Já habituei-me a ser classificado como teísta ou deísta pelos ateus e materialistas e concordo com eles.
Também já me habituei a ser classificado como ateu e descrente pelos fundamentalistas e também concordo com eles.
Agora como pode alguém ser ao mesmo tempo teísta ou deísta e ateu? Não equivale isto a uma monstruosa contradição de termos?
Depende antes de tudo de como você pensa Deus.
Que exista uma consciência, um espírito, uma alma, um ser imaterial no universo e em comunhão com ele parece-me exato. Oponho-me assim aos ateus.
Nem posso deixar de perceber um sentido na Evolução dos seres, um objetivo e um propósito. Como não posso deixar de associar o conceito de Lei natural ao conceito de Legislador natural. Enfim não posso crer que os elementos materiais conduzam este fluxo universal...
E concluo por um outro elemento, um elemento invisível, espiritual ou transcendente, presente na imanência.
Por outro lado não penso este ser como algo totalmente separado, isolado ou absoluto em termos de transcendência e menos ainda como um ser limitado sentado sobre um trono posto acima das nuvens do céu, como imaginam os religiosos em sua totalidade. Neste versão limitada de deus não acredito.
A existência deste homem ou homenzinho limitado por formas e situado num determinado local ou espaço nego até o fim.
Se deus é isto: um homenzinho barbado com super poderes situado acima das nuvens, cercado por uma corte de anjos, com fórum, corte de apelação, arquivos, livros celestiais e outras bizarrices devo negar sua existência nos mesmos termos que a do vampiro, do lobisomem, o currupira, do saci...
Neste deus simplório do vulgo não creio.
Para este tipo ou categoria de deus fico sendo mesmo ateu, e empedernido.
Nada contra a ideia, alias genial, de que esse Deus infinito, ilimitado, atemporal, eterno... por natureza, tenha, no tempo e no espaço; assumido um corpo terreno e se manifestado aos homens.
Minha crítica aqui tem por mira antes de tudo as religiões puramente transcendentes - como judaismo e islamismo - que apresentam o transcendente absoluto como tipo ou espécie de homem sem admitir - com os Católicos - que tenha se encarnado ou assumido uma natureza humana, o que nos obriga a concluir que a finitude dos homens é que seja imagem e semelhança de sua finitude essencial, como concluíram os mórmons, restaurando a doutrina dos proto israelitas a respeito da natureza divina.
De fato se os judeus cogitaram bastante cedo a respeito da monolatria e em seguida do monoteísmo, nem por isso cuidaram a espiritualizar javé, representando-o como um ser espiritual. Os gregos é que bem antes dos judeus e de praticamente todos os povos conceberam o Uno ou a divindade como imaterial, invisível, ilimitada, infinita, atemporal, etc embora conectada a um elemento material como a alma humana ao corpo físico.
Espiritual era o Deus dos antigos Filósofos, sem pés, mãos, asas, etc
E não o deus cavaleiro dos judeus montado sobre as asas de um querubim...
O Catolicismo é que incorporou a si a doutrina dos filósofos gregos e proclamou a existência de um espírito eterno que no tempo assumiu a condição de um homem mortal, manifestando-se aos mortais. Síntese equilibrada, além de genial.
O próprio judaísmo conduz infalivelmente a esta solução na medida em que como já dissemos continuou e continua a apresentar o absoluto transcendente com traços de imanente, pelo simples fato deste transcendente ter produziu seres imanentes cujo aparelho cognitivo depende da experiência para compreender.
Pelo simples fato de ter inserido o homem numa ordem material e posto sua mente em conexão com elementos materiais, parece-me que o transcendente/imanente viabilizou a teoria do AVATAR. Só a luz da Encarnação torna-se a divindade perfeitamente compreensível aqueles que estão inseridos na imanência.
Em situação alguma percebemos uns transcendência separada da imanência ou a existência de um espírito puro e descarnado.
Assim se Deus é como é Espírito, é Espírito em comunhão com o universo que nele existe.
É transcendência mas em comunicação com a imanência em que estamos imersos.
Eis porque quando os ateus negam a existência de um deus espírito situado num determinado local ou espaço deste universo, assumimos com eles a negação deste ser limitado.
Se é inserido, localizado e limitado sem se ter encarnado numa natureza propriamente humana não é Deus.
Pois Deus para ser Deus não pode ser limitado a menos que limitasse a si mesmo no tempo pela posse de um corpo material.
Não é impossível que Deus a si mesmo limite no tempo por meio da Encarnação.
Mas é de fato impossível que Deus limite a si mesmo enquanto Deus ou essência divina, uma vez que é ilimitado em si mesmo...
Os crentes todavia, e me refiro a judeus, muçulmanos e unitários os quais repudiam o mistério da Encarnação, continuam apresentando seu deus como um espirito situado nos céus e cercado por anjos numa espécie de côrte...
Ficando patente a contradição e o absurdo!
Pelo que com os incrédulos e ateus repudiamos a este discursos contraditório e inconsistente.
Deus não acompanha pessoas, não vai ou vem, não sobe nem desce, não esta aqui ou acolá... não vive sobre as nuvens dos céus em 'meio' aos anjos...
Ele é o lugar de todos os lugares, o espaço de todos os espaços, suporte do universo... que a tudo contem em termos materiais e espirituais. Nele nos movemos, somos e existimos...
E nada há que esteja fora, para além ou apartado dele...
Ele é o habitáculo deste mundo e o continente de todos os seres, de tudo que existe, de tudo quando é.
"Turbilhões de universos materiais e imateriais, movem-se nas pontas de seu 'dedo'..." como células de seu corpo...
Como o grão de areia que jaz no fundo de um oceano, nosso universo jaz imerso na consciência divina, a qual o penetra e encharca como as águas do mar encharcam e penetram uma esponja...
Assim ele penetra e conhece todos os seres sem ser plenamente conhecido por qualquer um deles.
A esta visão grandiosa e perturbadora adiro com todas as forças do intelecto.
A crença vulgar num 'transcendente' absoluto e ao mesmo tempo limitado e corpóreo sem se ter encarnado, deploro como clamorosamente absurda.
Aproximo-me do Deus dos filósofos antigos, do Deus dos mistagogos hindus, do Deus Encarnado dos Católicos e afasto-me da aberração transcendente e limitada dos judeus e maometanos.
Opto por um Deus presente na imanência que não tem dificuldade alguma em aprofundar um dialogo com o que esta em si e que de si procede.
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