Drops -
01) Economia?
Face ao mito positivista do progresso ilimitado, já denunciado por A C Grayling como secularização da escatologia Cristã, sou partidário decidido da Economia estacionária. Vivemos num sistema finito, portanto não dá mais para brincar com essa xaropada de desenvolvimento contínuo, nossos recursos são limitados e a reciclagem uma necessidade embora mesmo a reciclagem não passa de um paliativo.
02) Anarco primitivismo?
Sim. Nesta altura do campeonato encaro com franca simpatia este ideal apontado por Nisbet como tributário do Cristianismo antigo, já por via do monaquismo beneditino, já por via do franciscanismo. Precisamos redescobrir nossa relação de dependência face ao mundo natural, restabelecer a comunhão com os demais seres e assumir uma perspectiva holística. Temos que nos redefinir como parte do ecúmeno, recriar as pontes que foram derrubadas, rever nossas necessidades e excluir o quanto não seja essencial. Enquanto vítimas de nosso próprio consumismo temos o direito de questiona-lo.
Para mim, além de Freud, tenho por revolucionário a Scott Nearing, num nível de consciência bem mais profundo que um Blanqui, um Bakhunin, um Lênin ou um Sorel.
Há quase cem anos foi constatado por V G Childe que a evolução social não se faz conforme o esquema linear adotado pelos marxistas 'ortodoxos' comportando crises ou recuos. Quem sabe não chegamos no momento de recusar conscientemente ou de planejar um retorno?
Claro que não estou clamando contra o progresso científico. Creio todavia que deva este ser posto sobre bases humanas e humanistas e não sobre a falsa base da máxima lucratividade.
Sempre que tornarmos ao consumismo irracional, ou ao consumo acelerado tornamos ao vomito. Criamos necessidades artificiais que devem ser revistas e temos de pensar que se cada um dos bilhões de seres humanos aspirarem a acumular o máximo de entidades materiais nosso planeta é que será consumido, nossa casa, nosso lar, nosso espaço.
Temos portanto de moderar o consumo e de limitar o acúmulo com o propósito de salvar o planeta e temos de faze-lo urgentemente, antes que seja demasiado tarde.
Não dá mais para tolerar os caprichos de um sistema econômico individualista, irracional e cego.
Nesse sentido é louvável sim um retorno ao campo, ao padrão agrícola, a uma economia natural, a um padrão de sobriedade... capaz de dizer: Não vou aquecer o mercado, não vou gerar emprego ou renda, não vou comprar isso, não quero aquilo, não preciso disso... Basta! Chega!
03) Tal a solução?
Não. No máximo parte dela ou, creio eu, mero paliativo.
Pois na base de nossos problemas temos um círculo monstruoso: Injustiça social, miséria e angústia a um lado e excesso de população a outro. Precisamos atacar dos dois lados, posto que a miséria parece instigar o instinto da geração. Precisamos tentar atenuar a miserabilidade crônica por meio de investimentos da área da educação, da proteção ao trabalho e da promoção humana. E precisamos, concomitantemente, tentar conter o crescimento da população mundial. Aqui Malthus se faz tão importante quanto Sócrates, Platão e Jesus. Pois qualquer crescimento mínimo quanto a densidade populacional põe em risco nossas conquistas no plano social. Puxa-se de um lado e encolhe-se do outro...
Não basta opor-se aos caprichos do liberalismo econômico, com seu exército de reserva inclusive. Não é suficiente. Pois faz-se mister implementar políticas de controle populacional a nível global, por meio de incentivos inteligentes.
04) Crê o senhor que a solução esteja no Comunismo?
Jamais acreditei no comunismo, mas nos comunistas ou em parte deles. Cuidando que fossem humanistas e assumissem a causa humanista da justiça social.
Sei que há comunistas e anarquistas, assim marxistas, de boa vontade e comprometidos com a Ética da pessoa. Oriundos de outros sistemas valorativos e ignorando a doutrina de Marx tem eles certo sentido humano.
No entanto...
05) No entanto???
No entanto por defeito essencial é o marxismo um sistema materialista, mecanicista e determinista ou como dizem entre eles etapista - O que põe tudo que é humano a perder.
Há marxistas excelentes apesar do marxismo ou do comunismo e são os marxistas levianos ou incoerentes.
Assim que se tornam sérios i é que se põem a ler as obras de Marx e assimilar seu pensamento tornan-se os marxistas insensíveis e cruéis. Pois o ideal metafísico da Revolução acaba substituindo por completo aquele ideal de justiça social ou promoção humana acima citado.
A partir daí passam eles a condenar com inaudita ferocidade todas as formas de reformismo social (As quais tem em conta de socialismos heterodoxos ou utópicos.): Assim o ativismo parlamentar, a formação educativa da consciência...
Pois crendo que a consciência seja absolutamente determinada pelo modo de produção, acreditam que estruturas e homens só serão modificados quando o modo de produção capitalista por transformado pela Revolução proletária. No entanto para que as condições da Revolução sejam dadas é necessário que o modo de produção capitalista se desenvolva livremente e em máximo grau. Portanto, para os comunistas fiéis a Marx, deve o capitalismo ser implantado e desenvolver-se livremente a nível mundial e não ser limitado, contido, precocemente combatido, repudiado, reformado, etc Até que o modo de produção se desenvolva em máximo grau devemos apenas observar ou ficar na expectativa, crentes de que o capitalismo trás em si mesmo, em seu organismo ou em seu bojo os gérmens de sua destruição. É dele, do capitalismo, que partirá sua ruína e a passagem para a redenção cósmica i é para o comunismo.
É portanto o capitalismo passagem, caminho, porta ou via de acesso ao mundo futuro. Fase ou período necessário dentro daquele esquema evolutivo e linear traçado por Marx. Etapa a que não nos podemos furtar... Conter o capitalismo é conter a revolução, e ser reacionário da pior espécie possível.
Daí os maravilhosos comunistas desconfiarem já dos trabalhadores mais humildes i é dos que mais sofrem e dos camponeses, os quais costumam censurar muito frequentemente acusando de imediatismo, na medida em que se preocupam antes de tudo com seus salários e com a condição do trabalho ao invés de pensar na futura Revolução.
E pelo mesmo motivo, surpreendem a muitos, quando se unem aos capitães da indústria e campeões do liberalismo contra os interesses dos trabalhadores e os socialistas parlamentares ou reformistas, implementando a política desumana e cruel do 'Quanto pior melhor' com o objetivo de - Pasme leitor ingênuo - impulsionar ainda mais e tornar ainda mais forte o Capitalismo. Vargas foi inimigo odioso porque sancionou leis de proteção ao trabalho que de algum modo coibiam ou continham o capitalismo. Odiaram-no os liberais, herdeiros da velha política. Mas, odiaram-no acima de tudo os comunistas para os quais o céu ou paraíso comunista dependia antes de tudo do inferno liberal.
De fato todos os analistas marxistas, a começar pelo próprio Marx e sem seguida com Engels e Sorel, supuseram (Demonstrando o quanto eram fracos de espírito e o quanto ignoravam a dinâmica da cultura.) que o parto cósmico aconteceria na Inglaterra, na Alemanha ou nos EUA... Por outro lado não puderam prever que nos países latinos, a partir do liberalismo econômico desbragado, teríamos uma safra de ditaduras... O que foi percebido apenas pelo heterodoxo H J Laski. Surpreendentemente a tal da Revolução acabou vingando num país tão agrário quanto a Rússia, o que fugia por completo as predições e esquema etapista de Marx. Dos problemas planteados por essa estranha Revolução surgiram diversas seitas, correntes e partidos que culminaram em expurgos. Apesar da NEP e dos expurgos conheceu a mesma Revolução significativas idas e vindas, até que por fim tornou ela ao vinagre, após sete décadas de sofrimentos... Outra não foi a sorte das Revoluções Mexicana e Chinesa, igualmente implementadas em países agrários e é claro não protestantes.
Nas sociedades protestantes, por uma questão de cultura, desenvolveram-se as forças capitalistas de produção, e se acaudalaram, e se avolumaram, e engrossaram de um modo tal sem que no entanto sequer manifestassem mínimos sinais de simples insurreição...
Raymond Aron, após ter sido ele mesmo marxista, feito já marxólogo, decifrou por completo o enigma dessa esfinge. Portanto nada devemos esperar do Comunismo, pelo etapismo mecanicista, colaborador servil do capitalismo.
05) E quanto o anarquismo, que pensar?
Antes de tudo jamais devemos dizer anarquismo e sim anarquismoS.
Pois tal e qual o Renascimento, a Reforma protestante, o Liberalismo, a Revolução Francesa, o Socialismo (Aos quais bem cabe um S) temos diversas formas de anarquismo bem distintas.
De fato temos basicamente dois anarquismos:
# O Oriental ou Russo de Tolstoi e Kropotkin, no qual há um elemento humano ou pessoal a par se um elemento estrutural. A partir dessa saudável corrente - Que bem poderia ser chamada de sócio anarquismo, social anarquismo ou mesmo de socialismo anarquista. - foi que parte dos anarquistas passaram a insistir bastante na educação e na formação da consciência e da cultura a par da transformação econômica e política.
# E o ocidental cujas raízes tocam a Godwin e a Stirner e que foi desenvolvido na Europa por Proudhon (Embora Proudhon possa ser classificado como pensador original ou a parte.) e Bakhunin e nos EUA por Tucker e Spooner. Ora esta última corrente embricou com o darwinismo social (Spencer) e com o liberalismo econômico (Bastiat, Molinari, Mises, Rothbard, Friedman, etc) dando origem a ideologia ANCAP, o que já diz tudo. Para nós essa corrente representa um ideal tão sinistro quanto o comunismo. E representa um desenvolvimento natural e orgânico do liberalismo econômico, na medida em que um liberalismo econômico forte tende a descartar a esfera do político sobre a qual até então se apoiará. O reverso desta ideologia é o neo liberalismo irracionalista de Hayek, rebento do velho absolutismo, por meio do qual os reis todo poderosos serviram como capachos a um liberalismo ainda frouxo e temeroso face a Igreja Romana.
Quanto ao anarquismo russo ou oriental, mesmo quando exportado para o ocidente e remodelado, reconhecemos nele diversos valores, assim a superação do materialismo grosseiro, mecanicista, fechado e etapista dos marxistas por um sadio realismo que considera a força do elemento ideal ou imaterial; assim o consequente apelo a formação da consciência, a dinâmica da cultura e a educação, assim um apreço pela estabilidade social e pela paz em maior ou menor nível, assim um vigoroso questionamento face ao mito positivista do progresso incessante, ao progresso tecnológico e ao desenvolvimento econômico, assim o consequente retorno a natureza, a retomada das questões ecológicas... Cada um desses itens corresponde a um valor a ser assumido pelo homem ético do futuro, isto se queremos de fato sobreviver como espécie. Sim, o anarquismo porta em si mesmo certos elementos que são preciosos para todos nós seres humanos. Não Bakhunin com seu pensamento tão raso quanto o de Marx e nem Sorel mas Kropotkin, Tolstoi, Thoureau, Nearing...
06) Portanto não crê no senhor no paradigma da Revolução?
Com e como Bernstein acredito na Evolução e do Evolucionarismo, embora não de maneria simplista ou linear. Não acredito noutro gatilho da cultura além da educação i é de um processo regular de transmissão e reelaboração. Tampouco acredito que um ato de força possa alterar a dinâmica cultura. E menos ainda que as estruturas econômicas um vez alteradas alterem radicalmente a cultura, embora julgue que na atual conjuntura a implementação de reformar econômicas possam beneficiar o processo educativo, bem como as estruturas políticas em termos de qualidade.
07) É o senhor contra Revolucionário?
Sou cético quanto ao sucesso das Revoluções tendo em vista as pretensões dos revolucionários, o que não significa que seja contra revolucionário ao menos no sentido corrente ou vulgar, segundo o qual seja necessário conter as revoluções por meio da força. Sobretudo quando contam com o apoio da população ou das massas sou contra toda e qualquer tentativa de repressão. Toda tentativa de repreensão a uma Revolução feita 'a posteriori' é burra além de potencialmente cruel. Já disse a exaustão e ainda repito: A Revolução, de modo geral, deve ser contida 'a priori' i é em suas causas ou preventivamente por meio de sábias reformas sociais. Por isso falo sempre em profilaxia das Revoluções. O liberalismo econômico no entanto, sendo irracionalista e cego por natureza converte-se em motor natural de tumultos, distúrbios e revoluções.
Salvo algumas possíveis exceções tenho postulado uma neutralidade absoluta por parte dos autênticos Cristãos e dos humanistas, face a quaisquer Revoluções. Como Berdiaeff só posso encara-las como uma Penitência imposta aos Cristãos por sua escandalosa omissão e por seus pecados sociais, frutos dessa vergonhosa mancebia com o liberalismo.
08) Fascismo?
O fascismo tem uma compreensão mais realista sobre a cultura e o passado, todavia, por não saber maneja-la recorre - Exatamente como burgueses e revolucionários - ao padrão da força até chegar ao militarismo, ao autorismo e ao totalitarismo; tal sua grande miséria, chega perto da solução do problema mas não soluciona nada. Alias dependência de Sorel é manifesta: Tanto o carrasco Mussolini quanto o prisioneiro Gramsci eram leitores acríticos de Sorel e nisto iguais a Lênin.
Para além disto a antropologia fascista é a mesma antropologia venenosa do integralismo, tributária do pessimismo agostiniano tal e qual a reforma protestante e o jansenismo, em oposição a certas correntes Dominicanas e a escola Jesuíta, o que é para lamentar-se. Devido a tal antropologia anti natural e maniqueísta (Alias abraçada por Sorel.) desconfiam eles do povo, da sociedade e consequentemente da Democracia julgando que a pessoa deva ser contida por essa igreja secularizada que é o Estado, com sua inquisição secular e autos de fé secularizados.
Enquanto Sócrates fazia uma crítica construtiva não a democracia mas a qualidade dos democratas e a um estruturalismo formal que já se esboçava, os modernos partem para uma crítica ontológica ou essencial cujo fundamento mais remoto é esse tipo de antropologia jamais sancionada mesmo pela Igreja romana com a doutrina da graça forte ou capacitante. O que eu não consigo entender é como a Igreja romana tolera a presença de tais pessoas em seu seio ao invés de remete-las ao luteranismo, ao calvinismo ou ao jansenismo que é o lugar delas. No entanto bem conhecida é a tolerância do romanismo face ao agostinianismo, fonte de todas as nossas tragédias.
A partir de uma petição cega ao padrão da autoridade chegamos pelo militarismo a doutrina perversa da obediência cega, a qual ignorando os preceitos transcendentes da justiça, caí sob as críticas de Sócrates, Platão e Jesus. Pois pouca diferença há entre a doutrina do sacrifício patriótico e as doutrinas da Razão de Estado e da Vontade geral, uma após a outra adversárias do homem e do humano.
Todos esses vícios terríveis se acham presentes nessa cultura de morte.
09) Nazismo?
Abominação da desolação e a mais primitiva das culturas de morte.
10) Democracia?
Não é a democracia que temos a democracia que queremos e tampouco corresponde a nosso modelo grego que era direto mas a um modelo delineado na Inglaterra burguesa por J Locke.
Temos assim uma estrutura formal bastante precária, que corresponde a um esvaziamento, restrição e perda de qualidade por parte do político, como foi observado por Arendt.
Ademais por ter surgido em tais condições e portar defeitos estruturais foi essa forma 'contemporânea' quase que de imediato cooptada pelo liberalismo economia. O que não significa que todas as formas de Estado, compreendido como forma de organização social e política, tenham tido o mesmo destino ao cabo da História.
Agora por serem e terem sido tanto mais permeáveis ao gerenciamento econômico por parte da burguesia, foram as democracias contemporâneas denunciadas com veemência pelo anarquismo, até o iconoclasmo.
Como os comunistas ao fim do curso ordinário das coisas postulam o fim das 'classe' sociais os anarquistas postulam o fim do Estado - Concordaríamos com eles em se tratando do fim da autoridade arbitrária ou abusiva, todavia em se tratando do fim da autoridade em si mesma somos completamente céticos. Para nós ambas as propostas não passam de propostas duvidosas quanto a um futuro incerto. Pois não conhecemos sociedades sem divisão social ou exercício da autoridade.
Não acreditamos portanto na destruição da democracia burguesa ou formal por qualquer tipo de evento cósmico ou revolução, mas em sua transformação por dentro, a partir de reformas políticas que venham a amplia-la cada vez mais até converte-la numa democracia autêntica, popular e direta, conforme o modelo clássico. Julgamos portanto que a democracia burguesa corresponda a uma passagem institucional para a democracia direta. Claro que para não cairmos numa oclocracia ou num domínio das massas, como advertiu Ortega y Gasset, temos de secundar as reformas políticas com um maciço investimento nos domínios da Educação, assim de criar democratas para o exercício da democracia ou ainda de produzir homens e mulheres a altura das instituições. Jamais devemos dar as costas a formação e produção de consciência enquanto transformamos as estruturas, sob pena de tais transformações serem inúteis.
11) Implica portanto uma ruptura com o formalismo/estruturalismo democrático de viés positivista?
Sem dúvida.
Impossível falar em democracia, e aqui partimos da França, sem falar em Liberalismo político, e aqui partimos da Inglaterra.
Democracia sem liberalismo político e Ética é como corpo sem espírito ou alma.
Podendo inclusive, a partir da doutrina da Vontade Geral de Rousseau, converte-se num autoritarismo disfarçado e ainda de assumir uma forma totalitária.
Mesmo sendo direta a democracia continuará pertencendo a esfera do político e portanto a uma esfera por definição, limitada - Posto que pertencente as coisas que são comuns, em oposição ao gênero de coisas que são privadas e que se encontram fora de sua alçada.
Democracia sem liberalismo político torna-se demasiado ampla e indigesta, por ultrapassar seus próprios limites ou suas próprias fronteiras e degenerar. Portanto a primeira baliza conceitual é a do liberalismo econômico.
A segunda é a necessidade de um recheio ou conteúdo Ético portada pelos atores políticos ou pelos democratas. A democracia concede oportunidades políticas a todos. No entanto caso esses todos sejam em sua maior parte canalhas, como estrutura ou forma que é, a democracia não fará milagres. Portanto a par de manter as estruturas democráticas temos também de produzir cidadãos virtuosos ou éticos, comprometidos com princípios e valores humanistas. Sob pena de vermos nossa democracia vir abaixo. A advertência de Sócrates sempre será válida - Democracia para a aristocracia da virtude ou para que os melhores e mais excelentes tenham acesso ao poder.
Caso não cuidemos do homem e de sua formação a democracia não nos salvará. Não nos enganemos, não nos iludamos. Melhor conhecer bem as limitações de nossa democracia para maneja-la com máxima habilidade.
Estruturas não salvam ou salvarão a quem quer que seja, por terem de ser ocupadas por homens dignos. Em não havendo homens dignos tudo estará perdido.
12) E as 'cruzadas' ou expedições democráticas feitas pelos EUA?
Pura e simples continuação do espírito jabobino e revolucionário (Este espécie de ponte entre o primeiro modelo revolucionário, protestante, detectado por Sorel, e as revoluções contemporâneas.).
Para nós é tal prática contraproducente. Posto que cada sociedade ou cultura deve fazer seu próprio caminho. Democracia é algo que deve partir de dentro da própria sociedade como que brotando da consciência e não algo a ser formalmente imposto por um poder externo. Alias nada mais contraditório e anti democrático que impor a democracia... O que chega a ser escandalosamente vergonhoso.
Impossível criar uma vida democrática onde não há espírito democrático.
Alias a grande tragédia da modernidade já foi descrito por um acurado analista J M de Carvalho em termos de inversão. Na medida em que a criação das instituições e estruturas precedeu a formação do homem e a afirmação dos direitos. É isto criar umas casca ou crosta não conteúdo.
Tanto pior quando nos EUA é o ideal democrático sordidamente usado com o objetivo de satisfazer necessidades econômicas, assim de pilhar ou parasitar outros países, o que já foi classificado como pirataria democrática. Nada mais comprometedor para o modelo democrático. Com suas agressões, ataques, invasões, etc os EUA, prestam imenso deserviço a vida e ao espírito democráticos.
13) As guerras?
São justas as guerras quando esforço de defesa contra um Estado ou uma Sociedade agressora.
Já as guerras agressivas ou de conquista são execráveis e deveriam ser rigorosamente proscritas e punidas por um tribunal internacional.
Mesmo o emprego da violência racional e controlada por qualquer sociedade deve ser cuidadosamente ponderada de modo a se evitar possíveis excessos e abusos que porventura tornem ainda mais sofrida a condição do povo, posto que durante as situações de anomia parte dos indivíduos costumam a tirar proveito com o objetivo de praticar crimes, maldades, retaliações, vinganças, etc (Conferir D'Apchon 'O Irenophilo...' o que como disse acima deve ser evitado com máximo rigor.
O próprio Sorel reconheceu que a violência sempre pode sair do controle e o mais que fez foi conjecturar sobre um futuro incerto ou profetizar. De modo que o recurso a força ou a violência deve ser sempre o último a ser empregado, após terem sido esgotadas todas as outras possibilidades face a uma situação de injustiça e crueldade insuportável.
Já disse, somos totalmente contra qualquer tipo de mística criada em torno da violência ou de qualquer entusiasmo face a seu emprego. É a violência semelhante a um veneno ou a uma droga que deva ser manipulada com todo cuidado e empregada meticulosamente.
14) Culturalismo?
Sem dúvida.
É a cultura que faz o homem pois o homem é prisioneiro da cultura.
Uma visão realista de cultura considera tanto o poder da matéria ou da estrutura quanto a força do imaterial, do espírito ou das ideias.
Julgo que tais estâncias sejam quase equivalentes.
15) Quase...
Parece-me inquestionável que a dimensão material exerça imensa influência sobre os seres humanos, cria possibilidades e firma condições. Parece alias que a maior parte dos seres humanos ou as massas ainda se movam apenas nesse nível.
Todavia, apesar disso, parece-me que as transformações, as rupturas, o progresso, o avanço, a mudança, a cultura, etc partam de um princípio dinâmico que é a mente, o pensamento, a criatividade, a racionalidade, a livre iniciativa... Assim ao imaterial, ideal ou espiritual, realidade que julgo ser mais forte e capaz de sobrepor-se a influência da materialidade; ao menos em alguns momentos. Momentos que correspondem as grandes transformações que marcam a História. Quando o meio oferece oportunidades ou condições é o ser humano que tira partido deles para supera-las e superar a si mesmo.
16) Interacionismo...
Inclusive nos domínios da Educação por não ignorarmos o que é dado, e tampouco o fenômeno humano. Pois se admitimos portar um sistema operacional em termos de racionalidade e esquema de linguagem tampouco questionamos o papel do homem como sujeito do conhecimento.
Continua -
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