infalíveis, daí que é bom ter vários manuais para confrontar um com o outro, para eventuais esclarecimentos. Os manuais de filosofia muito auxiliam na ajuda de certas leituras difíceis de serem assimiladas, mas o melhor mesmo depois das leituras dos manuais é iniciar a leitura dos filósofos por si mesmo pois aí você não encontrará interpretações, verá os filósofos tais como são e a interpretação do que ele disse de fato ou do que se cogita fica por sua conta leitor. Os manuais servem apenas para uma orientação, são como bússolas que apontam para o norte, mas se você não sabe os pontos cardeais as bússolas para nada servem. 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Da falsa modéstia




Em nossa sociedade as pessoas não estão acostumadas com pessoas sinceras, nem com verdades, confundem o ter personalidade com arrogância e fraqueza de espírito com humildade. O engraçado é que essas pessoas (falo das redes sociais) que se dizem humildes xingam, destratam os outros, fazem alarde dos conhecimentos de tal e tal assunto, mas quando alguém fala contra a cultura de massa se revoltam tomam as dores, censuram, te acusam de arrogância, olvidando que o ato de acusar alguém disso já é um ato de arrogância, porque acha que a sua opinião é verdadeira e não pode ser questionada, interessante não?

Essas pessoas se acham modernas, livres de preconceitos, homens e mulheres póstumos mas na verdade não passam de imitação barata e mal feita do homem superior de Nietzsche. Muitas dessas pessoas adoram citar frases buriladas de Nelson Rodrigues, de Nietzsche, de Oscar Wilde, de Freud dizendo que concordam com essas celebridades, mas esse concordar é um falso concordar, pois quando alguém (e esse foi o meu caso) escreve:

"Eu gosto do povo/massa pois graças à ele(a) eu posso saber o que é um bom filme, uma boa música, um bom livro. Explico-me se a massa ouve uma música eu não a ouço; se lê um livro (exemplos: agapinho, bíblia, a cabana) eu rechaço; se assiste a um filme (os vingadores) é um bom sinal para não assistir".   


Essas pessoas caem em cima criticando, afirmando que o autor da frase é arrogante, preconceituoso, etc... Que não tinha o direito de exarar essa opinião, aí quando você cita um autor que pessoas "humildes" gostam como Nelson Rodrigues: "A unanimidade é burra", elas tem a coragem de perguntar ao interlocutor se este está se nivelando ao dramaturgo.  Engraçado, essas pessoas apóiam tudo o que ele escreveu, inclusive coisas ofensivas as massas e ficam chocadas quando alguém coerente, isto é, que tenta seguir pensadores como Diógenes o cínico, Nietzsche entre outros são criticados pela autenticidade. Porque autenticidade para essa gente é ser hipócrita, é esconder o que pensa. Essas pessoas que se dizem tão avançadas somente o são para fazer citações a fim de parecerem interessantes/intelectuais mas não passam disso, pois na hora de colocar em prática o que dizem acreditar se mostram tão ou mais reacionárias que as pessoas assumidamente conservadoras, pregando a "moral e os bons costumes". 


Mas pimenta nos olhos dos outros é refresco não? Essas pessoas que estão aí no mundo virtual adoram mostrar sua sabença, humilhar os que discordam delas e depois quando encontram alguém autêntico posam de São Geraldo Majela, a humildade personificada. Mas para censurar um ser declaradamente orgulhoso é preciso ser ainda mais orgulhoso que ele, é o caso de Diógenes que disse:


- Piso no orgulho de Platão.
- Logo com um orgulho maior, respondeu Platão. 


Eu não posso fazer nada se já descartei há tempos a falsa modéstia e essa humildade forjada em oficinas de teatro de 5ª categoria. Por que hei de negar uma coisa assim:

- você é inteligente.
- não, não bondade sua.

Acaso isso não é hipocrisia e querer se passar por humilde não é querer que o outro continue elogiando e admirando ainda mais por causa da falsa humildade?  Esse tipo de gente admira pensadores ousados mas quando encontram pessoas ousadas caem em contradição, pois elogiam aquilo que falaram e fizeram e quando alguém se põe a imitá-los, censuram. É, hipocrisia é FODA!!!