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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Reconsiderando o 'conceito tradicional' de deidade II

Fenômeno imensamente curioso este - Os Catolicismos ou a Ortodoxia Cristã produziu uma teologia sistemática coerente e consistente partindo da Encarnação do Verbo, mas jamais arvorou criar uma teodicea 'Cristã' em sintonia com o mistério central de nossa fé, permanecendo sempre atrelado a uma teodicea judaica ou melhor rabínica, muito próxima da teodicea - se assim podemos dizer - islâmica (claro que me refiro a extinta Mutazzila) e impermeável ao sentido da imanência.

E no entanto a concepção Cristã ou Católica de Deus é algo totalmente distinta da concepção semítica, pois aqui a transcendência esta drasticamente apartada do mundo material dos fenômenos e ali em comunhão com ele ou inserida. O deus judaico/muçulmano é ente descarnado, imaterial, puramente espiritual, simples, invisível e separado do mundo que produziu. O Deus Cristão se fez homem de carne e osso ou Emanuel, entrou no mundo material, assumiu-o e incorporou-o.

Eis duas ideias ou concepções diametralmente distintas - ali um deus separado de sua criação e aqui um Deus presente em sua criação. Diante disto a pergunta que se faz é: Por que a teodicea não acompanhou a teologia Cristã fazendo o mesmo percurso? Por que permaneceu a teologia Cristã acoplada a um teodicea não Cristã ou judaica? Afinal será que os Cristãos não tem o direito de rever 'sua' teodicea a luz da Teologia da Encarnação, produzindo uma teodicea Cristã? Por que esta parcela do vinho Novo deve permanecer enfiada nos odres velhos do rabinismo?

Por que ainda não estouramos os odres velhos do rabinismo para dar larga expansão ao vinho novo do Evangelho comunicado pelos céus?

Se um dia a teologia acompanhar a teodicea acabaremos nos braços do unitarismo como parte das seitas protestantes/judaizantes. O outro caminho a ser feito é no sentido da teologia do processo ou do panenteismo.

Lamentavelmente parte dos Católicos tem sido impedida de chegar a estes termos por três palavrinhas contidas no Santo Evangelho e muito pessimamente compreendidas -

Pneuma O Theos
Espírito é Deus
Deus é espírito Jo 4,24

Diante desta passagem da Inspiração, não poucos tem lido:

"Deus é PURO espírito ou espírito PURO." querendo dizer que é apenas espírito e que nada contém de material. O que nos levaria a transcendência absoluta.

De fato a igreja em diversas publicações, inclusive em catecismos, bem como os kardecistas e os protestantes, tem descrito Deus como 'Espírito puríssimo'

Atentemos porém que este Jesus, que sempre exprimiu-se tão bem e tão claramente não diz  que Deus é 'apenas' ou 'somente' espírito. Do contrário teria dito com a igreja: É Deus puríssimo espírito. Poderia te-lo dito, mas... Não o disse?

Teria sido pois a igreja mais exata e mais prudente do que seu divino fundador e Nosso Mestre Jesus Cristo? Aqui, por mais que amemos a Santa Igreja, temos de responder que não, afinal não poderia ela ser superior a seu fundador e arquiteto que lançou-lhe os fundamentos.

Destarte, se não definiu a Deidade como espírito puro é porque sabia que este universo e a matéria estão presentes nesse espírito como meios dispostos a ação ou que a dimensão da materialidade coexiste eternamente com Deus sem ser Deus ou confundir-se com ele. Com Tertuliano, Orígenes, Lactâncio e Arnóbio podemos nos referir impropriamente a este meio ou aspecto da divindade como a um corpo. A expressão no entanto é inexata e simbólica porquanto é a deidade incorpórea, embora haja nela um elemento material, com o qual se relaciona e vivifica. Do contrário teria dito com Zenão de Citium 'Nous O Theos' i é 'Deus é a mente' St Epifânio 'Adv Haeres' 3.2.9 - 1.146 tendo por implícita sua corporalidade.

Atribuir outro sentido a este texto é transformar o divino Mestre em neo platônico. Você sempre poderá definir o rio, o mar ou os oceanos como água - O Mar é água ou é líquido, sem com isso negar os peixes, as algas e muito menos o sal, pois prevalece a água. O deserto sempre poderá ser definido como uma extensão de areia, sem que excluamos espinheiros, cipós e insetos e mesmo lagartos. Uma porta de madeira compõe-se de pregos e não poucas vezes de um visor feito com vidros. Uma roupa de tecido contém botões e um sapato de couro cadarços de pano.

Muito mais significativo para nós é o que Jesus podendo ter dito não disse:  "Deus é PURO espírito' querendo significar que é espírito incorpóreo, mas não 'puro' como querem os neo platônicos e transcendentalistas.

A própria igreja Ortodoxa presume um sentido pré existente e eterno na Encarnação do Senhor, o qual não se restringe a sua vontade ou a seus planos, o que nos remete as relações Espírito matéria enquanto sombra ou ensaio desta Encarnação ulterior sucedida no tempo e no espaço.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

A ideologia de Pedro Loujine e o 'Dar metade da capa a quem pedir'

Resultado de imagem para Pedro petrovitch lujine


Não poucas vezes a alta literatura brinda-nos com a feliz oportunidade de refletir sobre diversos assuntos quais sejam religião, sociedade, economia, política, etc

Autores há cujas páginas oferecem-nos a possibilidade de abordar as mais variadas áreas do conhecimento humano. Tal a vastidão e profundeza de suas obras...

Felizmente escritores há, que a semelhança de Midas, tudo quanto tocam convertem em ouro fino e precioso.

Que dizer então se o próprio tema é de elevado quilate?

Assim Machado de Assis e Lima Barreto entre nós brasileiros. Eça entre os lusitanos. Flaubert, Balzac e Mauriac entre os franceses. Dickens, Swift e Defoe entre os ingleses. Os dois Sinclair (Upton Beal e Lewis) Melville e Jakc London nos EUA. Tolstoi e Dostoevsky entre os russo; mas, dentre todos os escritores este último. Entre os românticos: Swell, Bronte, Austen e Stowe. E entre os históricos Watari, Graves e Gore Vidal. Tais os clássicos, dentre os clássicos. Mas leiam Também Edgard Allan Poe. 

Era o predileto de Nietzsche e também de Freud com os quais aqui, estou de pleno acordo.

Preciso dizer que a acuidade psicológica do mestre russo é inexcedível?

Alias sendo 'Épico' por natureza e certamente tolstoiano, não posso deixar de curvar-me face ao moderno mestre universal da tragédia, e em cujas obras topamos com aquele sentido trágico tão peculiar a humana existência, tão patético e tão marcante.

A propósito de qual seja sua obra prima há variedade de opiniões. Assim uns são pelos irmãos Karamazov, uns pelas notas do subterrâneo, alguns por recordações da casa dos mortos, havendo ainda quem seja pelo grande inquisidor ou pelo idiota. A maioria dos críticos no entanto parecer ser por Crime e castigo, obra cujo lançamento acabou de completar século e meio no ano passado uma vez que foi publicada em 1866, no Diário russo, uma publicação mensal.

Uma coisa no entanto é certa - Ao ler qualquer escritor busque uma tradução que reporte ao original e não uma tradução de tradução.

Assim quanto a Crime e castigo não faça regateios e se possível for adquira a tradução feita por Pedro Petrovitch em 1930 e publicada pela Editora Americana. É integra, literal, absolutamente fiel, em que pesem ligeiros errinhos quanto ao vernáculo i é ao português, devido quiçá a edição. Há alguns dias lí um anúncio em que pediam trezentos reais por uma delas. Direi que se trata de um investimento...

Se puder ler antes ou se já leu "Recordações da casa dos mortos" ou "Memórias do sub solo" melhor. Delicie-se então.

Delicie-se porque aquilo é um desfolhar da alma humana, tocando a suas fibras mais íntimas.

Os períodos são imensos, gigantescos, colossais... Fazendo jus a complexidade do objeto.

É uma introspecção após a outra:

"Ignoro assim quais sejam as causas mais remotas a que aludi; porém o amigo deve conhece-las. É homem inteligente e sem dúvida deve já ter analisado a si mesmo."
Analise-se e se reconhecerá em algum de seus personagens seja Raskolnikoff, Razoumikhine, Nastasia...
Quando a mim, neste pequeno artigo, desejo focalizar o Pedro Petrovitch Loujine, noivo de Dounia, futuro genro de Dna Pulqueria e cunhado de Raskol...
Pretendo na verdade focalizar um dos 'discursos' de Pedro Loujine assente a pg 156 (e sg) da citada tradução.

A qual vale a pena reproduzir:

"Não, isto não é um lugar comum! Se me disserem: "Ama teu próximo." e eu queira realizar este conselho, que resultará daí? Respondeu Loujine. Rasgo minha capa e dou metade ao próximo e? Ficamos ambos si - nus... Assim a ciência, a seu lado, mandam-me atender somente a minha pessoa, já que tudo neste mundo baseia-se no interesse pessoal. Aquele que segue esta doutrina, cuida convenientemente de seus próprios interesses e fica com a capa inteira para si. Acrescenta a economia política que tanto mais sólida e feliz será uma sociedade qualquer, quanto maior for o número de fortunas particulares ou de capas inteiras dentro dela mesma. Logo trabalhando apenas para mim, trabalho, pela mesma razão, para todos os outros, do que resulta vir meu próximo a receber mais do que a metade de uma capa; e isto não a merce de liberalidades individuais; mas em consequência de um progresso geral. A ideia se me parece bastante simples; infelizmente levou muito tempo para propagar-se e suplantar a quimera e o devaneio; e no entanto não me parece que seja necessária uma inteligência acurada para compreende-la." 
Já a primeira vista percebemos que se trata de um parágrafo prenhe de considerações ou teorias religiosas, filosóficas, sociológicas...

Há coisa que se explorar ai.

Arqueologia para se fazer.

Ossos para desenterrar.

E hoje, a semelhança dos pós modernos - Pois não há quem erre sempre e apenas erre - vou iniciar minha análise de ponta cabeça ou começando pelo fim.

Quem não compreende o enunciado acima, no caso Jesus e os Cristãos (Especialmente os Católicos ou Ortodoxos) é perfeito idiota. Pois não é necessário ser um gênio ou ter um Q I elevado para atinar com sua 'excelência'. Merecendo o conceito de alteridade ou empatia ser lançado ao mundo das fábulas ou quimeras...

Noutras palavras: Amar o próximo, identificar-se com ele, denotar qualquer nível de sensibilidade, ser solidário, etc Não passa de tolice!

Por cerca de vinte séculos ou de dois mil anos tem este planeta, em sua maior parte, sido povoado por uma imensa cambada de estúpidos ludibriados por um galileu tosco de nome Jesus. O qual ao invés de ensinar-nos a ignorar o próximo, ensinou-nos a ama-lo. Mas que pateta esse galileu... Como demoraram tanto para crucificar um charlatão desses?

Todavia como não podia a verdadeira luz permanecer encoberta e posta debaixo da cama ou da mesa, em algum momento da História teve ela de brilhar.

Acontece que apesar da patética trivialidade enunciada pelo autor a luz só veio mesmo a brilhar com todo seu esplendor a partir do século XIX.

Mas onde?

Em que espaço privilegiado pairou tão fulgurante luz?

"Como nós russos nos deixamos fascinar por opiniões alheias."
Bem se vê por ai, que a luz não surgiu lá na pobre Rússia e nos confins da América Latina... Paragens habitadas exclusivamente por bestas... Não é assim?

Divino Dosto dai-nos tua luz?

"Sim. Por que razões haveria ele de emprestar se sabe que o senhor não o paga? Por compaixão? Mas Lébéziatnikoff, apóstolo das ideias novas, explicou-nos há dias que atualmente é a compaixão condenada pela ciência, e que é esta a doutrina corrente lá na Inglaterra, onde a economia política é o que o senhor bem sabe." p 17

Bingo! A luz resplandeceu em Albion, digo na Inglaterra ou Grã Bretanha e iluminou o mundo espancando as trevas do Evangelho e do amor... Coisa e gente parva e sem instrução.

O livro é de 1866. Passando-se a cena no mesmo no ou, quiçá, no ano anterior, 1865.

Vejamos então que se esta passando em 'Merry England' a esse tempo...

Temos a "Origem das espécies" publicada pelo grande Darwin em 58. Mas... Até ai tudo bem, Darwin, jamais e até o fim da vida, ousou aplicar a doutrina da seleção natural a organização das sociedades humanas. Não era Darwin darwinista social, pois o que ele pretendia explicar por meio da seleção natural era a evolução dos seres vivos em termos biológicos.

No entanto desde 1862 ou mesmo antes Herbert Spencer (Especialmente no "Sistema de Filosofia sintética") divulgava já suas teses sobre o Darwinismo social (A expressão propriamente dita viria a ser cunhada mais de meio século depois) distorcendo o pensamento do naturalista evolucionário. E cunhando termos inexatos como o 'triunfo do mais forte', enquanto para Darwin o mais apto não era necessariamente o mais forte, mas aquele que possuía um aparelho ou instrumental físico mais sofisticado.

Mesmo antes de Spencer alguns pensadores ingleses como Benthan haviam já esposado uma ética utilitarista. Ideia retomada e reformulada por Stuart Mill num sentido mais social.

Nietzsche viria a tonar-se porta voz de todas essas ideias vinte anos mais tarde. Delas resultando a doutrina do super homem, para o qual a ideia de compaixão para com os fracos, ineptos ou desajustados socialmente falando, é uma aberração.

Nem podemos nos compadecer daqueles que a dinâmica social marcou com o insucesso mas consentir que sejam aniquilados pela dor sem soltar um suspiro sequer!

Não se trata aqui de aniquilar ou de exterminar como queriam os nazistas (Os quais deram um passo mais a frente) mas apenas e tão somente de não se compadecer, de não interferir, de não tentar minorar ou suavizar a condição daqueles que foram vencidos pela existência.

Tal a doutrina formulada pelos ingleses em seus círculos sociais pelo idos de 1860, e a qual alude Pedro Loujine.
Continua -









segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

E se a segunda vinda de Cristo fosse no Brasil????




Este texto esta baseado no do Pe Rohden e no de M Freixo

Segundo declaram os Santos dos últimos dias após ter anunciado a boa nova aos galileus dirigiu-se Jesus a esta parte do mundo chamada América... e pos-se a Evangelizar o povo 'nefita'...

Não se trata todavia da nossa América Sulina e muito menos do Brasil mas a grande República protestante do Norte, os EUA. E será lá que o mesmo Jesus haverá de instalar o paraíso terreal, segundo o credo dos mórmons...

Outra seita, esta muito mais exótica, assevera ter ele pregado no antigo Peru, aos Incas ou melhor aos Nazcas ou Paracas...

Todavia, por um instante apenas, permitamos que a mente divague e imaginemos que Jesus Cristo venha fazer uma visitinha ao Brasil. Ao maravilhoso Brasil do Temer, do Renan, do Cunha, do Campos, do Malta, do Feliciano, do Everaldo, do Malafaia, do Bolsonaro, da Bancada 'Evangélica', do MBL, do Pe (???) Rossi, do Pe (???) Jonas, e de toda esta gente de bem apegada a moral e aos bons costumes.

De lá do mais alto dos céus ele escuta as vozes e discursos sobre temor, decência, pudor, moral, consciência, piedade, sobriedade, etc E como as nuvens não permitem que tudo contemple com absoluta nitidez, o homem Deus toma a infeliz e desacertada decisão de vir a 'Terra Brasilis'...

Deliberada a segunda vinda, o Senhor dá um pulo, salta dos céus e cai em Brasília ou no Rio de Janeiro ou ainda em S Paulo.

E como não vem trajado como príncipe mas como trabalhador ninguém o percebe.

E ele não sabe como isto é bom!!!

No entanto após observar trabalho escravo em fazenda de deputado, Nosso Senhor principia a soltar o verbo e a denunciar tamanha calamidade... e ajunta inclusive algumas palavras em defesa dos direitos do trabalhador.

Comunista! Bolchevista! Anarquista! Subversivo! Gritam os paladinos da 'desordem' estabelecida!

Onde já se viu colocar-se ao lado de vagabundos que não trabalham, que não lutam, que não correm atrás, que foram vencidos pela vida, que se acomodaram, ah não bolsas e estipêndios apenas para aquelas mulheres trabalhadoras e cheias de guarra, as filhas dos juízes e generais! Pobre tem de por-se no seu lugar, isso sim!

Como esta já perto de ser processado pelos maccartistas da 'leva jeito para golpe' Jesus prefere calar-se e continuar por esta nossa terra que já foi da santa cruz, mas que hoje é mesmo do tridente do capeta...

Ao passar em frente a um lar 'cristão' movido por princípios bíblicos, tomados ao 'Verbo redentor' (Sic) Paulo de Tarso, o meigo instrutor da Galileia acaba topando com um marido humilhando sua esposa e dizendo que ela não precisa nem estudar, nem trabalhar porque seu lugar é a cozinha e que ela lhe deve total submissão e reverência... E já esta a gritar com a pobre e a levantar a mão quando Jesus dirigi-lhe as seguintes palavras: Mas meu amigo eu falei de igual para igual com Marta e Maria e dialoguei com a mulher da fonte e fui servido por um grupo de mulheres corajosas, alias você há de convir comigo que em questão de direitos todos são iguais...

No entanto Jesus antes mesmo de terminar seu discurso é interrompido pelos gritos de: Feminazi! Revoltado! Subversivo! Inimigo da família! Corruptor dos costumes! Adversário do Cristianismo! Acaso nunca leu as palavras do apostolo Paulo???

A "Emília" nem chegou direito e já quer reformar a natureza!

E como estivesse prestes a ser agredido pelos defensores da família tradicional, da moral, da ordem e dos bons costumes, etc Jesus acaba deixando aquele lutar e retomando seu caminho!

Até numa esquina qualquer de uma grande cidade topar com um grupinho de varões ou 'jovens machos' dispostos a agredir um casal de homossexuais. Jesus se coloca entre uns e outros e dispara: Mas que raios vocês estão fazendo?

Ao que um dos jovenzinhos responde de pronto: Qualé brou tamo prestes a surrar esses viadinhos em nome de Jesus! Não mano, em nome de Moisés! Corrige outro dos rapazes. Em nome de Moisés, Jesus, Maomé... em lei de Deus que mandou enforcar ou melhor lapidar esses degenerados! Mas Jesus jamais mandou fazer semelhante tipo de coisa, replica o bom Mestre, pelo contrario ele atendeu a súplica do centurião romano ( que era homossexual ) e decretou que seus seguidores amassem uns aos outros, perdoassem os inimigos, se abstivessem de julgar, cultivassem a paz, e fossem misericordiosos.

De modo algum, replica mais do que depressa outro dos jovens! Recuso-me terminantemente a crer que um homem tão sábio quanto Jesus tenha decretado umas leis assim tão estupidas... Mas ta lá, no Evangelho, replica o bom Mestre com toda paciência... Em Lucas capitulo...

Sem essa de Lucas, Pedro, Mateus... Temos a lei de Moisés e portanto a Bíblia, que é a palavra de Deus, está a nosso favor!

Os fariseus que queriam apedrejar a Madalena também tinham e apesar disto eu, digo Jesus, disse: "Quem não tem pecado que lance a primeira pedra!"

Alias que dano ou prejuízo esse casal causou a vocês???

É, nenhum, admitiu outro dos rapazes.

Então deixem eles viverem como quiserem e fazer o que quiserem com seus corpos porque o homem é livre, tornou o Mestre dos mestres.

Ei o casalzinho de boiolas acabou de fugir gracas a você! Também pudera, com esse cabelo cumprido e essa túnica só pode ser mesmo boiola... Isso mesmo: Pederasta, gueizinho, viado!

Jesus no entanto afasta-se deles e não conseguem localiza-lo ou fazer-lhe mal algum...

Mais além, após ter percorrido alguns quilometros, o Mestre amado dá com um sitiante enraivecido surrando a não poder mais um velho burro caído por terra diante de uma grande carroça abarrotada com sacos de milho.

E não podendo omitir-se arrisca: Amigo, que fazes? Não percebes que este animal jaz extenuado por carregar um peso muito acima de suas forcas?

E tu, quem és - torna o homem - que não percebes que este burro não passa de vil alimária ou duma besta de carga?

No entanto, torna Jesus, também sente dor, tem consciência e sofre como qualquer um de nós.

Bem se vê, responde o sitiante, que tens o miolo mole e que não passas de um louco. Desde quando um animal tem consciência de que sofre se sequer tem uma alma imortal?

No entanto todos somos seres vivos e companheiros de viagem neste vale de lagrimas, insiste o Redentor misericordioso.

Companheiro o que, responde-lhe o homem ameaçadoramente, quem ignora que os seres de condição inferior existem para servir a espécie mais evoluída, no caso a humana? Só mesmo um demente como tu poderia ignorar semelhante coisa, "Reinarás sobre todos os animais, os peixes e as aves do céu." é o que esta escrito!

Mas... Arrisca ainda Jesus até sentir uma boa chibatada vibrar-lhe no dorso, pelo que se retira...

Regando o pó da terra com lagrimas de dor e desespero o Mestre prossegue em sua viagem por este imenso pais habitado por uma multidão de Cristãos que já se consideram salvos e até predestinados e acaba chegando a um semáforo junto ao qual algumas crianças estão a oferecer doces aos motoristas. E chega no exato instante em que um destes engravatados pega uma das crianças pelo colarinho enquanto berra: Seu marginalzinho duma figa tu não me enganas, tudo quanto queres e assaltar-me...

Mais do que depressa o Verbo divino detém a mão daquele homem de bem e afasta a pobre criança enquanto pergunta indignado: Mas afinal o que o senhor esta fazendo?

Dando uma boa lição nesse vigaristinha, responde o homem em alto e bom som.

Acontece que a pobre criança nada lhe fez?

De fato esta ai nada me fez, no entanto, na semana passada uma delas tomou-me a carteira com 150 pratas! Acha pouco cidadão?

Após pensar um pouco Jesus devolve: No entanto o amigo teve pais não??? Evidentemente que sim, responde o homem de má vontade, ou acha que nasci do oco da bananeira?

O que quis dizer, esclarece o abençoado Reparador, e que foi criado por seus pais, amado e cuidado por eles, que foi matriculado numa boa escola, que só começou a trabalhar aos dezesseis anos, que foi bem orientado, que jamais passou fome, sede ou frio???

E???? Torna o homem mostrando que nada compreendeu ou quis compreender.

Mas o amigo não percebe, rebate o Filho da Virgem, que aquela criança que estava prestes a esganar jamais teve acesso as mesmas oportunidades???

Cidadão vá logo ao assunto e diga o que quer dizer com isto?

Quero dizer que este menino nasceu de mãe solteira numa favela, que sua mãe morreu quando tinha quatro anos, que foi criado por uma tia alcoolatra, que era constantemente surrado por ela, que era forçado a pedir esmolas e vender balas para não ter de dormir ao relento, que jamais pode frequentar regularmente uma escola, que passava fome e sentia frio constantemente, que não aprendeu a ler e escrever...

E eu com isso, devolve o motorista já agressivamente???

Céus benditos, torna o Deus feito homem, acaso o senhor não tem religião???

Como não torna o homem enfurecido, se vou ao culto todos os Domingos e sou homem de fé! Sou Cristão e mais dizimista, arremata o homem que esta ao volante daquele carro!

Neste caso deve ter conhecimento da seguinte passagem do Evangelho: Aquilo que desejais que os homens vos faça, antecipai-vos e fazei vós a eles!

E??? Pergunta mais uma vez aquele homem.

Caso o senhor fosse uma criança carente e vendesse balas no semáforo como gostaria de ser tratado pelos motoristas??? Compreende, é só colocar-se no lugar do outro!

Colocar-se no lugar do outro para que se já sou lavado e remido no sangue de Jesus???

Aqui Jesus volta seus olhos para as cicatrizes existentes em suas mãos e enquanto chora cogitando sobre o que os homens mais tem ensinado a respeito de seu sangue é brindado com as seguintes palavras:

A vida é assim mesmo desde o princípio, uma luta e apenas os mais aptos como eu conquistam um lugar ao Sol, aos vencidos a sarjeta. No entanto se eles se conformarem com sua situação e tiverem fé no Senhor Jesus irão pro céu na outra vida e lá serão felizes...

Mas o menino Jesus nasceu pobre numa manjedoura, exclama Jesus já meio desiludido. Sim, pois tinha de aplacar a ira do Pai e merecer nossa salvação sofrendo muito arremata aquele 'cristão' piedoso antes de acelerar e quase atropelar Nosso Senhor!

O dia ainda não chegou ao fim e nosso Mestre depara com um grupo de homens fardados, gente da lei, lascando pancada numa turminha de adolescentes pardos residentes num bairro da periferia.

E mesmo antes de aproximar-se deles o Bom Pastor é brindado com um sonoro: Cidadão não te mete, fica parado onde esta!

Mas meu senhor, replica Jesus, há abuso de poder aqui, afinal que fizeram estes rapazes para serem assim tao maltratados, porventura não determina a lei que até os criminosos confessos e assumidos tem direito a um julgamento digno com contraditório e ampla defesa após o qual seguem as punições na forma da lei? No entanto parece que você esta julgando, sentenciando, condenando e castigando no lugar do juiz...

Entrementes um transeunte que se detivera para observar discussão coloca o dedo em riste na cara de Jesus e exclama aos berros: Tinha de ser outro desses demagogos defensores dos direitos humanos! Direitos humanos para humanos cidadão. Não vê que os homens estão trabalhando e cumprindo com o dever? Bandido bom é bandido morto... Quando for assaltado por algum desses meliantes vai precisar da polícia...

Mas quem é que te ensinou tais aberrações? Pergunta o Nazareno, já sentindo náuseas.

Quem foi que me ensinou??? Quem foi que me ensinou???!!!

Ora teria me ensinado senão o pastor da minha igreja, homem piedoso e bastante versado nas Escrituras? Ele nos disse que antigamente os assaltantes, criminosos, bandidos, ladrões tinham as mãos e os pés amputados ou eram apedrejados até morrer como Acã. Bons tempos aqueles em que vigoravam as leis de deus...

Amigo, você não esta confundido o Evangelho com o Corão ou a lei dos judeus?

Que confundido coisa nenhuma, onde já se viu defender bandido! Só bandido defende bandido então no mínimo você é suspeito e deve ter feio algo de errado!

Mas quando estava lá pregado no alto da cruz Jesus não dirigiu qualquer palavra amarga a Gestas, o ladrão impenitente supliciado pelos romanos, permanecendo em silêncio, logo ele que é justo juiz infalível e perfeito.

Mas onde já se viu usar a Bíblia com o objetivo de defender bandido e de criticar a polícia, que tempos são estes meu deus!!! Que tempos são estes???

Ladrão tem mesmo é que morrer na cadeira elétrica!

No entanto além de salvar a Madalena, Jesus teria dito a Pedro no momento em que golpeou o servo do Sumo Sacerdote: Guarda a tua espada pois quem se vale da espada por ele haverá de perecer! E também: Bem aventurados os pacíficos...

Não me lembro de ter lido ou ouvido tais coisas, mais tarde no entanto procurarei na minha Bíblia... Por ora fico com a lei de Talião: "Olho por olho, dente por dente."

Mas foi justamente essa lei, que eu, digo que Jesus veio abolir e substituir pelo amor, a bondade, a compreensão, a tolerância, o perdão a generosidade, etc

Acaso Jesus não desejou lançar fogo do céu sobre os Samaritanos infiéis???

Pelo contrário, retorna Jesus, os Zebedeus é que aconselharam-no a exterminar os samaritanos, ele no entanto declarou: Não sabeis porque espírito sois movidos! E recusou-se a faze-lo.

Só sei que Paulo na Epístola aos Romanos declara que não é em vão que o magistrado secular porta a espada e que ele é ministro de Deus! Portanto os criminosos devem ser condenados a morte sim.

Mas acaso o deus que você diz adorar não foi vítima de um erro judiciário?

Aqui o interlocutor de Jesus, dirigi-se aos policiais ali presentes e exclama: Oficiais, que os impede de autuar esse barbudo subversivo por apologia ao crime e a violência? Não ouviram tudo quanto ele acabou de dizer: Que criminosos e bandidos tem direito a vida e a integridade física???

Fato é que após tantas e tantas andanças e confusões, já pela noitinha, Nosso Senhor chega ao centro daquela cidade, local em que estavam reunidos alguns de seus desafetos - i é alguns dos homens de bem com que altercara no decorrer do dia - como o capitalista, o machista, o sitiante, etc Enquanto outros ainda vão chegando...

E como sua indumentaria fosse característica principiam a clamar: Eis o comunista! Bolchevista! Imoral! Safado! Bandido! Viado! Frouxo! Subversivo! Inimigo da pátria! Adversário da Religião! Anti Cristo! Blasfemador! Sedutor! Falso profeta! Herético! Sujo! PEGA!!! MATA!!!

E como sói ocorrer em tais encontros, em que congregam-se multidões, as palavras sucedem-se tomates, ovos, estrume e em seguida paus e pedras até que a confusão acaba atraindo os olhares dos militares, dos políticos, dos lideres religiosos e de chofre acham-se todos ali, naquela praça em torno do divino crucificado e dispostos a confronta-lo!

A um lado o Supremo poder revestido de carne e a outro os poderes constituídos deste nosso mundo e guardiães da 'desordem estabelecida'...

Mas o que esta acontecendo aqui? Perguntam os lideres e chefes.

Acabamos de topar com este homem e de constatar que esta a anunciar doutrinas subversivas, torpes, imorais e a corromper a juventude! E se nossos filhos crerem nele que será de nossa boa Sociedade? Virá abaixo em pouco tempo até que não reste pedra sobre pedra! Forçoso é processar e condenar este homem pois tudo quer reformar e nada respeita, bem a família, nem a autoridade, nem a tradição...

Então declarai quais sejam as opiniões do homem. Acena um dos mestres guardiães.

Esta a dizer e a declarar que Nosso Senhor Jesus Cristo era favorável as revindicações das mulheres, das crianças, dos trabalhadores, dos homossexuais e até mesmo, acredite vossa graça, dos animais irracionais. Advoga além disto a paz, a tolerância, o perdão, o amor, a justiça, a bondade, a igualdade, etc Enfim a destruição dos costumes e o caos...

Após refletir por alguns instantes, o mais idoso dos guardiões, com o cenho cerrado, pergunta a Jesus
Sendo assim não aprovais nosso modo de vida e duvidais quanto ao que dizem nossos padres e pastores que representam a Jesus Cristo e a anunciam seu Evangelho? Acaso não sois machista, adultista, homofobico, capitalista, escravista e odinista como nós e toda boa sociedade civilizada?

Esses falsos mestres a que reverenciais não penetraram pela porta do aprisco, são mercenários que saltaram pelo muro. Jamais os constitui e enviei para emporcalharem o meu Evangelho com tradições podres e preconceitos humanos. Enquanto estive entre vós recebi o centurião romano, acolhi as crianças, proibi que o jumentinho fosse separado de sua mãe, vivi cercado por mulheres as quais doutrinei, juntei-me aos pobre e miseráveis, constitui pescadores, proclamei a liberdade de todos e recomendei que o agredido desce a outra face ao agressor! Tomai e lêde, minhas palavras estão registradas, vós e vossos falsos mestres prostituíram seus ensinamentos, jamais vos ensinei a negociar em torno da virtude!

Quando tais palavras chegaram aos ouvidos daquela multidão de fanáticos, conservadores, muçulmanos, biblistas, moralistas, bolsomitos, fundamentalistas, fascistas, nazistas, comunistas, capitalistas, etc Todos os adeptos das culturas de morte puseram os dedos nos ouvidos e gritaram em coro: Não suportamos ouvir isto... Poupai-nos.

No entanto o guardião mais velho fez um gesto com seus braços e aquela multidão de povo serenou. Diante disto ele lançou mais uma pergunta:

Condenais o recurso a força ou a violência?

Toda Sociedade agredida tem o direito de defender-se e contra atacar, condeno no entanto a agressão. Jamais é lítico, a Sociedade alguma, que se considere Cristã, agredir ou atacar.

Sendo assim condenais o recurso a guerra?

Todas as guerras de pilhagem são condenáveis. Aquele que deflagra a guerra é sempre criminoso.

Ditas estas palavras mais uma vez o clamor atravessou a praça de um canto a outro...

Certamente aprovas o costume de supliciar os heréticos, sacrílegos, blasfemadores e ateus???

Se Deus é todo poderoso bem pode castigar ele mesmo seus desafetos, sem precisar ser auxiliado por vós.

Ademais toda religião que precise fazer uso da força física para adquirir fiéis ou mante-los no respeito é morta em si mesma. Se recorre a punições temporais é porque falta-lhe autoridade espiritual. Se não admite analise, confrontação, critica, discussão e argumentação é porque não esta em posse da Verdade, afinal a Verdade nada teme da liberdade e sai sempre vitoriosa.

Portanto se derramais sangue e assassinais é porque a vossa religião é falsa, "Em matador algum subsiste a vida eterna."

Tais as palavras com que o Mestre respondeu ao guardião mais velhos. O qual após ouvi-la soltou um doloroso suspiro e perguntou:

Jamais ouvi dizer que abordastes o sexo em vossa pregação, nós no entanto baixamos regras bastante precisas e exatas sobre a matéria e condenamos todo tipo de obcenidades. Aqui certamente estais conosco???

De fato se abrirdes o meu Evangelho jamais encontrareis fórmulas ortodoxas ou decretos sobre sexualidade. Pelo simples fato de que tal assunto não me interessa, não me importa, não me afeta. Sexualidade é coisa que pertence a esfera da liberdade humana. Cada qual faça uso de seus corpos como bem quiser, desde que não prejudique ou cause dano ao outro.

Vós e vossos líderes, continuadores dos escribas e fariseus, substituístes o importante, o essencial, o necessário que é o amor ao próximo, por todos esses preconceitos toscos em matéria de sexualidade, preconceitos que eu jamais sancionei. O que eu disse é que meus discípulos são reconhecidos pelo amor. Além disto determinei que estivessem sempre prontos a perdoar, inclusive aos inimigos, que fizessem bem a todos, que fossem generosos, gentis e compassivos, que se abstivessem de julgar, apontar, criticar, evitar e condenar, que fossem pacíficos e tolerantes - "A religião pura e sem mancha consiste em servir concretamente aos órfãos, ao estrangeiro e a viúva.". Tal a religião que eu ensinei, centrada no amor ao próximo e não em tabus de natureza sexual.

E nem bem Jesus havia pronunciado tais palavras, os maniqueus, puritanos e outros inimigos do corpo, da nudez e do sexo, gritaram a uma só vós: Este homem é imoral, é devasso, é dissoluto, tem um demônio, é filho da fornicação, ao patíbulo com ele! Morra, morra... Foi tudo quanto se ouviu! Este seguidor de Freud e Reich deve morrer!

Por fim que tendes a dizer em tua defesa? Indagou outro dos guardiães.

Que realizei um bom trabalho em favor da religião ao transferi-la do domínio das exterioridades inúteis, como comida, bebida, traje, dieta, sexo, etc para o domínio da virtude, da intenção, do espirito, do amor, etc É tudo quando tenho a declarar e se alguma religião sobreviver as revoluções dos séculos será esta religião, da ética, da virtude, do bem, do amor, da alteridade; do humanismo enfim.

Após terem se reunido os guardiães da moral e dos bons costumes avaliaram os ensinamentos introduzidos por aquele homem como imorais, subversivos, utópicos, nocivos, revolucionários, estúpidos, inadmissíveis e consideraram que se fossem aceitos abalariam aquela bela sociedade até os fundamentos mais remotos, prejudicando a todos. Portanto fazia-se mister puni-lo exemplar, rigorosa e imediatamente para que outros não pudessem ouvi-lo e para que aqueles que porventura o tivessem ouvido não ousassem dar-lhe créditos!

Assim sendo após um breve instante, o divino Mestre Jesus recebe sua sentença: Nós, o povo brasileiro em nome da Bíblia, da lei, da religião, da instituição Cristã, da boa Sociedade, da gente honesta e decente, da ordem, da moral e dos bons costumes, etc sentenciamos o forasteiro João das couves a ser fuzilado sob a acusação de estar anunciado as perniciosas doutrinas de Marx, Freud, Atrino, Nearing, Ghandi, Tolstoi, Mill e outros celerados, cujo fim será a corrupção da nossa juventude. Seja pois torturado pelo Dops, posto no pau de arara, submetido a eletrochoques, etc (segundo a civilidade de nossos costumes) e depois fuzilado. CUMPRA-SE DE IMEDIATO!

E como temessem que aquele homem ressuscitasse e tornasse a ameaça-los com aquela doutrina escandalosa e inoportuna, os piedosos brasileiros, 'povo mais cristão da face da terra', determinaram que seu corpo fosse cremado e suas cinzas lançadas ao Tiete...

Destarte todas aquelas almas puras e imaculadas puderam respirar aliviadas, afinal já podiam odiar, julgar, condenar, prejudicar sem restrições e em nome de deus!

...



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A desnatalização do Natal






Naturalmente que Jesus não nasceu no dia 25 de Dezembro e não é preciso ser um Sherlock Holmes para sabe-lo.

Como Jesus não Era rei ou filho de rei mas filho de um humilde carpinteiro lá das bandas da Judeia seu nascimento passou em branco e nós não temos como saber o dia exato em que nasceu o personagem mais importante da História.

No entanto como era necessário lembra-lo e reverenciar o mistério da entrada de Deus no mundo, a igreja Ocidental ou latina escolheu o dia do Sol Invicto, que era uma festividade muito apreciada pelos antigos pagãos.

Quis significar com isto que Jesus Cristo é o 'Sol triunfante' ou sempre vencedor do mundo espiritual.

Desde então, Era o século IV desta Era, a data passou a representar o nascimento de Cristo, ao menos para os Cristãos ocidentais.

Não era ao astro rei deste sistema que nossas ancestrais pretendiam adorar ou cultuar no 25 de Dezembro de cada ano mas o Jesus dos Evangelhos, nascido da Santa Virgem numa manjedoura, reverenciado pelos seres espirituais, saudado pelos pastores e presenteado pelos magos da Pérsia com ouro, incendo e mirra.

Cristão algum jamais teve a intenção de cultuar o sol no dia 25 de Dezembro mas a Jesus Cristo, o qual ensinou-nos a julgar os atos humanos através das intenções. Os fanáticos e sectários que me perdoem mas para que nossos ancestrais tivessem cometido o pecado de adorar o Sol, deveriam ter tido a intenção de faze-lo, o que obviamente não tiveram. Era a Jesus Cristo que se reportavam seus afetos e sentimentos e não ao Sol...

E Jesus Cristo que sempre julga segundo as intenções que animam o coração humano deve ter acolhido de boa vontade este tributo de amor.

Tampouco sabemos em que ano Jesus nasceu. Não ele não nasceu no ano hum (10). Dionísio o pequeno calculou erradamente a data e hoje sabemos que Jesus deve ter nascido no mínimo cerca de cinco anos antes do ano hum (01) desta Era uma vez que Herodes, o tirano, faleceu no ano 04 a C...

Há quem cogite ter ele nascido no ano 06 ou mesmo no ano 07 a C e não temos como decidir a questão sendo ocioso transcrever as diversas opiniões.

Seja como for o Natal, até bem pouco tempo, ainda remetia as consciências a natividade do Mestre dos Mestres e reportava os pensamentos a Jesus.

Durante toda idade Média foi uma festa ou cerimônia espiritual comemorada liturgicamente na Igreja e a tais eras remonta o 'Adeste Fidelis'.

Em certos lugares a Festa do Natal chegou a eclipsar as festas da Paixão e da Páscoa que são as mais importantes do calendário Cristão e as vezes a ideia um tanto romântica de um Deus menino e indefeso envolto nas palhas e aquecido pelos animais falava demasiado alto aos corações dos crentes e arrebatava as multidões mais do que a morte e a ressurreição de Deus...

Em certas paragens outros símbolos de origem pagã como o pinheiro - adorado pelos germânicos foi incorporado a festa. Pois S Winefrido (Bonifas) havia podido observar a consternação dos pagãos após a derrubada do carvalho dedicado a Thor. E passou a ser visto como simbolo de Jesus Cristo.

Segundo o costume a árvore sagrada era enfeitada com guirlandas e com oferendas ou presentes ofertados aos deuses. Desde então os enfeites e guirlandas foram substituídos por símbolos Cristãos como a estrela anunciadora, a cruz, medalhas de santos, etc E os falsos deuses da gentilidade substituídos pelo presépio ou lapinha onde Jesus nasceu com Maria Santíssima, S José, os seres espirituais, os pastores, os animais, etc Ficando este a sombra do pinheiro. Os presentes continuaram a ser pendurados ou depositados aos pés do pinheiro e do presépio mas destinados aos pobres ou aos familiares.

Eu, particularmente acho o presépio (sua ícone) suficiente e a árvore desnecessária. Não é de fato essencial a piedade Cristã.

No entanto há quem aprecie, fiquem com ela. Mas não percam de vista os símbolos da nossa fé ancestral e em especial o presépio que é a memória do aniversariante do dia, Jesus Cristo!

Durante séculos as coisas transcorreram deste modo e sem maiores alterações.

Em alguns lugares também a memória do abençoado Nicolas Bispo de Mira também era reverenciada e consagrada aos pobres e as crianças que ele em vida costumava socorrer com donativos. Daí a pia fraude segundo a qual S Nicolas visitaria e presentearia as crianças virtuosas e obedientes no dia da natividade do Senhor. Lamentavelmente noutras paragens foi a figura do Santo Bispo associada a de uma figura mitológica: o pai Natal ou pai Noel com seu carro guiado por renas... E aos poucos esta criatura híbrida foi substituindo a figura do meigo nazareno e tomando seu lugar.

Aqui, se a igreja merece ser censurada por ter tolerado o culto tributado a esse personagem, é justo dizer e declarar que ela jamais santificou ou abençoou o tal papai noel ou pai natal. Mostrou-se simpático ao culto popular tributado ao Bispo de Mira com suas vestes de Bispo ou túnica, não ao homem de calças vermelhas e gorro conduzido por renas. Não a igreja não canonizou o papai noel!

Canonizou-o o Mercado ou o Capital porque Jesus Cristo não rendia lucros!

De fato é o mistério do Natal potencialmente revolucionário caso tenhamos em mente que o Deus do Universo munificente e rico fez-se homem pobre desejando nascer num estábulo, quando poderia ter se manifestado aos ricos e poderosos num palácio suntuoso!

Aos homens cobiçosos, avarentos e sempre dispostos a acumular riquezas o Deus Todo Poderoso manifesta-se como pobre entre os pobres. Pois nasce duma fiandeira e adotado por um artesão e torna-se ele mesmo artesão de madeira segundo Justino na "Apologia".

E não apenas nasceu como cidadão humilde ou remediado - não rico - como assim viveu ao cabo de prováveis quarenta anos. A ponto de dizer que não possuía uma pedra sobre a qual reclinar a fatigada fronte. Não foi num corcel branco que entrou na cidade santa para padecer mas numa jumenta ou como diríamos hoje num carro velho ou num fusquinha! E nem mesmo tumba possuía tendo sido inumado num túmulo emprestado pelo Senador Jose de Arimateia. Até a mirra e os aloes com que foi embalsamado aquele santíssimo corpo martirizado foram ofertadas por outro Senador Nicodimos Ben Gorion. Tudo quanto Jesus teve como seu foi a túnica inconsútil e a cruz em que morreu como pobre.

Como homem humilde nasceu, viveu e morreu, cercado por pescadores galileus!

Penso que tudo isto tenha sido mais do que suficiente para desiludir dos senhores do capital e da mídia.

Não a figura do Deus que se faz pobretão jamais foi interessante ou produtiva para o sistema e por isso Jesus tinha de ser posto de lado e a festa esvaziada de seu sentido para converter-se na apoteose do mercado e do capital.

O aniversariante do dia tinha de ser esquecido e seus ideais de serem ocultados para que a comemoração de 25 de Dezembro se tornasse lucrativa.

Era necessário obscurecer o sentido espiritual da festividade para converte-la em festa do ventre, do bucho ou do estomago.

Urgia encontrar uma figura capaz de destronar o nazareno pobre dos corações dos seres humanos e a figura escolhida foi a do gordo pai natal... o qual distribui presentinhos a quem por eles pode pagar e jamais se lembra dos pobres.

Jesus jamais receberá quaisquer presentes além daqueles que lhe haviam sido ofertados pelos magos da Pérsia. E tampouco era ele um distribuidor de presentinhos. Os únicos presentes que ele distribuía eram de natureza interior ou imaterial: o sentido da vida e a paz da consciência. Nada mais.

De fato ele jamais exigiu quaisquer contribuições, taxas, prebendas, ofertas, pagamentos, dízimos, tributos em troca das benesses que a todos dispensava, mas disse: De graça recebestes, de graça daí!

Não ele não cobrava qualquer coisa, não buscava lucros, não capitalizava, não corria atrás da fortuna e seu único investimento era o Ser humano, a criatura racional e livre que convocava para uma vida mais elevada e nobre.

Tudo quanto pedia aos que o cercavam era a dádiva do coração.

Corações a serem enriquecidos, eis tudo quando o divino Mestre Jesus pedia aos homens!

Então para o capitalismo, sistema que sobrepõem o TER ao SER, Jesus não era uma figura atraente e expressiva.

Não, essa figura era o pai Natal bebendo coca cola...

Substituída a figura do aniversariante foram substituídos os princípios e valores.

Na Idade Média, ao menos na Alemanha, durante a ceia de Natal uma das cadeiras em volta da mesa eram deixada vazia com prato e talheres. Era o lugar reservado ao pobre! Porque segundo acreditavam eles o Salvador poderia bater-lhes a porta na figura de um pobre faminto cabendo alimenta-lo. Noutras paragens ofereciam-se banquetes aos pobres tanto no Natal quanto na Páscoa e por ocasião de Batizados, Crismas e matrimônios... Pois os pobres eram os embaixadores ou representantes do Cristo. "Aquilo que fizestes a qualquer um destes pequeninos foi a mim que fizeste!"

No entanto da perda do referencial resultou a perda da consciência.

E de festa dos pobres e humildes o Natal converteu-se na festa de aniversário do Papai Noel e portanto em festa de ricos, de industriais, de empresários, de banqueiros e de burgueses, esvaziando-se de seu conteúdo original. Jesus foi esquecido e seu nascimento obscurecido...

Desde então compra-se, vende-se, presenteiam-se, empanturram-se e embriagam-se no dia de seu nascimento. Porque não se trata mais de reverenciar a entrada de Deus na História como excluído, mas de reverenciar a vaidade, a glutonaria, o luxo, a avareza; enfim o ego.

Hoje o espírito do Natal é espírito do economicismo materialista, espírito de ostentação, espírito de lucro enfim. É aniversário de Mamon, não mais de Jesus Cristo. É espírito arqui mundano e não espírito de amor, fraternidade, justiça, bondade, serviço, compromisso, benignidade pois este sistema iníquo de coisas tudo contaminou, poluiu e profanou, e não mais nos lembramos do pobre, do faminto, do sedento, do nu, do encarcerado... Não nos sensibilizamos mais face a dor e o sofrimento alheio e nossos corações estão completamente endurecidos.

Natal foi profanado pelo espírito do lucro, da avareza, da ambição, da cobiça e desnatalizado. Perdeu seu sentido, seu referencial, sua conotação religiosa. E tornou-se data de vendilhões e traficantes, os quais dominaram o templo e instalaram-se no santuário de Deus tudo corrompendo e fomentando os maus costumes.

Desnatalizou-se o Natal desde que converteu-se em Natal ou festividade dos shoppings, das lojas, dos comércios, dos objetos, das coisas, das peças... dos enfeites exteriores, dos brilhos exteriores e das falsas luzes que não procedem do coração.

Apesar disto não nos desesperemos! Sempre é possível fazer um Natal Cristão e verdadeiro com o retrato do presépio, com as preces tradicionais, com liturgia (onde há liturgia), com disponibilidade, com esmolas, com doações, com ofertas... Com o coração cheio de amor voltado para o mistério de Jesus Cristo e papa o próximo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta a uma nação cristã





Ontem, passei minha tarde e parte da noite lendo o opúsculo de Sam Harris, Carta A Uma Nação Cristã.
O autor sabe argumentar bem, tem um estilo cativante que prende um leitor, (li em português, não sei se em inglês difere, ou afeta o texto, creio que não) é realmente uma conversa com o leitor.
Carta a Uma Nação Cristã é bem diferente de Deus Um Delírio de Richard Dawkins, onde se vê um Dawkins quase hidrófobo, que não sabe argumentar, ao menos não com a elegância de Sam Harris.

Sam Harris em seu livro ele não chama os crentes de idiotas ou de burros, mas faz ver que suas crenças podem ser perniciosas. Ele mesmo disse na obra não ter escrito para cristãos liberais e/ou moderados mas para aqueles que são fanáticos.

O autor demonstra que o Velho Testamento com seus ensinamentos horríveis não pode ser a "Palavra de Deus", e nesse ponto concordo com o autor. Quando ele fala acerca do Novo Testamento, quando Jesus pregou o inferno eterno, seria preciso que ele recorresse ao grego língua na qual foi escrito o Novo Testamento. O que vem a ser a eternidade para Jesus? O que é o inferno na mente de Jesus? Claro, Harris leu os evangelhos na visão do pentecostal, mas isso não quer dizer que o que ele lê em inglês corresponda necessariamente ao grego. Até porque no original grego quando Jesus fala de castigo eterno ele usa kolasin aionion que significa castigo corretivo por tempo indeterminado, ou por eras de eras, visto que a palavra aion (era) está no plural e a palavra eterno mesmo, eterno que significa sem fim não tem plural em grego. Se Jesus quisesse mesmo falar em inferno eterno como querem a maioria dos estúpidos cristãos, ele usaria o termo aidios timoria que significa catigo eterno com vigança. Penso que Sam Harris deveria usar este argumento contra os cristãos fundamentalistas. Conclusão Jesus não foi esse cara mau demonstrado pelos cristãos toscos e pelo autor da Carta A Uma Nação Cristã.

Sam Harris demonstrou que a "moral cristã" nem é moral nem cristã, porque a moral deveria estar associada a empatia, ao amor pelos semelhantes. Uma moral que não se importa com a dor alheia não é uma moral, mas apenas uma convenção criada para favorecer aos caprichos de líderes religiosos.

Soube desenvolver bem o tema do aborto e das células troncos, no primeiro caso quando disse que 50% das mulheres sofrem abortos espontâneos e no segundo quando afirmou que para engenharia genética qualquer célula humana é potencialmente um ser humano. E que os cristãos só não permitem pesquisas com células troncos, graças a sua ignorância em biologia e são ignorantes por causa de suas crenças, nesse caso irracionais. Pensam que moral é agir de acordo com regras da Bíblia ou com opiniões não fundamentadas de seus líderes.

Em seu discurso Sam Harris fez um brilhante ataque ao Desing Inteligente (D.I), que é uma espécie de criacionismo mais sofisticado e tão falso quanto o criacioniosmo clássico.

Concluindo, gostei muito da leitura desse livro, isso não quer dizer que eu concorde 100% com o seu autor. Mas é bom por que ele sabe provocar sem insultar, e sabe demonstrar as falácias dos fanáticos com uma linguagem acessível a todos. Vale a pena ler a Carta A Uma Nação Cristã.