A Ética apenas assume com absoluta propriedade um caráter de normatividade, determinando como as coisas deveriam ser e projetando seu discurso num tempo futuro.
A psicologia, como a medicina convencional é normativa no sentido em que os fenômenos por elas identificados produzem, no elemento humano, certos efeitos desagradáveis, que eles humanos aspiram ver eliminados. Via de regra há acordo entre o médico e o psicólogo e seus pacientes no sentido de que determinada realidade corporal ou psicológica deva ser eliminada, e portanto quanto a sua avaliação negativa em termos mais ou menos subjetivo.
Sempre poderíamos estender o problema da Medicina e da Psicologia a Sociologia partindo do suposto que existam determinadas patologias sociais que precisam ser eliminadas e não apenas detectadas e descritas. Para alguns críticos seriam tão monstruoso limitar-se a descrever certas realidades sociais quanto limitar-se a descrever certas patologias somáticas ou psíquicas e recusar-se a interferir eliminando-as.
No entanto a situação a ser encarada não é assim tão simples quanto parece pelo simples fato do corpo e da mente humanos formarem uma unidade mais orgânica ou evidente do que por assim dizer o corpo ou grupo social, cuja unidade nem sempre é conscientemente percebida ou sentida por todos os membros com a mesma intensidade. Havendo quem vida em sociedade e não tenha qualquer índica de consciência social. Enquanto a unidade física e mesmo mental parte de determinado fundamento material que geralmente não ousamos questionar seriamente, a unidade social supõem sempre e necessariamente um nível de consciência mais acurado ou uma prévia educação de implique determinados princípios e valores, os quais tanto podem reforçar quanto diminuir a percepção social do individuo, isto a ponto de alguns não se sentirem como pertencentes a qualquer grupo social, encarando a si mesmos como elementos isolados, tal o ponto de vista do individualismo.
Destarte o problema da estrutura social, da organização social, da consciência do social e do pertencimento esta diretamente relacionado com o problema da cultura e com a dimensão ética da vida, da formação, dos princípios e dos valores que recebemos.
Não é certamente questão de Sociologia pura a questão da Sociedade ideal porque aspiramos. Isto porque os indivíduos tendem a conceber a Sociedade futura em termos bastante diferentes ou até opostos, conforme os princípios e valores que cultivam. Assim se temos uma proposta socialista, outros tem uma proposta individualista ou liberal economicista. Como afirmar que ambas as propostas antitéticas tenham o mesmo fundamento: a percepção, a experiencialidade, a cientificidade enfim? Ao menos no campo da Sociologia a ideia de uma normatividade empírica, objetiva e científica se nos parece no mínimo problemática e nem vemos como o campo da Sociologia possa superar a divisão reinante entre os modelos Socialista e Capitalista de organização social, os quais são excludentes e inconciliáveis por definição.
Destarte ao que chamam Normatividade Sociológica prefiro transferir honestamente para o terreno da Ética ou dos princípios e valores ideais propriamente ditos. Reconhecendo que é a Ética e não a Sociologia que cabe examinar e discutir a questão dos princípios e valores que o positivismo tão arrogantemente despreza por ser metafísica ou especulativa. Separamos a Sociologia da Ética - negando portanto seu caráter normativo - não negamos a Ética, pelo contrário assumimos a ética essencial ou objetiva da pessoa nos mesmos termos que o velho Sócrates. Apenas não temos a vã pretensão de vende-la como algo perceptível, empírico ou científico.
Marx, já o dissemos e repetimos umas mil vezes, não tirou seu modelo de sociedade futuresca, isento de contradições e injustiças daquilo que é ou por via da experiência, mas da Ética e da Ética Cristã/Católica que lhe havia sido inculcada por Wietling, tal sua fonte em termos de cultura, princípios e valores; a qual nada tem de científica. O Socialismo, sejamos honestos e francos, nada tem de científico e menos ainda o comunismo que é uma forma de socialismo ainda mais radical ou extremista. Não existe Socialismo científico, a ciência Social termina com a crítica as contradições internas, materiais e econômicas existentes na estrutura do capitalismo. A Crítica econômica feita aos defeitos estruturais do Capitalismo, e cujo fim á demonstrar sua irracionalidade e inconveniência esta a precipuamente científica. E no entanto negar ou questionar o Capitalismo não equivale a substitui-lo por qualquer outra coisa inexistente ou por qualquer projeto futuro. Tudo e qualquer projeto social voltado para o futuro pressupõem sempre e necessariamente determinados princípios e valores, os quais são de natureza ético/especulativa ou metafísica e não de natureza empírico/científica.
Em que pesem as manobras ideológicas feitas pelo sr K Popper, há um conteúdo científico em Marx, sua crítica formal a estrutura capitalista vazada no 'Capital', de par com um elemento utópico ou futuresco - de natureza ética - vazado no 'Manifesto comunista' e que é o próprio comunismo. O comunismo, como toda crítica ao que temos ou ao que é dado, supõem sempre uma ordem natural que toca a essência das coisas e com que deva conformar-se a realidade, sendo a realidade mensurada pela idealidade. E já percebemos que esta petição metafísica não vai bem com o ateísmo e o materialismo professados pelo próprio Marx. Temos aqui um corpo sem pernas... Incapaz de sustentar-se face a uma crítica mais acurada e que por isso mesmo vem ao chão.
Com efeito, caso me perguntassem sobre o que é dado ou o que vejo em termos de organização social, teria, surpreendentemente, de concordar com o diagnóstico de Wilfredo Pareto mesmo nas sociedades mais avançadas e socialmente equilibradas - como a dos antigos incas - não se foge a regra e tudo quando vemos, ao menos ate a atualidade pode ser sim definido em termos de massas e elites. Assim o que vemos são massas controladas por elites e as elites controlando e oprimindo as massas. Importa segundo Pareto que as diversas estruturas sociais garantam aos elementos mais bem preparados, talentosos ou merecedores, acesso aos nichos sociais mais elevados ou a posições de controle, movimento por ele denominado 'circulação das elites'. Uma Sociedade qualquer em impeça a ascensão dos elementos mais bem preparados é uma sociedade ineficaz, não funcional e portanto a beira do abismo ou prestes a entrar em colapso.
A análise de Pareto não me parece nem um pouco forçada ou artificiosa caso observamos aquilo que temos ou aquilo que é dado e Sociedade alguma me parece fugir a este paradigma. Isto a ponto do atilado Pareto partindo com que é dado, ter elaborado sutilmente uma teoria de elites, que muito sutilmente veio a assumir um caráter metafísico, em oposição a proposta socialista. De fato os sucessores e colaboradores de Pareto no afã de opor algo de mais consistente ao Socialismo, atreveram-se a ultrapassar a demarcação positivista ou weberiana e a declarar que a Sociedade não apenas tinha sempre sido assim, mas que certamente sempre haveria de ser assim. De modo que os adeptos da teoria elitista, partindo da análise científica de Pareto, e assumindo um tom de previsibilidade característico apenas das ciências exatas, deram-se a profetizar, asseverando que a dominação da Massa pela Elite implica uma dinâmica natural, essencial e portanto imutável... Produziram assim um discurso tão metafísico quanto o socialista, partindo do que é para concluir a respeito de como sempre seria...
Cumpre aqui estabelecer o mesmo critério já assumido quando a Marx a analise de Pareto em termos daquilo que é nos parece perfeitamente objetiva e válida. Já a postura assumida por seus discípulos segundo a qual Pareto teria descoberto um movimento responsável por regular todas as Sociedades para todo sempre, i é o elitismo, merece ser situada com o Socialismo e o Comunismo no plano abstrato metafísico da idealidade.
A bem da verdade, sempre que observamos as Sociedades de mais perto, tendemos a concluir que a decantada superioridade das elites acha-se na dependência de diversos fatores, em sua totalidade acidentais ou culturais e não essenciais - assim a força acima de tudo e em seguida a educação ou as crenças religiosas. Há um conteúdo de esperteza aqui. O qual hipoteticamente sempre poderia ser assimilado ou cultivado pelas massas... associado a um conteúdo de coerção física. Nada que toque a essencialidade do ser pressupondo uma dinâmica eterna e imutável.
A princípio as relações entre opressores e oprimidos tinham por padrão a força bruta. Cujo emprego teve de ser repensado na medida em que a humanidade evoluia em termos de Ética e de Cultura, questionando este tipo de padrão e classificando-o como inadequado. Curiosamente as religiões, amiúde classificadas como obscurantistas, tiveram um papel significativo dentro deste processo. Assim o culto egipcio de Aton, o Zoroastrismo, o Budismo e o Catolicismo antigo.
Na medida em que o padrão da força era questionado as diversas sociedade em questão tiveram de refinar os meios de controle ou de produzir um novo meio de controle, a saber um meio de controle ideal, imaterial, ideológico, formativo em termos de logro ou esperteza. Desde então o objetivo foi tentar convencer as massas de que eram massas e de que deviam ser controladas, oprimidas, dirigidas ou governadas porque este tipo de relação - senhor e súdito - havia sido disposto pelos deuses (ou por Deus) ou - numa leitura metafísica - pela natureza. Daí o sucessivo apelo a instâncias culturais como o templo, a escola, etc A religião teve de ser mais e mais cooptada pelo poder político e a educação monopolizada por ele tendo em vista a formação de uma consciência subserviente e conformada.
Desde então as massas foram ensinadas a crer que deviam ser comandadas em razão de sua inferioridade essencial. Impuseram-se as relações elitistas mas por via da cultura ou do logro. Claro que a situação de desigualdade era fabricada e reforçada pela fruição desigual dos bens materiais e meios de produção, pela falta de acesso a informação e em última análise pela própria força. O elemento chave no entanto era o discurso filosófico ou religioso, cujo termo final era a essencialidade. Então o que salta a vista aqui é a produção, artificiosa, de uma cultura da submissão, da divisão social e da hierarquia, tudo humano, muito humano e nada transcendente.
Este tipo de relação conseguiu predominar, no Ocidente; ao menos até a Revolução Inglesa de 1649, na qual, por primeira vez damos com um ideal igualitário ao menos em termos políticos representado por Liliburne. Nem por isto deixa esta Revolução de ser burguesa e eminentemente burguesa pelo simples fato de que o ideal igualitário jamais deixou de ser ideal para ser aplicado em qualquer uma de suas fases.
Outra e totalmente distinta era a situação da Revolução Francesa, cujo substrato cultural era bem outro (Católico inda que a fé Católica estivesse em declínio). Nela por primeira vez, com o virtuoso e incorruptível Robespierre temos uma fase socialista ou popular cuja continuidade - malograda - foi assumida por Babeuf.
Com a Revolução Russa de 1917 topamos pela primeira vez na História (a exceção talvez da Comuna de Paris - 1870) com uma Revolução em que podemos identificar uma certa participação consciente de elementos populares tomados as classes mais baixas da sociedade, assim dos operários. Não queremos dizer com isto que os operários organizaram ou fizeram tudo ou mesmo que constituíram o elemento preponderante nesta Revolução, uma vez que os quadros ou líderes sairam em sua maior parte das classes médias. Temos no entanto a participação ativa e consciente de elementos populares, a qual deve ser assinalada como uma novidade.
Temos aqui parte das massas desmassificada e transformada em povo por meio de um processo educativo prévio ou de uma tomada de consciência. O que parece mostrar-nos que o caráter dos elementos constituitivos das massas não é natural ou essencial mas cultural e portanto mutável. O que parece apontar-nos sim para a uma saída policrática e socialista em termos de igualdade relativa, já em termos políticos já em termos econômicos.
É verdade que juntamente com a emancipação deste elementos, que deixam de ser massa para vir a ser povo consciente de sua missão enquanto agente da História, assistimos a um outro movimento curioso analisado por Ortega Y Gasset que é a rebelião ou sedição das massas, aqui sempre cegas, inconscientes e portanto manipuladas por outro segmento, seja progressista ou conservador. Sim, as massas também se movimentam, mas noutro plano - não formativo, educativo ou consciente - tanto mais imediatista do pão e circo; pedem pão, vinho, carne, roupa, espetáculos (carnaval, futebol, novela, etc), etc e dão-se por satisfeitas com isto, mesmo quando permanecem oprimidas pela Elite. Não poucas vezes no bojo de uma Revolução progressista o movimento das massas - cegas, inconscientes e manipuláveis - pode ser perigoso.
O Objetivo do Socialismo não pode ser levar as massas enquanto massas a rebelarem-se contra as elites porque um hipotético controle das massas seria ainda mais danoso. Sei que os socialistas não apreciam ouvir este discurso, mas o que buscamos é transformar as massas em povo consciente por meio de um processo educativo. Isto sob pena de jamais haver qualquer tipo de revolução - ou transformação significativa e impactante - a qual para ser bem sucedida deverá partir sempre do povo e não de quadros dirigentes. A tarefa precípua do 'partido' operário ou popular não é fomentar sedições elitistas de esquerda (Exceto se e quanto diz Engels a ordem democrática for profanada pelos próprios liberais cedendo espaço ao despotismo) mas produzir um povo i é uma multidão de pessoas conscientes a respeito de sua condição social e sobre a necessidade de muda-la.
Curiosamente o aspecto em que Marx e Mosca parecem estar de acordo é justamente a respeito da sansão ideológica e religiosa, ou da alienação, enquanto elemento chave para compreendermos a sobrevivência de tais modelos sociais no curso da História. Tais relações sociais, ainda que desagradáveis foram mantidas porque a instância ideal/cultural representada pela filosofia ou pela religião, dispos-se a ocultar/disfarçar as verdadeiras causas, sociais, da desigualdade. Até onde sabemos situação alguma de desigualdade social foi aceita enquanto tal (Exceto enquanto vigorava o padrão da força) pela parte oprimida, tendo em maior ou maior medida de ser disfarçada ou suavizada por um discurso essencialista de matiz religioso ou metafísico.
O que mais uma vez nos leva a questionar o tão decantado materialismo marxista. Afinal se a materialidade chã dispõem de tanta força ou poder por que as causas materiais, sociais ou culturais da desigualdade precisam ser disfarçadas por um discurso metafísico??? Se a materialidade é tudo porque em cada sociedade examinada a relação opressor/oprimido deve receber uma sansão religiosa para ser socialmente aceita? Se nada há de mais persuasivo do que a simples materialidade por que as relações sociais de dominação e domínio precisam recorrer a alienação, compreendida mormente como chancela social atribuída por uma instância ideal???
Este simples questionamento a respeito da força social do elemento ideal/imaterial é que conduz-nos naturalmente ao conceito de Mimesis formulado por Toynbee e nos ajuda a compreende-lo, de modo a que possamos compreender com maior propriedade ainda algumas situações de estabilidade quase ideal experimentadas por algumas sociedades. Por estabilidade quase ideal devemos compreender o que é chamado por outros como picos de civilização em que dada civilização intensificou seu ritmo de produção cultural numa escala incomum.
A título de exemplo podemos citar as seguintes situações sociais:
- Os primórdios da Sociedade Sumeriana. Período proto Histórico até Urukagina de Lagash )ao menos em Lagash)
- O Egito de Snefru e demais construtores de pirâmides, o Médio Império dos Sesóstris, o Novo Império de Tumósis III e Amenófis III, o Novo Império de Ramsés II (duvidoso para alguns) e a Renascença saíta.
- A Babilônia de Hamurabi (duvidoso para alguns)
- A Fenícia dos séculos X e IX a C
- A Atenas do século V a C
- A Bizâncio do século IV d C e a Bizâncio dos séculos IX - XII d C
- A Europa do século XIII
- Portugal do século XV
- A França do século XVII
Para mim, dentre todas elas, o paradigma mais nítido é o da Atenas em seu período áureo.
Sem mistificar ou negar que em cada uma destas Sociedades permanece sempre algum índice de desconformidade ou desconforto - que nos impede de falar uma estabilidade absoluta - se nos parece que foram as que mais se aproximaram-se de um padrão 'ideal' em termos de Unidade ou aglutinação social. A impressão que temos ao encarar a Atenas do século V a C, a Bizâncio do século IX ou a França do século XVII é que determinada proposta ou ideário social, com todo um corpo de princípios e valores envolvidos, acabou sendo conscientemente aceita por cada grupo daquelas sociedades fazendo com que assumissem a própria condição dada, diminuíssem o atrito e em relativo equilíbrio intensificassem as produções culturais atingido um grau bastante elevado de civilização. É como se uma ideia ou um propósito impregnasse o conjunto de determinada sociedade suavizando a oposição existente entre os grupos. Esse assumir uma consciência comum - massas e elite, elite e massas é o que se chama Mimesis.
O que temos hoje em termos de cultura não é apenas a ausência da Mimesis ou da assimilação cultural por parte das massas - por vezes em movimento cego e inconsciente de sedição - mas a completa ausência de Unidade cultural mesmo entre as elites que dirigem ou pretendem dirigir nossas sociedades. Inexiste qualquer elemento comum em termos de cultura seja quanto as elites ou quanto ao setor médio da produção econômica. Elite, setor médio e massas orbitam em torno de ideários, princípios, valores e crenças totalmente diferentes. De modo que o estado de conflito entre os diversos grupos sociais, classes, setores, categorias, etc tende a ser cada vez maior e a pulverizar todas as estruturas. A falta de qualquer ideário ou proposta largamente disseminada ou aceita pela maioria dos elementos em cada classe ou grupo social indica-nos um período de dissolução.
Para complicar ainda mais as coisas temos a viva impressão de que o tão decantado mecanismo de circulação das elites não tem sido nem um pouco favorecido pelo sistema capitalista. A tentativa de demonstração feita pelos apologistas do Capitalismo e segundo a qual as famílias que dominavam o Mercado há cerca de cem anos não são mais as que o dominam nos tempos atuais não prova absolutamente nada. Dá por suposto o que deveria demonstrar isto é que os sucessores dos Carnegie, dos Ford, dos Astor, dos Vanderbild, etc são de fato os mais hábeis quanto a inteligência é claro... A menos que devamos compreender a elite de Pareto como uma elite de trapaceiros sem consciência os quais chegaram até onde chegaram não porque tivessem méritos mas porque não tiveram ética e foram capazes de tudo... Toda História registrada sobre o capitalismo contemporâneo conduz-nos a esta conclusão - não em termos de circulação de méritos ou de competência, e sim em termos de circulação de medíocres, ou mesmo de idiotas sem consciência.
De fato em tudo o Capitalismo aponta-nos a ascensão dos medíocres e não dos geniais, dos intelectuais, dos superiores, etc os quais parecem concentrar-se sempre nos setores médios da economia onde parecem ser propositalmente mantidos pelos senhores medíocres com o objetivo de serem usados. Parece haver um stock de intelectuais na classe média e não consigo compreender porque não conseguem ascender como grupo ao comando do sistema e porque devam prestar serviços aos medíocres que ocupam seu topo. Esta dinâmica não me parece corresponder nem um pouco a dinâmica apresentada por Pareto seja numa perspectiva Histórica ou ideal. O que percebo é a monopolização do comando das operações econômicas pelos medíocres sem consciência e um estancamento da circulação das verdadeiras elites, as quais no atual modelo jamais passam dos setores médios, quando deviam ascender ao topo...
Será esta situação desejável ou normal nos simples termos de Pareto (Por trás de cujas constatações tentam os capitalistas escudar-se)? Sou pela negativa. Certamente na medida em que os indivíduos mais aptos ou capacitados perceberem as limitações que lhes são impostas pelo sistema capitalista, e tornarem-se conscientes de que ocupam uma posição subalterna, tenderão a questionar, não menos que K Marx a viabilidade deste sistema e a necessidade de procurarmos outros modelos.
Sem mistificar ou negar que em cada uma destas Sociedades permanece sempre algum índice de desconformidade ou desconforto - que nos impede de falar uma estabilidade absoluta - se nos parece que foram as que mais se aproximaram-se de um padrão 'ideal' em termos de Unidade ou aglutinação social. A impressão que temos ao encarar a Atenas do século V a C, a Bizâncio do século IX ou a França do século XVII é que determinada proposta ou ideário social, com todo um corpo de princípios e valores envolvidos, acabou sendo conscientemente aceita por cada grupo daquelas sociedades fazendo com que assumissem a própria condição dada, diminuíssem o atrito e em relativo equilíbrio intensificassem as produções culturais atingido um grau bastante elevado de civilização. É como se uma ideia ou um propósito impregnasse o conjunto de determinada sociedade suavizando a oposição existente entre os grupos. Esse assumir uma consciência comum - massas e elite, elite e massas é o que se chama Mimesis.
O que temos hoje em termos de cultura não é apenas a ausência da Mimesis ou da assimilação cultural por parte das massas - por vezes em movimento cego e inconsciente de sedição - mas a completa ausência de Unidade cultural mesmo entre as elites que dirigem ou pretendem dirigir nossas sociedades. Inexiste qualquer elemento comum em termos de cultura seja quanto as elites ou quanto ao setor médio da produção econômica. Elite, setor médio e massas orbitam em torno de ideários, princípios, valores e crenças totalmente diferentes. De modo que o estado de conflito entre os diversos grupos sociais, classes, setores, categorias, etc tende a ser cada vez maior e a pulverizar todas as estruturas. A falta de qualquer ideário ou proposta largamente disseminada ou aceita pela maioria dos elementos em cada classe ou grupo social indica-nos um período de dissolução.
Para complicar ainda mais as coisas temos a viva impressão de que o tão decantado mecanismo de circulação das elites não tem sido nem um pouco favorecido pelo sistema capitalista. A tentativa de demonstração feita pelos apologistas do Capitalismo e segundo a qual as famílias que dominavam o Mercado há cerca de cem anos não são mais as que o dominam nos tempos atuais não prova absolutamente nada. Dá por suposto o que deveria demonstrar isto é que os sucessores dos Carnegie, dos Ford, dos Astor, dos Vanderbild, etc são de fato os mais hábeis quanto a inteligência é claro... A menos que devamos compreender a elite de Pareto como uma elite de trapaceiros sem consciência os quais chegaram até onde chegaram não porque tivessem méritos mas porque não tiveram ética e foram capazes de tudo... Toda História registrada sobre o capitalismo contemporâneo conduz-nos a esta conclusão - não em termos de circulação de méritos ou de competência, e sim em termos de circulação de medíocres, ou mesmo de idiotas sem consciência.
De fato em tudo o Capitalismo aponta-nos a ascensão dos medíocres e não dos geniais, dos intelectuais, dos superiores, etc os quais parecem concentrar-se sempre nos setores médios da economia onde parecem ser propositalmente mantidos pelos senhores medíocres com o objetivo de serem usados. Parece haver um stock de intelectuais na classe média e não consigo compreender porque não conseguem ascender como grupo ao comando do sistema e porque devam prestar serviços aos medíocres que ocupam seu topo. Esta dinâmica não me parece corresponder nem um pouco a dinâmica apresentada por Pareto seja numa perspectiva Histórica ou ideal. O que percebo é a monopolização do comando das operações econômicas pelos medíocres sem consciência e um estancamento da circulação das verdadeiras elites, as quais no atual modelo jamais passam dos setores médios, quando deviam ascender ao topo...
Será esta situação desejável ou normal nos simples termos de Pareto (Por trás de cujas constatações tentam os capitalistas escudar-se)? Sou pela negativa. Certamente na medida em que os indivíduos mais aptos ou capacitados perceberem as limitações que lhes são impostas pelo sistema capitalista, e tornarem-se conscientes de que ocupam uma posição subalterna, tenderão a questionar, não menos que K Marx a viabilidade deste sistema e a necessidade de procurarmos outros modelos.