sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Big-Bang e a fé







A respeito do Bing-bang há dois grupos igualmente desinformados:  O dos fanáticos religiosos e o de certos ateus, para os quais a Teoria do Big-bang é incompatível com a ideia de deus*.

Pensam ambos os grupos que a teoria do Big-bang explica a origem do universo. Uns pensam que é uma teoria ateia e blasfema por negar a ação direta de deus na natureza, outros pensam que é uma teoria ateística por prescindir da existência de um deus.

A teoria do Big-Bang foi postulada por um sacerdote, isso mesmo por um presbítero católico apostólico romano, o padre George Lemaître. É evidente que o nome não foi dado pelo padre, mas por um êmulo seu: Fred Hoyle com o intuito de desmerecer a teoria, uma vez que este renomado cientista (diga-se de passagem, materialista e ateu)  morreu crendo na Teoria do universo estacionário, isto é, que certas propriedades do tempo e do espaço são imutáveis, mesmo após ficar suficientemente demonstrado que a Teoria de Lemaître correspondia aos fatos.

A propósito do Big-bang sabe-se que não foi grande, por partir de um ponto minúsculo e que tampouco houve explosão e sim expansão do universo. Expansão e não necessariamente uma produção.

Vibraram os ateus recentemente com o novo livro de Hawking e também com sua declaração de que a Teoria do Big-bang era capaz de explicar o surgimento do Universo sem a necessidade de recorrer à criação divina. [1]

Mas de acordo com Alexandre Zabot: "Em primeiro lugar, não há motivo para espanto, ele sempre afirmou isso. O único aspecto que parece ter mudado em sua opinião é que antigamente Hawking parecia ser mais  condescendente com a religião, agora ele é mais duro.
Sempre que tem a oportunidade, manifesta enfaticamente seu ateísmo". [2]

Muitos ateus apelando ao argumento 'ad autoritatem' dizem Hawking é ateu e complementam com o 'magister dixit': deus não existe.

Assim fazem da autoridade científica uma outro deus ou uma espécie de demiurgo...

Deus não pode ser objeto da ciência pois não é um fenômeno. A ciência lida apenas com experiências, com pesquisas, com testes, ora nem tudo o que existe pode ser testado. Se deus fosse testável, verificável, experimentável ou passível de ser captado pelos sentidos seria material, logo composto,  por isso limitado; inexistente enfim; uma vez que a ideia de deus exclui composição, materialidade e limitação.

Por outro lado os religiosos carecendo de conhecimentos científicos e históricos rejeitam a Teoria do Big-bang apegando-se aos mitos hebraicos como se se tratassem de fatos científicos.

Ora, a Teoria do Big-bang é uma teoria sobre a evolução do universo e não sobre a criação do mesmo.

Os cientistas não sabem o que veio antes do Big-bang ou como o universo surgiu. Se alguém metido a cientista opina sobre o que houve antes do Big-bang não está fazendo ciência mas metafísica, metafísica que faz o papel de antimetafisica ou de metafisica invertida.

O Big-bang não exclui - nem inclui - deus, quem exclui deus são os interessados em que ele não exista, como quem inclui, muitas vezes, tem em vista outros tipos de interesse.

Aliás, os ateus tem verdadeiro pavor de teístas que estudam e que adquiriram algum conhecimento científico, pois, pensam eles, é a ciência uma espécie de mãe ou filha do ateísmo.

E de certo até acaba sendo pois - devido as circunstâncias do tempo presente -  aqueles que se fazem apóstolos do ateísmo eram religiosos de orientação fideista, logo desprovidos quaisquer conhecimentos científicos. No momento em que tais pessoas entram contato com a literatura científica, ficam deslumbradas passando imediatamente ao extremo oposto, aderindo a metafísica cientificista, e negando que fé e ciência possam caminhar juntas.

Cumpre observar ainda que o protestantismo biblicista (fundamentalista) é o padrão religioso que mais produz ateus uma vez que rejeita o padrão científico em sua totalidade acatando apenas a interpretação literal da Bíblia.

Um cristão pode aceitar a Teoria do Big-bang sem deixar de se-lo ou pondo sua fé em risco?

Não só pode como deve - e com orgulho - aceita-la uma vez que foi proposta por um clérigo, que por sinal jamais foi excomungado ou posto fora da igreja. Ter medo da ciência ou da verdade é pura desonestidade, neste ponto até ateus são desonestos como é o caso do supracitado Fred Hoyle que como vimos repudiou mesmo depois de verificada a Teoria do Big-Bang.

Alguém poderia questionar: Acaso a ciência não é materialista? Como um cristão pode conciliar a existência da dimensão espiritual com o materialismo?

De fato é a ciência metodologicamente falando materialista, esboçando no entanto um tipo de materialismo bem distinto do materialismo filosófico que é uma elaboração metafisica, mas, já que tocamos no assunto vamos até o fim, explicando que é materialismo filosófico e que é materialismo metodológico.

Materialismo filosófico é uma ideologia ou visão de mundo, pois implica crer que o universo sendo composto apenas de elementos materiais sempre existiu ou que surgiu do nada; já o Materialismo metodológico diz respeito apenas ao campo e aos métodos da ciência. A metodologia é materialista porque a ciência estuda apenas aquilo que pode ser percebido por nossos sentidos ou seja matéria, isto porém não implica em ateísmo ou em materialismo filosófico, mesmo porque embora todos os cientistas empreguem obrigatoriamente o materialismo metodológico, parte deles, ao menos é deísta e panteísta ou mesmo religiosa. Theodosius Dobzhansky um dos pais do neodarwinismo foi uma prova viva de que a ciência não exclui a fé. Dobzhansky rezava todas as noites pois era cristão ortodoxo.

Para tanto basta admitir que a realidade é mais ampla do que nossa capacidade sensorial ou seja que embora tudo quanto percebamos seja confiável e real, não somos capazes de perceber tudo, ficando alguma coisa para além de nossa percepção. Implica isto num certo tipo de concepção filosófica e não na experiência enquanto tal.

Voltando a Hawking e ao seu livro Alexandre Zabot escreve: "...por puro desconhecimento de conceitos básicos de teologia e filosofia que Hawking afirmou em seu último livro, The grand design [O projeto grandioso], que "dado que existe uma lei como a da gravidade, o Universo pôde criar-se e se cria a partir do nada. (...) A criação espontânea é a razão porque há algo em lugar do nada, de porque existe o Universo e porque existimos. (...) Não é necessário invocar a Deus para acender o pavio e colocar o Universo em marcha". Nessa afirmação, fica evidente que o físico britânico desconhece o sentido cristão de criação ex nihilo. Se já existia algo, a gravidade, então não ocorreu uma criação realmente. Houve uma transformação, uma evolução a partir de algo preexistente". [3]

Notas:
* Com isso quero indicar que deus não é um nome próprio, mas um substantivo comum, por isso me dou ao luxo de escrever deus com letra minúscula, isso nada tem a ver com fé ou falta da mesma.

As notas 1,2 e 3 são de autoria de Alexandre Zabot que é físico e astrônomo e tem uma coluna na revista O Mensageiro de Santo Antônio.
Fonte: O Mensageiro de Santo Antônio, março de 2011, páginas 34-35



Um comentário:

Domingos disse...

Excelente texto, eu mesmo não teria escrito melhor.
Informações e referências de valor acompanhadas por raciocínios pertinentes.
Um artigo que informa e orienta o grande público a respeito dos funestos extremismos do nosso tempo: ateísmo e fundamentalismo religioso.
É sempre bom sempre lembrar e citar as palavras do Filósofo: "Os extremos se tocam" e de fato se tocam pela virulência e pelo fanatismo.
Nós porém nem negamos nem banalizamos a existência do Ser.
Afinal a perfeição do Ser supõe sua sabedoria e beatitude excluindo qualquer possibilidade de intervenção oposta a constância das leis naturais.
Quem postula um legislador no âmbito das naturezas material e ética, exclui a concepção antropomórfica e vulgar de um interventor.
Efetivamente a bibliolatria protestante e a ideologia ateística tem representado poderosos obstáculos ao progresso do conhecimento humano.
A reforma protestante, graças as lutras e transtornos que causou após sua implantação 'travou' os progressos do humanismo e da Renascença por mais de século e meio, tanto na Alemanha quanto na Inglaterra.
Já o vezo ateístico foi responsável pela frieza e pelo ceticismo com que as descobertas dos Sacerdotes Gregor Mendel e Georges Lemaitre foram recebidas por nossos cientistas 'emancipados', ocasionando um deficit na área das pesquisas que se estende até o momento presente.
Sagan já havia observado que a imensa maioria de seus pares ignora supinamente tudo quanto diga respeito a Filosofia em termos de aparelho epistemológico e conceitual.
Mesmo o ilustre Hawking não foge a regra...
Afinal a 'tropa de choque' materialista até ousa suster que a Filosofia, a História, a Sociologia, a Psicologia e outros tantos ramos do conhecimento humano nada possuem de científicos.
Maravilhosos serviços prestados a humanidade... rsrsrs