quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Escuta, Zé Ninguém!


Se existe um livro provocativo esse é o Escuta Zé-Ninguém de Wilhelm Reich. É mais um livro filosófico do que um livro de psicologia propriamente dito. Nessa obra Reich não se utiliza de uma linguagem acadêmica inacessível ao homem comum, pelo contrário, ele é franco, objetivo e não poucas vezes rude com seu leitor. Sim, o autor se dirige ao leitor como se o último fosse o Zé Ninguém.

No livro o autor dialoga com o leitor mostrando que os homens perigosos não são Hitler, Mussolini e Stálin entre outros, mas o homem comum, o Zé Ninguém, que "berra Viva!" com discursos nacionalistas e da liberdade da nação ao invés de lutar pela liberdade individual e por seu crescimento enquanto pessoa.

Então é o Zé Ninguém, o homem do povo que é o grande perigo para o mundo, é ele que dá o poder aos Mussolinis, aos Hitleres e aos Stálines. O Zé Ninguém confunde liberdade da pátria com liberdade pessoal; confunde grandeza com mesquinhez.

O Zé Ninguém ignora e acaba por destruir os homens que lhes fizeram bem: Sócrates, Jesus Cristo, Galileu, Giordano Bruno entre outros; Troca a democracia de Lênin pela ditadura de Stálin, deturpa as ideias de Marx e nada quer entender.

O Zé Ninguém, segundo Reich lê Nietzsche e não o entende, pois trocou o übermensch de Nietzsche pelo üntermensch de Hitler.

Wilhelm Reich foi perseguido pelo Zé Ninguém como imoral, porque desejava libertar o homem comum de suas neuroses, mas não foi compreendido pelo Zé Ninguém, pois este ataca tudo aquilo que não consegue e não quer entender. Reich não foi preso por grandes homens, mas pelo homem comum, o Zé Ninguém.

Porque não consegue viver sua vida o homem comum se preocupa com seus vizinhos, vigia-os para saber se vivem de acordo com "a moral e os bons costumes". E fica chocado com casais homossexuais, com mães que deixam suas filhas com namorados trancafiados em suas casas até altas horas da noite.

É ainda o Zé Ninguém que faz as guerras e não os seus líderes medíocres. Pois as guerras existem porque os Zés Ninguém de cada país vibram com seus nacionalismos idiotas e esquecem que os outros Zés Ninguéns são proletários como ele, muitas vezes sofredores como ele. Se os Zés Ninguém não consentissem nas guerras, se desobedecessem, os generais não teriam exércitos e sem exércitos, as armas são inúteis. Mas o Zé Ninguém vê o outro como uma ameaça, só porque fala uma outra língua, porque tem uma cultura diferente da sua, ou por causa de sua "raça".

O Zé Ninguém da Alemanha nazista era antissemita, mas sequer sabia o que era um judeu ou o que era um ariano, apenas berrava "viva!". Perguntado sobre o que é um judeu, o Zé Ninguém responde:
- É um elemento de cabelos pretos e de pele morena.
- E o que é um ariano?
- Um ariano é um alemão, um elemento loiro ou que tenha olhos claros.
- E o indiano é ariano?
- Sim, é.
- E ele é loiro e tem olhos claros?
- Não.
- Ele se parece com um alemão?
- Não.

O Zé Ninguém não reflete, acata cada idiotice que lhes falam como se fosse uma verdade inquestionável. E aí é que mora o perigo do homem comum, porque quando ele adere a tais ideologias, dá poder aos piores homens da humanidade.

É ainda o Zé Ninguém quem fabrica as bombas atômicas e outras armas de destruição em massa. Sim, é o homem comum quem fabrica e não os "grandes dirigentes" das nações. Mas o Zé Ninguém não compreende isso.

O Zé Ninguém não é um homem culto pois preferes às suas festinhas do que visitar uma biblioteca. Conhece os grandes autores superficialmente: De Rousseau conhece apenas o retorno à natureza e de Darwin conhece apenas a sobrevivência do mais apto, mais ignora que é um primata e que não é um ser especial ou o mais elevado da natureza.

O Zé Ninguém só é Zé Ninguém porque acredita não ter direito à opinião própria, porque tem medo de expressar sua verdadeira opinião com medo de represálias da comunidade em que vive, porque teme a opinião pública. Mas o Zé ninguém pode deixar de ser um Zé Ninguém e se tornar alguém quando acreditar que tem direito à opinião e que não existem líderes iluminados para guiá-lo.

Em Escuta, Zé Ninguém, Reich demonstra brilhantemente como os fascismos e os totalitarismos surgem e ostra corajosamente sua origem, estudando a fundo a psicologia das massas. Eis aí um livro que merece ser lido.

2 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Opa, as coisas não simples assim.

Um, tem que entender que tem um sistema que incentiva,motiva e até proproe ou oferece apenas uma alternativa.As outras alternativas são sempre deletados,mais cedo ou mais tarde,depedendo do ACORDO ADOTADO pela cultura dominante.

E dois,as coisas são históricas e não mudam do dia para noite.A ideologia é um perigo?Acredito que não.Como os mecanismo da lógica interns vai resolver todos os problemas que a humanidade tem? simplismente vai colocar eles em sua esfera interna e ignora-lo os outros.Fazendo nada menos do que um ato covrade-acomodado ou vai ficar no mesmo ou até pior que temos hoje.

E por fim os homens evoluiem de acordo com seu espaço social,ou seja durante sua vida ele apega a paixões e valores,que vão definir e auxiliar suas escolhas e decisões.

Orquestra de violões Anita Salles disse...

Fernando, seu texto é exatamente o que penso sobre este maravilhoso livro. Parabéns! Adorei seu blog.
Um abarço
Ana Cláudia SSaldanha
anaclaudiassaldanha.zip.net