segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Progressista ou reacionário?

O que sou de fato não sei e faltam-me forças para definir.

De uma coisa só sei: que as coisas precisam ser mudadas.

Que a presente condição do mundo ou da sociedade precisa passar por uma significativa alteração.

Precisamos de rupturas tendo em vista a realidade presente

ENTÃO SEI PERFEITAMENTE O QUE NÃO SOU: CONSERVADOR,

Isto de fato não sou.

As coisas como estão não podem ficar.

Ou o mundo em que vivemos não ficará!

Nosso nocivo modo de viver esta acabando com o mundo.

Ou mudamos ou deixaremos de ser.

Agora os progressistas - e por muito tempo eu mesmo imaginei-me progressista! - cuidam que devemos inventar ou criar coisas novas.

Longe de mim negar que certas invenções ou novidades sejam úteis e necessárias a vida.

No entanto quão difícil é criar algo novo.

No mais das vezes imaginamos criar algo que alguém antes de nós em algum lugar do passado já imaginou e experimentou. Mas nós não o sabemos e por isso acreditamos estar criando algo novo.

Na maior parte das vezes redescobrimos... retomamos... reeditamos.

A este respeito não nutro ilusão.

Atualmente julgo ser um pensador reacionário. Não é claro no sentido caturra dos que odeiam qualquer coisa nova ou dos contra revolucionários. Neste sentido não. Não creio que qualquer revolução possa ser sanada por meio de uma contra revolução igualmente violenta... não sou revolucionário no sentido vulgar da palavra ( i é daqueles que creem ser a violência uma espécie de Panaceia ou teriaga social) nem contra revolucionário... Neste sentido sou espectador: revoluções são sintomas de enfermidade social pelo que a única maneira de evita-las é recorrer a profilaxia social removendo tudo quanto estiver errado.

Creio portanto na necessidade de reformas que eliminem os problemas sociais. Caso tal não seja feito as revoluções fatalmente ocorrerão, sendo de todo inutil lutar contra elas.

Trata-se de um processo tão elementar que podemos exprimi-lo por meio de uma comparação bastante simples: imaginemos a Sociedade como uma casa... na medida em que o tempo passa a ação dos elementos vai produzindo certos danos na parte externa da casa; pintura, reboco, telhado, etc caso tais danos não sejam de pronto sanados, os danos atingirão fatalmente a parte interna do imovel, até que danificarão seus fundamentos e ele virá a desabar fragosamente. Aqui a única solução racional é impedir que os danos se acumulem por meio de reformas periódicas!

Assim a sociedade precisa ser reformulada ou reformada de tempos em tempos para que não se decomponha.

Importa saber onde buscaremos os fundamentos, princípios, valores, etc com que reformatar esta sociedade decadente. Neste sentido o progressista fixará seus olhos no futuro ou no porvir, encarando com certo desdém o passado. Enquanto que o reacionário ousará olhar para o passado em busca de soluções já empregadas e sancionadas pelas experiência... Que deu certo no passado e poderá dar certo novamente no futuro???

Então se olho para mim mesmo, para minhas fontes, meu ideário, minhas esperanças e aspirações não posso deixar de reconhecer certo saudosismo ou reacionarismo que ousarei classificar como crítico.

Os comunistas são a um tempo conservadores e a um tempo progressistas. São conservadores no sentido de que partem do liberalismo econômico para frente... Eles jamais cogitam demolir o liberalismo para faze-lo recuar, resgatando algo do que havia antes. Nem posso deixar de observa-los como continuadores do capitalismo na medida em que reproduzem o materialismo, o relativismo, o éthos violento, etc

Não nos iludamos, o Comunismo não implica mudança radical ou ontológica porque não rompe com o materialismo economicista e dele não sai para o imaterialismo ou espiritualismo.

Como tenho as vistas posta nas Idades antiga e média e numa retomada do princípio espiritual não posso deixar de encarar-me a mim mesmo como reacionário.

Então nos aspiramos demolir o liberalismo, mas para faze-lo retroceder, recuperando parte do que havia antes: a comunhão com a natureza, a revisão do ritmo da técnica, a alteração dos padrões de consumo, o trabalho corporativo e cooperativo, etc

Temos uma perspectiva diversa da do comunismo com seu legado positivista e cientificista.

Nossa perspectiva toca ao Catolicismo primitivo e a filosofia greco romana.

Elementos culturais que de certo modo pertencem ao nosso passado e não ao nosso futuro.

Entidades que já estão construída e que precedem nossa existência pessoal.

Prefiro recorrer a experiência fornecida pelo estudo da História do que a fantasia e a imaginação.

Espero mais da reflexão em torno do passado do homem do que da criatividade.

Enxergo certos valores no Catolicismo com os quais identifico-me. Mas na perspectiva de G Santayana: pelo que o Catolicismo menos judaizado e semi pelagiano conservou de pagão ou seja de greco romano.

Neste sentido ainda que moralmente meus pontos de vista possam parecer exageradamente progressistas não o são de fato.

Quando questiono a moral da igreja e oponho-me aos preconceitos de origem judaica ou semita, quais sejam homofobia, machismo, adultismo, fetichismo, belicosidade extrema, estatolatria, etc é para mais uma vez reafirmar princípios e valores anteriores a afirmação dos mesmos preconceitos e retomar em parte (com exceção do escravismo ou da exploração do homem pelo homem - defeito crucial das sociedades antigas ou pagãs!) o éthos ou a moralidade característica daquelas sociedades pagãs ou greco romanas.

Quando encaro a opção homo erótica como absolutamente natural é para a Grécia antiga que volto meus olhos... quando penso em cidadania e democracia direta é na Grécia antiga que penso... quando reconheço que a ciência possui um espaço seu é ainda a mesma realidade que me reporto...

Agora quando penso na dignidade da mulher, da criança, do trabalhador, da vida de modo geral... minha referência esta no Evangelho de Cristo.

Fenômeno que parece-me equidistante tanto do judaísmo farisaico quanto da própria Grécia e mais ou menos isolado, enigmático, incompreensível e surpreendente; diria aqui Revolucionário em plena acepção do termo enquanto agente formador de uma cultura mais ou menos nova.

Como observa Berdiaeff, a seu tempo, devido a seu conteúdo humanista o Cristianismo fora amplamente revolucionário e progressista; pois parece ter implantado algo de totalmente novo e inusitado. Sócrates, Platão e Aristóteles parecem ter intuído com algumas parcelas isoladas, como salienta Werner Jaeger; no entanto foi o Catolicismo antigo que implantou esta nova ordem humanista cujo foco era o respeito pela vida e que resultou o fim da escravidão antiga, a regeneração da mulher e da criança, certa tendência a paz; especialmente na Sociedade Bizantina.

Lamentavelmente trouxe o Cristianismo em seu bojo certos elementos preconceituosos de origem judaica os quais a longo prazo converteram o vinho em vinagre e comprometeram o bem estar desta sociedade, especialmente após o retorno a Bíblia, ou ao antigo testamento, proclamado pelos reformadores protestantes, os quais consumaram o funesto trabalho do Bispo Agostinho de Hipona.

Ao cabo deste processo de mil anos ou desta reversão (a reforma protestante é a consumação do processo) temos a afirmação de uma consciência farisaíco puritana pautada mais uma vez numa moralidade externa e individual. Associada ao que havia de pior no terreno do paganismo antigo: o anti humanismo ou o desprezo pela vida. Conteúdo presente do mesmo modo nos escritos judaicos pré cristãos tão caros aos calvinistas no dizer de Maurois.

Nossa utopia consiste em aspirar por reformar eticamente o Cristianismo Católico -retomando a ética do Evangelho e eliminando os preconceitos judaicos - para por meio dele restaurar as fontes HUMANISTAS de uma cultura, que materialismo, ateísmo, relativismo, subjetivismo, estatismo, etc NÃO LOGRARAM RESTAURAR!

Verdade seja dita meus amigos: capitalismo e individualismo, racismo e estatismo, islamismo e pentecostalismo, nada tem de humanismo. Ali não há amor e respeito irrestrito pela vida associado a viva esperança de ver esta vida desenvolver todas as suas potencialidades e ser plenamente feliz! Buscaí este ideal de realização e felicidade em tais ideologias, não os encontrareis! Apenas insensibilidade, ódio, crueldade, cólera, julgamento, predestinação, penas eternas, maldições, violências, agressões... QUE TUDO ISTO TEM DE POSITIVO???

Agora temos o Comunismo que é um humanismo defeituoso por ignorar a dimensão da liberdade humana que é fonte da vida democrática. Por seus métodos também ele, o comunismo, é desumano.

Diante de tantas falências... do relativismo moral absoluto, do utilitarismo e pragmatismo crassos, do subjetivismo epistemológico, do nihilismo absoluto... COMO TER ESPERANÇA???

Toynbee esperava de fato que alguma personalidade genial inventasse algo de novo e impactante restabelecendo as fontes humanistas da cultura e integrando estes elementos dispersos ou em conflito mas seus prognósticos não se realizaram, avançando a crise...

E temos já um novo elemento com que agrava-la. Pois 1300 anos após a batalha de Poitiers e quase meio milênio após Lepanto, somos mais uma vez ameaçados pela sombra do crescente e pela arabização.

Perdoem-me pois se sou levado a olhar para trás pois só encontro um elemento unificador nos Cristianismos Católicos. É por meio deles e através deles, após terem sido eticamente saneados, que esperamos salutar influxo. Por meio do qual o homem torne a confiar na razão, garanta espaço autonomo a investigação científica, RENUNCIE A TODOS OS PRECONCEITOS TOSCOS LEGADOS PELO JUDAISMO ANTIGO, revitalize as artes, aproxime-se da natureza, respeite integralmente a vida, cesse de oprimir seus semelhantes, converta-se em servidor da justiça e busque a amar e beneficiar todos os demais seres humanos.

É sobre este programa, em parte vislumbrado por Sócrates, Buda, Confúcio, Jesus, os antigos Padres da Igreja; que nossa admiração esta posta! Parte de nossas referências ou paradigmas - partilhadas por Scott Nearing inclusive - como se vê encontram-se num passado mais ou menos distante. Aspiramos sim por alterara radicalmente a realidade presente, mas... pautados em fontes mais ou menos antigas e buscando resgatar elementos culturais do passado.

Mesmo quando cogitamos em torno do amor livre ou das relações abertas, ainda aqui fomos precedidos a vinte e cinco séculos por Platão e a meio milênio por S Thomas Morus e Campanella.

Esquisito, tanto mais aparentamos ser demolidores, progressistas e radicais; mais nos reconhecemos ou melhor parte de nossas ideais, lá no passado remoto!

Diante de tudo isto, honestamente falando, pareço um tanto reacionário.

Mas um reacionário que recua para muito além dos liberais, dos monarquistas ou dos puritanos... tocando a aurora do Cristianismo e a o esplendor do paganismo antigo. A 'Memorabilia' e ao Evangelho... A 'Política', aos 'Pensamentos' e ao 'Manual'.... Sêneca, Marco Aurélio, Quintiliano, Epicteto...




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