sábado, 31 de julho de 2021

Porque não sou um estorvo ao sistema ou porque sobrevivo.






Viver em semelhante conjuntura é deprimente ou até comprometedor por ser, em certa medida e até certo ponto, sinal de criminosa cumplicidade ou ao menos de impotência. 

Se vivo ou sobrevivo em meio a um sistema tão podre é porque até certo ponto devo ser conivente ou ao menos inócuo. Se sou conivente não sei, tenho no entanto a consciência de ser inócuo.

Nem em sonho vivemos num sistema respeitoso face aqueles que o ameaçam. Certamente não vivemos mais os tempos das inquisições papais ou bíblicas (Esta última mais virulenta que a primeira!), romana ou protestante... E tampouco nos achamos no período vitoriano em que os 'dissidentes' culturais eram diagnosticados como loucos e internados em sanatórios ou hospícios. 

Em tempos de direitos humanos e democracia, quando por hora não se pode mais torturar ou matar abertamente só resta mesmo recorrer ao assassinato, e portanto a eliminação categórica dos inimigos. Do que temos inúmeros exemplos: Garcia Moreno, Delmiro Gouveia, Oscar Romero, Chico Mendes, Dorothy Stang, etc A mensagem é de prístina simplicidade: Caso você ameace algum grupo hegemônico prepare-se para morrer. Pois se representa uma ameaça real ao sistema não sobreviverá.

Se passar do discurso as obras e ao exemplo, postando-se intransigentemente ao lado da justiça e denunciado corajosamente as injustiças - Na medida em que representar uma ameaça real ao sistema econômico vigente você terá poucas chances de sobreviver. 

Claro está que um sistema que deseja ser considerado manso ou liberal recorrerá a todos os modos e maneiras possíveis com que neutralizar seus críticos sem derramar sangue. Tal será quase sempre possível, porém nem sempre...

Aos teóricos ou que apreciam sobretudo palavras e discursos vazios bastará ao sistema opor denunciantes contratados. Ficando desmoralizada assim a imensa maioria dos revolucionários - Sejam comunistas ou anarquistas - que pouco se preocupam com a virtude e que tão rapidamente assimilam os métodos maquiavélicos de seus oponentes.

Logo em seguida vem os Cristãos que tem algum conhecimento do Evangelho e que sem ser perfeitos buscam opor-se a iniquidade. Quanto a estes é suficiente que a imprensa ameace denunciar alguns de seus pecados episódicos ou ocasionais, revelando algum caso, algum amante ou ex amante, etc o que equivale a desmoralização... Com isso se cala 99% do clero apostólico, seja romano ou ortodoxo, o qual fica amordaçado, mudo, silencioso e calado, limitando-se a tartamudear indiretas...

Já quanto aos leigos Cristãos de diversas orientações, anglicanos, espíritas, etc, judeus, budistas, teístas humanistas, etc de modo geral é suficiente lançar contra eles a 'mão invisível' i é fechar-lhes todas as portas ou possibilidades honestas, retirar-lhes o emprego e sobretudo ameaçar-lhes a estabilidade econômica, convertendo-os em párias ou mendigos. Isto sem que - Ao menos antes da Internet - pudessem vir a público espernear. O que a esquerda cirandeira reproduz sob o termo 'Cancelamento' ou boicote, já é feito há muito pelo poder econômico estabelecido contra seus críticos ou dissidentes de vária lavra. 

Que a mídia sendo privada ou paga negue a palavra aos Cristãos apostólicos e aos socráticos e mesmo aos socialistas mais intrépidos é fato. Não temos uma imprensa democrática a serviço do bem comum - Já pensou nisso? Temos uma imprensa paga ou privada a serviço de valores econômicos ou do lucro. Como pode haver liberdade de fato ou democracia sem real liberdade de expressão? No entanto a liberdade de expressão continua sendo atribuída apenas aos 'economistas' científicos de Chicago, a certas Xuxas da filosofia e no máximo a padres bailarinos... Quando foi que a Globo ou o SBT deram espaço a qualquer sacerdote papista para divulgar a doutrina social da igreja romana? Quando foi que os grandes canais de Televisão promoveram simpósios ou cursos sobre Sócrates, Aristóteles, Platão, Confúcio, etc??? Jamais...

Os próprios partidos políticos não deixam de funcionar como filtros políticos, como dizia M Nordau, e assim os sindicatos... Bastando para o sistema subornar os dirigentes políticos e sindicais sem Ética ou humanismo. 

Suponhamos no entanto que alguém consiga furar filtro após filtro... Empenhando-se em favor da virtude como um Teori Zavascki. Haverá defeito na turbina e o avião cairá. Para que se evite derramamento de sangue... O sistema está perfeitamente a par do tertulianesco dístico: Sangue de mártir é semente de Cristãos... Sangue de mártir é semente ideológico. Pois não poucos são os que despertam por darem crédito aos que se deixam morrer por suas crenças. Sendo melhor não criar mártires em demasia. 

Todavia se preciso for...

Antes o mártir que o sistema.

Mas professor, por que faz o senhor declarações tão amargas?

Sinto-me impelido após ter lido e relido as vidas de um Buda, de um Confúcio, de um Jesus e sobretudo de um Sócrates, os principais críticos ou reformadores sociais sobre os quais muito sabemos.

Antes de tudo eram tais personagens rigorosamente atidos ao princípio da justiça e refratários a toda sorte de injustiças, partissem elas donde partissem.

Dos dois últimos temos que foram mártires, embora o primeiro tenha morrido com certa de quarenta anos e o segundo com certa de setenta. Quanto aos outros dois, posto que tendo vivido em sociedades não tão corruptas, não chegaram a ser imolados, o que não quer dizer que tiveram uma existência agradável. De fato tanto Confúcio quanto Buda, em certos períodos de suas vidas foram atrozmente perseguidos.

Quanto ao divino Jesus não possuímos reflexões suas sobre o assunto. Temos porém algumas declarações enfáticas:

Se me odiaram odiarão a vós.

Haverão vocês de ser perseguidos.

Bem aventurados quando forem vocês perseguidos por conta da justiça.

...

Há porém no tempo presente milhões ou bilhões de Cristãos formais espalhados pelo mundo que não sofrem qualquer tipo de perseguição, vivendo até muito bem...

De fato, afinal por que perseguiria este mundo do dinheiro os calvinistas que lhe deram a vida ou as emprejas que lhe tomaram o método?

De fato não creio que os poderes deste mundo haveria de perseguir aqueles cristãos nominais que servem ao dinheiro ou ao Estado mas sim aqueles que se recusam servir a Mamon i é ao dinheiro, ao lucro, ao capital... Conforme está escrito: A Deus e ao dinheiro não podeis servir.

De fato não me parece que o Redentor esteja se referindo a essa Cristandade de Liturgia, Missa ou Culto, que se satisfaz com a adoração e sim aos que ultrapassando a adoração (Sem jamais repudia-la.) buscam imitar o Cristo, assimilando seu comportando e regulando a vida pelo Evangelho. A estes que acumulam bens no Reino dos céus e não neste mundo e que odeiam a injustiça, e que não toleram qualquer forma de maldade, e somente a estes persegue o mundo e extermina o sistema sem piedade.

Por isso os mártires foram levados ao suplicio antes de tudo por terem repudiado - Em grande parte ao menos e em que pese Paulo. - a abominação escravista e ao ataque a outros povos. 

Outro o caso de Sócrates porquanto este refletindo sobre sua morte, deu-se conta da situação que envolveu sua existência. Perguntando a si mesmo por que não havia sido morto ha muito tempo atras i e quando mais moco... 

Tenho tal reflexão por atual e crucial.

Sem postular o que hora chamam de revolução, furtou-se Sócrates inclusive ao insercionismo ou seja a participar ativamente da vida politica (Como politico profissional.) no auge da democracia grega. Justificando tal opção e priorizando uma ação politica indireta ou não estrutural por meio de uma formação. Claro está que Sócrates exerceu uma ação politica indireta pelo simples fato de ser educador, não sendo alias pela abstenção dogmática e sectária mas pelo preparo. De fato Sócrates acreditava ser mais importante preparar cidadãos para a democracia do que exerce-la ele mesmo.

E contemplando aquele despreparo categórico, atribuía-o ao fato dos cidadãos dirigentes priorizarem o lucro, dos negócios ou do dinheiro que o auto conhecimento, da formação ética ou a virtude, descuidando inclusive (cf Laquetes) a educação dos filhos... Parece que era já aquela Atenas no seculo V a C proto economicista, como que adiantando-se a seu tempo e antecipando o nosso.

Agora que resultava disto?

Infiltrada a sórdida avareza ou a paixão pelo lucro na estrutura do poder ou na politica uma apenas pode ser a consequência> O florescimento da Injustiça no mais alto grau! Portanto era a monarquia, e era a ditadura, e era a oligarquia, e era a democracia, e era a oclocracia - enfim, cada uma delas - usada com o proposito de cometer crimes e exações... Perdido o conceito de bem comum, modelo politico algum podia salva aquela sociedade, pois o problema não era politico estrutural mas ético. Aquelas pessoas amavam o ouro e odiavam a justiça. Diante disto milagre algum podia ser feito...

A uma maquina diabólica sucedida outra.

E nosso Sócrates ficava sempre alheio, a parte, de fora... E por que?

Vos responderei exatamente como ele -

Por que seu Daimon, seu inconsciente, sua intuição, sua mente, seu guia, seu tutor providencial ou seja la o que fosse advertia-o para que jamais se dedicasse a atividade politica, pois caso contrario, assumindo com intransigência o paradigma da justiça e afrontando os poderosos, os avarentos e os injustos seria logo morto, sequer chegando aos quarenta ou cinquenta anos. Entrando pela senda politica e opondo-se as ilegalidades, crimes, arbitrariedades e injustiças não tardaria a tombar o filho de Fenarete! Todavia era necessário que vivesse ou ao menos que prolongasse sua nobre existência ate os setenta anos de idade, de modo a educar uma multidão de homens, formar uma constelação de cidadãos e garantir uma hoste inumerável de discípulos. Tal sua missão ou vocação atribuída pela Providencia celestial.

Destarte o socratismo prepararia o elemento humano e daria vida a democracia ainda em nossos dias i e vinte e cindo seculos depois. Porquanto a vida esta no ideal e não na estrutura.

Decorre do discurso de Sócrates que aquele tempo o sistema, cooptado por gente vil, ja matava, assassinava e suprimia a vida dos reformadores movidos pelo ideal.

E não havia espaço para críticos capazes de ameaçar a normalidade. 

Sócrates, amigo leitor, e quem pinta este cenário aterrador.

Observem agora como em nossos dias as coisas não fogem a esse padrão. Tendo um bom numero de vereadores, deputados e políticos virtuosos tombado sob cortante aço ou atingidos pela bala por se terem postado contra essa maquina de injustiça, denunciado seus pares e devassado seus crimes. Pois não e hoje este sistema menos feroz do que aquele.

Importa saber que a simples atividade educativa quando bem executada jamais se torna improfícua. Assim se nosso homem, evitando exercer cargos públicos, ultrapassou os sessenta não pode ultrapassar os setenta anos de idade. Pois enfim sua atividade tornou-se ameaçadora e tal foi sua gloria. Foi Sócrates bem sucedido como educador ético porque enfim incomodou o Estado ou a estrutura e tudo quanto ela representa, sendo enfim supliciado. Foi justamente a morte que coroou sua atividade educadora. Pois caso a não representar qualquer risco para o sistema não teria suscitado qualquer forma de repressão.

Por isso para o educador ético, humanista e consciente e dos mais luminosos.

Devendo saber ele que enquanto estiver vivo e seguro não cumpriu com seu dever e nada fez de duradouro. Devendo saber que enquanto não for ameaçado ou sentir-se incomodado não representa perigo algum - Por isso pode o homem falar ou discursas livremente. Pode no entanto ameaçar ou representar qualquer medida de risco livremente? Julgue e responda você mesmo amigo leitor. Pois estamos numa época em que muitos vangloriam-se quanto a audácia de seus discursos ou palavras enquanto comodamente vivem... sem serem molestados pelo poder estabelecido. Por isso me pergunto> Que fazem eles para não serem molestados? Pois vejo que Sócrates e Jesus não morreram confortavelmente em seus leitos.

De modo geral acredito que a vivencia, a vida e o exemplo de algumas pessoas rigorosas e intransigentes face as injustiças e mais ameaçador - Para o poder do dinheiro! - do que certos discursos revolucionários iconoclásticos dos quais muito desconfio. Confio mais no testemunho dado por certos homens e mulheres quando confrontados pelo sistema, assim como quando alguém que exerce autoridade toma coragem e se posta ousadamente em favor da fauna, da flora ou de alguma pessoa injustiçada ou ainda de qualquer grupo humano oprimido, pois estes, sabem que correm risco de morrer.

E uma situação concreta da vida que nos poem em risco quando fazemos a opção correta. 

Sempre podemos fugir e estar durante certo tempo a margem do sistema. Todavia quando estando nele - Em maior ou menor medida - oferecer-mos qualquer risco seremos exterminados ou ameaçados por algum matador profissional, capanga ou justiceiro - Sempre formalmente desvinculado, mas, moralmente vinculado... 

Ha quase trinta anos fui convidado para ser politico profissional ou para exercer ativamente a vida politica, e como sou policrata e não abstenceísta sempre tenho sido inquirido por meus alunos (Ao cabo de quinze anos.) sobre o porque de ainda não me ter candidatado ou disputado eleições quando tenho imensa possibilidade de vir a ganha-las tornando-me vereador e implementando uma pauta verdade ou social... Hoje, por meio desta reflexão dou publica resposta e fundada razão ao interrogantes.

Meio constrangidamente confesso que mesmo não temendo a própria morte temo pela segurança de meus entes queridos, de minha mãe idosa, irmão, animais de estimação... Tal a minha covardia e fonte da restrição. Por isso mesmo quando me excedo, grito, denuncio, etc e sempre como articulista ou escritor, jamais como politico atrelado ao poder. Pois não sei por quanto tempo seria tolerado ou viveria. E certamente encontraria um trágico fim.

Por isso me sinto envergonhado quando me dizem que faco parte dessa coisa chamada opinião publica ou que influencio pessoas. Talvez por meio dessas páginas influencie um ou outro, todavia não um número suficiente de pessoas com que ameaçar a 'desordem estabelecida' ou este sistema iníquo de coisas a que chamam estrutura. Pois caso ameaçasse de fato não seria minha sorte melhor que a de Jesus ou que a de Sócrates. Tendo eles recebido a cruz e a cicuta, escaparia eu - Aluno de ambos! - a bala ou a ponta do gládio? Certamente que não - Pois não pode o aluno estar acima de seus instrutores.

Portanto se vivo estou e porque sou inofensivo, inerte e inútil - E sofro por ter plena consciência disso...

Espero que chegando aos setenta ou oitenta tenha já incomodado suficiente o sistema a ponto de obter o que chamam de martírio - Prêmio com que se coroa uma vida honesta! E que a Providência divina e celestial me predisponha a tanto.





 

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