sábado, 17 de maio de 2014

Cristianismo, Paulo e o agostinianismo II - A solução protestante




Os protestantes no entanto invertem o esquema e tomam o caminho oposto; adaptando as pastorais e demais epístola a Romanos; por questão de pura e simples ideologia, mas a que preço...

Insistindo no princípio solifideista da salvação pela fé somente bem como na doutrina da corrupção total da natureza, da soberania da graça e da predestinação absoluta; situam o 'abortivo' em contradição não só com os demais apóstolos e Jesus mas consigo mesmo!!! De fato o Paulo de Lutero e Calvino não esta em guerra ou conflito apenas com o Evangelho e os escritos dos demais apóstolos; mas em conflito com suas próprias palavras e testemunhos claramente explicitados!

Evidentemente que a cronologia das epístolas paulinas não pode ser determinada com exatidão matemática; pode no entanto ser traçada com relativa segurança.

Há fortes indícios para acreditarmos que a ordem em que as epístolas foram compostas corresponde quase que exatamente a ordem em que se encontram dispostas no corpo do  N T.

De fato os antigos expositores protestantes - e ainda hoje os mais conservadores - (impregnados pela ideia magico fetichista da inspiração verbal, plenária e linear)  não viam qualquer problema em endossar esta tese; mormente quando sabemos que suas derradeiras epístolas - TM, TT e FLM - encontram-se justamente no fim do 'corpus'; destarte, se o espaço ocupado no NT por parte das epístolas paulinas é relativamente exato; por que o espaço ocupado pelas demais epístolas não haveria de se-lo???

No entanto, conforme a doutrina magico fetichista de inspiração ia perdendo seu prestígio mesmo entre os protestantes, foi necessário fazer alguns reajustes tomados por empréstimo a crítica liberal (embora via de regra os mesmos protestantes encarem a critica liberal como mais ou menos ímpia ou diabólica!); isto com o sentido de 'atrasar' ao máximo a composição da epístola aos romanos; situando-a inequivocadamente após a epístola aos Gálatas ou mesmo, se possível for, após a primeira epístola enviada aos fiéis de Corinto.

Ora toda esta recomposição de datas em torno do corpus paulinum corresponde como já dissemos a uma manobra ideológica cujo fim é evitar a todo custo admitir que Romanos tenha sido, como parecer ter sido, o primeiro ensaio teológico composto por S Paulo; deixando implícito que se trata duma reflexão mais madura...

Observe o amigo leitor que Lutero, calcado na leitura apressada de Romanos, concluiu que Cristo não é nem pode ser, sob qualquer pretexto, uma espécie de 'Novo Moisés' ou legislador do povo Cristão. Admitido isto, ficaria implícito que o Cristianismo corresponde a uma lei ou regra de vida que é preciso observar... indo por água abaixo o belo edifício da salvação larga e fácil pela fé somente.

Não, o Cristianismo jamais poderia ser uma exigência ou um compromisso; apenas oferta e liberdade!

Todavia na Epístola aos Gálatas damos com uma expressão que pode ser classificada como o 'calcanhar de Aquiles' do solifideismo e morte do sistema protestante; tratam-se das palavrinhas gregas: ton nomon tou Christou = LEI DE CRISTO > Gálatas 6,2
No entanto se há uma lei de Cristo, Cristo é legislador e se Cristo quis legislar ou baixar regras de conduta par seu povo somos obrigamos a concluir que DESEJAVA QUE TAIS REGRAS FOSSEM OBSERVADAS PELOS CRENTES i é QUE OS CRENTES REALIZASSEM OBRAS!!! E lá se vai pelo ralo abaixo a doutrina do mistificador alemão!!!
Que fazer então?

Esquecer por um momento a teoria 'ortodoxa' da inspiração magico fetichista e insinuar que ao escrever esta Epístola - no caso a primeira - AINDA ESTAVA PAULO DEMASIADO IMPREGNADO PELO LEGALISMO DOS JUDEUS, do qual veio finalmente a libertar-se na Epístola de ouro: Romanos. A qual por isso mesmo situam no mínimo em quarto lugar ( i é após Gl e as duas Tss) ou mesmo, se possível em sexto lugar: i é após as três epístolas citadas mais as duas enviadas a congregação de Corinto!

Isto se faz conveniente ou até necessário devido a clássica passagem de I Cor 13, 13: "Por ora permanecem a fé, a esperança e a caridade; NO ENTANTO A MAIOR DAS TRÊS É A CARIDADE."
No entanto se nos salvamos sem obras, isto é sem a caridade; mas pela fé somente é obvio que o poder e a capacidade da fé é superior ao da caridade E QUE A FÉ DEVE OCUPAR O PRIMEIRO LUGAR!!! Como de fato foi explicitamente ensinado por Lutero.

O sentido deste texto é tão claro que Ortodoxos, papistas, espíritas e moralistas tem feio dele seu escudo contra as baboseiras protestantes no decurso de quase cinco séculos...

Que fazer então? Malabarismos e ginásticas mentais com o intuito de demonstrar que a caridade é superior a fé EMBORA NÃO SEJA NECESSÁRIA A SALVAÇÃO??? Ou o que é ainda mais vergonhoso, declarar que a verdadeira caridade consiste em exercer a fé ou que são a mesmíssima coisa, quando Paulo neste mesmo trechos separa muito bem uma da outra???

Entre a cruz e a caldeirinha os protestantes recorrem mais uma vez ao artifício cronológico: De fato aqui Paulo parece ensinar que a Caridade é superior a fé; algum tempo depois no entanto - quando escreveu a epístola dourada ou o 'Evangelho protestante' - tendo se informado melhor ou refletido o 'Paulo maduro' estabelece inequivocadamente o primado da fé e a doutrina da salvação pela fé somente; i é sem esperança, caridade ou qualquer outra coisa...

No entanto como não podem eles - os exegetas, apologistas e teólogos protestantes - situar a Epístola aos romanos para além de todas as outras; apresentando-a como uma espécie de TESTAMENTO DE PAULO, laboram em vão... pois para além de Romanos continuam todas as epístolas pastorais; além de Filipenses...

O que obrigaria nossos protestantes a admitir que Paulo virou a casaca novamente e mudou mais uma vez de posição.

Pois se em Romanos parece ensinar a superstição rabínica da predestinação com base nas tolices do A Testamento; em Filipenses é explicito: TRABALHAI POR VOSSA SALVAÇÃO COM TREMOR E TREMOR, e lá se vai o monergismo e a doutrina da incapacidade para cooperar com a divina graça; e por consequência a da possibilidade de não cooperar ou de resistir a ela e; consequentemente, o decreto horrendo imaginado por Calvino a partir dos ensinamentos de Agostinho...

Tanto pior se abrimos a I epístola enviada a Timóteo; em que damos com uma expressão ainda mais ousada: A VONTADE DE DEUS É QUE TODOS OS HOMENS SE SALVEM!!!

Que se salvem, não que se percam! Logo a suposta condenação eterna de parte dos seres humanos não corresponde a vontade divina; donde só nos resta inferir que se deve a uma resistência, livre e consciente, por parte dos mesmos seres humanos a proposta de Jesus Cristo ou ao anuncio do Evangelho, ALIAS POR DECRETO DIVINO DIRECIONADO A TODAS AS CRIATURAS SEM EXCEÇÃO E NÃO APENAS A ALGUMA CATEGORIA ESPECIAL DE SERES HUMANOS.

Conclusão: ou a ideia que os protestantes fazem sobre a referida passagem de romanos esta errada; ou o próprio Paulo da maturidade; rompeu com a crença rabínica da predestinação, abraçando a teoria do livre arbítrio; o que supõe a capacidade do homem redimido para colaborar com Cristo em termos duma necessidade... pressupondo uma lei de Jesus Cristo e a necessidade de obras; mesmo encaradas como consequências da justificação e evidência externa 'sine qua nom' pode o fiel pressupor que esta em comunhão com Jesus Cristo ou justificado!

Assim em Tito damos com outras duas passagens bastante esclarecedoras: "QUE OS CRENTES APLIQUEM-SE AS BOAS OBRAS." 3,8 uma vez que constituem evidência externa e necessária do ato regenerador segundo os protestantes obtido pela fé... neste caso, inexistindo as obras, devemos concluir que inexiste JUSTIFICAÇÃO (uma vez que as obras são seus frutos) ou porque inexiste verdadeira fé ou porque a fé não seja suficiente pata justificar. Por outro lado se a falsa fé é estéril e isenta de obras somos obrigados a concluir que a verdadeira fé ESTA SEMPRE ACOMPANHADA PELAS OBRAS I É PELA CARIDADE E QUE FALTANDO A CARIDADE NÃO HÁ NEM JUSTIFICAÇÃO NEM SALVAÇÃO... Ou seja de um modo ou de outro desaba o edifício protestante.

Pois como causas ou frutos (Calvino) as obras tornam-se NECESSÁRIAS... donde se infere que não podem os homens salvar-se sem elas (mesmo enquanto frutos - pois os frutos constituem evidência externa ou visível da ação exercida na alma pela fé justificante!); daí dizer Jesus: pelos frutos - ou boas obras - os conhecereis; isto é os verdadeiramente remidos que deve e nele vivem...

Assim o mesmo Paulo ousa declarar (como João já o havia feito): (TT 1,16) "OS DESOBEDIENTES E INAPTOS PARA QUAISQUER BOAS OBRAS SÃO ABOMINÁVEIS E SEU CONHECIMENTO A RESPEITO DE DEUS É FINGIDO."

Pois: "Não pode a árvore boa produzir maus frutos."

Ou seja viver pecando continuamente, por hábito; e estar em Jesus Cristo, ter sido verdadeiramente justificada e salvar-se. Mesmo que - como ensinam os falsos profetas - viva implorando perdão com a boca, para em seguida tornar a pecar e sucessivamente até o fim da vida: produzindo obras más e frutos podres. Assim os filhos de Deus procederão santamente como filhos de Deus enquanto os 'do maligno' procederão como filhos dele; produzindo obras más...

Conclusão: Ou Paulo intentará ensinar a mesma coisa em sua primeira tentativa teológica - Romanos - ou sua compreensão a respeito do mistério Cristão tornou-se cada vez mais nítida em Gal, Fil, Tm e TT... numa perspectiva gradual. Ou nosso homem sempre esteve de pleno acordo com os demais apóstolos e Jesus Cristo a respeito do processo de regeneração ou veio a assimilar gradativamente o ensinamento deles a respeito desta doutrina.

Verificando-se a primeira hipótese inferimos que Paulo não soube nem pode expressar-e com acuidade e exatidão na Ep aos romanos; verificando-se a segunda hipótese constatamos que sua compreensão a respeito da fé passou por fases e períodos diferentes numa perspectiva evolutiva, i é que seu conhecimento a respeito de Cristo foi ampliando-se cada vez mais.

Caso sacrifiquemos todos os outros testemunhos deixados pelo apóstolo para firmar-nos, como Lutero, exclusivamente em romanos não temos sequer paulinismo; mas um paulinismo mutilado i é um 'romanismo'... Caso sacrifiquemos os outros apóstolos e JESUS para ficarmos apenas com as palavras de Paulo acomodadas artificialmente a Romanos estamos diante do paulinismo.

De fato certos setores do protestantismo, supervalorizando a figura do grande apóstolo a ponto de obscurecer e fazer sombra ao VERBO DIVINO, adotam uma perspectiva paulinista e nem podemos declarar ou admitir que sejam Cristãos autênticos...

Pois o Cristão deve colocar o Emanuel Jesus Cristo acima de todas as criaturas e recebe-lo como supremo e definitivo Instrutor...

Implica esta constatação em repudiar a alegação protestante segundo a qual o agostinianismo teria seu ponto de partida neste apóstolo e consequentemente no Evangelho; e admitir - segundo as evidências históricas - que a raiz do agostinianismo encontra-se fincada (Como foi já apontado por Juliano de Eclano, Teodoro de Mopsuestia e S Fócio) NO TERRENO DA HERESIA MANIQUEÍSTA, da qual o Bispo de Hipona fora partidário fervoroso e de cujo legado jamais puderá esquivar-se de todo.

Assim os princípios protestantes da corrupção da natureza, da soberania da graça e da predestinação particular derivam de uma visão maniqueísta de mundo em torno da qual o protestantismo tem orbitado até o tempo presente e da qual jamais foi capaz de libertar-se afirmando-se como uma das formas mais virulentas de anti humanismo.



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