quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Desconstrução de um discurso demagógico



O vereador Dario Bueno conhecido como Burro iniciou uma polêmica desrespeitosa à categoria dos professores. O que vou fazer aqui é a desconstrução do discurso demagógico desse senhor. 

Dario Burro começa falando que os municípios tem que investir 25% de sua receita na educação e segundo o vereador diz que em Jacareí isso representa R$ 75.000.000. Dario Burro fala ainda que educação "não é só município, é estado na esfera pública, federal". Burro ainda fala que vai discursar sobre o público porque foi escolhido como representante para zelar pelo patrimônio, como se fez entender. 

"Se você tem uma noção básica de economia, você entende que todo investimento espera um retorno e esse retorno na educação eu não vejo, porque há mais de vinte anos, a Constituição obriga a destinar 25% da receita própria e a prioridade da educação pela Constituição, é erradicar o analfabetismo e ainda não foi erradicado por mais de vinte anos com todo esse investimento, isso é preocupante. E quando você vai  conversar isso com os professores e isso ficou bem claro com o uso da tribuna  do professor Roberto Mendes que professor só fala em salário, isso me incomoda".

O Burro começa sua fala pela economia que todo investimento tem que ter retorno e ele não vê retorno no dinheiro investido na educação. Mas aí  surge a pergunta: Esses 25% chegam às escolas? Esses 25% da receita chegam às mãos dos professores? Por acaso não vemos denúncias e mais denúncias  de desvios de verbas públicas? Por que há mais de vinte anos o analfabetismo não foi erradicado do Brasil se o investimento é assim tão bom, segundo Dario Bueno? Simples, porque a verba não chega nem às escolas nem às mãos dos professores, se chegasse muita coisa mudaria. Professor só fala em salário diz o vereador polêmico de Jacareí. Professor só fala em salário, vereador não fala em salário, vereador aumenta o próprio salário. Se nós pudéssemos aumentar nossos próprios salários, evidentemente que não falaríamos em salários. Dario Burro é favorável ao aumento de salário dos vereadores, mas não da forma como foi feita e aí acabou por votar contra. Ele é favorável ao aumento de salário dos vereadores, mas não é favorável que professores discutam salário e plano de carreira, pois é, dois pesos e duas medidas. Dario Burro que diz ter noções de economia fica incomodado ao saber que "professores só falam em salário", ele não sabe que segundo Marx - O modo de produção da vida material determina o caráter geral do processo social, político e intelectual da vida. E que Não é a consciência dos homens que determina a sua existência mas, ao contrário, sua existência social determina sua consciência. Ora, os professores que tem sua vida determinada, digo, condicionada pelo econômico, são obrigados a trabalhar em duas ou três escolas e isso se reflete em suas vidas porque suas aulas perdem muita qualidade, quando não perdem toda a qualidade. Quando os professores ganharem bem e forem devidamente capacitados, então os professores darão melhores aulas porque terão tempo de preparar suas aulas, mas o vereador não sabe nada disso.


"O problema está no comprometimento no projeto de nação do professor e isso não percebo, porque se isso fosse legítimo não teríamos mais analfabetos no Brasil". 

É muito fácil culpar os professores pelo analfabetismo quando os legisladores nada fazem em prol da educação. Ora, pode existir o maior comprometimento do mundo com a educação, mas se não existem condições de trabalho, ambiente saudável, salário digno, não vai haver mudança nenhuma.


Agora o que mais acho engraçado na fala do vereador do DEM é o fato do mesmo citar Paulo Freire para justificar suas críticas aos professores. 

O vereador fala que Paulo Freire conseguiu alfabetizar num projeto experimental em 1962 trezentos adultos em quarenta e cinco dias sem cartilha, num método super-eficiente, partindo de seus conhecimentos prévios.

Ok, mas em que contexto Paulo Freire fez isso? Quem eram seus alunos? Como fez isso? Primeiro, o método Paulo Freire é para adultos e não para crianças. 

O Dario Burro após isso desfia terços de indignação afirmando que as pessoas entram analfabetas e saem analfabetas da escola, e toca de novo no econômico. Ele não entende como podem haver analfabetos com tantos investimentos. Primeiro, nem todo professor é alfabetizador, logo são os alfabetizadores é que devem alfabetizar as crianças. Mas como as crianças podem ser alfabetizadas com salas superlotadas, crianças que desrespeitam o professor, crianças com inclusão e falta de material didático? E não é só, os professores são cobrados pelas seducs da vida, por seus superiores imediatos, e há professores que são obrigados até a falsear dados. Eu mesmo gostaria de saber se esse vereador que já foi professor conseguiria  alfabetizar não trezentas, mas quarenta crianças em quarenta e cinco dias, com as atuais condições da escola. 

O vereador diz que os professores que se colocam no mesmo nível de Paulo Freire. Qual é o problema dessa afirmação do vereador? É que ele generaliza. Há professores maus, sim e não são poucos, mas não ser poucos não é o mesmo que dizer os professores, como se toda a categoria fosse culpada pelo que faz um certo número de professores. 

Em seguida ele diz que os professores não alfabetizam nem politicamente nem por meio da leitura e da escrita. Mais uma vez acusação sem solução. Será que esse vereador ignora que professor tem prazos para entregar notas, trabalhos, projetos e relatórios, que muitos professores fazem cursos de especialização e trabalham em mais de uma unidade escolar?

Burro em sua fala diz que os professores dizem que os políticos querem um povo estúpido e ele disse que esse é um discurso desbotado. Mas se é assim por que os os vereadores não elaboram projetos de leis que beneficiem os professores e a escola? Por que os prefeitos não constroem mais e melhores escolas? É evidente que os políticos querem um povo burro porque somente assim vão perpetuar seu poder indefinidamente.

Mais uma vez Burro compara Paulo Freire aos professores, como se todos os professores fossem alfabetizadores. Fico me perguntando se Paulo Freire tivesse diários de classe, semanários, relatórios, conselho de classe, deliberação 11, HTPC entre outras coisas do ramo, se ele conseguiria alfabetizar esses adultos. Realmente, não sei, mas imagino que não.

Nós estamos atrasados como nação, não é por culpa só dos professores, mas dos políticos que se promovem em cima das misérias do povo.

Todo professor diz: "vote nulo?" Todo? Bem se vê o vereador confunde o singular com o plural, e aí não sei se confunde propositadamente ou se por ignorância; se por ignorância precisa de aulas de gramática e lógica. Uma coisa é um professor e outra coisa, todos.

Mas quando um vereador não quer trabalhar, ele vai para o Twitter, facebook e falar a primeira idiotice que se lhe assoma à cabeça. E para não ser cobrado pelo povo se faz necessário se achar um bode expiatório, nesse caso, os professores fazem esse papel;



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