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domingo, 3 de janeiro de 2010

Isto é uma vergonha!




O jornalista Boris Casoy humilhou uma dupla de garis que desejaram um feliz 2010. Durante o comercial o idiota apresentador não percebeu que o microfone estava aberto e lançou esta pérola: "Que merda... dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho...".

Gostaria de perguntar a esse senhor: lixeiros não são pessoas? Eles não podem desejar felicidades? Isso dá uma ideia de como esse "cidadão" deve tratar seus subalternos. Como diz um ditado popular: "A ocasião faz o ladrão". Eis aí a oportunidade de mostrar o "carinho" que esse homem tem pelo povo brasileiro. Porque ao fazer isso ele não ofendeu só aos dois garis, mas a maior parte da população que é pobre, sofrida e trabalhadora. Essa população que ele ofendeu é a mesma que sempre lhe deu audiência, e eis como ele paga: "Que merda... dois lixeiros desejando felicidades...".

"... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho". O que ele quis dizer com isso? Que os lixeiros são a escória da humanidade. Que seu trabalho é degradante e por consequência essas pessoas são degradadas?

O que quer esse jornalista criar um sistema de castas? Onde ele é o lindo, gostosão e fodástico brâmane e os garis são párias? Sim, porque na Índia quem executa os serviços degradantes são os párias. Segundo Casoy, o trabalho do lixeiro é o mais baixo na escala do trabalho, e no entanto é um dos mais úteis. Porque é graças aos lixeiros que não vivemos em lugares sujos, com maus odores, com ratos e sujeitos as doenças. Que seria do "grande" jornalista se os lixeiros fizessem greve por tempo indeterminado? Recolheria ele os lixos da vizinhança, varreria as ruas e calçadas para que as bocas de lobo não entupissem? Quanto tempo esse senhor aguentaria a viver em meio ao lixo?

Claro que no dia seguinte o jornalista com a consciência pesada fez sua mea-culpa: "Ontem, durante o intervalo do 'Jornal da Band', em um vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis. Por isso, quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do 'Jornal da Band'."


Depois que se inventou a desculpa tudo ficou mais fácil. Você ofende, finge que se arrepende, vai lá e pede desculpa. Você faz as suas merdas, e depois, vai lá e pede desculpa e fica tudo consertado. Que lindo!!! A pior coisa que existe no mundo é esse "desculpismo", é um tal de desculpa pra cá, desculpa pra lá. Desculpas a meu ver não adiantam, desculpas são desculpas esfarrapadas. Por que as pessoas não pensam antes de fazer as suas cagadas?

Esse tipo de desculpa nada mais é do que a hipocrisia manifesta. Se o microfone não tivesse aberto e se ninguém ouvisse as merdas do jornalistazinho Boris Casoy, ele não iria pedir desculpa e nem iria se arrepender do que disse. Mas como todo o Brasil ouviu, e ele não quis passar por vilão, pediu desculpas. Com a desculpa, ele pode cometer outras gafes e pedir desculpas e assim cria-se um círculo vicioso, no qual um erra propositadamente e pede desculpas e outro perdoa. O primeiro comete outro erro e o último perdoa de novo e assim sucessivamente.

Boris Casoy, moralista, homem de bem que sempre critica o governo com sua frasezinha tosca: "Isto é uma vergonha!" Depois dessa, o melhor que o jornalista pode fazer é se olhar no espelho e repetir para sua imagem: "Isto é uma vergonha!".
Se ele tivesse vergonha, pediria demissão no mesmo dia ou assumiria que é preconceituoso e que não gosta de pobres. Seria horrível, seria, mas antes de tudo seria sincero e uma pessoa sincera merece aplausos, mesmo estando no erro. Não se deve aplaudir o erro da pessoa mas sua sinceridade.