quinta-feira, 3 de maio de 2012

Um grande orador



Hoje me senti obrigado a escrever sobre um grande orador da baixada santista, o cônego Paulo Horneaux (pronuncia-se Hornô) de Moura Filho. Não se preocupe dileto(a) leitor(a) não é sobre religião que vou discorrer.

Na minha adolescência eu era católico romano devoto, beato, carola, papa-hóstia, mas por razões teológicas abandonei o romanismo, mas isso não vem ao caso e não é sobre o meu abandono da fé romana que você está interessado(a) mas sobre o grande orador, pois bem falemos sobre ele.

Padre Paulo santo para muitos, politiqueiro para outros, e demônio para alguns foi um grande orador, não vou tecer minhas considerações sobre sua pessoa, apenas abordarei sua faceta enquanto orador.

Já andei por várias igrejas dentro do estado de São Paulo, conheci alguns bispos e padres à rodo e nunca vi um que se equiparasse ao cônego Paulo Horneaux de Moura seja em conhecimentos históricos, geográficos, filosóficos, literários seja em saber como se postar frente à um auditório. Também por curiosidade andei no meio protestante tradicional e pentecostal e nenhum pregador tem sequer um trilionésimo da cultura que teve o padre Paulo.

Lembro-me de suas homilias como se fosse hoje, com sua batina alva com a estola da cor do tempo litúrgico, subindo ao púlpito e lá ele esperava que o povo silenciasse, então pedia ao povo que rezasse uma ave-maria e que pedisse ao Espírito Santo que o inspirasse e depois encenava estar inspirado e falava com autoridade. Tudo nele falava e não só a boca, falavam as mãos, os olhos e todo o corpo.

O cônego Paulo sabia modular a voz, fazer caras e bocas e o que é mais importante, sabia comover o auditório, era o tipo de orador que poderia dizer obscenidades dignas de marquês de Sade e ainda todo o povo choraria copiosamente, com ele aprendi que o importante não é dizer algo mas como se diz esse algo, pois os ouvintes se atentam mais ao como é dito do que ao que é dito.

Creio que posso dizer que em minha adolescência minha admiração por esse grande retórico era o mesmo que Agostinho de Hipona sentia ao ver o bispo Ambrósio de Milão. Eu mesmo mais me interessava na forma como dizia do que dizia, era um espetáculo vê-lo pregar e como conseguia persuadir seus fiéis a respeito de quaisquer coisas que lhe interessassem.

Esse padre não tinha o olhar hipnótico de Rasputin mas o timbre de sua voz melodiosa e seus gestos graciosos no púlpito cativavam seus ouvintes levando-os à comoção. Se um orador seja este político, religioso, advogado, promotor, conferencista não mexe internamente com seu auditório então não é um bom orador. Creio que o meu amor às palavras e o modo como converso carregam um pouco do estilo desse homem. Dizem que a palavra é de prata e o silêncio é de ouro mas penso ser o contrário o silêncio é de prata e a palavra de ouro, não é à toa que o apóstolo João identificou Jesus Cristo com o  λόγος, o verbo, a palavra.

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