domingo, 29 de janeiro de 2023

Um SOS pela cultura...






Que Huizinga, Toynbee, Spengler, Lewis Whydan, T S Elliot, Berdiaeff, L Bloy, Maritain e outros tantos pensadores tem em comum...

Sabido é que todos eles, em maior ou menos grau, reconheceram que nossa cultura e civilização estão em crise.

Nossas raízes clássicas ou greco romanas tem sido arrancadas desde seus fundamentos mais remotos pelo protestantismo judaizante, pelo capitalismo, pelo comunismo, pelo anarquismo, pelos modernismos, etc e após tudo isso está e vem o islã iconoclasta e arabizante...

Considere amigo leitor que cerca de seis séculos antes de Cristo floresceu uma cultura refinada que logrou manter-se por mais de mil anos...

Uma constelação de Filósofos, poetas, dramaturgos, historiadores, geógrafos, astrônomos, ensaístas, novelistas, etc  

Basta dizer que suas obras foram reunidas na grande Biblioteca de Alexandria - A qual em seu zênite deve ter contado com certa de meio milhão de tomos ou meio milhões de capítulos e umas setenta ou oitenta mil obras produzidas por cerca de uns dezesseis ou mesmo vinte mil autores, talvez um pouco mais.

Nas principais cidades do Império - Roma, Cartago, Atenas, Constantinopla, Antioquia... Haviam instituições similares, como se fossem uns arquivos do saber ou CPUs de computadores... Toda nossa cultura ancestral estava concentrada nos centros urbanos acima citados.

Ali estavam umas oitenta peças de Ésquilo, umas setenta de Sófocles, outras sessenta de Eurípedes, as poesias completas de Sapho e Cneus Nevius, as crônicas Históricas de Adibenos, Beroso, Apion, Maneton, Justo de Tvérias, Craterus, Alexandre Polihistor, Xanto, Helânicos, Ctsias, Éforos, Teopompo... Os cento e quarenta tomos de Lívio, M T Varrão, Catão - o antigo, Labeão, Tuberão... As Histórias do Imperador Claúdio sobre os estruscos e os cartagineses... os cento e quarenta e dois tomos dos Pinakes de Callimaco de Cirene, os Mapas de Eratóstenes, o Mapa celeste de Hiparco (Primeiro catálogo de constelações!)... Os textos de Alexemenos, Simão e Esquines sobre Sócrates; as obras de Antístenes, Cleantes, Crísipo, Clitodemo, Critóbulo, Diógenes, Fílon, Antíoco, etc As Doxografias de Teofrasto, Antístenes; o jovem, Antígono de Caristo, Sátiro, Sósion, Sosícrates, Hêrmipo, Heráclides, etc Os periplos de Eudóxio, Piteas, Ciláx, etc O cânone de Polikleitos, os planos de Ifictinos e Callicrates, etc, etc, etc Tudo muito bem disposto e catalogado em uma ou meia dúzia de Bibliotecas - De modo a atravessar os séculos, os milênios ou as eras e chegar até nós...

E no entanto...

Que podemos ler de tudo isso...

Praticamente nada.

Isso mesmo - Umas oito peças de Ésquilo, entre sete e nove de Sófocles e não mais que vinte de Eurípedes. Um fragmento considerável de Éforos e seu Mapa mundi em Cosmas Indicopleutes, trinta e cinco livros de Lívio i é cerca de 25%, alguns mapas estelares de Hiparco recentemente recuperados, um diálogo lacunoso de Esquines > É praticamente o que temos das obras acima citadas! E menos teríamos não fossem os preciosos papiros de Oxirrinco, aos quais tanto devemos em termos de literatura clássica, bem como os rolos carbonizados de Herculano, os quais são para nós como que duas janelas postas para nossa cultura ancestral.

Que teria ocorrido então...

De um lado os povos germânicos... os quais por diversas vezes incendiaram a capital do Império com suas quarenta Bibliotecas, sendo que a primeira foi organizada por Asínio Póllion sob os auspícios de Júlio César ou de Otávio. 

A outro foram as hordas dos sarracenos saídas dos desertos. 

E o Epílogo dessa triste história foi a destruição da grande Biblioteca de Alexandria, no século VII, por Amr Ibn al As, sob as ordem do califa muçulmano Omar ibn Katab - "Caso os livros sejam contrários ao Corão, devem ser lançados ao fogo, caso estejam de acordo com o Corão, ao fogo com eles, pois o Corão basta a si mesmo." Tais as palavras com que foi consumado o maior atentado cultural já cometido em toda a História.

É como se naquele ano a Humanidade tivesse seu cérebro extraído, declarou um autor. Foram séculos de atraso cultural, sentenciou outro. Pois fomos simplesmente alienados de nossas raízes... 

Posteriormente, o que havia sobrevivido em Constantinopla foi paulatinamente destruído pelos iconoclastas, pelos cruzados (Em 1204) e por fim durante a tomada da velha capital por Maomé IV em 1453... 

Eis porque não devemos estar seguros de que o quanto chegou até nós esteja seguro e venha a ser conhecido pelas futuras gerações.

Pois não se trata duma questão de técnica mas antes de tudo de uma questão de cultura, de amor, de pertencimento, de identidade... E essa identidade ou sensação de pertencimento esta seriamente ameaçada por diversas correntes ideológicas. 

Assustador observar como o número de estudiosos dedicados ao estudo dos clássicos tem diminuído geração após geração seja na Alemanha, na França, na Inglaterra ou nos EUA - Basta comparar o número dos que florescem atualmente com o número daqueles que floresceram no século XIX ou mesmo no curso do século XX. 

Vários os fatores que contribuem com essa calamidade. 

Antes de tudo o fechamento dos cursos de latim e grego, sob a alegação de que não trazem proveito imediato algum, de que não são práticos ou lucrativos. O primeiro e mais rude golpe, não nos enganemos, procede do Mercado ou dos interesses financeiros, pragmáticos e, numa palavra, profissionalizantes > Top é dirigir a molecada ao universo digital ou a contabilidade (sic). Apresentar-lhes Virgílio, Horácio, Ovídeo, Estácio, Tíbulo, Marcial, Lucrécio, Lucano, Catulo, Propércio, Arquílogo, Hesíodo, Homero, etc é pura perda de tempo...

O desastre aqui é duplo: Tais obras ficam cada vez mais abandonadas e desconhecidas do grande público e o grande público cada vez mais inculto, bárbaro e massificado - Pura intencionalidade política a serviço interesses financeiros e\ou credais...

Observe-se a tendência reinante no Estado de São Paulo - Profissionalizar a juventude ou ministrar-lhes uns cursos bastante sumários nos pisados termos do positivismo: Ler, escrever, contar, somar e conhecer algum modo de fazer ou técnica. Nada além - e o resultado é a eliminação o a diminuição do conteúdo humano, crítico e reflexivo de tais cursos. Nos quais é negado ao sujeito o direito de pensar solidamente, de formular juízos éticos ou de posicionar-se diante de um fenômeno estético como uma obra de arte. 

Não ignoro, que infelizmente, o curso de Filosofia e as demais humanidades, estejam, em sua maior, parte contaminados pelo pós modernismo, e isso com pleno assentimento da esquerda cirandeira. Concedo que a orientação ideológica de tais cursos, quando oferecidos por instituições públicas ao grande público, deva ser exaustivamente discutido ou problematizado. De modo a abrir algum espaço que permita a retomada dos clássicos e da Filosofia perene. Subtrair tal conteúdo é, a meu ver, a pior das soluções possíveis. Por que não resgatar e introjetar qualidade ao invés de eliminar...

Outro aspecto lastimoso da questão é o empenho do Mercado em cooptar as mentalidades mais brilhantes para o domínio das finanças ou ao menos para os setores considerados como mais valiosos e lucrativos. Afinal dedicar-se ao estudo e intepretação dos clássicos, via de regra, não é nem um pouco lucrativo, em que pesem os esforços. 

Do outro lado, das massas alienadas, temos Caríbdes: Habitualmente as mentes mais rasteiras, cooptadas por alguma das diversas seitas protestantes ou bíblicas, não apenas preferem estudar os livros judaicos do antigo testamento, como manifestam imenso desprezo para com tudo quanto envolva nossa herança clássica, a começar pela Mitologia. O que justificam pela disparidade religiosa...

Com efeito, desamparados pelas instituições escolares, e premidos; a um lado pelas necessidades e esforços econômicos - Num contexto cultural economicista, e a outro pelo fundamentalismo sectário, os estudos clássicos tem declinado ano após ano desde o século precedente.  

Então a pergunta que se faz é qual seriam, futuramente, os efeitos de tal abandono.

Abandono que alias, atinge já, os clássicos de nossa lingua. Especialmente por parte dos fanáticos religiosos e sob a mesma alegação: Nos recusamos a estudar seriamente as obras de um Antonio Vieira, de um Manoel Bernandes, de um Heitor Pinto, etc porque eram padres... 

E pelo mesmo caminho se vai> Um intolerável desprezo por um Dante, um Cervantes ou um Camões pelo simples fato de não terem sido protestantes...

E se o ideal do islamismo é arabizar temos que o protestantismo já angliciza ou germaniza, apartando-nos de nossas raízes greco romanas...

Mas quais serão os resultados de tal desprezo...

Aquele que ao invés de apegar-se aos elementos de sua cultura e valoriza-los, ousa permuta-los, tendem a tornar-se cada vez mais volúvel.

Quero dizer que se alguém está disposto a anglicizar-se ou a germanizar-se por quaisquer motivos que sejam não pensará duas vezes antes de arabizar-se, desde que julgue ter motivos para tanto...

Quem não mostra mínimo amor ou afeto pelos elementos de sua cultura, dificilmente estará seguro no seio de uma cultura que não lhe pertence. E será um peregrino ou vagante.

Por um lado corre a cultura grande risco - O risco de perder-se ou de perder seus conteúdos, exatamente como sucedeu durante a crise do Império romano, quando parte de nossa cultura ancestral foi perdido para todo sempre... E corre-se o risco de perder-se o homem, desumanizando-se, despersonalizando-se, barbarizando-se. Pois é uma via de mão dupla.

A um lado intensifica-se a massificação, por falta de contato com as fontes da cultura ancestral, e a outro se vai dando a perda dos elementos culturais, pelo abandono material ou a falta de trato. Na medida em que as Bibliotecas, Museus e Teatros vão sendo abandonados, se vai perdendo nossa Paideia, e nossa consciência, e nosso espírito e nossa identidade - Somos em parte Europeus e greco romanos, é um conteúdo precioso que faz parte de nossa ancestralidade, de nossa História, de nossas raízes... 

Podemos discutir pormenorizadamente as condições em que se deu o contato dos espanhóis, portugueses e particularmente ingleses, com os povos da América, com os povos pre colombianos, com os Maias, Incas, etc Se de fato tivemos uma invasão e em que termos se deu ela... Bem como sobre a relevância de certos elementos culturais oriundos da ancestralidade indígena... 

O que não considero justo ou honesto é tudo misturar e, consequentemente confundir, uma vez que tais invasores sequer pertenceram ao contexto do Cristianismo antigo ou apostólico, quanto mais ao contexto cultural pre Cristão greco romano. 

Por fim, no contexto de uma cultura que é necessariamente sintética, e ao menos em parte, tributária da Europa, do Mediterrâneo, da Itália, da Grécia e ainda do Egito e da Mesopotâmia, não vejo porque abdicar desse elemento ou desprezar esse conteúdo - Pelo contrário o que vejo é a extrema necessidade de retoma-lo e de tornar a valoriza-lo justamente com o propósito de opo-lo, alternativamente, as ideologias e culturas de morte procedentes dos EUA ou da Europa contemporânea.

Tal o propósito de nossos esforços nos campos da reflexão e das artes. 

Por meio da realização de eventos culturais em nossa região (Como a encenação dos clássicos da dramaturgia grega.) e também de aulas, palestras, vídeos, material escrito, etc Este Blog e o presente artigo corresponde a uma dessas iniciativas, todas, sem exceção gratuitas e sem qualquer ônus para os interessados - Nosso único interesse é coloca-los em contato com as fontes da nossa cultura, sejam gregas, romanas ou ibéricas. 

Dispondo de certa estabilidade financeira jamais pedimos qualquer contribuição financeira a nossos leitores. Isto num contesto em que agiotas da fé, explotam a boa fé alheia traficando 'milagres' e amealhando imensas fortunas! 

Sendo assim que te pedimos em troca amigo leitor...

Tudo quanto pedimos a si é que, caso confie em nossa cultura e seja simpático a nossa proposta, compartilhe nossos artigos com seus contatos e obtenha aderentes para nosso humilde jornalzinho... Se é amigo da nossa cultura, por favor, preste-nos seu apoio e divulgue este material. Desde já nosso abraço e votos de paz e bem a si e aos seus!

Nossa Biblioteca jamais será queimada ou reduzida a pó!!! Não haverá segunda edição dos catástrofes de Roma, Alexandria e Constantinopla!

sábado, 28 de janeiro de 2023

O acúmulo ilimitado de bens e a ilimitação econômica sob a ótica da Filosofia greco romana.




Faz parte das manobras da modernidade e do discurso americanista, urdido pelos pastores, classificar todos os opositores do capitalismo ou do liberalismo econômico clássico como comunistas, marxistas, bolchevistas, etc Falso dilema que ainda faz bastante sucesso entre as massas desorientadas produzidas pelo próprio capitalismo. 


No Brasil por sinal, o surto psicótico americanista, alimentado pelo sectarismo bíblico ou protestante, tem resultado em posturas para lá de bizarras - Posto que temos visto inúmeros personagens de nossa história e arquitetos de nossa cultura (Cristãos apostólicos inclusive!) apontados como comunistas ou marxistas mesmo quanto tenham vivido antes do nascimento de Marx ou ignorado supinamente o teor de suas obras... Tais os delírios a que temos assistido nos últimos anos. Indício seguro de que tudo sempre pode piorar... E de fato piora.

José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarca de nossa independência; D Pedro II, monarca bragantino; Getúlio Dorneles Vargas, um dos maiores adversários da ideologia comunista; Goulart, Santiago Dantas, Jânio Quadros, Leonel Brizola, D Helder Câmara, dentre outros... foram ultimamente matriculados, pelos zumbis americanistas, como comunistas ou bolchevistas... pelo simples fato de que em maior ou menor grau cada um deles afastou-se do modelo capitalista, da mercadolatria ou do economicismo crasso, orientando a economia noutros sentidos possíveis. 

Nenhum deles no entanto combateu a legítima posse da propriedade pessoal ou mesmo a posse privada dos meios de produção... Eliminando tampouco a liberdade econômica em sua totalidade. De modo que nenhum deles foi Comunista ou aplicou soluções marxistas no contexto brasileiro - Embora seja exato que tenham dirigido e portanto limitado politicamente a economia, nos termos já enunciados por Leão XIII, papa romano, na Rerum Novarum - A situações de tal gravidade, no que tange a condição dos trabalhadores, que é não apenas lícito mas necessário que interfira o poder político... (Citação de memória!). 

Não aniquilaram ou exterminaram a liberdade do Mercado como preceituam os bolcheviques, porém inspirados por ideais tomados a Tradição Cristão ou ao Evangelho - E tenhamos sempre em mente o franciscanismo! - estabeleceram justos limites tendo em vista reduzir ou reprimir a proliferação da miséria. O que repito é ideal precipuamente Cristão ou antes humano e humanista, não marxista. 

Alias se há no comunismo algo de superior em comparação com o capitalismo ou com o liberalismo crasso é a sensibilidade para perceber que algo está errado face a tanta miséria ou face a tão grande desigualdade. Tem o marxismo pelo menos um ponto a seu favor, reconheceram diversos sacerdotes papistas - Anteriores ao Vaticano II com efeito: O fato de destoar do materialismo assumido e deitar um olhar crítico, logo ideal e idealista, sobre a realidade. Pois para os liberais economicistas é a miséria algo absolutamente comum... Para os positivistas nos devemos conformar com a realidade dada - O viés conservador é explícito - e abdicar de transforma-la ou de torna-la melhor.

Em que pesem seus defeitos, como a abominável Ditadura do Proletariado, o comunismo tem consciência de que algo não vai bem ou de que algo está errado numa sociedade em que alguns não tem pão ou leite para dar aos pequenos enquanto outros tomam banho de champanhe ou comem bife temperado com ouro em pó... O comunismo percebe o drama da miséria ou da pobreza e quiçá comove-se sinceramente. O capitalismo é absolutamente insensível face a tais situações de sofrimento até a crueldade e a indignidade humana não lhe diz absolutamente nada...

De fato essa inconformidade face a realidade dada, essa revolta, essa indignação produzida por um tipo ideal é comum ao autêntico Cristianismo, filho do Evangelho; e ao comunismo. É um vínculo que nos une e um laço que nos liga: A compaixão, associada a vontade de ajudar, de melhorar, de beneficiar, de mudar, de fazer algo enfim... Podemos até desfrutar do melhor sistema já elaborado - No entanto é esse 'melhor' demasiado miserável, insuficiente e deficitário; e sempre podemos avançar e melhorar mais a partir do que temos! Naturalmente que a partir dessa vontade magnânima, que consistem em mudar para melhorar as condições de parte da sociedade, podem resultar, como resultam, diversas situações de conflito provocadas por aqueles que temem a mudança de uma realidade que os beneficia... Aqui porém a responsabilidade é deles - Dos egoístas e acomodados, que pensam apenas em si mesmos.

Ora o Cristianismo nos ordena cuidar do outro, beneficia-lo ao máximo, resgatar a dignidade alheia e minorar o sofrimento humano - Por isso nossos ancestrais e avoengos sempre tiveram diante dos olhos, como autêntico fim da vida política o "Bem comum", pois tal é o sentido da palavra "República". Não foi de Marx, Engels ou Lênine que partiram eles mas do Evangelho, da tradição patrística e mais remotamente - Como patenteia a Teologia escolástica do Aquino. - de Aristóteles, o lógico, o peripato e 'Mestre consumado de todos aqueles que sabem algo.'

E no entanto há quem, diante da economia dinâmica vivenciada pela Hélade, ouse divisar nela o liberalismo econômico clássico ou algo semelhante ao capitalismo atual. 

Em que pese aquela espécie de Loas, registrada na Política de Aristóteles, o Theorikon de Péricles, os deveres do Corego, etc há quem nos deseje apresentar Atenas como uma plena economia de mercado. Eu no entanto, diante de tais leis e de outras tantas compendiadas pelo macedônio Craterus, o máximo que posso distinguir ai é um estado de Bem estar ou Welfare State, como as atuais repúblicas do Norte da Europa, cujo modelo é absolutamente diverso do modelo Norte americano, o mais próximo dos ideais postos pelo liberalismo clássico ou pelo neo liberalismo. 

Penso estarmos de acordo - Podemos não estar! - que o principal representante do pensamento Filosófico grego foi Sócrates de Atenas, filho de Sofronisco e Fenarete. 

Em diversos aspectos seguidor de Aristóteles e Antístenes ou Diógenes, devo confessar a primazia de Sócrates. 

Conhecida a apreciação de Rousseau, o qual situava o pensador ateniense imediatamente abaixo de Jesus Cristo, com o qual tantos pontos teve em comum - Assim com Buda e Confúcio, outros dois grandes mestres que viveram mais ou menos ao mesmo tempo que ele. 

Admiro Sócrates antes de tudo por ter enfrentado serenamente a morte para não abdicar de seus pontos de vista.

Poderia ter deixado a pólis que o viu nascer e ido viver com sua esposa e filhos noutras paragens - Não o admitiu...

Anaxágoras, Protágoras e Aristóteles, dentre outros, acharam por bem fugir... O que lhes era defeso e sequer merece reproche... 

Sócrates, como disse, recusou-se a fugir - E aceitou morrer em nome dos princípios e valores que acreditava serem seus. Não foi apenas um mártir da liberdade de pensamento - Foi convicto e acima de tudo corajoso.

Quiçá pudesse subverter a Atenas de seu tempo - Tal sua fama. - e tomar o poder... Como Jesus Cristo porém...

Além disso, ao contrário do que dizem, foi ele, Sócrates, o maior benfeitor da Democracia, por denunciar o mecanismo equivocado do sorteio indiscriminado ou incondicional e insistir na formação.  Caso Sócrates tivesse sido ouvido e suas críticas tivessem sido acatadas quiçá a democracia ateniense tivesse durado mais de mil anos...  Foi aquele olhar acurado e atento que pela primeira vez distinguiu o populismo ou a OCLOCRACIA (Degeneração política voltada para as baixas aspirações e vícios das massas!) - Mais tarde descrita por Aristóteles e Políbio! - e buscou advertir seus pares, em vão!

Platão (E Critias é claro e Alcebíades.) sobretudo, foi que entendeu suas críticas equivocadamente, e por rancor, opôs-se a qualquer tentativa democrática. Platão sempre alterando o pensamento de seu mestre... E que seria de nós sem um Xenofonte ou um Esquines...

Por fim foi Sócrates quem retirou a Filosofia das quatro paredes em que fora contida por seus predecessores - Em especial Pitágoras e seus pupilos, para os quais era uma espécie de Maçonaria. - para leva-la as praças, ao grande público ou ao homem comum! Sendo consequentemente apresentado por Melito como corruptor da juventude, pelo simples fato de levar o pensamento crítico ao jovem do povo. Pois o mesmo pensamento era já levado, a peso de ouro, pelos sofistas aos jovens eupátridas...

Alias palmas a Sócrates por ter criticado igualmente o tráfico da erística, copiosa fonte de renda para os sofistas de então. De fato nem todos os sofistas tinham o mesmo comprometimento com a educação e a democracia que um Protágoras. 

Agora o que pensava Sócrates sobre o acúmulo ilimitado de riquezas ou a avareza, i é sobre o espírito do que chamamos capitalismo...

Começarei citando o Alcebíades:

"Sócrates: Quem cuida de sua fazenda, não cuida de si mesmo ou de suas coisas, senão que muito está afastado delas.
Alcebíades: Assim o é.
Sócrates: O homem de negócios, portanto, não realizado o que há de mais importante, que é cuidar do que lhe é próprio." 

E mais além:

"Portanto não se escapa a desgraça acumulando riquezas, mas acumulando a sabedoria."

Passo agora ao Eutidemo:

"Demonstrado esta que não obteríamos vantagem alguma, em possuir, sem trabalho ou sem aperfeiçoar a terra, todo ouro do mundo. Poderíamos até saber tranformar rochas em ouro: E tal conhecimento não tería valor algum, porque se não sabemos tirar proveito do ouro, por si mesmo, já o sabemos, utilidade alguma nos trará ele..."

Poderia multiplicar as citações ao infinito. Mas não desejo ser fastidioso...

Arrematarei assim com a famosa crítica ao consumismo - Motor da economia progressiva. - transmitida pelo divino Laércio (Vida e doutrina dos Filósofos ilustres.) - 

Tinha Sócrates o costume de levantar-se bem cedo e dirigir-se ao grande mercado de Atenas, indo de barraca a barraca e contemplando os diversos produtos. Por fim, ao retirar-se sem nada comprar, explicava: Gosto de passear pelo Mercado para ter uma ideia precisa de quantas coisas não precisamos por serem inúteis.

Ora toda nossa economia exuberante, e consequentemente a explotação irracional dos recursos naturais bem como a produção de resíduos ou poluição, vive disso: Da comprar e venda de coisas que não são absolutamente necessárias. De fato preciso eu de um celular ou de um refrigerador, de um fogão e de um ar condicionado, de uma bicicleta e de um liquidificador (O que em si já é problemático pois somos oito bilhões de criaturas humanas!) mas não precioso trocar de celular, carro, ar condicionado, fogão, etc podendo utilizar os mesmos aparelhos por anos a fio ou até que quebrem sem maiores problemas. Os meios de comunicação ou a propaganda é que nos convoca a desfazer periodicamente dos aparelhos mesmo estando ainda bons e isso apenas em benefício do Mercado e consequentemente da explotação de recursos e da poluição ambiental...

Mais do que a temida Revolução comunista, uma simples mudança de postura, nos termos racionais de um Sócrates, seria algo ameaçador para essa máquina chamada mercado... Pois atingiria esse sinônimo de miséria interior ou de pobreza de alma chamado consumismo. O sistema em que vivemos não apenas produz pessoas enfermas ou neuróticas mas afirma poder cura-las fazendo-as depender de si pelo simples fato de consumirem ao máximo. 

Todas as pessoas que acumulam coisas: Das que acumulam tampinhas de garrafa ou alfinetes as que, como o tio Patinhas, acumulam imensas fortunas, moradias ou automóveis são pessoas doentes e neuróticas, pessoas frustradas, pessoas mal resolvidas... enfim pessoas interiormente mendicantes ou mendigas. São os mendigos do Ser - Pois floresce o SER  na proporção inversa do SER e, quanto mais se tem menos se é. Não podendo nos sobrepor aos outros ou supera-los na esfera do Ser, por meio da virtude ou da prática do bem, optamos - Quiçá inconscientemente. - por ter mais coisas do que eles.

E se oito bilhões de humanos é uma calamidade, oito bilhões de acumuladores é um flagelo... Portanto o resto, deve ser composto por despojados ou miseráveis - Até por questão de sobrevivência.

Passo a Antístenes - O mais genial, leal e sublime entre os discípulos de Sócrates.

Que nos diz eles sobre a posse ilimitada ou o acúmulo de riquezas...

Como Sócrates, Antístenes identificava a riqueza com a sabedoria. O que não é para surpreender.

No entanto o que ele diz concretamente sobre a posse das riquezas é imensamente precioso:

"Quanto ao sábio, seja o total de seu dinheiro, o que um homem de porte mediano possa levar ou transportar."

De Crates de Thebas ou Athenas sabido é que após ter lido as obras do divino Antístenes colocou todo seu ouro numa carroça e lançou-o no fundo do mar, após o que teria exclamado:   'Agora livre' - Assumindo, o que seu mestre chamava Autarquia ou autonomia. 

Tendo tomado conhecimento de sua atitude, um certo Diógenes, ao ser exilado de sua terra natal, Sinope, desfez-se igualmente de todas as suas posses limitando a portar uma túnica surrada, um bordão e uma cuia. Segundo diziam os antigos teria vivido, ao menos durante certo tempo, num enorme barril ou melhor dizendo numa imensa ânfora de vinho ou azeite. 

Sobre esse sábio, contam as anedotas que tendo Alexandre se aproximado dele, com o objetivo de ve-lo, foi atalhado com as seguintes palavras: Afasta-te um pouco porque me tapas o sol. E noutra oportunidade, tendo o homem mais importante e poderoso do mundo lhe perguntado se poderia conceder-lhe algum favor, ouviu estas outras: Nada me podes dar que já não tenha eu!

Mesmo Aristóteles, que costumava ser muito mais moderado em seus juízo e apreciações teria criticado a sugestão sobre o acumulo limitado de bem, com o declarar que tal era impossível num sistema finito. 

Mesmo Platão, que era de família aristocrática e rica e malquistava com o regime democrático, na sua conhecida República, determinou que o grupo mais importante, o dos guardiães, formassem uma comunidade tanto de bens quanto de filhos. Pois acreditava que os Filósofos reveriam dedicar-se a refletir sobre o poder político e concentrar-se na resolução de tais problemas sem se desviar. 

Que podemos inferir a partir da solução posta por Platão...

Que ele percebeu certa rivalidade entre a esfera do público e do privado, optando, diante disso, por eliminar o privado. Sobretudo intuiu, como pode ser observado por Arendt, que dentre os diversos setores do privado, o que mais tende a absorver os humanos é o econômico, a ponto de esvaziar o político e reduzir sua qualidade. De modo que também Platão, teme o economicismo. 

Continua



quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

A inexistência de uma economia de Mercado antes da Idade Moderna.



É objetivo deste artigo demonstrar que a ideia capitalista de ilimitação econômica ou liberalismo crasso, bem como as perspectivas individualista e economicista, enquanto emergências conceituais modernas ou contemporâneas, foram supinamente ignoradas tanto pelos antigos gregos e romanos quanto pelo Cristianismo apostólico, ancestral, histórico ou primitivo. 

Por que tanto esforço para nada dizer de novo ou repetir o que já se sabe a exaustão...

Porque a um lado há pessoas desonestas que se esforçam para demonstrar o oposto i é que gregos e romanos ou mesmo egípcios e sumérios conheciam o princípio capitalista da ilimitação e a outro pessoas incoerentes que buscam associar a ideologia mercadista ou economicista aos construtos éticos das escolas filosóficas pré cristãs ou do cristianismo apostólico, o que alias é fácil em tempos de pós modernismo, quando dissociações e associações incoerentes, sincréticas e aberrantes proliferam em todas os domínios da cultura.

Por mais que as esquerdas modernista e pós modernista, detestem ouvi-lo é necessário repetir que o pós modernismo irracionalista e assistemático é uma ferramenta de grande importância a serviço do capitalismo. Ignora-lo é ignorar o óbvio e ser cego. No entanto, desde Marx, são as esquerdas ortodoxa e 'heterodoxa' reproducionistas, assumindo acriticamente um cem número de elementos culturais de origem capitalista ou positivista. Observem que essa esquerda já entrou no jogo do capitalismo ao apresentar-se como materialista e o jogo positivista, ao apresentar toda vida Ética como relativa e subjetivista... Por que admirar-se de que tenha ido mais além e sorvido a azeda taça do modernismo... Fazer o que...

Porém do lado de lá também há gente idiota e má.

Aos maus corrijamos ou refutemos, como nos bons tempos antigos. Aos idiotas repitamos o óbvio a exaustão, até soletrar quando necessário. 

Os povos antigos nada sabiam em termos de capitalismo.

Quanto as culturas primitivas leia-se antes de tudo Karl Polayni, na 'Grande transformação'. Guiavam-se tais grupos pela Ética da reciprocidade ou da gratidão, jamais pensando em termos de lucro.

Já com relação as primeiras civilizações sabido é que reconheciam o primado da religião, da crença ou do espiritual, a partir do qual ordenavam suas vidas.

Assim a principal aspiração de um antigo egípcio não era se tornar escriba ou general, comprar uma casa maior ou palácio ou adquirir uma liteira ou um cavalo e sim adquirir um túmulo, um sarcófago, um plano de embalsamamento... ou amealhar joias para enterrar! 

Então havia quem lucrasse com isso... gerenciando as avós de nossas modernas funerárias, as 'Casas dos mortos'. Sim, havia. E no entanto, mesmo os sacerdotes e embalsamadores amealhavam riquezas para levar com eles em túmulos ainda maiores e mais suntuosos...

Outro dado relevante e constatado ainda neste séculos pelo Dr Zahi Hawass diz respeito a como foram construídas as grandes pirâmides de Gizah ou sobre a Vila dos construtores de pirâmides, cujos restos dão testemunhos sobre o cuidado dos Faraós com os camponeses que realizavam tais trabalhos, a ponto de podermos falar numa espécie de plano assistencial, inclusive com recursos médicos. Portanto, já por volta de 2,400 a C os governantes do Vale do Nilo preocupavam-se com a qualidade de vida - I é com alimentos, bebidas, roupas, habitações e medicamentos. - daqueles que construíam seus túmulos. 

Seja como fosse o móvel interior deste ou daquele, o mercado é que não ditava as regras naquela Sociedade. O governo é que organizava as expedições ao Punt ou a Serabit e que dispunha dos bens, quase sempre em favor da fé - Tipo: Incenso para os deuses, fossem Phtá, Rá, Hórus ou Amon...

O mais importante aqui é o quanto lemos na novelinha judaica ou bíblica de José: Quando por qualquer motivo de ordem natural, fosse seca ou excesso de chuvas, grassava a miséria, os governantes mandavam abrir os celeiros públicos com o objetivo de evitar que os súditos morressem de fome. De modo que o valor da vida humana se sobrepunha a valores de ordem financeira ou econômica. 

Observem que em nossas Sociedades 'cristãs' foi tolerado ou encarado como absolutamente comum a prática dos produtores destruírem alimentos quando os preços caiam, e com a premeditada intenção de aumenta-los. Isso numa realidade de miséria em que até crianças morriam de fome seja na Etiópia, no Haiti ou no Nordeste do Brasil... mesmo assim os produtores 'sifilizados' lançavam centenas ou milhares de toneladas de trigo, arroz, feijão ou batatas as chamas ou em algum rio com o objetivo de obter lucros - E a vida humana, encarada como coisa de pouca monta, era largada...

Inconcebível que qualquer sociedade antiga, pagã ou pré Cristã assim procedesse... Alias caso qualquer produtor egípcio concebesse a ideia de queimar o trigo ou lança-lo ao Nilo com o objetivo de que Roma pagasse um preço maior por ele, iria direto para o Circo Máximo tornando-se pasto de feras! Isso já no quadro de uma economia imperial muito mais dinâmica.

Agora passarei a largo da Suméria, onde há quase 4.500 anos, Urukagina de Lagash, que nada podia saber de Marx e Engels - implementou a primeira grande reforma social em nome dos deuses, i é, do pai Anu e seus companheiros. E também passarei a largo da Judeia, onde os atrasados hebreus tiveram tino suficiente para estabelecer um regime de redistribuição de terras permanente em nome de seu javé, evento de que os judaizantes americanizados jamais se lembram...

E irei direto a Grécia. Onde para começar temos o Teórikon de Péricles, que era um subsídio concedido aos atenienses pobres para que pudessem assistir os espetáculos teatrais. Quiçá pareça pouco a alguns. Todavia entre os mais de trinta mil decretos aprovados pelo povo de Atenas, arquivados no 'Mentron' e consultados por Craterus da Macedônia, há um, citado por Aristóteles na Política, que corresponde a nosso Loas, fixando um subsídio para os deficientes ou enfermos que não se podiam sustentar. 

Nem Mercado, nem indivíduo. Mesmo após a emergência gradativa da pessoa, os antigos gregos jamais perderam de vista o que chamavam de 'Pólis' e portanto um gênero de vida coletivo, gregário e social. Aristóteles na Política, alias, nos informa que um certo Filéias de Calcedônia estabelecera um regime 'socialista' estabelecendo a igualdade de bens, um gerenciamento comum ou democrático e a instrução pública.

Bom lembrar que a instrução pública foi estabelecida igualmente pelo democrata Protágoras de Abdera na Constituição de Túrio. 

Quanto aos romanos sabido é que não poucos autores insistem no Jus abutendi com o objetivo de sancionar a doutrina da posse incondicional da terra ou dos latifúndios porventura improdutivos. Sem que quanto a isso se recordem que os romanos fossem pagãos - Só se lembram disto quando se trata de costumes sexuais... A bem da verdade lemos em Aulo Gélio sobre um dispositivo legal que estipulava a perda da cidadania por quem não cultivasse seu campo... Por onde se vê que o direito de propriedade ou proprietarismo entre os antigos romanos não era absoluto, e que eram abertos ao princípio da propriedade pessoal ou funcional, enunciado pelo grande cristão Henry George há século e meio.

Que dizer então sobre o primeiro Estado assistencial e humano em larga escala que foi o Império bizantino, ao menos quanto a isso fiel aos princípios Cristãos tradicionais. 

Restaria-me expor sobre a Idade Média latina ou ocidental.

Quanto a isto porém nada diverso dos ensinamentos patristícos nada liberais em termos de economia. 

Quanto a isso consulte-se J Luridan "Por que a Igreja crítica os ricos.", o "Socialismo Católico" de Nitti ou ainda as obras do Pe Bigo, etc

Os escolásticos prosseguiram na mesma direção e nada inovaram, antes aprofundaram e ampliaram esse ideal servindo-se de Aristóteles. 

Eis porque nenhum estudioso sério do campo da Teologia escolástica ou do tomismo ousaria falar em livre mercado na Idade Média Cristã ou em adotar semelhante discurso.

O que nos ajuda e entender porque os 'tomistas' Chesterton e Belloc postularam o distributivismo, porque Maritain insistiu em opor-se ao capitalismo e finalmente porque no fim de sua vida o professor Jorge Boaventura, personalidade muito querida dos militares e da Biblioteca do exército, reconheceu, com grande estardalhaço (Sendo chamado de 'senil') - Pelos idos de 1990 - que o capitalismo e o Cristianismo tradicional ou apostólico eram, como são, fenômenos incompatíveis ou excludentes. 

Segue - Na segunda parte o veredito das diversas escolas filosóficas gregas sobre a ilimitação, o economicismo e a avareza.


 

Ainda a questão da posse e da riqueza segundo as Escolas Filosóficas e o Cristianismo antigos - Que pensar sobre o capitalismo...



Foi, esta reflexão, suscitada pela leitura do manual de John Sellars "Lições de estoicismo", bem como pelas reflexões de Massimo Pugliucci, Jorge Cano Cuenca, etc Já me referi as aulas do Dr Gual, magistrais por sinal, sobre o Epicurismo, etc Também assisti aulas e cursos sobre o cinismo, o socratismo, o platonismo, o aristotelismo, o ceticismo, o neo platonismo, etc e todas foram bastante gratificantes para mim contribuindo, como já disse, para ampliar meus pontos de vista sobre determinados temas.


Darei início ao texto fazendo uma abordagem típica do capitalismo, embora de minha parte seja honesta e sincera. Anti capitalista ou adversário do liberalismo econômico CRASSO por questões de ordem religiosa, ética, estética, ecológica, etc sou, sem embargo disso a favor do Mercado. Não da mercadolatria ou de qualquer proposta economicista (Inclusive Comunista!) em torno do falso princípio da ilimitação, mas sim da existência de uma liberdade limitada ou controlada por estâncias externas a si. 

Creio ainda menos na ideologia delirante - E mística alias (cf Grayling) - do progresso tecnológico incessante e infinito. A crítica implícita em Malthus remonta a Aristóteles e toma sua forma a partir do mestre Liberal John Stuart Mill - Meu querido Mill, sempre tão lúcido. 

Claro que a afirmação que acima fiz, presente tanto no Pe Júlio Menvielle, quanto nas Encíclicas dos papas romanos e num grande número de pensadores qualificados como socialistas heterodoxos (Tragtenberg) ou humanistas, ou ainda Cristãos, soa absurda aos olhos de qualquer comunista ou marxista posto que o Comunismo é um tipo de materialismo. 

Por diversas vezes aludimos a crítica radical de Marx em torno da estrutura capitalista que ele aspirar demolir até os alicerces por meio da tão esperada Revolução. Marx de fato não acredita em reformas ou em reformismo porquanto encara a estrutura do capitalismo > Propriedade privada dos meios produtivos, salário, capital, lucro e portanto o Mercado como a essência - Monista! - do Capitalismo. 

Outra a compreensão dos que como Sombart não partem do materialismo mas do idealismo, ou como nós, de um realismo muito próximo do aristotélico (A Análise é do Pe Menvielle.) Estes divisam no Capitalismo dois aspectos: Uma material ou estrutural que corresponde ao acidente, e outro essencial que corresponde a essência mesma do sistema - A esse último aspecto Sombart deu o nome de Espírito do Capitalismo. 

Para todos nós e escolas citadas, apenas esse espírito do Capitalismo i é, a aspiração pelo lucro ilimitado, a cobiça, a avareza, etc é incompatível com a Ética, devendo ser extirpado - Assim qualquer ideia de progresso infinito ou de ilimitação econômica que dê suporte a uma visão de mundo ou ordem economicista das coisas. Lembrando os religiosos deslocados, os espiritualistas incoerentes e os críticos hipócritas do marxismo que economicismo é materialismo. Ora, nós nos opomos consciente e resolutamente ao materialismo e por isso incriminamos o capitalismo, enquanto fonte de todos os materialismos contemporâneos. 

Quanto ao aspecto acidental ou estrutural do capitalismo i é Mercado, salário, lucro, capital, etc, temos que poderia ser conservado desde que eliminado aquele espírito acima descrito ou desvinculado dele e associado a uma Ética humanista i é posto a serviço da humanidade ou do grupo social, o que supõem planejamento, controle e limitação - Nas palavras do insuspeito, mas genial, J M Keynes: Postulamos no mínimo um capitalismo enjaulado ou castrado; um liberalismo econômico não economicista. Mesmo por que os conceitos de humanismo e economicismo são teleologicamente excludentes.

Claro que uma reforma puramente econômica e radical nos termos de Marx, desde que não resultante de uma Revolução inútil, seria possível. - Embora suscitando dificuldades e obstáculos muito mais sérios. 

Por isso apostamos séria e honestamente num Capitalismo enjaulado ou num Mercado controlado por uma Legislação política voltada para o bem comum ou como se diz hoje para a qualidade de vida. Honestamente não creio que seja uma terceira via mas, a velha via do Socialismo > Palavra criada por Leroux que ainda assusta muita gente, principalmente os de cultura e formação protestante. Permitam-me dizer que existem apenas dois modelos: Capitalismo, i é, o paradigma da ilimitação (Nos termos do individualismo.) ou do descontrole social e político posto pelos 'clássicos' ingleses> Smith, Ricardo, etc e os Socialismos, que postulam uma limitação em maior ou menor grau. Se admite qualquer índice de controle ou limitação não pode ser capitalismo na acepção leal ao termo. Por isso temos que encarar o papa, os católicos sociais, os padres da igreja, os filósofos gregos, os reformadores sociais do antigo Oriente, Keynes, Galbraith, Giddens, Chesterton, Belloc, fabianos, etc todos, sem exceção, como socialistas. 

Se o termo ainda escandaliza algumas almas assombradas pela cultura protestante calvinista, podemos empregar quaisquer outros criados pelos padres: Fraternalismo, comunitarismo, solidarismo, cooperativismo, coletivismo, etc dá no mesmo, pois a essência de todas essas correntes ou escolas consiste em submeter o econômico ao político e consequentemente ao social numa perspectiva ética. Os métodos e modelos são diversos porém o fim consiste em inviabilizar a ilimitação e barrar acesso a um economicismo materialista pelo qual o ser humano seja esmagado...

Logo, para mim, o terror da palavra é irrelevante e sinal de infantilismo. Passo...

Faço com o capitalismo o que ele costuma a fazer com diversas religiões e escolas filosóficas - As quais ele aplica uma análise realista dualista, esvaziando-as de seu espírito ou consciência e assumindo-as como técnicas. 

Vou exemplificar: O predador economicista atua a semelhança do cozinheiro ou culinarista que após ter esvaziado a caixinha de leite, reaproveita-a colocando massa de bolo ou de pudim...

Mas por dizer predador ocorrem-me as vespas, as quais após sedarem suas presas nelas inocula seus ovos. Eclodindo os ovos da vespa o inseto hospedeiro se transforma numa casca ocupada por uma chusma de larvas... Parece inseto mas não passa duma casca,

Em que pese a aparência de exagero é exatamente o que a ideologia capitalista tem feito com diversos sistemas na modernidade medíocre. 

Toma os acidentes do sistema e insere-se a si mesmo enquanto essência, ditando princípios e valores a uma técnica ou estrutura.

Dentre os sistemas cooptados ou colonizados por essa ideologia materialista temos o nosso Cristianismo, o Budismo, o Estoicismo, etc

Começarei pelo Budismo. 

Todos conhecem muito bem o 'budismo' Mindfulness, que é um budismo não Budista. Vá a página do Instituto Filipe de Souza e lerá: "Para praticar Mindfulness... não precisamos acreditar em Karma, reencarnação, iluminação do Buda, etc". Pode crer inclusive que Buda seja um perverso ou réprobo...

A apropriação consiste em tomar técnicas próprias do Budismo, desvincula-las do Budismo - assim de suas crenças e princípios, e coloca-las a serviço do Mercado ou da gerência do Mercado. Apossa-se da técnica do Budismo com o propósito de negar ou destruir a essência do próprio Budismo, a qual levaria o profitente a questionar o acúmulo ilimitado de riquezas ou o sucesso financeiro. 

Agora pasme - Há quem praticando tais técnicas se apresente como Budista!!! Budista do mercado!!! Apóstolo do liberalismo econômico ou do capitalismo...

Sim senhores...

Ocorre o mesmo com o Neo Cristianismo Ocidental ou protestante ou americanista, de matriz calvinista. Foi em tal organismo que fermentou essa coisa chamada Teologia da prosperidade que tanto sucesso faz no Brasil. E há 'cristão' que se incomode com a Teologia da Libertação (Devido a seus vícios e desvios!)... Minimizando a Teologia da prosperidade. Teologia que colocou certos meios, supostamente religiosos e cristãos, a serviço do mercado ou da aquisição de riquezas - A ponto de converter seitas em Empresas ou Emprejas, voltadas primeiramente para o acumulo de bens materiais neste mundo! E leem  no Evangelho: Não junteis riquezas nesse mundo... Não podeis servir a Deus e as riquezas...

De fato, temos na T P, o supremo monumento erguido a incoerência ou leviandade dos seres humanos!

Mas esta aí, um novo Evangelho, uma nova Teologia, uma nova Graça submissa a um poder econômico e posta a serviço de uma ideologia materialista. Nem Arístipo de Cirene logrou subverter de tal modo o socratismo como o sectarismo protestante - Com a manobra do livre exame! - logrou submeter e esvaziar o Cristianismo...

Mais assustador ainda: Católicos Ortodoxos, apostólicos romanos e anglicanos, aproximam-se disso... sobretudo movimentos carismáticos como a RCC... Pois estão ligados ou relacionados pelo puritanismo e pelo fetichismo. E vai essa mentalidade penetrando o papismo ou a ortodoxia! A ponto de vermos Cristãos Apostólicos assumindo os postulados anti Cristãos do capitalismo... Em que pese toda literatura patrística ou a nossa Tradição!!!

E temos um Cristianismo esvaziado ou não Cristão> Tão casca quanto o Budismo Mindfulness.

Mais sortudo é o hinduísmo - Do qual os canalhas tomaram apenas a Yoga...

Há ainda o caso da bela doutrina de Zeno, Cleantes e Crísipo - Cuja opinião sobre o acúmulo de riquezas repassaremos na segunda parte deste artigo!... Pois os mesmos patrões, administradores, gerentes e servos do capitalismo, que tomaram preces mágicas ao Cristianismo, meditações ao Budismo, etc tomaram igualmente a ascese FUNCIONAL do estoicismo - Como denuncia Pugliucci - colocando-a a serviço do sucesso financeiro ou da obtenção de grandes fortunas.

E no entanto a visão estoica sobre o acúmulo irrestrito ou ilimitado de riquezas ou sobre priorizar o sucesso financeiro, não difere em nada da Budista, da Cristã Apostólica ou histórica ou ainda da Socrática ou da Cínica. Aqui a visão crítica é comum, e poderíamos incluir ainda Confúcio, Platão, Aristóteles, etc que só mudaria o grau ou nível da crítica. Todos aqui veriam o Capitalismo como um empobrecimento da cultura, como uma corrupção, como uma alienação, como desumanização, despersonalização, degradação...

Claro que o princípio operatório é o mesmo: Nada de vida conforme a natureza, de panenteísmo, de adiaphoras preferidas, etc Pois o conteúdo próprio ou essencial do estoicismo é eliminado até os fundamentos.

O problema aqui é que a semelhanças dos meditabundos, dos feiticeiros 'cristãos' etc também esses se apresentam como estóicos, além de ostentar certas formas de ascetismo muito mal compreendidas ou ontologicamente presumidas...

Portanto a questão que enfim aqui se coloca não é se somos Cristãos, Socráticos, Cínicos, Estóicos ou Budistas mas se somos - E insisto nisso! - se somos bons Cristãos, bons Socráticos, bons Cínicos, bons Estóicos, bons Budistas, etc 

Noutras palavras: Se somos Cristãos autênticos e integrais...

E não meio Cristãos, superficialmente Budistas, aparentemente Estóicos, por estarmos comprometidos com outros princípios e valores ou por nos colocarmos a serviço de uma cultura de morte que não nos pertence.

Penso que dois ou dois mil e quinhentos anos seja bastante tempo - E já é tempo para que as coisas sejam levadas a sério...

Até quando vamos tolerar que nossa herança clássica ou Cristã, que o patrimônio imaterial ou religioso da humanidade seja instrumentalizado por um sistema individualista e materialista... Por um sistema egoísta e cruel que nos tem ensinado a tratar a terra nossa mãe a semelhança de vermes ou abutres que devoram uma carcaça podre...




Voltamos!!!!

         


        Voltamos - Sim voltamos a liça, a luta e ao bom combate!

         Sabido é que nossa saúde muito se deteriorou e debilitou-se durante o último ano do governo totalitário e despótico que jamais cessou de conspirar contra a brasilidade.

          Nem por isso cessamos de combate-lo ativa e ferozmente por meio do Facebook, do Youtube e de outros meios de comunicação; com a 'pena', com a vida, por meio do magistério e de diversas iniciativas artísticas e culturais. 

           Isso a ponto de nos orgulharmos de ter contribuído substancialmente para a queda do despotismo e a afirmação, e resgate de nossas liberdades!!!

           Feito isto e retomada, ao menos parcialmente, a normalidade democrática e institucional - Tendo a saúde se normalizado igualmente e se consolidado! - tornamos a edição deste Diário virtual, publicação totalmente gratuita posta a serviço a nossa cultura e da nossa herança, já clássica, já Cristã (No sentido do Cristianismo histórico, antigo, e apostólico e patrístico, como diria o Pe Thurmel - Em oposição a todos os modelos de neo Cristianismo oriundos da reforma protestante com seu modelo sectário!).

            Assumimos nosso compromisso com os mesmos princípios e valores se bem que ressignificados, ampliados e aprofundados por novas leituras - Pois lemos as obras do Dr Gual, Aulo Gélio (Noites áticas), Beccaria, Platão, Aristóteles, Kerfer, Xenofonte, etc Ansiando compartilhar com todos uma nova gama de reflexões sobre os problemas que tanto afligem a pobre humanidade...