sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Sexualidade, afetividade e família.





Tenho sido acusado de arrenegar ou combater a instituição da família enquanto vínculo afetivo estável entre determinado número de pessoas com o objetivo de educar os jovens e as crianças.

A bem da verdade, mesmo após ter lido a República, a Utopia e a Cidade do sol não me dei por convencido de fosse possível substituir a instituição familiar por qualquer tipo de organização educativa de caráter coletivo.

Não quero dizer com isto que a educação familiar não deva ser necessariamente completada por uma educação ética, cívica e social oferecida em escolas públicas, cuja frequência deva ser obrigatória e o regime absolutamente laico.

Ponto pacífico quando a educação pública, gratuita, compulsória e laica destinada a criar vínculos de solidariedade entre os diversos membros da sociedade.

A simples existência de instituições privadas de ensino fere na base mesma aquela igualdade de oportunidades que deveria ser oferecida a todos os cidadãos da República.

Tornando a instituição familiar sabemos muito bem que o próprio Platão foi obrigado a rever seus pontos de vista nas Leis, a obra mais importante de sua maturidade. Temos aqui um Platão realista e não haveria eu de ser mais idealista do que ele...

Após as Monografias de Le Play fica difícil conceber a erradicação da instituição familiar cujos laços de afeto devem corresponder a aspirações mais ou menos constantes da própria natureza humana.

Ao que tudo indica tem o ser humano necessidade de construir relações afetivas duradouras ou vínculos afetivos relativamente estáveis.

Embora alguns por receio, medo ou insegurança possam fugir a regra geral, ao menos aparentemente a instituição familiar parece corresponder a uma situação de normalidade entre praticamente todas as sociedades humanas, das mais primitivas as mais civilizadas.

Ao que parece a primeira Sociedade que tentou aluir até certo ponto a instituição familiar foi a URSS, ao menos em seus primórdios, i é nas décadas de 20 e 30 do século passado. Em que pese os esforços do regime Comunista soviético a instituição familiar, mesmo entre eles, atravessou triunfalmente o século XX até o final dos anos 80 quando o regime desmoronou.

Não é portanto a família, enquanto vínculo afetivo estável existente entre certo número de pessoas, que dirigimos nossas críticas, mas sim a uma determinada forma de família ou a uma estrutura familiar relacionada com um determinado tipo de cultura, a saber a cultura judaico/rabínica.

Não bíblica ou vetero testamentária, uma vez que para o azar dos fundamentalistas, o primeiro padrão familiar em termos bíblicos é poligâmico, não monogâmico. Haja visto que não apenas os ditos reis da casa de Israel como Dawid e Suleiman, mas os próprios patriarcas dos hebreus como Abraão e Jacó possuíam, cada qual seu serralho. Ora, não pode o Deus santo e imutável aprovar o pecado, como não pode fazer acepção de pessoas...

Nem afrontariam aqueles homens as leis de seus deuses...

Donde se infere necessariamente que a poligamia era situação comum entre os antigos hebreus, tal e qual é hoje entre os árabes maometanos.

Assim o surgimento da monogamia entre os antigos judeus nada tem a ver com qualquer Revelação divina, mas com o desenrolar de um processo histórico em termos naturais.

Para os escribas, fariseus e rabinos do século I desta Era no entanto, era já uma instituição dada como sacratíssima. O Cristianismo surge neste contesto e incorpora naturalmente este ponto de vista, em que pese não ser legitimamente Cristão no sentido de que tivesse sido fixado por Deus.

É verdade que Jesus Cristo apela ao mito de Adão e Eva com o objetivo de dificultar a concessão do divórcio, o que naquelas circunstâncias significava proteger a mulher. Mesmo porque devia assumir a cultura judaica para poder dialogar com os judeus, o que de modo algum deve levar-nos a imaginar aquela cultura ou seus mitos como sagrados. Para argumentar com os antigos judeus somente recorrendo a seus mitos, tal o propósito de Jesus, convencer os judeus e não pronunciar-se a respeito da validade intrínseca de seus mitos.

Portanto o que contestamos antes de tudo é o caráter monogâmico, hétero normativo, patriarcal e indissolúvel do matrimônio, i é a receitinha judaica assumida pelo Cristianismo. Asseverando que nenhum destes carácteres foi Revelado sobrenaturalmente pela divindade. A única regra fixada pela divindade quanto as relações matrimoniais é que, sendo fechadas, devem ser honestas. Portanto a única regra vinculada ao matrimônio, em condições de contrato exclusivo entre duas pessoas, é a fidelidade mútua, expressa pela condenação do adultério.

Parece-nos óbvio e evidente que a traição ou o adultério só fazem sentido, como por sinal lemos em Crime e Castigo, quando há um contrato fechado ou exclusivo, conforme a vontade dos nubentes. Caso não haja sentido de posse ou de posse exclusiva, mas um contrato aberto, em que ambas as partes permitam-se o fruição de uma vida sexual livre, a simples hipótese de traição ou adultério torna-se absurda. Não há traição onde há permissão ou necessidade de engado onde há autorização mútua. Porém no contesto de um contrato fechado, o compromisso de fidelidade assumido por ambas as partes deve ser honrado.

Nossa crítica principia por aqui. Pois embora a lei celestial discipline um contrato fechado pela condenação do adultério, em parte alguma do Evangelho ou mesmo do Decálogo topamos com a exigência de que a forma do contrato fosse fechada. Assim a lei trata com uma situação dada pela cultura e não com uma situação determinada pelo sagrado e isto pelo simples fato de que aos homens cabe o justo direito de determinarem suas relações afetivas.

Assim se o dolo de uma traição toca essencialmente as coisas divinas pelo simples fato da esperteza e do engano; a forma mesma do matrimônio ou sua estrutura é indiferente. Desde que haja um vínculo afetivo ou amor. Eu mesmo compreendo, e ouso confessa-lo, que o amor entre duas pessoas apenas me pareça superior ou mais elevado. No entanto quem sou eu - enquanto ser humano inserido numa determinada cultura - para julgar os outros? Não, não posso ser árbitro daqueles que consideram possível partilhar o amor com duas, três, quatro, ou mais pessoas. Não vejo absolutamente dada de divino contra a poliandria ou a poligamia, e penso que devêssemos encarar tal assunto como pessoal ou livre. O contrário disto seria opressão.

Claro que podemos optar pela monogamia ou preferi-la. Agora querer impo-la a todos os outros e em nome de Deus me parece o supremo absurdo. Deus certamente observa em primeiro lugar o sentimento do amor do que o número. E quem sabe até sem numa família do tipo poligâmico ou poliândrico não pode haver mais amor, carinho e afeição do que em algumas famílias monogâmicas que vivem de aparências?

Cessemos portanto de apontar, de julgar e de condenar o outro porque isto certamente não é nem um pouco Cristão.

Afinal tantos daqueles que batem no peito declarando-se monogâmicos possuem mais amantes ou casos fora do casamento do que os próprios poligamistas???

Aquele que tem fé viva a simplicidade da sua fé sem observar como vivem os outros.

Devemos portanto estar abertos para aceitar diversos tipos de organizações familiares. E não permanecer inutilmente apegados a abstrações metafísicas ou a agregados culturais persistentes.

Tampouco cabe a nós Cristãos impugnar o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Se você não concorda, é muito simples - Não pratique. Certamente ninguém haverá de obriga-lo a casar-se com outro homem ou com outra mulher. Não precisa nem mesmo ir a cerimônia de casamento ou levar presente, mas certamente precisa respeitar duas pessoas que se amam ou que se gostam, porque se elas se amam o Deus de amor se faz presente entre elas e santifica esta relação.

Tais pessoas não são safadas ou imorais, ou promíscuas porque pensam o sexo distintamente de você. Como não são monstruosas as que aderiram a uma dieta distinta da sua... Quando vamos a um restaurante há quem prefira salada e há que prefira churrasco, além é claro do que preferem frutos do mar... O que não há nem poderia haver é policiamento... Não podemos sair na mão por conta de hábitos alimentares distintos... Como não podemos agredir o outro por causa de suas preferências sexuais. O cardápio, o figurino, as sensações sexuais pertencem ao outro não a nós e o outro deve ser reconhecido como livre e senhor de si. O contrário disto é opressão.

Nem me diga que é a homossexualidade um pecado terrível porque serão os homens arremessados no mítico inferno. Remeto meus críticos a descrição, sucinta porém necessariamente completa oferecida por Nosso Senhor Jesus Cristo no vigésimo quinto capítulo do Evangelho de Mateus - Tive fome e me destes de comer, tive sede... é o que encontramos ali e não Destes teu rabo ou esfregaste tua vagina noutra vagina... Não isto não lemos. Deste juízo sexual, homofóbico, moralista e puritano não há vestígio no santo Evangelho. Destarte somos autorizados a declarar em alto e bom som que o Deus dos Cristãos não é vigia do ânus, do pênis ou da vagina de quem quer que seja... Não temos um Deus no controle de órgãos sexuais, o Evangelho não nos apresenta um Deus que nos julga por nossas preferências sexuais mas por nossos corações, indagando-nos apenas sobre que fizemos de nosso semelhante ou se a semelhança dele amamos o próximo como a nós mesmos.

Lamento mas a homofobia não esta fundamentada no terreno do Sagrado Evangelho. Lamento mais a titulo algum é Cristão. Portanto se duas pessoas do mesmo sexo desejam estabelecer vínculos estáveis ou um compromisso afetivo e adotar, e educar crianças ou jovens, rejeitados por heterossexuais despudorados e sem consciência nada há de anti natural nisto. Anti natural é uma pai ou uma mãe repudiarem seus próprios filhos, os quais geraram tendo em vista a conservação da espécie. Isto sim, o repúdio é aberrante. Não o acolhimento ou a adoção, parta de quem parta.

Tanto pior do ponto de vista natural ou civil, segundo o qual assiste a tais pessoas, enquanto contribuintes o direito líquido e certo de registrar suas relações afetivas obtendo amparo por parte do estado.

Por patriarcal temos o matrimônio machista, em que uma das partes é tida em conta de essencialmente inferior ou de prestadora de serviços (serviçal). É patriarcal o tipo de relação não igualitária em que é defeso ao marido comandar a mulher e os filhos exercendo caprichosamente a tirania sob ambas as partes segundo o modelo tradicional do 'pater familias' romano. Aqui a mulher é tida em conta de serva sexual ou de empregada e os filhos de tutelados sem vontade própria. Já o macho dominador converte-se em deus na terra... Claro que a suposta superioridade do homem é, como não podia deixar de ser, coisa de livros religiosos e não da natureza.

Os povos semitas, vivendo nas areias do deserto e tomando por padrão social a força física não apenas deram a mulher por inferior ao homem como atribuíram esta distinção a divindade. No entanto todas as situações em que a mulher aparece fruindo duma condição inferior ao homem são dadas pela cultura, não pela natureza. Intelectualmente é a mulher tão capaz quanto o homem desde que se lhe dê as mesmas oportunidades. Além disto tem o poder de levar a cabo a geração, coisa que o homem não pode fazer por si só... Klein por sinal, lanço a tese segundo a qual o homem se sente incomodado por essa capacidade da mulher levar a cabo a geração, sem necessidade dele ou de converter-se em 'pai' e mãe...

Cada vez mais se impõem a necessidade de que a Igreja (do ponto de vista administrativo não doutrinal), a escola, o clube e o próprio matrimônio assumam cada vez mais pressupostos democráticos com o propósito de produzirmos uma cultura ou um espírito democrático. Relações hierárquicas e autoritárias na base da cultura certamente fragilizam a produção de uma consciência democrática. Esposas (ou maridos, porque também existem) e filhos submissos jamais serão bons cidadãos em estado de liberdade. Por isso todas as decisões de uma família devem ser tomadas em comum, partindo de um conselho familiar. Assim discutidas e votadas, jamais impostas verticalmente.

Tampouco vemos que seja ou deva ser o matrimônio indissolúvel por qualquer razão, mas solúvel como todas as coisas que porventura não deem certo. Por isso o Salvador do mundo autoriza subsequentes matrimônios em caso de adultério para a parte inocente. Afinal nem poderia o inocente, sob qualquer título ser penalizado da mesma forma que o culpado ou suportar um jugo mais pesado; seria injusto. Isto disse ele para evitar que as mulheres judias fossem repudiadas por qualquer motivo leviado e lançadas no olho da rua para que morressem de fome. Restringiu o divórcio entre os judeus e os primeiros cristãos procedentes da judiaria com o objetivo de proteger a mulher.

Num regime de liberdade no entanto para que deveriam as partes esperar serem traídas uma pela outra? Haveria conselho mais insensato??? Claro que numa situação diversa da que vigorava entre os primitivos judeus seria defeso ao casal desfazer o matrimônio por mútuo acordo, antes que chegassem a situações de adultério ou violência, sendo defeso tanto a um quanto a outro contratar novo matrimônio.

De tudo quanto dissemos acima ressalta a tese segundo a qual as relações matrimoniais foram dadas ao homem para que ele mesmo as gerencie racionalmente da melhor maneira possível.

Resulta deste gerenciamento mútuo que possam, na medida em que se mostrem maduros e capazes, de administrar a sexualidade do matrimônio, sem confundi-la com a afetividade ou o vínculo. Defendemos assim o amor livre ou o sexo livre dentro do casamento ou do matrimônio. Noutras palavras defendemos a existência de um matrimônio sexualmente aberto ou de vínculos afetivos estáveis que não pressuponham controle ou monopólio sexual.

Já esta mais do que na hora da sociedade aprender a separar amor de sexo e sexo de amor. O que produz um vínculo entre duas ou mais pessoas é o sentimento, o carinho, o amor, o afeto, a confiança, etc não o sexo. Em que pese a existência dos vínculos e da união, a sexualidade de ambas as partes podem continuar sendo livre se ambos o quiserem e assim decidirem.

Se amar é querer ver o outro feliz não me parece condizente com a vontade de reprimir os impulsos ou desejos sexuais alheios. A que título você pensa poder cobrar que a pessoa a que ama faça sexo apenas com você ao invés de autorizar que tenha uma vida sexual livre com outras pessoas? A única explicação possível aqui é que a maioria de nós sente-se inseguro com relação ao próprio desempenho sexual temendo ser superado por alguém e eventualmente posto de lado. No entanto se o que conta de fato numa relação estável é de fato o amor, o carinho, etc não é de se esperar que esta relação permaneça firme, forte e inabalável para além de qualquer outra possível experiência sexual???

Por outro lado não é até melhor que a pessoa a que amamos tenha uma, quem sabe, uma experiência sexual mais intensa com uma outra pessoa, desde que consentida por nós? Será que um tal tipo de liberdade não reforçaria ainda mais os laços de admiração, gratidão, carinho e amor? Isto pelo simples fato de que o amor nos faz aspirar ver o outro feliz e realizado em todos os sentidos... No fim das contas por que odiar a alguém por dar prazer a quem dizemos amar? Acaso dar prazer a alguém não é um bem e fazer alguém feliz não é igualmente um bem?

Então por que queremos monopolizar sexualmente o outro e restringir sua liberdade e experiencialidade sexual se sabemos que será uma fonte de angústias e neuroses para ele?

Mas quem ama deve controlar-se?

Controlar-se porque o exigimos? Controlar-se por que é objeto ou propriedade nossa? Controlar-se por que é monopólio nosso? Que temos aqui nesse sentido de posse, amor ou egoísmo?

Que queremos de fato que o outro nos faça feliz submetendo-se a nosso controle ou que o outro seja feliz???

Mas quem ama deve fazer sacrifício?

Neste caso olhe para dentro de si mesmo e responda se esta sinceramente disposto a fazer grandes sacrifícios pelo outro.

Se responder sim, estamos conversados...

Agora se hesitar por um instante, permita que lhe pergunte:

Desde quando exigir sacrifício por parte do outro é amar?

Afinal sacrifício é dor ou desconforto não?

Permita-me insistir teimosamente e dizer que amar é querer fazer o outro feliz?

Como posso fazer o outro feliz submetendo-o a situações limites, cobrando-o, vigiando-o, policiando-o, tratando-o como um objeto ou uma propriedade?

Perdoem-me a ignorância mas não posso ver como tantas e tantas exigências possam corresponder ao amor, ou por que deva o amor imiscuir-se nos domínios da sexualidade.

Por que motivos não podemos construir laços familiares duradouros com base no amor e ao mesmo tempo conservar a liberdade sexual evitando tantas situações de neurose e conflito que chegam até a violência?

A instituição família penso eu continuará a existir por séculos ou milênios.

Assumirá no entanto novas formas passando por múltiplas transformações.

Assim o que repudiamos não é a instituição em si mas determinada forma 'fixa' ou imutável enquanto produto natural da cultura e não uma emanação do Sagrado. Nós aceitamos todos os tipos ou modelos de família desde que santificadas pelo vínculo do amor. E acreditamos acima de tudo numa adoção, cada vez maior, dos casamentos sexualmente abertos, o que por sinal é bem mais conforme a dignidade da criatura racional.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Os Sociólogos esquecidos I - Gabriel Tarde (Refletindo sobre a intencionalidade humana no contesto social)

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Gabriel Tarde, francês de nascimento e homem da lei tornou-se pivô de uma das maiores polêmicas já travadas no campo da Sociologia, a qual estendeu-se por quase duas décadas.

Afinal seu contraditor outro não era senão o famoso Emile Dhurkheim 'herdeiro' de Comte e criador da corrente sociológica positivista.

Dhurkheim como é, em geral, sabido de todos, buscou identificar uma categoria de fenômenos 'sui generis' a que deu o nome de 'fatos sociais', tal, segundo cria, o objeto da Sociologia. O fato social é algo por assim dizer coercítivel, externo ao indivíduo, genérico além de objetificável ou coisificável.

Destarte o fato social nos termos de Dhurkheim parece equivaler as estruturas apontadas por Marx e Weber bem como as instituições investigadas por Le Play, tudo isto em termos de macro sociologia ou de elações existentes entre as diversas estruturas e instituições sociais.

Tarde parece ter feito o caminho oposto e buscado compreender a trama de relações existentes no interior das instituições, situações, condições e conjunturas sociais. Destacando-se como pioneiro no campo da micro sociologia.

De suas investigações resultou um livro, sob diversos aspectos interessante e intitulado 'As leis da imitação.'. O próprio título nos dá a entender que parte considerável da Sociedade ao invés de proceder criticamente, procede por via de imitação, assimilando não apenas o comportamento mas inclusive as opiniões alheias e isto quase que mecanicamente.

Que o fenômeno da imitação esteja relacionado com certos hábitos pessoais, especialmente no que diz respeito as massas ou multidões cheira inclusive a obviedade.

O cerne da controvérsia aqui não era a imitação em si mesma.

A qual, com relação ao desenvolvimento e educação da criança seria exaustivamente investigada por Wallon, Piaget e Inhelder dentre outros. De fato a imitação parece corresponder a um mecanismo originalmente psicológico. Presente inclusive nos animais superiores ou grandes mamíferos, os quais não aprendem doutro modo.

Ora, se havia algo que Durkheim e os positivistas não podiam admitir em hipótese alguma era a simples possibilidade de um mecanismo de natureza Psicológicas pudesse ser sociologicamente relevante. Os positivistas grosso modo, tomaram o mesmo caminho devassado pelos cientistas políticos e economistas clássicos, os quais negavam pertinazmente a influência da economia na política e a influência da política na economia, apresentando ambos os campos como estanques, isolados e impermeáveis e logo, falseando a realidade vivida.

A Sociologia nasceu com este vezo anti Psicológico enquanto a Psicologia teve de ser mais realista e compreensiva - ao menos até o surgimento do credo behaviorista - do que resultou o surgimento da Psicologia social.

Enquanto a Sociologia busca compreender o funcionamento dos diversos contextos sociais, a Psicologia Social interessa-se apenas pelo indivíduo ou melhor pelas reações experimentadas pelos indivíduos num determinado contexto social. Naturalmente que as relações por serem individuais não excluem certo nível de uniformidade, desde que este nível de uniformidade não corresponda a qualquer vínculo social entre os indivíduos que experimentam reações similares, o que nos remeteria necessariamente a Sociologia. Portanto a gênese causativa das reações ou manifestações, inda que análogas, teria sua raiz na mente do indivíduo e não em um elemento social qualquer.

Tornando agora aos positivistas e sua ideia de sistema fechado ou isolado - e, no caso da Sociologia, em oposição, por assim dizer, a Psicologia ou ao fator humano propriamente dito - devemos compreender que impossibilitou a criação de algo correspondente a Psicologia social no âmbito da Sociologia, digo de uma Sociologia pessoal ou individual, cujo escopo seria compreender até que ponto e de que forma a pessoa humana interage com as instituições sociais, fugindo ao clássico determinismo e possibilitando a transformação.

Enquanto fenômeno produzido por seres humanos é evidente que o contato social ou a própria tecitura social não pode nem deve ser compreendida como algo totalmente separado do humano, mas certamente como algo permeável a ação humana, ao menos em certo grau e sempre na perspectiva da interação. Sociedade como algo a parte do homem ou como mecanismo que funciona por si mesmo equivale a pura abstração metafísica. Foi o que Tarde respondeu a Durkheim após ser classificado por aquele como Psicólogo social e não como sociólogo, pelo simples fato de ter questionado o sistema autônomo e determinista elaborado pelos positivistas.

Por trás de toda esta polêmica estão em jogo as relações entre a Psicologia e a Sociologia bem como suas fronteiras. Que há de social no humano e que há de humano no social? A primeira pergunta ainda exaspera alguns psicólogos da cepa freudiana, apenar das contribuições de Horney. A segunda exaspera todo sociologista matriculado na escola de Durkheim para quem cada contexto social, senão a sociedade propriamente dita funcionava como um relógio.

Claro que as massas humanas, como os povos primitivos, a semelhança das crianças fazem largo uso da imitação, a qual como já dissemos corresponde a um mecanismo psicológico. Mesmo entre as pessoas educadas a imitação ser faz presente em determinado grau, e a moda é prova irretorquível. E no entanto as massas e multidões entram no mecanismo das Revoluções, o qual é precipuamente social, enquanto a moda além de ser economicamente fecunda, possui certa relevância social. Assim a atuação das massas e multidões, que são agregados humanos, no contexto social e político equivale a fenômeno puramente psicológico ou a um tempo psicológico e a outro social? Assim o papel da moda na Sociedade, por via da imitação, não deveria ser compreendido como um fenômeno Psicológico ativo na esfera das instituições ou mesmo das estruturas sociais? Em que medida uma uniformidade psicológica poderia assumir ao mesmo tempo uma função social? Em que medida a ação humana ou pessoal poderia ser igualmente social?

Tais as questões suscitadas pelas teses de Tarde em torno da relevância social das leis da Imitação e quiçá a razão porque sua obra permaneceu esquecida durante mais de meio século devido a resistência dos positivistas no sentido de considerar qualquer injunção humana na máquina ou no reloginho social idealizado por eles. Resta-nos dizer que admitida a tese de Durkheim - e por ext a de Marx - segundo a qual é o homem determinado pela sociedade ou pela cultura - cuja coerção é invencível - não vemos porque modo possa a própria sociedade ou a própria cultura transforma-se a menos que atribuamos a esta sociedade um aparato racional e livre responsável pela criação. O que nos levaria a dizer que a sociedade move-se por si mesma, que possui intencionalidade, que se cria, recria, etc Em sua que é uma espécie de organismo vivo e humano. Quando sendo puramente material e mecânica deveria ser estática. E no entanto 'si muove'... Por si mesma???

O único modo porque podemos fugir a aberração de conceber a Sociedade como um organismo autônomo, admitir que se transforma e compreender porque modo se transforma é admitir que em certas circunstâncias alguns homens por assim dizer 'geniais' - sempre em sintonia com o processo histórico e dentro de certas medidas - conseguem sobrepor-se a força coercitiva do hábito ou da cultura e transformar a própria cultura e algum aspecto da Sociedade. Claro que as ideias ou propostas desses homens devem ser assumidas por uma aristocracia ou por um povo. Cumulativamente essas pequenas transforações vão alterando os diversos contextos sociais, e conferindo a Sociedade um aspecto mais ou menos dinâmico e não fixo.

Resta declarar que todo movimento produzido por impulso interno remete-nos a vida. Move-se a sociedade porque viva, porque humana, porque permeável a ação consciente do homem e não por si mesma como algo a parte da intencionalidade humana, ou seja, magicamente. De fato os seres vivos movem-se e evoluem porque vivos. Assim a Sociedade evolui enquanto sociedade dos homens e não enquanto ente abstrato a parte do homem.





quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A criação da Sociologia


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M Frédéric Guillaume Le Play


Um dos temas mais polêmicos e interessantes das ciências sociais, diz justamente respeito a sua criação.

Quem teria criado a Sociologia?

Quanto a terminologia Socio + logia, sabemos ter sido criada não por August Comte, pai do positivismo, mas pelo abade Sieyés, ensaísta ligado ao iluminismo, pelos idos de 1780. Comte limitou-se a alterar-lhe o significado, se é que não foi precedido por C H de Rouvroy o Conde de St Simon cujas doutrinas reeditou ou depurou.

Nós no entanto nos interessamos mais pela 'praxis' do que pela criação de uma determinada palavra.

De modo que a pergunta aqui diz respeito a quem teria iniciado as pesquisas no campo da Sociologia.

Inútil recorrer a manuais e compêndios, os quais, segundo o pais em que foram editados apontam este ou aquele conterrâneo, assim os franceses são por Comte, os alemães por Lorenz Von Stein, Marx ou mesmo Max Weber, os ingleses por Mill ou Spencer... Como bem ser vê cada qual buscando puxar a sardinha para seu lado.

Seja como for os principais candidatos são:

  • Karl Marx
  • Lorenz Von Stein
  • Auguste Comte &
  • Herbert Spencer

Repasse-mo-los pois -

Quanto a K Marx devemos observar não ser Sociólogo mas antes de tudo Filosofo ou Filosofo social e sobretudo economista, embora tenha excursionado pelo Direito e realizado algumas investigações sociais.

Vejamos no quadro de suas obras quando iniciou suas pesquisas sociais.

  1. A 'Contribuição para a crítica da Filosofia do Direito em Hegel - Introdução' (1844) diz respeito, como o próprio nome índica a F do Direito
  2.  A 'Miséria da Filosofia' (1847) como o próprio 'Das Kapital' é uma análise de pressupostos econômicos formulados por P J Proudhon
  3.  A 'Sagrada família' e a 'Ideologia alemã' (1845/46) são obras de caráter propriamente filosófico. 
  4. O 'Manifesto comunista' (1848) é obra puramente Ideológica a qual bem poderíamos classificar como Ética.
  5. 'Trabalho assalariado e Capital' (1849) não foge a dinâmica econômica, que alias constitui o forte do pensador judeu alemão
  6. 'O 18 Brumário...' (1852) é uma análise política de viés econômico.
  7. O artigo sobre a punição capital (1853) não foge ao tema do direito, ainda que busque relaciona-lo com pressupostos econômicos.
  8. 'População crime e pauperismo' (1859) parece ser a primeira obra - em que pese ser um pequeno artigo de jornal - de investigação social elaborada por Marx com base em estatísticas. A outra grande obra de investigação social intentada por Marx foi a 'Origem da família, da propriedade privada e do Estado', editada por Engels em 1884. Trata-se de uma obra inacabada ou melhor de uma série de notas elaboradas por Karl sobre a 'Ancient Society' de Lewis Morgan editada em 1877.

Fixamos portanto, para Marx, a data chave de 1859, para assinalar sua primeira elaboração no campo da Sociologia, salientando porém que as estatísticas ou investigações não foram realizadas por ele.

Quanto a Lorenz Von Stein é velha a polêmica, no sentido de ter ele influenciado a Marx ou sido influenciado por ele, uma vez que escreve algumas de suas principais obra pelos idos de 1840 - Foldes, 1914, Marx é que teria tomado posse de parte do aparelho conceitual de Stein -  adotando por sinal os termos 'proletariado' e 'conflito de classes', embora não fosse partidário de soluções revolucionárias como Lênin - o porta voz de Marx para os comunistas 'ortodoxos' - mas de algo muito próximo do estado de Bem estar social proposto por Keynes e da 'social democracia'.

Embora Stein, em 1842 tenha elaborado uma obra sobre o Comunismo e o Socialismo na Revolução Francesa - a qual teria influenciado K Marx - por sinal ampliada e reeditada em 1850, é esta obra de caráter acentuadamente histórico. A primeira obra em que o alemão principia a deslindar a trama das relações sociais presente nas instituições - Gessellschaftlehre... - remonta a 1856. Seja como for vale a pena reproduzir algumas linhas do prefácio: "Nuestra actualidad a comenzado a observar una nueva serie de fenómenos que anteriormente no tenían lugar ni en la vida ordinaria NI EN LA CIENCIA."
Temos portanto para L Von Stein o ano de 1856.

Passemos agora a Comte, o qual veio a falecer justamente na década em que Marx, Stein e outros iniciaram suas investigações, e cujas obras remontam aos idos de 1820 e 30, logo há vinte anos antes. Aparentemente Comte teria sido o criador a Ciência Social ou da Sociologia e não poucos tem esboçado essa opinião pelo simples fato de ignorarem o teor de suas obras.

No entanto toda sua busca por leis gerais e universais em torno do processo histórico sabem mais a Filosofia da História do que Sociologia. Por mais que pregasse contra a abstração e a metafísica toda sua obra prima pela quase absoluta falta de concretude ou de contato com a realidade social imediata (Daí te-los intitulado com justeza 'Opúsculos de Filosofia Social'. A darmos Comte por fundador da Sociologia teríamos a obrigação de remontar sua fundação ao Conde St Simon, a Condorcet, a Vico com seu 'corsi i ricorsi' ou mesmo a Turgot. 

Há certamente em Comte um anelo pela investigação social, mas não a investigação propriamente dita, em termos de positivismo iniciada por E Durkheim. Comte ao contrário de Weber e do mesmo modo que Marx ainda é absolutamente normativo, estabelecendo metas em torno da idealidade.

Tentou deslocar o foco da reflexão Filosófica para a concretude, para a História, para a organização social, mas, em termos de metodologia, pouco ou nada fez.

Resta-nos analisar agora as credenciais do derradeiro candidato proposto pelos manuais de Sociologia a título de fundador. Aqui o inglês Herbert Spencer.
Que temos a dizer a respeito dele?

Ao menos quando a 'Estática populacional' e senão quanto aos 'Princípios de Biologia' (1864) o mesmo que foi dito com relação a seu mestre Comte. Alias a primeira obra até pode ser classificada como uma espécie de panfleto libertário ou crítica ao que chamamos de Estado com conotações políticas, econômicas e jurídicas mas nada de propriamente concreto em termos de relações sociais ou instituições. Apenas em 1864 formula o darwinismo social, o qual como se sabe é bem mais escolástico, metafísico, abstrato ou escolástico do que outra coisa.

Conclusão - Quanto aos quatro personagens apontados como fundadores da Sociologia, aquele cuja obra - em termos de investigação social - parece ser mais antiga é sem sombra de dúvida o alemão Lorenz Von Stein. O qual, com relação aos outros três candidatos e dentro deste acanhado limite leva a palma.

Seria o caso de proclamarmos Lorenz Von Stein como o 'pai da Sociologia'.

Nem tanto ao ar nem tanto ao mar.

Sem querer negar os méritos do alemão, parece que foi precedido por um francês, membro do seleto grupo dos 'Sociólogos esquecidos', em que pese sua primazia temporal com relação a todos os demais...

Referi-mo-nos a Frederic Le Play o qual em 1855 publicou sua obra máxima 'Les ouvriers europeens' em seis alentados volumes, expondo as condições de trabalho, a organização familiar, as atividades econômicas, o ambiente moral, etc dos trabalhadores de toda Europa. O mais interessante aqui é que Le Play foi o primeiro 'pensador' a ir a campo ou a investigar 'in situ' desde 1848 e a elaborar tabelas e quadros de estatística, vinculando pela primeira vez a pesquisa sociológica e este modelo científico. Deve-se igualmente a ele a fundação da primeira sociedade dedicada a pesquisa social, a 'Société internationale des études pratiques d'economie social' ainda em 1856.

Frederic Le Play nasceu em 1806 e faleceu em 1882 três anos após sua conversão ao 'Catolicismo'.

Obras -

"Os operários europeus." 1856
"A reforma social." 1864
"A organização familiar." 1871
"A Constituição inglesa." 1874



terça-feira, 26 de setembro de 2017

Fragmento de Sociologia - Que é 'Contexto' social (Lahire)

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"“Contextos” é uma espécie de conceito guarda-chuva, no entanto, que abarca tudo com que os atores se deparam no seu ambiente e que impinge sobre suas ações no presente e a partir do exterior (classe, poder, organizações, instituições etc).

A noção pode designar (1) espaços sociais abstratos que são vertical e hierarquicamente estruturados em termos de classe e de diferenciais de poder (o sistema de classes de Marx, o campo do poder de Weber, o espaço social de Bourdieu) e domínios institucionais ou funcionais horizontalmente diferenciados em sociedades complexas (as esferas de valor de Weber, os campos de Bourdieu, os mundos de Becker, os subsistemas de Luhmann etc.), mas também é ocasionalmente usada para se referir mais concretamente aos (2) microcontextos (famílias, escolas, fábricas, clubes esportivos etc.) e (3) situações (as sociações de Simmel, as ordens da interação de Goffmann, as quididades de Garfinkel etc.) que formam o pano de fundo imediato da ação.

Juntos, os contextos estrutural (1), institucional (2) e interativo (3) engatilham ou inibem..."

A Sociologia na escala individual Margaret Archer e Bernard Lahire* Frédéric Vandenberghe

1 - Em termos de estruturas temos o quanto haja de mais simples e amplo em termos de contextos, entidades ou unidades sociais, assim a própria Ideologia (social) e Técnica pertenceriam a esta categoria (estrutural) bem como os nichos de casta, classe, estamento, categoria, etc

2 - Em termos de Instituições temos desde o Estado Nacional ao município, a família, a igreja, o clube, a escola, a fábrica, o sindicato, etc

3 - Em termos de situações temos a Revolução e em termos de condição devemos considerar a etnia e o gênero.

Esta é a melhor definição - tomada a Lahire - a respeito do campo dos estudos Sociológicos que pudemos encontrar.

domingo, 24 de setembro de 2017

Uma entrevista polêmica sobre Ética, ciência, vegetarianismo e cobaias.

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Após termos espicaçado os mistagogos comunistas e os sectários cristãos daremos a público um Diálogo que tivemos há algum tempo com os cientificistas e os carnívoros -

Interlocutor - Boa tarde professor.
Eu - Boa tarde jovens, sejam bem vindos.
Interlocutor - A primeira pergunta diz respeito a ciência ou melhor dizendo ao conhecimento não aplicado, corresponderá ele a algo neutro ou a um bem?
Eu - Na medida em que tanto a busca pelo conhecimento quanto sua aquisição correspondem a uma demanda da própria condição humana ou do intelecto não podemos deixar de encarar tais atividades como boas em si mesmas.
Interlocutor - Mesmo que não haja aplicação para este tipo de conhecimento em questão?
Eu - Grosso modo todo conhecimento teórico tende a converter-se, com o passar do tempo, em conhecimento aplicado i é em técnica. Independentemente disto a primeira aplicação de qualquer conhecimento obtido e enquanto conhecimento teórico, é satisfazer a curiosidade humana ou saciar nossa sede de saber. Sabemos para que? Sabemos para saber, porque somos antes de tudo curiosos. Um homem qualquer cujas necessidades básicas estejam satisfeitas não tardará a elaborar diversas perguntas a respeito da realidade que o cerca e elas surgirão naturalmente. A ciência tem sua origem nessa condição de inquietude peculiar aos seres humanos.
É justamente a ciência aplicada e apenas ela capaz de poluir o conhecimento.
Interlocutor - Poluir o conhecimento? Que vem a ser isto?
Eu - Poluímos o conhecimento de diversas maneiras, mormente quando tornamos este conhecimento aplicável e aplica-mo-lo indignamente. É o uso que o homem faz deste ou daquele objeto que o torna bom ou mau. Todo e qualquer objeto produzido pelo homem, seja ele uma faca, um rifle ou uma bomba, é bom em si mesmo enquanto produto do engenho humano. Seu uso ou emprego pelo homem numa determinada conjuntura é que poderá ser bom ou mal. Assim fará bom uso da faca para cortar legumes ou descascar frutas e um mau uso caso venha a agredir outro homem. Fará bom uso do rifle caçando ou protegendo-se dos animais selvagens e um mau uso na guerra fuzilando inocentes. Fará bom uso da bomba detonando montanhas com o objetivo de construir estradas e um mau uso lançando-as sobre cidades e estraçalhando civis inocentes. Todo e qualquer objeto pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal.
Interlocutor - De maneira que a técnica sempre estará sujeita ao abuso?
Eu - Efetivamente, toda técnica esta sujeita a abusos pelo simples fato de seu uso corresponder a determinado fim. Caso o fim seja bom o uso será bom, caso o fim não seja bom teremos o abuso.
Interlocutor - E como poderíamos distinguir o uso do abuso. O uso da técnica, para ser bom, deve estar a serviço da condição humana e respeitar a dignidade do ser humano. Deverá promover o homem jamais avilta-lo ou abate-lo. Caso o efeito do uso desta ou daquela invenção acarrete dor, mal estar ou prejuízo aos seres humanos, estamos diante do abuso. O uso implica em beneficiar o ser humano ou em minorar seus sofrimentos. Assim o emprego deste ou daquele objeto numa guerra injusta ou agressiva deve ser encarado como mau.
Interlocutor - Apenas isto?
Eu - Não. Há diversas outras situações em termos de produção de conhecimento que suscitam nossa reflexão em termos de ética, de princípios e de valores, de bem e mal.
Interlocutor - Podería fornecer alguns exemplos?
Eu - Certamente. Julgo que antes de tudo devemos indagar se os meios investigativos empregados pela própria ciência - enquanto instância relaciona diretamente como a produção do conhecimento - são bons ou maus.
Interlocutor - Julgo não ter captado o sentido desta última pergunta.
Eu - A pergunta levantada reporta ao método científico em si mesmo e indaga se acarreta prejuízo, dor ou sofrimento a qualquer forma de vida.
Interlocutor - Ah compreendo, refere-se a testes e pesquisas feitos com doentes ou condenados, especialmente quando não autorizadas?
Eu - Naturalmente que é um dos aspectos da questão, mas não o único. Propositalmente não me referi a seres humanos, mas a formas de vida e a quaisquer formar de vida.
Interlocutor - Captei. O professor esta se referindo aos animais ou melhor dizendo aos animais que são empregados como cobaias nos laboratórios.
Eu - Exatamente.
Interlocutor - Há quem diga que o emprego de animais como cobaias é indispensável ao progresso científico.
Eu - Houve e há quem diga que as guerras são necessárias ou indispensáveis ao equilíbrio social de uma determinada sociedade como há quem diga que o regime de livre mercado seja indispensável. Uma coisa é ser indispensável e outra, totalmente distinta é ser apresentado como indispensável. Oxigênio e água são elementos indispensáveis a vida humana mas há quem afirme o cigarro, o alcool ou mesmo o chocolate como indispensáveis...
Ademais em termos de ética não se pergunta de algo é necessário - tanta coisa má é descrita como necessária - mas se é justo, certo ou correto.
Interlocutor - Desenvolva.
Eu - Obrigado. Será mesmo que não podemos continuar produzindo ciência sem cobaias ainda que num ritmo menos acelerado?
Interlocutor - Eis um questionamento a ser feito.
Eu - Mormente quando a redução deste ritmo corresponde a uma exigência ética.
Interlocutor - Parece-me convincente.
Eu - Acompanhe-me. Via de regra, a maior parte de nós, é ensinada a considerar o consumo de carne vermelha como necessário ou mesmo indispensável a conservação da vida e da saúde. Parece-me no entanto que a existência de vegetarianos ou de pessoas que limitam-se a consumir carnes brancas neste planeta aponta-nos para uma solução contrária. Seja como for somos ensinados a crer que devemos ser carnívoros para sobreviver. E como nossa cultura é carnívora não costumamos a questionar seriamente este ensinamentos. E como a carne é apetitosa.
No fundo o que queremos é saborear um bife suculento. Por isso não questionamos a cultura carnívora.
Seja como for aqui bem cabem algumas perguntas: Será mesmo impossível que a humanidade como um todo ou ao menos parte dela sobreviva sem devorar mamíferos ou bovinos? Quem sairia perdendo caso boa parte da humanidade cessa-se de consumir carne vermelha? Acaso parte do discurso vigente não teria sindo elaborado tendo em vista as exigências econômicas do mercado? Há gente querendo lucrar com a venda de carne não? E nesse sentido o consumo faz-se necessário, devendo ser estimulado.
Interlocutor - Jamais me haviam ocorrido tais perguntas?
Eu - Geralmente não costumamos a elaborar perguntas capazes de incomodar-nos. O ser humano não costuma ser bom nisto.
Interlocutor - Supondo que o consumo da carne vermelha não seja necessário a manutenção da vida?
Eu - Neste caso somos obrigados a nos perguntar sobre o pôrque de saborearmos a tal carne vermelha e julgo que a resposta oferecida seria mais ou menos assim: Consumo carne vermelha porque gosto ou porque me agrada e porque não prejudica a quem quer que seja.
O engano aqui é manifesto pelo simples fato do Boi ou do Porco não poder falar.
Afinal não vejo como possa qualquer um deles sentir-se beneficiado ao levar um baita golpe na testa e ter a vida suprimida pelo homo sapiens.
Não nego que em estado de natureza tanto o boi quanto o porco ou qualquer outro animal tivesse de conseguir sua própria comida e de escapar de seus predadores, é fato. No criadouro ou na fazenda por outro lado são alimentados e cuidados pelo homem. Sim, mas para terminarem no abatedouro e sem aquela mínima chance que lhes é oferecida pelo meio ou pela mãe natureza.
Interlocutor - Quem sabe se a média de vida de um animal criado em cativeiro não seja até maior do que em estado de natureza? Estado em que poderá morrer de câncer inclusive, caso atinjam uma idade mais avançada.
Eu - Claro que há variáveis e algumas até consoladoras para os consumidores de carne vermelha... Quanto ao câncer a alegação talvez seja plausível com relação a um seleto número de indivíduos idosos, já quanto a média de vida de um animal criado num cativeiro integrado aos moldes capitalistas de produção e ao lucro máximo, acho no mínimo discutível. Seja como for devemos admitir que a criação - em comparação com a caça - sendo controlada evite a extinção da espécie. Que os animais criados pelo homem sejam os mais prolíficos na face da terra me parece fora de dúvida.
E no entanto aquele que considera normal devorar um animal em tais circunstância raramente ou quase nunca o abate com suas próprias mãos, considerando este tipo de ação 'infamante'. A quase totalidade dos que consomem carne vermelha não realiza o trabalho sujo. Hoje certamente bem menos sujo devido ao abate humanitário, o qual corresponde certamente a uma das mais belas aspirações humanas. Apesar disto para muitos dar uma marretada nos miolos de um boi ainda seria tabu. Neste caso, se você não tem coragem suficiente para abater por que consome???
Interlocutor - Boa pergunta.
Eu - A bem da verdade consumimos carne vermelha de grandes mamíferos porque gostamos ou porque nos agrada, mas justificamos alegando uma hipotética superioridade. Tal o caso das cobaias. Criamos cobaias e usamos cobaias em laboratórios porque julgamos ter este direito e julgamos ter este direito por sermos superiores. Bem, no caso do consumo há um atenuante, o abate humanitário. No caso da cobaia a produção de dor e sofrimento é intencional.
Interlocutor - Tal distinção jamais me havia ocorrido, agora quanto a tomar o que é agradável como critério em matéria de juízos éticos sempre me pareceu problemático.
Eu - Me parece bem mais do que problemático. Afinal a quem sinta prazer em matar, torturar, estuprar, humilhar, oprimir, etc
Interlocutor - De modo que o agradabilidade não produz direito.
Eu - Nem poderia e por isso editamos outra justificativa, segundo a qual somos superiores aos animais.
Trata-se dum discurso - caso estabeleçamos sua arqueologia - antes deslocado do que discutível e que foi produzido antes mesmo de que a ciência viesse a ocupar o espaço que ocupa na sociedade contemporânea. Discurso segundo o qual o homem não seria um animal mas uma criatura a parte ou diferenciada de todas as outras. O que reporta necessariamente ao mito do gênesis ou a criação fetichista do mítico Adão, apresentando como dono ou proprietário de todos os animais.
Interlocutor - No entanto desde Darwin...
Eu - Sim, sim, desde Darwin foi o homem integrado a natureza e apresentando como um animal, inda que racional por apresentar cercas capacidades em termos de abstração. É no entanto um mamífero e primata, aparentado com os demais mamíferos, cujos genes trás em si.
Grosso modo nossa única superioridade face aos demais mamíferos nossos parentes é a de elaborar pensamentos tanto mais complexos ou raciocínios o que paradoxalmente conduz-nos a questionamentos éticos em termos de princípios e valores e a uma vida ética. Somos consumidores de carne e matadores de mamíferos capazes de questionar o consumo de carne, pelo simples fato de sermos capazes de nos identificar com nossos parentes mais próximos. Temos consciência de que as formas mais complexas do reino animal, em especial os mamíferos são bastante sensíveis a dor, e mais ainda, somos perfeitamente capazes de nos colocar no lugar deles e de nos compadecer. Portanto nossa única e decantada superioridade equivale justamente a um padrão de consciência tão refinado a ponto permitir que problematizamos nossos alimentares...
Somos superiores porque capazes de submeter nossos hábitos alimentares a um escrutínio ético, coisa que certamente mamífero algum, enquanto espécie é capaz de fazer.
Interlocutor - Já sei porque as vezes me sinto canibal...
Eu - O fato é que poucos de nós estão dispostos a levar adiante ou as últimas consequências este tipo de reflexão. Por isso batemos o pé e declaramos ter o direito de torturar uma pequena cobaia, um macaco, um gato ou mesmo um cão ou um cavalo. Mas de que decorre este suposto direito? Temos de beneficiar nossa espécie!!! Sim, mas parasitando outras? É lógica de lombriga ou ancilóstomo não de um ser racional. Somos superiores... Só se for em sadismo...
Sei que a reflexão sobre o uso de cobaias é desconfortável.
Injeção também é, mas também é necessária.
Em que somos superiores as pequenas cobaias ou aos animais que acometemos em nossos laboratórios infringindo toda sorte de sofrimentos?
Interlocutor - Em poder ou força?
Eu - Acertou em cheio. Não torturamos as cobaias porque exista qualquer direito natural que nos autorize a faze-lo mas apenas porque queremos e podemos. A lógica dos experimentos científicos com o objetivo de beneficiar nossa querida espécie, é o direito do mais forte. Nada mais venenoso... Direito do mais forte é tese que reporta ao darwinismo social, a Nietzsche e enfim a Hitler e ao nazismo. Não fazemos isto ou aquilo porque é justo ou direito mas apenas e tão somente porque podemos e queremos. Tal a origem de todas as agressões, conflitos e guerras de conquista e dominação. Como as cobaias são mais fracas do que nós, como os animais são indefesos...
Certamente não temos diante de nós um bom caminho.
Por outro lado, caso levássemos a ética a sério, proibiríamos o uso de cobaias sob quaisquer pretextos, mesmo que disto decorresse uma diminuição no ritmo da pesquisa e produção científica e isto pelo simples motivo de que o supremo valor de uma Sociedade humana não pode ser a produção científica ou a aquisição do conhecimento, mas o respeito por todas as forças de vida. Implica admitir uma escala de valores e o primado da ética, coisa de os cientificistas não podem admitir.
Eis uma via porque a ciência é contaminada na fonte convertendo-se ela mesma em abuso.
Felizmente há diversas áreas da pesquisa científica que não fazem uso de cobaias. Neste caso a investigação em si mesma é, como já dissemos, sempre um bem.


FIM

sábado, 23 de setembro de 2017

Cara a cara com os judaizantes - Que há de Cristão no antigo testamento?


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Dia após dia somos forçados a voltar ao tema do antigo testamento, da judaização, do fundamentalismo, do sectarismo bíblico, do calvinismo, da inspiração plenária, do 'corão cristão'... Tendo em vista a realidade social brasileira e a 'compreensão' de uma religiosidade que a um tempo apoiou ativamente um golpe de estado contra nossas instituições democráticas e que a outro busca tomar posse de nossas escolas públicas convertendo-as em máquinas de proselitismo...

Não se trata aqui de satanizar o antigo testamento.

Declarar que é o A T em sua maior parte ou quase totalidade um registro puramente humano é apenas dizer a verdade e dizer a verdade sempre será um bem.

Alias, ao contrário de alguns, nem avançaremos alegando que o A T seja mal em si mesmo. Enquanto fonte de conhecimentos históricos ou referência a uma cultura é ele bom.

Sim, caro leitor, ao contrário do que alguém poderia julgar, o antigo testamento, enquanto registro do passado humano é algo bom.

Então o que???

Não é ao antigo testamento que damos combate.

O que combatemos e denunciamos é a crença fundamentalista, protestante, pentecostal, calvinista, etc segundo a qual o A T, em sua totalidade ou em cada uma de suas partes corresponda a um registro de origem sobrenatural ou divina.

É contra a mentalidade biblicista ou judaizante que pugnamos, contra a crença supersticiosa e vã da inspiração plenária ou linear, contra s simples sugestão de que existe um 'corão' cristão de Gênesis a Apocalipse, visão predominante ou majoritária entre os protestantes brasileiros.

Para um pentecostal mediano, podemos dizer que via de regra o Novo Testamento ou o Evangelho nada é e que não há qualquer diferença significativa entre o Sermão do monte ou as Bem aventuranças e o primeiro capítulo do Gênesis ou o texto do dilúvio. É tudo uma coisa só, como que descida 'in totum' ou prontinha do alto do céu.

Claro que a consciência TRADICIONAL do Cristianismo, presa as palavras de Cristo ou ao Evangelho se rebela contra esta perspectiva grosseira e rebelar-se-a cada vez mais.

Não pode o Cristão episcopal niceno ou atanasiano admitir que as Palavras do Deus e Verbo encarnado Jesus Cristo seja em tudo igual a de quaisquer emissários, cuja condição era puramente humana. Esta doutrina da inspiração linear ou da bíblia una é boa para unitários ou arianos, para os quais Jesus é de fato um dentre muitos, mas não para atanasianos ou para os que encaram Jesus como um homem 'diferente', em que há algo a mais...

Como poderia ele ser algo a mais sem que sua palavra tivesse algo a mais?

Noutra situação social o confronto seria fastidioso e desnecessário.

Todavia num momento em que os sectários valem-se justamente do A T testamento com o objetivo de atacar ferozmente os dissidentes religiosos - Sejam papistas, espíritas ou esotéricos - além de levantar a bandeira de diversos preconceitos em pleno cenário político, a estratégia nos obriga a demolir as partes não santas ou divinas do A T e a demoli-las implacavelmente, isto pelo simples fato da 'Bíblia una' ser o coração do protestantismo e o antigo testamento a parte predileta dos sectários.

Disto decorre que o respeito supersticioso votado pela Igreja romana ao conceito acatólico de 'Bíblia una' e o endosso feito por ela em torno de tais tonterias ao invés de desarmar a crítica protestante, a tem de fato alimentado século após século. É como se a igreja de Cristo, estupidificada, colocasse ela mesmo armas a munições nas mãos de seu pior inimigo na mesma medida em que insiste a respeito da divindade do A T. Desacreditou-se apenas a Igreja e a maior prova disto é que quase toda gente simples foi conquistada pelo protestantismo e isto pelo simples fato de que ele certamente leva o antigo testamento bem mais a sério... Que o digna o iconoclasticismo...

No entanto se queremos conter este aluvião fundamentalista e teocrático temos de ir as pernas de barro do colosso e dilacera-las, temos de levar a cabo a crítica do A T, iniciada pelos próprios protestantes - liberais - e leva-la a cabo ou divulga-la. É chegado o momento em que as contemplações devem ser postas de lado e a doutrina da inspiração plenária descrita e classificada como deve ser i é como uma simples opinião teológica em nada favorável a nossa Santa fé Ortodoxa. É dogma sim, mas apenas para os protestantes na medida em que foi canonizada e santificada por seus líderes os reformadores. Nossa tradição, a tradição Católica, sendo muito mais rica e abrangente, brinda-nos com outras possibilidades bem mais condizentes com nossa fé (E nossos ícones rsrsrsrsrsrs).

Dissemos acima que o protestantismo tem levado o A T tanto mais a sério do que a igreja romana. (E a Igreja romana o tem levado tanto mais a sério do que a Igreja Ortodoxa - por isso também somos Ortodoxos). Afinal é o valhacouto das seitas judaizantes...

Onde senão no seio do protestantismo damos com as aberrações do unitarismo, sabatismo e do mortalismo???

Tal no entanto não basta, e nem de longe, para limpar a barra dos judaizantes e livra-los da justa pecha de leviandade e hipocrisia...

Pois dizer que levam o A T mais a sério do que as igrejas Católicas não equivale a dizer que o cumprem, vivem e observam em sua totalidade, como fosse uma LEI divina.

Afinal uma lei divina deve ser observada e vivida em sua totalidade.

Por isso um dos apóstolos assim se expressou: "Quem viola um dispositivo da LEI viola a lei em sua totalidade.". O que vale tanto para a lei dos antigos judeus - Caso seja tomada por lei divina - como para a LEI divina do nosso Evangelho.

Nada mais exótico do que testemunhar os comedores de carne de porco e toda este gente, escanhoada, tatuada ou com parte de seus corpos exposta, discutindo seriamente a divindade da Torá. E enquanto isso lá vai um pedaço de chouriço ou uma porção de Strogonoff guela abaixo do nosso judaizante! E come galinha a cabidela o nosso homem!
Mas cadê a refeição Kosher meu amigo???

Cadê os taliths, tefilins, franjas, túnicas, filactérios, burkas, etc???

É o protestantismo por natureza inconsequente e nem podem seus filhos discutir a validade da lei de Moisés sem que a discussão receba conotações neoplatônicas, descarnadas ou teoréticas na direção do solifideismo. Talvez devido ao inconsciente, os protestantes só se preocupem com o quanto seja teórico, descartando tudo quanto seja prático neste terreno. O que a nós Católicos sabe a conveniência ou oportunismo.

De fato mal um dissidente qualquer ousa observar que eles protestantes comem carne de porco ou ostentam seus corpos seminus na praia, já rebatem dizendo que parte da LEI de Moisés teria sido abolida.

Agora se algumas partes foram abolidas e outras não em que baseiam-se para distinguir umas das outras ou para declarar quais são e quais não são válidas??? Qual o critério ou padrão a que recorrem???

A malignidade ficará assente caso declarem que tal decisão - de distinguir as partes válidas das não válidas do A T - cabe a cada individuo, crente ou leitor da Bíblia. Dado que uma tal questão pertença a esfera da subjetividade como evitar que surjam tantas seitas quanto cabeças??? Se disser que cabe ao espírito santo não saímos do lugar e se disser que cabe a liderança da seita a que pertence só nos restará rir... O A T continuará sendo partido como um boi no açougue e cada fanático levará a peça que preferir...

Certamente a divisão foi realizada, tinha de ser realizada, mas por quem cabia, i é, pelo divino Mestre Jesus e não por qualquer outro...

Eis porque qualquer Cristão bem pode abrir as páginas do Santo Evangelho e por elas verificar que parte do A T foi reconhecida como divina por Jesus e quais foram desconsideradas.

Claro que esta decisão sobre as partes do antigo testamento só pode ser decidida por Jesus i é a luz do Santo e divino Evangelho. Portanto, ao contrário do que dizem os pastores, nós Ortodoxos temos um critério e um critério externo, objetivo e divino.

Tais as palavras: "Não cuidem que vim eu abolir a LEI. Nenhum traço ou pingo da LEI será revogado, eu vim para observar a LEI e cumprir a profecia."
Há gente tarda e imbecil que faça desta passagem cavalo de batalha... embora seja ela duma simplicidade extrema.

O amigo quer dizer que a passagem acima é de fácil compreensão?

Nem mais nem menos.

Mas como?

Observe - A expressão LEI neste contexto só pode comportar dois sentidos e não mais que dois.

Lei aqui é a TORÁ ou o pentateuco i é tudo quanto a tradição judaica atribui a Moisés ou alguma parte específica dela, no dado o Decálogo.

Ou a lei irrevogável e divina é a Torá como um todo - em cada uma de suas partes e com todos os seus incisos, normas e regulamentos - ou limitasse ao código escrito sobre as tábuas de pedra, nem mais nem menos.

Se é a Torá, já o dissemos acima, devemos viver como os judeus do século VII a C.

Se parte alguma da Torá por mínima que seja, deve ser posta em vigor, estamos obrigados a adotar a dieta judaica - distinguindo entre animais puros e impuros - os trajes judaicos, as festas judaicas, etc absolutamente tudo, sem exceção.

Conclusão: Todos os judaizantes estão condenados por pecarem contra diversos incisos da lei.

Por escanhoar a barba, por tatuar, por usar lã e linho, por comer strogonoff - Não poderás cozinhas o bezerro no leite de sua mãe - por não apedrejar os idólatras, por não enforcas os blasfemadores, por não queimar bruxas, por ir a praia, etc, etc, etc, etc

Afinal nem os amishes e menonitas, lograram o milagre de viver a integralidade da Torá e estamos aguardando o aparecimento do primeiro judaizantes coerente no seio da cristandade protestante...

Ah mas Jesus revogou este ou aquele ponto da Torá! Pois permitiu que os apóstolos comecem sem lavar as mãos... Tocou os leprosos... Ficou a sós com a mulher samaritana... Falou contra a dieta, etc

Veja sr judaizante se Jesus declarou que parte alguma da Torá podia ser ABOLIDA e em seguida aboliu algumas partes você esta insinuando que Jesus entrou em contradição consigo mesmo, que mudou de opinião ou que mentiu...

Portanto se Jesus declarou que a LEI não podia ser revogada - por ser divina e portanto eterna e imutável - e em seguida, no curso de sua pregação, desconsiderou diversas partes da Torá é justamente porque para ele essa lei eterna, irrevogável e divina não era a Torá ou a totalidade da Torá.
Mas aquela parte especifica da Torá que sempre foi observada pelos Cristãos desde a Era apostólica e durante todo curso da História, o Decálogo.

A LEI a que se refere Jesus como irrevogável e divina e cujo teor jamais criticou só pode ser o Decálogo e não qualquer outra parte.

O Decálogo é de origem divina enquanto expressão de uma LEI natural, as outras partes da Torá são se origem puramente humana, de modo que sequer foram abolidas ou revogadas - jamais tiveram validade universal - mas pura e simplesmente desconsideradas por Jesus. Devendo ser igualmente desconsideradas pelos Cristãos, pelo simples fato de não serem judeus.

Nada mais fácil do que citar levianamente o Deuteronômio contra os espíritas, esotéricos e católicos; como se fosse parte do Evangelho ou tivesse sido escrito por Jesus. Acham que o Deuteronômio foi escrito por Jesus???? ENTÃO POR QUE NÃO VIVEM O DEUTERONÔMIO EM SUA INTEGRALIDADE??? Se foi escrito por Jesus por que vocês pecam selecionando algumas passagens com que agredir os dissidentes e desprezando todas as outras??? Se o Deuteronômio é tão sagrado quanto nosso Evangelho por que vocês não o colocam em prática ao invés de profana-lo selecionando o que convém e o que não convém??? Quem são vocês para partir e selecionar a palavra de Deus ou uma instituição divina??? Claro que partindo a Torá em pedaços como um boi no açougue e escolhendo com base no 'mal me quer, bem me quer' vocês demonstram que não a levam muito a sério...

Em abono ao quanto alegamos, basta dizer que em pleno ano 170 desta Era, o autor Cristão Hegesipo na Ypoummenata declarou ter verificado - após ter visitado diversas igrejas apostólicas como Corinto e Roma - que todas essas congregações tinham por norma 'A lei e os profetas' expressão tomada ao Evangelho e que certamente não podia referir-se a integralidade da Torá, uma vez que desde o ano 70 i é uma século antes, os Cristãos e judeus seguiam regras de vida diferentes, aqueles observando a LEI moral do Decálogo e o Sermão do monte e estes apenas a totalidade da Torá. Portanto o emprego da palavra LEI por Hegesipo reflete como os cristãos do ano 170 compreendiam esta passagem do Evangelho, tomando-a não pela Torá - que não observavam vivendo como judeus - mas pelo Decálogo.

A exceção dos ebionitas, que eram judeus fanáticos, os Cristãos, advertidos pelo Salvador, jamais tentaram viver a Torá e menos ainda impo-la aos conversos do paganismo.

Somente após a canonização da bíblia una por João Calvino as massas incultas da Europa moderna conceberam a opinião monstruosa segundo a qual a Torá em sua totalidade jamais fora questionada, revogada, abolida ou desconsiderada por Jesus, aventando a possibilidade de restaura-la no contexto 'cristão' ou melhor dizendo reformado. Tal a origem do sectarismo judaizante com seus ideais precipuamente teocráticos e obscurantistas.

Cumpre advertir que de nossa parte nada temos contra a religião judaica professada e praticada por judeus i é por descendentes do suposto patriarca Abraão. Nossa questão não é contra os judeus ou sua fé. Não nos cabe julgar a fé alheia mas vivera nossa. Quanto ao povo judeu nos atemos ao que já foi decretado por Alexandre, Augusto e Constantino - São cidadãos como outros quaisquer no pelo gozo de suas liberdades, sendo-lhes defeso viver segundo suas tradições e costumes ancestrais, o que neles é digno de aplauso e louvor.

Agora que Cristãos aspirem viver sobre o costume judaico, afirma-lo como cristão e aspirar impo-lo aos outros tecendo acusações sórdidas, isto não toleramos nem toleraremos estando dispostos a vindicar o nosso Cristianismo, apoiado pelas tradições. Quanto as judaizantes, isto é aos cristãos aparentes e sectários, a estes não pouparemos por um instante, denunciando-os como incoerentes, levianos e confusos. Se eles reabriram as suturas alinhavadas por Paulo não seremos nós quem haveremos de fecha-las! Afinal professando a divindade de Cristo e a Trindade Excelsa, serão idólatras e politeistas para os verdadeiros judeus e afirmando a necessidade de vivermos a moda judaica, serão supersticiosos aos olhos dos verdadeiros Cristãos, de modo que religiosamente falando, a semelhança da sogra de Pedro, não serão coisa alguma, ficando suspensos entre a sinagoga dos infiéis (a que não pertencem) e a Igreja de Cristo. (a que tampouco pertencem).

Quanto aos verdadeiros Cristãos, que se deleitam no Evangelho, satisfazem-se no Decálogo e nas profecias referentes a futura manifestação do Verbo Jesus, recebendo-as como as únicas partes divinas ou reveladas do Antigo testamento e tendo todas as outras - com suas imoralidades, crimes, mitos, fábulas, etc - em conta de puramente humanas enquanto produto natural da cultura. Destarte não regularão suas vidas segundo a cultura dos antigos judeus mas segundo as palavras e ensinamentos de Jesus, tal a Lei dos Cristãos.



sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Era Jesus Cristão? Uma questão posta por J A S



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Pessoas há que são mal intencionadas, assim os fariseus, escribas, saduceus e outros elderes da casa de israel que viviam amolando o Senhor Jesus Cristo e armando-lhe presepadas.

Outras são inteligentes e propõem com absoluta naturalidade certos temas a reflexão comum.

A maior parte ou totalidade de meus amigos compõem da segunda categoria de pessoas, honestas, inteligentes, críticas e reflexivas. De modo que sou obrigado a levar bastante a sério os problemas levantados por eles em torno de minha fé, a qual assumo intrepidamente.

Um destes camaradas endereçou-me a seguinte pergunta: Era Jesus Cristão?

Para muitos de meus amigos e a quase totalidade de meus ex correligionários uma pergunta assim formulada equivaleria a um tiro a queima roupa e penso que até ficariam irritados.

Eu fiquei feliz porque semelhante questionamento suscitou-me uma série de reflexões a serem realizadas ao cabo de uma longa noite de insônia.

Alias tais perguntas vão muito bem com longas noites de insônia e quiçá parte dos teólogos escolásticos da I Média fossem como eu insones crônicos.

Varei a noite e madrugada buscando respostas para esta incomodativa pergunta.

Cujas constatações agora torno públicas, partilhando com o leitor benevolente deste diário.

Claro que tendo de assumir uma perspectiva tenho de ser honesto e assumir sinceramente a perspectiva nicena, partindo portanto do suposto que Jesus Cristo seja um Ser divino ou a manifestação da divindade, sob forma humana, neste mundo.

Outros julgando ser ele simples mortal ou mera criatura chegaram a outras constatações.

Para mim no entanto ele é a Encarnação da alma ou do espírito que anima o universo, em suma, daquilo que os pensadores gregos chamavam Deus.

Nele percebo mais do que um homem. Percebo o divino, o sagrado e o numinoso e sua plenitude.

Tal o ponto de partida de minhas cogitações.

Para resolvermos o problema devemos antes de tudo considerar uma obviedade - É o Cristianismo uma forma religiosa ou religião, como o budismo, hinduísmo ou judaísmo.

A própria palavra religare reporta-nos ao sentido de ligação com Deus, com o sagrado, com o numinoso; mas não apenas isto. A exceção do protestantismo 'ortodoxo' ou solifideista - os sectários protestantes em parte assumem nossa afirmação tomada a um panfleto religioso - (antinomiasta) que se assume como uma forma religiosa amoral ou sem ética (!!!), a maior parte das religiões assume certa conotação ética em torno de princípios e valores. Em certo sentido todas aspiram salvar o homem da ignorância ou de um comportamento inadequado; todas aspiram por educar ou reeducar o homem, todas buscam encaminha-lo a virtude.

Podemos portanto definir as grandes religiões ou as religiões reveladas como uma busca de comunhão ou de unidade com o Sagrado que ao mesmo tempo conceda aos homens uma possibilidade de superação, no sentido de tornar os homens melhores do que são.

Algumas como o Cristianismo antigo, são antes de tudo Éticas. Tendo por objetivo precípuo salvar o homem de uma situação de miserabilidade moral (Ética), de desaliena-lo, de conecta-lo com o sagrado...

Ainda que repudiemos com veemência a doutrina mitológica de um pecado original, cometido por um primeiro homem e cuja culpa teria sido imputada arbitrária e magicamente a toda sua descendência, não repudiamos a crença num pecado ancestral, enquanto situação histórica e social de pecado projetada até mesmo no inconsciente dos nascituros. Não se trata aqui da noção essencialmente injusta da transmissão da culpa, de modo algum. Mas da gênese sócio/cultural dos pecados pessoais ou da contaminação pelo exemplo no dizer do teólogo Orígenes de Alexandria.

Ninguém melhor do que os antigos filósofos gregos percebeu a presença do mal metafísico ou ético no mundo.

Odiamos, mentimos, matamos, roubamos, praticamos a injustiça, oprimimos, etc

E nada disto pode ser bom.

Há algo na consciência de cada um de nós que se revolta contra todas estas coisas. Apesar do poder e da força da cultura.

Somos elementos fragmentados, divididos e em conflito, como demonstrou a Psicanálise.

Dos sete sábios a Freud passando por Confúcio, Buda, Sócrates, Platão, Jesus, Marx, etc a percepção de que algo não esta bem é comum e quase evidente.

O ideal conflita com o real. O dever choca-se com o ser. O que queremos não corresponde ao que fazemos.

As religiões propuseram-se vir ao encontro desta demanda ética e comunicar ao homem algum tipo de força suplementar capaz de coloca-lo a altura de suas mais nobres inspirações.

A religião de Akhenaton teve esta percepção bastante claramente. A de Buda como nenhuma antes dela. O profetismo hebraico não foi estranho a esta tomada de consciência firmemente assumida pelo Cristianismo antigo. O sikismo, o babismo, o espiritismo, etc foram por este mesmo caminho.

Segundo esta perspectiva podemos definir a religião Cristã e por assim dizer a Igreja de Cristo nos termos de uma escola, de um reformatório, de um hospital ou de um hospício cujo objetivo é educar, orientar, corrigir e curar os seres humanos feridos pela ignorância.

Por isso foi o Cristo apresentado como médico e pedagogo de nossas almas.

Destarte, sendo ele eticamente íntegro ou perfeito, isto é isento do que chamamos de pecado, certamente não precisava de religião. (para si).

Tampouco precisava dela para chegar ao Sagrado uma vez que ele mesmo portava o Sagrado dentro de si. A fonte suprema da luz certamente não precisa ser iluminada.

Ele não precisava de Igreja para si mesmo.

Revelou o Cristianismo, i é a doutrina Cristã ou os elementos da fé para os homens mortais. Estabeleceu os sacramentos para os homens mortais. Fixou uma lei ética - o Sermão do Monte - para os homens mortais, etc Não para si mesmo.

Neste sentido - ele - não precisava de religião, de Cristianismo ou de Igreja. Os homens sim precisam de tudo isto para elevarem-se.

Portanto no sentido comum de ser crer, arrepender-se de qualquer coisa, ser Batizado, receber a Eucaristia, fazer penitência, ir a missa, rezar, etc JESUS CERTAMENTE NÃO FOI CRISTÃO.

Ah mas ele era verdadeiro homem.

Sim, em tudo semelhante a nós, mas menos na miserabilidade ética ou na experiência do pecado. Ele é a manifestação da suprema santidade sobre a terra... A religião um meio concedido aos homens para superarem uma situação de pecado...

Neste caso não precisava Jesus orar?

Una vez que a prece nada mais é do que um forma de comunicação entre o homem e a divindade, e esse Jesus a própria divindade em carne e osso é evidente que ele não precisava orar.

Neste caso porque rezava ele?

Para não escandalizar os homens - que acreditavam ser ele mero homem - e para servir de modelo a seus seguidores.

De modo que não precisava ter observado as instituições do judaísmo?

Veja bem, admitido que Deus se manifeste no mundo como verdadeiro homem temos de admitir que ele entra em contato com a cultura ou com determinada cultura.

Assim ao assumir sua forma humana e mortal ao tempo de Augusto César foi entre os judeus que a assumiu. Assumindo determinado contesto cultural.

Era a cultura dos judeus 'sagrada' como todas as demais culturas daquele tempo e portanto acentuadamente religiosa. Esperando-se de um bom judeu ou de um judeu devoto que não só regulasse sua vida segundo as normas da religião, como acorre-se as cerimônias religiosas e delas participasse.

Aqui aparentemente ao menos manifesta-se já um problema, para alguns ocioso, mas não para nós.

Isto pelo simples fato de que a parte de Akhenaton e Buda líder religioso algum abolira os perniciosos sacrifícios humanos. Equivalendo o templo dos judeus em Jerusalém a um imenso açougue a céu aberto com todo o sangue, gordura, carniça e fedor que esta definição sugere.

Sendo assim como poderia Jesus praticar o judaísmo?

Felizmente habitava Jesus bem distante de Jerusalém i é na Galileia, onde ao invés de frequentar abatedouros infames, frequentava as sinagogas locais em que estavam sendo elaboradas as futuras cerimônias litúrgicas do talmudismo farisaico, as quais excluíam e excluem sacrifícios de sangue. De modo que ele nem imolada animais nem prestigiava tais cerimônias, exceto quando se dirigia a cidade santa de Jerusalém, o reduto dos fanáticos.

Até onde sabemos teria ido a Jerusalém uma meia dúzia de vezes na vida e em geral se alimentando de peixe e não de carne vermelha. Uma coisa é certa, se a cultura impediu-o de opor-se aos sacrifícios ou de condena-los ele jamais imolou animais ou aprovou semelhante prática.

Há por sinal uma frase sua bastante significativa, a que alguns tem atribuído um sentido anti sacrifical: "O que eu quero é compaixão e não sacrifícios."

Quanto ao mais deve ter observado os ritos simbólicos do judaísmo, não porque fosse esta religião divina, mas porque estava inserido num contexto sócio cultural judaico em que a inobservância da religião lhe traria total descrédito. Acaso seus ancestrais não puniam a ferro e fogo a irreligiosidade compreendida como simples inobservância dos ritos? Jesus no entanto manifestou-se justamente para dizer algo, tendo necessariamente de dialogar com a cultura e antes disto inserir-se nela até onde fosse possível. Neste sentido temos de dizer ainda que no ritual da sinagoga nada há que seja por si mesmo condenável. De modo que o divino Mestre bem podia observa-lo sem maiores problemas, não porque lhe fosse necessário, e sim porque lhe era conveniente.

Grosso modo, religiosamente falando, Jesus assumiu o judaísmo apenas 'pró forma' ou externamente. Jamais foi um judeu consciente, piedoso, conformista, etc em suma o rabino beócio e repetidor de tradições pintado pelos protestantes calvinistas e sectários judaizantes.

Não foi Judeu religiosamente falando. Tampouco pertenceu a igreja Cristã enquanto membro. Não tinha religião. Não tinha necessidade de religião. Fundou o Cristianismo para os homens em condição de miserabilidade ética, como quem funda um hospital, mas não internou-se nele ou seja não foi Cristão.

Fundou a Igreja Cristã, grande, antiga, episcopal, Una, Santa, Católica, Apostólica, Ortodoxa, etc Não filiou-se a ela, não era pecador, não era fiel, não buscava a santidade ou a virtude, não precisava ser iluminado.

Jesus sendo Deus eterno e homem isento de pecado transcende a própria igreja que fundou e a própria religião. A estatura do filho de Maria não cabe na Igreja, é superior, mais elevada, perfeita... A Igreja foi estabelecida para conduzir os imperfeitos a perfeição almejada: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.

Nem preciso dizer que com relação a moralidade 'Cristã' tomada ao judaísmo, Jesus era anti Cristão ou imoral. Jesus foi pregado na cruz justamente por ter questionado os preconceitos afirmados pela moral judaica - odinismo, machismo, adultismo, etc Ele foi um revolucionário e contestador de valores e não um repetidor idiota. "Falava como quem tinha autoridade." E ousava posicionar-se criticamente face a Torá - Eis o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo... Exasperou os líderes judeus por acolher amorosamente todas as minorias a que desprezavam e oprimiam.

Paulo, fariseu filho de fariseu, rabino da tribo de Benjamin e pupilo de Gamaliel é que fez reverter a revolução de Jesus reintroduzindo os preconceitos judaicos: Estatolatria, machismo, homofobia, escravismo, etc No entanto, como bem percebeu Jeremy Benthan entre 'paulinismo' e 'Cristianismo' vai larga diferença. É a moral Cristã atual majoritariamente paulinista logo em maior ou menor medida rabínica, judaizante e portanto anti Cristã. Jesus não era súdito de Paulo ou Paulinista, mas inimigo das tradições hebraicas e adversário dos rabinos, os quais a todo tempo questionava.

Em que pese sua infalibilidade doutrina em termos de fé é a igreja - inclusive a Ortodoxa e Católica cuja fé integralmente professo - moral ou eticamente falível, equivocada e corrupta enquanto valhacouto de preconceitos judaicos descartados pelo Mestre Jesus. A moralidade Cristã, particularmente a moralista, puritana ou sectária não é a moral de Jesus, mas uma perversão maniqueísta.

Então que foi Jesus, e qual sua relação com o Cristianismo?

Para nós Jesus fundou historicamente uma Igreja visível comissionando os apóstolos e enviando-os com o objetivo de instruir todos os seres humanos.

E fundou-a com o objetivo de conservar a integralidade e objetividade de seus ensinamentos ou o quanto Revelou aos homens em termos de doutrina (Sobre Deus, o mundo futuro e a Igreja).

Portanto em última análise Jesus Revelou o conteúdo Ético e Doutrinal da fé a que chamamos Cristã, Católica e Ortodoxa ou episcopal. Foi aquele que Revelou os elementos do anúncio mais tarde erigidos em artigos de fé (Amana) pelos padres - sucessores dos apóstolos - e concílios.

Jesus é a fonte da fé da Igreja e dos Cristãos, o que não significa que ele mesmo tenha sido 'Cristão' enquanto fiel/membro da igreja ou mesmo religioso em sentido convencional, tal a transcendência, amplitude, grandeza e singularidade de seu vulto.

Tampouco podemos dizer que Jesus seja monopólio da Igreja Ortodoxa. A igreja não existe para dificultar o 'trabalho' mas para facilita-lo. Não restringe e excluí os que são de Cristo, antes amplia sua comunhão com ele por meio do ensino correto (integralidade doutrinal) e dos Santos e divinos sacramentos. Oferece maiores garantias quanto a Unidade de Jesus Cristo. Não é pela fé ou pela pregação que somos incorporados a Jesus Cristo mas de modo místico por sua graça, IMPERCEPTIVELMENTE. Podemos avançar sem medo e declarar que no momento mesmo em que se fez homem Jesus Cristo assumiu e incorporou a si, misticamente, todos os homens, todos os seres humanos, todos os mortais, sem consideração de crenças religiosas. Aproximou-se de todos quando assumiu nossa natureza, de modo que a igreja limita-se a potencializar e ampliar esta comunhão espiritual.

Já estava no mundo, desde toda eternidade, enquanto Espírito ou alma que o preenche. Manifestou-se visivelmente no mundo enquanto homem. Jamais esteve totalmente separado dos homens no sentido de os ter abandonado. Os homens é que dele se afastaram um tanto, precisando ser recuperados... Daí ter sofrido e morrido na cruz NÃO PARA PAGAR QUALQUER COISA OU EXPIAR mas para mostrar-se solidário e demonstrar seu imenso amor por todos. Pela manjedoura e pela cruz, de certo modo fomos todos associados e ligados a ele. Tornar essa ligação natural ainda mais íntima e sobretudo CONSCIENTE, tal a função da igreja.

Por fim só se separam da Igreja e de Cristo, aqueles que por livre iniciativa e maldade, repudiam conscientemente a doutrina da Igreja ou sua utilidade formando seitas e produzindo novas doutrinas. Estes são mil vezes piores do que aqueles que repudiam o Cristianismo ou a existência de Deus, pois falsificam o que há de mais puro, imaculado, sagrado e precioso na face da terra: A divina Revelação comunicada por Cristo, obscurecendo o caráter de Deus e subvertendo os fundamentos da Ética, e os elementos do amor, do bem, da justiça, da verdade, da honestidade, da fraternidade, da solidariedade, etc substituindo-os como já dissemos por preconceitos judaicos, mitos, fábulas e vãs moralidade repudiadas pelo próprio Mestre Jesus.

Se Jesus Cristo e seu Evangelho de Amor - em que são apresentadas a paternidade de Deus, sua infinita benevolência e sua compaixão ilimitada - são repudiadas pelos incrédulos, agnósticos, materialistas e ateus é certamente porque a mensagem deste Evangelho foi antes falsificada, adulterada, corrompida, distorcida, empanada e obscurecida pelos maus cristãos i é pelos sectários e judaizantes. Impossível é que qualquer homem repudie ou menospreze o autêntico conteúdo do Evangelho, deixando de reconhecer a sublimidade ímpar de sua ética. Se isto em acontecido é porque alguém distorceu a doutrina, posto que -

"É A ALMA HUMANA NATURALMENTE CRISTÃ." Tertuliano de Cartago