segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A falácia da opção disciplinar na rede estadual do Estado de S Paulo - Uma reforma catastrófica

Falar sobre o currículo do Ensino é sempre problemático, polêmico, ousado... como que mexer em vespeiro.

Antes de tudo porque a forma do currículo diz respeito a intencionalidade e direção pedagógica, ao tipo de homem e de Sociedade que queremos.

Diante de tais premissas a conclusão salta a vista:

O CURRÍCULO DEVE SER COMUNITARIAMENTE CONSTRUÍDO, NUMA PERSPECTIVA HORIZONTAL OU DEMOCRÁTICA e jamais imposto numa perspectiva vertical ou autoritária.

Decretar um currículo e impo-lo é imprimir orientação, em termos de princípios e valores as gerações futuras. O que não pode ser executado sem a ativa participação dos pais, da família e dos cidadãos.

É algo que deve ser discutido exaustivamente e não arbitrariamente fixado por técnicos de um determinado gabinete.

Numa Sociedade livre a educação não pode mais ser objeto de 'decretos' governamentais!

Simplesmente não pode.

Do contrário como dizer que esta educação é de fato democrática e não autocrática???

No entanto, enquanto escrevemos estas linhas, cogita o sr secretário da educação do estado de S Paulo numa amplas e drástica reforma do ensino, não apenas sem te-la discutido com a Sociedade paulista mas sequer fornecendo a esta Sociedade os detalhes necessários para compreende-la e julga-la!

Tudo quanto sabemos é a nível superficial.

Informações esparsas fornecidas pelos meios de comunicação de massas.

A respeito do projeto em sua integralidade simplesmente nada sabemos. É uma incógnita!

Uma ocultação, uma surpresa, um mistério!

Justamente o que esperamos e desejamos conhecer como cidadão e contribuinte é o teor desta reforma!

Quais seus pressupostos? Sua justificativa??? Seus objetivos??? Seus meios??? Seus referenciais???

Que reforma é esta sr Secretário Herman Voorwald???

O povo quer saber, a sociedade que saber, os cidadãos querem saber! Todos queremos respostas porque reformas educacionais não podem cair de paraquedas ou ser feitas de improviso!

Não ouse dizer vossa Exma que somos esquerdopatas e já estamos prevenidos contra sua reforma!

Nós sequer estamos de acordo com a opinião da Sra Dilma Russef sobre o inchaço curricular do ensino médio.

O que esperamos de ambas as esferas do governo: Estadual e Federal é que tudo quanto diga respeito a educação seja coletivamente discutido, em temos democráticos e não imposto, tendo em vista a afirmação de finalidades políticas ou sociais que não condizem com as nossas ou seja com as da sociedade livre!

Feitas tais ressalvas, ouso ultrapassar o pórtico e entrar no âmago da questão!

Ao que parece, deseja ilmo secretário, conceder aos alunos o privilégio de escolherem eles mesmos as disciplinas que haverão de cursar no primeiro e no segundo ano do E Médio. O que conferiria a um tempo maior autonomia ao discente e mais flexibilidade e consequentemente riqueza ao Currículo.

Educar no entanto não significa abster-se de orientar e de dirigir nossos educandos. Cujas seleções por vezes precisam ser reorientadas e revistas.

Assim esta educação que em nome da democracia e da liberdade ou da autonomia abstem-se de orientar, problematizar, discutir, revelar outras perspectivas, etc parece-me sumamente nefasta.

Por falta de maturidade os jovens recém saídos do E fundamental ainda carecem de vistas suficientemente amplas acerca da complexidade da vida. Neste sentido suas escolhas poderão ser bastante limitadas e desastrosas para eles mesmos.

Incapazes de dialogar com o mundo, que questiona-lo, de exercer um pensamento crítico, de cogitar em transforma-lo; é bastante provável que este jovem apenas se acomode a situações já existentes, limitando-se a buscar sucesso profissional e acima de tudo dinheiro.

Afinal de contas é a única noção de vida que a maioria de nossos jovens tem e eles não conseguem olhar para mais além.... seus horizontes não prolongam-se para muito além da realidade vivida. Por isso desejam ser traficantes, jogadores de futebol, atores ou atrizes globais, etc sempre visando dinheiro, sucesso, fama...

As vezes permitir que os jovens escolham, por exemplo o que estudar é a mais sutil das ciladas, a melhor maneira para restringir seus objetivos e para induzi-los a um conformismo inconsciente.

Claro que os jovens sempre poderiam opinar ou sugerir; não necessariamente definir; isto no entanto após ampla e exaustiva discussão, que lhes apontasse a importância desta ou daquela disciplina para a vida. Sim sr secretário para a vida, para a construção de princípios e valores saudáveis, para a afirmação de uma cultura democrática, para a assunção da dimensão ética da existência. Tendo em vista solidificar ainda mais os fundamentos do humanismo!

Agora sr secretário, nenhuma das metas acima será atingida caso nossos estudantes possam optar por não estudar os componentes humanos deste currículo: História, geografia, Filosofia e Sociologia (lamentavelmente falta aqui a psicologia!).

Não se trata aqui de obter sucesso profissional, dinheiro, lucro ou qualquer outra coisa em termos de cultura material; mas sim de formar um ser humano integralmente. Um ser humano que seja solidário, fraterno, tolerante, amante da paz, entusiasta pela vida, fanático pela liberdade... Um ser como este precisa ser construído sob pena de nosso discurso em torno da ética ficar vazio ou ser hipócrita!

Sem a concorrência dos componentes humanos presentes no currículo nosso projeto de ser humano ético e cidadão ficará eternamente abortada.

Portanto se for feita qualquer reforma curricular, que não atinja os componente humanos, mas apenas os exatos.

Preconceito?

Arbitrariedade???

Presunção?

Não querido leitor, coerência.

Afinal para alguém tornar-se homem em termos de ética e cidadania não é condição necessária conhecer profundamente os altos mistérios da matemática, da física e da química para além do que já se aprendeu no E Fundamental. A construção de uma personalidade profundamente humana não depende da álgebra ou da geometria e menos ainda de fórmulas em torno da velocidade e das substâncias. Isto até pode ser acrescentado no decurso da vida mas não exerce qualquer influência positiva em termos de convivência humana ou ética.

O contrário no entanto não se dá.

Pois tanto o químico, o físico, o biólogo, o arquiteto, o engenheiro, etc precisam ser antes de tudo homens e bons homens. Precisam conhecer a realidade social em que vivem pelo simples fato de não poderem viver fora dela... precisam conhecer o processo histórico pelo simples fato de terem raízes culturais... precisam aprender a refletir sobre a totalidade da existência em termos de universo...

Sem querer menosprezar as ciências exatas, não é o caso; elas tem uma importância relativa muito grande mas não fazem o homem e não lançam raízes no terreno da ética.

Elas podem e devem completar a educação do homem.

As ciências humanas no entanto constituem base fundamental da educação de todos.

Porque falam a nossa essência, a nosso caráter, a nossa condição; porque ampliam nossa visão de mundo projetando-a para além de nosso lugar e de nossos interesses limitados.

Neste sentido, com ou sem a permissão dos estudantes, negar-lhes acesso a tais conteúdos é e será sempre mutilar a educação!

Uma educação integral não se faz sem o concurso da História, da Geografia, da Psicologia, da Sociologia e da Filosofia. São elas que mostram-nos o que é comum e o que pode identificar-nos: o tempo, o espaço, a mente, o raciocínio, a convivência... e isto sem dúvida é muito mais importante do que quaisquer operações matemáticas ou tabela de elementos! Porque esta posto em relação ao que há de mais íntimo em nós, possibilitando a construção e afirmação de princípios e valores humanos.

Não é estudando matemática, física ou química que nossos jovens aprenderão a ser tolerantes! No entanto quanta falta não faz a tolerância nestes tristes tempos em que vivemos???

Mais do que aprender a ler e a calcular o ser humano precisa aprender a estimar e a respeitar o outro. Somente a dimensão das ciências do homem são capazes de apresentar a realidade do outro e suas especificidades!

Como imunizar nossos jovens contra os venenos do economicismo, do fascismo, do nazismo, etc senão por meio de uma séria reflexão em torno das ciências humanas?

Por todos os motivos e muitos outros não se pode nem pensar em restringir ou alienar esta parte do currículo!

Privar o homem desta reflexão é como priva-lo de sua consciência!

Não se trata aqui de uma questão de gosto ou de opção, mas de necessidade em termos absolutos.

Não podemos mais brincar de ética.

Discursar pomposamente em torno dela e drenar suas fontes!

Nem posso imaginar qualquer limitação e alienação em termos de ciências biológicas.

Pois serviria de expediente para contemplar os caprichos dos sectários religiosos e fundamentalistas e servir de respaldo a animosidade que nutrem não só para com o mecanismo de evolução biológica, mas para com todo ritmo natural e comum típico da natureza.

Teríamos aqui uma anti educação destinada a fortalecer preconceitos de matriz mágico fetichista. O que nos levaria a uma dupla educação e a mais uma oposição bastante séria em termos de cultura e Sociedade como jamais tivemos neste pais uma vez que superstição criacionista é elemento importado, trazido de outra cultura...

Nem poderá haver espírito científico e cultura naturalista sem que um sólido conhecimento biológico seja propiciado a estes jovens.

Agora se o jovem deseja seguir uma carreira voltada para as artes ou as humanidades; aqui podemos e até devemos realizar uma boa reforma desobrigando-o de cursar integralmente as disciplinas de matemática, química ou física, cujos conhecimentos específicos falta alguma lhe farão.

É em torno destas disciplinas exatas que se deve facultar a escolha por parte daqueles cujos espíritos propendem ao cultivo das humanidades e ou das artes.

Não em torno dos conhecimentos humanos e biológicos uma vez que todos somos humanos e animais. Nem todos no entanto desejarão ser arquitetos, engenheiros, químicos, médicos, matemáticos, etc

Concluo esta minha análise vaticinando que uma reforma mal feita neste sentido poderá ter consequência sociais bastante desastrosas como a afirmação da cultura de morte e seus principiais elementos quais sejam: comunismo, nazismo, fascismo, individualismo, etc sem falarmos nos fundamentalismos religiosos.

É necessário fornecer a nossos jovens aparato crítico reflexivo face as estes venenos ideológicos ou imuniza-los mentalmente e somente as ciências humanas e biológicas são capazes de prover esta demanda social.

Diante disto solicitamos aos pais, professores, gestores, etc que cobrem transparência ao secretário da educação do estado de São Paulo e seus colaboradores.

Educação, participar é um dever de todos!

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