Como frequentemente faço embarquei pela manhã, alias manhã ensolarada, no Terminal Rodoviário de Santos - SP, rumo a S Paulo Capital.
Trajeto que há dois séculos passados levaria mais de um dia e nos séculos XVI/XVII cerca de dois dias.
Horrendo era o caminho do Pe José, o qual parece que subia de penedia em penedia através de colossais torrões de barro... As coisas só vieram a melhorar no final do século XVIII com a calçada do Lorena e, em seguida, com o aterra do Cubatão e o caminho novo ou do Imperador, embora D Pedro I tivesse seguido pela calçada do Lorena. Depois vieram a Estrada velha, a Anchieta e enfim a nova Imigrantes, pela qual fazemos o mesmo percurso em menos de uma hora e sem quaisquer solavancos.
Excepcionalmente - Ao menos para mim que subo algumas vezes por mês - era possível contemplar, em meio ao azul oceânico, a distante Ilha da Moela. Na qual Paulo Freire de Andrade assentou o primeiro Farol do Estado de São Paulo em 1830, isto sobre um cômoro de noventa metros de altura. Uma bela e grandiosa visão. - A qual não tardou a desfazer-se...
Pois assim que chegamos ao Planalto pudemos observar ao lado esquerdo, praticamente dentro da Mata Atlântica uma espécie de bairro cuja presença ainda não havíamos detectado, o qual pela extensão e pela visão do barro remexido nos pareceu ser recente. Tenho certo para mim que aquele espaço é de preservação. Pois como disse é uma espécie de ilha no meio da Mata...
E assim, de uma visão celestial, produzida pela natureza, chegamos a uma visão infernal produzida pelos seres humanos: A destruição da natureza...
Pois é enquanto alguns parasitas sem consciência tomam um foguete e vão passear pela estratosfera é esta terra, sobre a qual pousamos os pés, diariamente agredida e desfigurada.
Afinal se ao subir a serra do Mar, no curso da nova Imigrantes, e, de dentro de um ônibus, somos capazes de perceber o crime abominável, como crer que as policiais - Ambiental, militar ou civil não o percebam? Ou será o caso - Mais grave ainda - de que o tenham percebido e, se omitido, nada tenham feito? Agora se nada querem fazer por que raios não acionaram as autoridades ambientais, o ministério público, etc Não se sentem seguros para realizar uma operação? Por que então não recorrem ao Exército, a propósito do qual é costume recorrer a propósito de qualquer coisa neste país?
Hábeis para agredir e surrar professores, trabalhadores, cidadãos que protestam contra o governo tirânico, alienados mentais, etc, etc, etc por que temem defender a mãe natureza e, se necessário for, remover aqueles que porventura tenham ocupado espaços de proteção ou reservas?
A resposta face a omissão do Estado, da Sociedade e dos poderes públicos parece ser simples: A natureza não fala, a flora não grita, a fauna não berra... É a natureza muda e nós surdos face a seus clamores. Ficando ela sujeita a toda sorte de abusos e crimes monstruosos.
Inútil criar leis e estabelecer decreto se a natureza não pode clamar por proteção, assim falar, gritar, berrar, denunciar os crimes cometidos contra si e clamar por providências. Quem deveria fiscalizar, falar, gritar, berrar e clamar por ela somos nós... E por isso vai mal e muito mal a situação.
Pois a maior parte de nós ou daqueles que se dizem Sapiens ainda não conectaram nossa sobrevivência a sobrevivência do planeta.
Cegos pelo antropocentrismo cultural acreditamos pertencer a uma espécie a parte e poder viver sem a natureza.
De fato a maior parte de nós é ignorante, burra, desinformada, estúpida, imbecil, tola, idiota... semi alfabetizada, etc tendo muito dificuldade para compreender o ciclo do ar ou da água. Mais fácil imaginar nosso Bom Deus lançando água a terra com um regador gigante ou fabricando ar...
Tais os alienados, que se preocupam mais com a sexualidade alheia, com o cardápio alheio, com o traje alheio, etc do que com o que realmente importa: A condição da natureza, o crescimento populacional e a miséria - Já por que a miséria interage com o crescimento populacional, estimulando-o... e dando origem a um ciclo vicioso mortal. O que deveria chocar os seres verdadeiramente humanos, racionais e conscientes não é nudez alheia mas a extinção de qualquer espécie vegetal ou animal, o que infelizmente, encaramos como algo trivial... Sim, para nós o desaparecimento de uma forma de vida que levou milhões e milhões de anos para manifestar-se não passa de banalidade> A novela, o futebol, o carnaval e o frenesi religioso parecem bem mais importantes do que condição da terra nossa mãe.
Classificarei socraticamente a gente acima como parte das massas alienadas.
Há no entanto aquele outro perfil ou tipo de gente, ignorado pelo moralista grego.
Refiro-me aos malvados i é aos voluntariamente maus.
Asim aquele que diante deste grande problema, que é o problema ecológico (O mais premente dentre todos!), limitam-se a dar com os ombros e a cogitar: Após mim o dilúvio, julgando que quando a catástrofe começar não mais estarão por aqui. Aqui o pior tipo de gente, a gente individualista, egoísta e desalmada, a qual não se importa sequer com o futuro de seus próprios filhos, netos e descendentes. Pouco se lhes dando que vivam em cercados por uma atmosfera poluída, em meio a excessos de calor, caminhando sobre uma terra contaminada, servindo-se de água suja, sujeitos a situações de fome e contemplando um cenário de imensa feiura... Tais os arquitetos do inferno, do inferno concreto, do inferno real, que desde alguns séculos aperta seus tentáculos em volta desta pobre terra.
Essas pessoas respeitáveis, que pensam somente em trabalhar, vencer, lucrar, enricar e desfrutar. Essas pessoas maravilhosas que pouco se informam sobre as condições do planeta e se recusam a criticar o sistema. Essas lindas e mimosas criaturas que folgam em negar o óbvio, estão condenando os homens e mulheres do futuro próximo a uma morte lenta, indigna e dolorosa num cenário de horror. Pois estão sujando, poluindo, emporcalhando e devastando nosso ambiente, nossa casa, nosso lar... Mesmo quando sabem muito bem que não dispomos de outro, ao menos fora da ficção científica.
Aquele que se recusa a considerar o futuro de seus próprios filhos, carne de sua carne e sangue de seu sangue, só pode ser visto como pérfido mau caráter, como canalha e como sacripanta. Afinal quem não tem compaixão de seus próprios descendentes, recusando-se a pensar neles, como haverá de se preocupar com os demais seres humanos? Desde que eu esteja bem, os demais que se ferrem... Tal o lema dessa gente para a qual a causa a ecologia é ociosa. Pois aqui já não estamos mais diante dos devaneios metafísicos de comunistas e anarquistas em torno da querida revolução, e sim diante de um problema palpável e real, que diz respeito ao futuro da espécie.
Curioso que os marxistas ortodoxos, sejam comunistas ou anarquistas, tenham de fato admitido tão estúpida e cruel premissa segundo a qual deve o capitalismo desenvolver-se ao máximo sem quaisquer empecilhos ou atenuantes, quando de tal desenvolvimento só poderia resulta a calamidade e ora temos a desdita de contemplar: O colapso da mãe natureza, a agonia do planeta, a destruição de Gaia... Do desenvolvimento estrondoso das forças de produção capitalistas - Em que pese o imenso esforço de reformistas de toda casta no sentido de conte-lo. - o quanto resultou foi termos acionado a sexta grande extinção em massa. A qual, não fossem o empenho de gerações e gerações de socialistas parlamentares, reformistas utópicos, sociólogos de gabinete e humanistas de casta, teria já explodidos há dois ou três séculos, essa bomba mais letal do que milhares de bombas de neutrons.
Sejam os créditos atribuídos ao capitalismo, mas também aos marxistas etapistas, materialistas e deterministas, com sua política diabólica do 'Quanto pior melhor' ou de dar corda ao capitalismo e sabotar o reformismo.
A bem da verdade o capitalismo, esse monstro de avareza e irracionalismo, jamais devería ter vindo a luz do sol. Deveria ter permanecido trancafiado no abismo em que fora posto pela Igreja antiga e lá ficado, contido e preso. A Reforma no entanto destampou a caixa... Enquanto os etapistas julgaram proveitoso contemplar o crescimento da Hidra... O que vemos hoje é, repito, a mãe natureza agonizando. Chegamos as portas do abismo e nada de gatilho metafísico ou de transformação mágica. Nem depois, nem antes, posto que a URSS foi o que tinha de ser: Um estrondoso fracasso. Assim o México e a China... Enquanto tais peripécias aconteciam era a natureza atacada por todos os lados, como continua sendo atacada hoje, uma vez que não pode defender-se ou gritar.
A força ou melhor dizendo a violência foi aplicada na direção errada.
Pois poucos cogitaram ou cogitam defender os vegetais e animais que sofrem violência por parte dos homens irracionais.
Poucos, muito poucos tem cogitado não em revolução mas em algo bem mais simples, i é em proteção, em proteger a natureza nossa mãe contra o terrorismo do capital.
Capitalistas, comunistas e parte dos anarquistas são culpados face da destruição do planeta e o extermínio de tantas formas de vida.
Bem, tornando a serra do Mar, a Baixada, a S Paulo, devo dizer que antes de chegar ao Planalto, ainda na Baixada ou Cubatão também pude observar que a comunidade carente que fica localizada a esquerda da Imigrantes se tem alastrado ainda mais em direção do Manguezal, que é um bioma protegido por Lei. Mas quando não se trata de bater em professores ou grevistas onde está a Lei? Quem ousa ir até lá fiscalizar, conter, remover??? Ninguém... Ninguém... Pois o manguezal não fala, não grita, não pede socorro - Agoniza lentamente... E para muitos sequer passa de um lugar lamacento ou sem importância alguma.
Cadê o exército? A polícia civil? A política ambiental? O ministério público? Os políticos gananciosos por votos? Os cidadãos???
Ao subir a baixada e observando como ocupações ilegais proliferam de cima abaixo fico a pensar sobre quanto tempo o entremeio i é a mata existente na escarpa da Serra sobreviverá - Pois houve ou há ali uma Vila Parisi... Quanto tempo levará para que, face a conivência das autoridades, passem os desterrados a ocupar as as margens do Rio Quilombo, o Vale e em seguida todos os declives daquela selva ou melhor, daquele paraíso terrestre tão poeticamente descritos por um Mawe, por um Pinck, por um Zaluar, etc Naquele triste dia, graças a omissão geral que lavra neste tempo, as árvores e cachoeiras se tornarão tão históricas quanto as figuras de um Anchieta ou de um Pedro I, e existirão apenas enquanto vestígios do passado. Será que ainda existiremos nós enquanto espécie? E qual será a condição de nossos filhos?