domingo, 4 de outubro de 2015

O liberalismo econômico enquanto possível passagem para a teocracia religiosa

Para nós é lamentável ter de concluir que quinhentos anos após a morte de Torquemada e quatro século e meio após a morte de João Calvino, a Sociedade liberal e laicista a que pertencemos ainda não foi capaz de 'lacrar' com lacre de chumbo tidas as vias de acesso ao pesadelo teocrático.

Assim a democracia meramente formal incapaz de reconhecer qualquer tipo de valor exterior e superior a si mesma (Berdiaeff), desvinculada de um espírito científico capaz de dar suporte a uma cultura democrática ou laica. (Sagan)

Dissociada de uma ética objetiva em termos de direitos essenciais a pessoa humana e de uma cultura científica converte-se a democracia num fórmula oca ou numa via de acesso posta nas mãos das massas fanatizadas. Degenera assim numa ditadura das massas, numa ditadura 'democrática', num veículo de animosidades religiosas... e morre espiritualmente.

Daí a necessidade de produzirmos um espírito vivo ou consciência nos termos dados pelo velho Sócrates! Daí a necessidade de educarmos as gerações (Dewey) para a democracia ou melhor na democracia. Daí a necessidade de incutir o espirito democrático em todos os grupos sociais: na igreja, na escola, na família, etc Democracia é espírito que tudo deve penetrar e nortear! É consciência que tudo deve reger! A democracia precisa tornar-se metafísica e pautar todas as esferas da existência humana!

Ou reforçaremos esta forma por meio de um espírito vivo ou assistiremos o malogro de nossa civilização pela retomada dos totalitarismos. Nem a totalitarismo mais abominável que o sagrado ou teocrático. Então devemos parar de brincar com nossos princípios e valores e assumir nossa democracia até a medula dos ossos, até as mais derradeiras e remotas consequências.

A segunda porta de entrada ou via de acesso a teocracia consiste da posse privada dos meios de comunicação. Quando tais meios deveriam ser postos a serviço dos ideais democráticos e do bem comum, enfatizando princípios e valores condizentes com tais fins.

No entanto como transformaram-se em fonte de lucro fácil com que leviandade são tais meios sublocados aos fanáticos religiosos, pastores, profetas e ulemás! 

Justifica-se tal prática em nome da audiência, alegando que o povo assim o quer!

Sabemos no entanto que audiência é um padrão vendável.

Trata-se como se pode perceber de dois critérios muito frouxos.

Na verdade o que se oculta por trás da audiência é o ganho!

Pelo que os pastores, investem o dízimo pago por suas ovelhinhas em propaganda religiosa. Propaganda muito bem paga, que com a aquiescência dos meios de comunicação particulares, converte-se numa MÁQUINA PROSELITISTA POSTA A SERVIÇO DO FUNDAMENTALISMO SECTÁRIO!

Fogem desde então os meios de comunicação a seu legítimo fim: a promoção do bem comum, a instrução pública (Roquette Pinto), a formação do caráter, etc para ficar adstrito a interesses de ordem particular, os mais sórdidos possíveis por sinal!

Agora que direito tem os meios de comunicação de conceder espaço a um único credo privilegiado no contesto duma sociedade pluralista ou democrática??? Onde o critério jamais deveria ser o quem paga e sim o que convém!!! Convém que uma fé imponha-se sobre todas as outras pelo domínio dos meios de comunicação???

Temos aqui a segunda via de acesso do fundamentalismo.

Resta-nos discorrer a respeito da terceira, que é um desdobramento da segunda.

Na medida em que diz respeito ao padrão ou critério do liberalismo econômico.

Que são as tão propaladas necessidades do Mercado. Das quais advém a única meta do capitalismo: o lucro ou a vantagem financeira.

O problema qui é justamente quando interesses credais ou religiosos passam a alimentar o Mercado.

Quem não percebe que para continuar tirando lucro deste veio o sistema econômico tenderá a curvar-se diante de todos os caprichos ditados pelo espírito sectário, mostrando-se inepto para crítica-lo???

Concordará o Mercado ou seus senhores, que acima de si e suas necessidades, sobrepairam as necessidades de uma cultura democrática ou laicista a ponto de resistir as pretensões acalentadas pelas massas religiosas e seus líderes?

Francamente falando penso que não.

Em termos de liberalismo econômico vejo que tudo é negociável.

A ponto de ditaduras e sistemas autocráticos terem obtido as bençãos do sr Mercado, em troca de alentadas vantagens financeiras.

Destarte como poderia crer que um sistema capaz de sacrificar nosso liberalismo político, teria escrúpulos em sacrificar nosso liberalismo religioso.

Tenho para mim que sob a ótica deste sistema economicista tudo seja vendável ou tenha seu preço.

E que nada possua um valor transcendente.

Eu no entanto encaro o laicismo como valor essencial e transcendente em torno do qual jamais se pode fazer qualquer tipo de negociação.

Eis porque a docilidade deste mercado face ao elemento consumidor ou investidor me assusta.

E que este consumidor ou investidor for o fundamentalismo religioso?

E se for...

Já é.

Pois há cerca de trinta anos atrás parte do Mercado recusou terminantemente a boicotar a república então racista da África do Sul, mostrando-se solidário para com o Apartheid. Receando que desta oposição resultassem prejuízos financeiros...

Aqui como sempre o financeiro sobrepos-se ao econômico e mostrou-se irredutível a Ética.

Há cerca de dez anos Bush recusou-se a colaborar com os demais países do globo quanto a redução de gases poluentes afirmando em alto e bom som que a economia de seu país era mais importante do que as condições de nosso planeta.

Sobrepondo-se mais uma vez os interesses do mercado, em termos financeiros, ao bem comum do gênero humano.

Nem vemos que os investidores ocidentais, em especial os norte americanos, tenham cobrado da Árabia Saudita, com que negociam, a adesão ao liberalismo religioso ou a 'democracia'. Pelo contrário o maravilho mercado tem se mostrado totalmente submisso as exigências e pretensões deste estado que não é apenas totalitário mas teocrático e fundamentalista!

Por mais que me esforce não percebo que este maravilho mercado de tenha posto a serviço dos ideais e valores democráticos e laicistas...

Basta haver uma demanda por serviços ou por consumo para que lá esteja o sr Mercado rastejando como um escravo.

Neste caso se o pentecostalismo produzir semelhante demanda que devemos esperar???

Ousará o Mercado opor-se decididamente aos preconceitos alimentados por este grupo religioso?

Temo que não!

Mesmo porque tanto mais um sistema religioso aliena as pessoas tanto mais fortalece nelas o sentido do consumo...

Penso que esta simbiose entre um mercado sempre acritico e docil e uma religiosidade autoritária e alienadora torne-se amplamente desastrosa a longo prazo.

E que deste pacto ou aliança informar resultem graves danos a ordem democrática.

Como mera forma, o Mercado supinamente ignora qualquer valor objetivo exterior ou superior a si.

Sendo assim como poderá vir a assumir a primazia do espírito democrático laicista????





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