sexta-feira, 16 de julho de 2021

Nos domínios tenebrosos do 'Evangelistão'

Para aqueles que vivem em S Paulo ou vivenciaram, nos tristes anos 90, a expansão do Tucanistão a nível nacional, era difícil ou mesmo impossível conceber algo pior, embora eu mesmo, como ex protestante, sempre tivesse em mira, quiçá intuitivamente, essa possibilidade.

Mesmo porque o Brasil é exemplo universal quanto a possibilidade do ruim tornar-se ainda pior, e do pior agravar-se.

De modo que ao tucanistão e a lulopetismo (Cujas virtudes e defeitos não ignoramos.), de carona num vergonhoso golpe, chegamos ao evangelistão bolsonarico em que uma cáfila de pastores oportunistas, não apenas tomam de assalto o Estado e a administração pública como tem o desplante de querer controlar as vidas dos cidadãos, de restringir suas liberdades, de domina-los e de querer impor-lhes a moda bíblia - Não o Evangelho de Cristo é claro, mas o antigo testamento, com seu padrão voluntarista e odinista.

Hoje por sinal, tendo meu irmão ido ao médico e encontrado um amigo comum (Alias ex protestante como eu.), este enojado teria dito a meu irmão, algo que costumo repetir frequentemente: Este governo mesmo sendo formalmente democrático, consegue ser pior, repito consegue ser pior, do que a ditadura militar.

Pois se a ditadura torturou apenas alguns milhares de cidadãos este governo apoiado pelos falsos cristãos fundamentalistas, tem torturado indiretamente dezenas e dezena de milhões por meio da inabilidade, da miséria, violência, da ignorância, da negação de direitos, etc É todo um povo ou melhor uma nação sendo indiretamente torturada, inclusive em sua alma.

E se o FHC ocupava o primeiro lugar entre nossos piores presidentes é isto coisa do passado. Impensável a cerca de cinco anos, porém, atualmente inequívoco. 

Jamais enfrentou nosso país algo ou alguma coisa semelhante a Bolsonaro ou ao Bolsonarismo. Coisa muito próxima não de um Mussolini - Sinto desapontar a esquerda desmiolada! - mas de um Hitler (Temos de ser precisos, exatos e taxativos!), de um Calvino, de Bush, de um Trump... Pois o modelo de Bolsonaro, se é que modelo tem, não esta na Itália ou nas obras de um Mussolini, mas nos EUA, nas obras dos pastores e remotamente dos economistas liberais de Chicago. Não Roma, mas Chicago. Não Europa ou Itália mas América do Norte.

Daí o empenho de crentes e fanáticos, os quais, novidade não é, há muito que acalentavam conquistar antes de tudo culturalmente esta infeliz república para em seguida converte-la numa nova Genebra, ou conquista-la politicamente e valer-se da força com objetivo de estabelecer leis bíblicas ou melhor vetero testamentárias sacadas a Torá.

É plano antigo que os calvinistas, comunicado de geração após geração e transplantado de espaço em espaço desde Genebra, implantar um reino sectário e judaizante sobre a face da terra. E já traçamos com detalhes o roteiro desse plano, de Genebra ao Brasil passando pela Inglaterra e pelos EUA, lugares onde sucessivamente abortou. Fato é no entanto que não são somente os sunitas lá do Oriente médio que com sua sharia se opõem as instituições politicamente liberais, democráticas e laicistas, quiçá estimulados ainda mais pela opressão e pela miséria. Não - Pois há também nos EUA, a mais prospera e poderosa nação do planeta, e mais precisamente no Sul, há milhões de sectários bíblicos, fundamentalistas e fanáticos que odeiam tais instituições e quiçá com maior intensidade.

Afinal a cepa dos calvinistas, deterministas e adversários da liberdade, muito agradaria usar todo esse poder temporal e político com o objetivo de impor o biblismo a ferro e fogo, quiçá as nações romanistas e Ortodoxas. O que já se empenharam em fazer durante todo século XVI e parte do século XVII. A bem da verdade mesmo os não calvinistas Muntzer e Zwinglio, partindo do antigo testamento, aduziram a legitimidade de levar o novo evangelho a ferro e fogo, lavando a terra com sangue. Forjando assim uma jihad 'cristã' semelhante a de Maomé, e um dos homens mais sábios que caminhou sobre a terra Guilherme Postel - Avançando no terreno futuro da Sociologia Religiosa - julgava que os reformadores teriam lido o Corão em lugar do Evangelho... No entanto o que eles leram foi mesmo a Torá ou antigo testamento, em parte por descuido e parte da Igreja Antiga.

Claro que nas atuais condições uma tal ação seria impossível. Mesmo considerando que os fanáticos sejam irracionalistas. Damos no entanto uma tal manobra política calvinista como altamente improvável. Já outra coisa seria escorar-se sutilmente no poder do Estado Yankee, auferindo recursos e regalias diplomáticas em favor da fé, tal e qual sucede hoje no Brasil, quando aos pastores parasitas se concede passaporte diplomático ou o uso de aviões presidenciais, ou quando uma seita convoca o governo a defender seus direitos noutro pais, donde seus representantes foram defenestrados sob a pecha de avareza... 

Lá no entanto, onde o espírito democrático é bem mais forte, o máximo que esses vampiros lograram obter foi essa sutil mancebia sob os governos Bush e Trump, os mais lesivos e sinistros do ponto de vista da política internacional e autênticas calamidades. Com o Trump, o mais imbecil entre eles, concebeu-se lá o inconcebível i é uma tentativa de sedição, certamente apoiada por tais grupos, a qual felizmente foi esmagada sem piedade ou contemplação pelos militares. Inda quando o golpista do Norte, conta-se com a solidariedade de alguns zumbis no próprio parlamento, uma vez que nem todos os teocráticos por lá são abstenceístas, e parte deles também cogita destruir a democracia e construir uma democracia por dentro i é com a ajuda de demagogos fundamentalistas eleitos por eles. 

Tanto lá como aqui a democracia precisa criar mecanismos com que proteger-se da infiltração dos militares e dos pastores seus principais adversários. Quanto aos militares porque não devem em hipótese alguma transmitir ideologias partidárias ou sectárias na caserna, a qual cabe defender o país como um todo e suas instituições. Quanto aos pastores porque não devem tirar proveito do poder espiritual para, a partir dele conquistar o poder temporal ou político. Uma vez que não sabem ou se recusam a raciocinar em fora da bíblia ou em termos comuns, e buscam impor suas crenças, tomadas a bíblia, a todo corpo social, compreendendo séria ameaça ao laicismo e evidentemente ao liberalismo religioso que é um dos pilares da ordem democrática.

Importa dizer que as aspirações desse grupo é tanto mais humilde e realista embora não menos perigosa, consistindo em apossar-se do Estado com o objetivo de impor leis bíblicas ou judaizantes, i é moralidades 'reveladas' ou 'cristãs' ou de impedir o avanço de leis e pautas que consideram anti bíblicas, tendo em vista manter invulneráveis determinados preconceitos presentes em nossa cultura. Tal o objetivo da política protestante ou bíblica aqui representada pela perversa bancada evangélica e como vemos é anti naturalista e consequentemente anti democrática. Por menos nossos ancestrais causaram grande danos ao papado no século XIX, embora o papado honestamente revindicasse para si um padrão de autoridade, que o protestantismo, pautado no exame individual e livre, não pode revindicar sem que lhe caiba a pecha de hipócrita.

Foi desse empenho teocrático que surgiu a dita bancada evanjéguica no final do passado século, não com o junto objetivo de defender igrejas porventura perseguidas e sim com premeditado objetivo de tomar posse do poder em benefício próprio i é com o propósito de manter ou se possível de aumentar seus privilégios, até suportar essa política puritana e firmar leis bíblicas inspiradas na fé. 

Claro que tudo isto vai muito mal com as instituições liberais e democráticas assentes em nossa Magna Lei que é a Constituição.

Por isso esses homens ambiciosos e arrogantes não tardaram em editar um lema essencialmente virulento: Bíblia sim, Constituição não.

Posto que o Velho testamento individualmente interpretado sanciona os mais deploráveis crimes condenados pela Constituição como o assassinato em nome de Deus acompanhado pela tortura e pelo estupro inclusive. Admitida tal aberração as wiccanistas teriam de arder em nossos jardins, uma vez que a Torá determina que as bruxas sejam queimadas... a partir daí iriamos de abismo em abismo, até os cientistas e as pessoas civilizadas, adeptas do evolucionismo biológico serem decapitadas ou enforcadas por heresia no tribunal dos fanáticos. Basta lembrar que lá no EUA houve um processo Scopes em pleno século XX. Já me referi a oposição suscitada contra Copérnico por Lutero, a questão da circulação do sangue na condenação de Servet, a condenação de Celsius pelos luteranos no século XVII, a condenação da vacina pelos pastores, a oposição por parte dos mesmos ao para raios de Franklin,  a destruição do laboratório de J Prestley pelos sectários no final do século XVIII, etc tudo tudo feito em nome da bíblia ou da leitura da bíblia. Apegue-mo-nos pois a Constituição, coração da vida democrática, a qual felizmente conhece limites, pois a bíblia não o conhece e tampouco seus leitores exaltados.

Com o dizer bíblia designam a bem da verdade seu leitor, i é o pastor que lhe dá sentido e santifica ou diviniza suas opiniões colocando-se acima da lei e exercendo autoridade arbitrária. O Resultado de toda essa treva de bíblia e livre exame sim, sem a existência de uma lei constitucional, temos no horrendo julgamento das 'bruxas' de Salém... 

Caso queiramos evitar que tais cenas se repitam no tempo futuro temos de afastar ou melhor de preservar o poder político de quaisquer injunções advindas da bíblia, do corão, do avesta ou de quaisquer livros religiosos. É o elemento comum da razão que deve gerir o Estado ou o poder político com exclusividade. Como ex protestante direi que  maior parte dos protestantes, fixados não no Evangelho mas no antigo testamento, não assimilaram este padrão de pensamento ou introjetaram o espírito democrático, do que tiram proveito os pastores inescrupulosos. 

Agora essa manobra ou conjuração teocrática cerra fileiras com Bolsonaro e chega a ameaçar o STF, o qual apesar de seus erros e senões (Pois não pretende ser tribunal infalível que infalivelmente queima inocentes em nome de Deus.) é custodiário de nossa Lei maior, a Constituição, suprema garantia de nossas liberdades e direitos essenciais. Por isso dar combate ao STF, face as ações arbitrárias desse governo desumano e cruel, equivale a gritar: Bíblia sim, Constituição não.

E como não pode a Hidra bolsonarista atingir o STF por fora i é por meio da sedição, devido ao amor que alguns dos cidadãos ainda tributam a vida democrática e suas instituições, optou o déspota atacar o STF por dentro lá lançado um cavalo de Tróia ou comprometendo-se com seus apoiantes fundamentalistas a indicar a próxima vaga que porventura surgisse no STF um cidadão 'Terrivelmente evangélico' ou melhor dizendo um cidadão terrivelmente bíblico, fundamentalista, fanático, sectário, protestante...  Agora veja o leitor amigo onde chegamos com essa política bolsonarista, que concede a todo instante algum benefício aos fanáticos. Em que pese também terem votado nele certo número de ateus, irreligiosos, papistas, ortodoxos, espíritas... Incoerentes, desorientados e alienados, que agora se limitam a fazer discreto 'Mea culpa' enquanto que o poder é entregue aos pastores e seus lacaios.

São diversos ministros pastores como o Milton, a famigerada Damares, etc E agora é um pastor, cuja visão de mundo está fixada na bíblia ou no antigo testamento, o sr André Gonçalves, indicado para aquela vaga... Pelo simples fato de ser protestante ou terrivelmente 'evangélico', sendo sua indicação impulsionada por um elemento credal, o que é inadmissível na perspectiva da laicidade. Não se indica ou se deve indicar alguém para tornar-se titular de qualquer cargo público com base em suas convicções pessoais ou crenças religiosas. Tal postura é inconcebível por parte de um agente democrático. 

É, fazer distinção religiosa colocar um cidadão acima dos demais por ser afiliado a determinada crença. É exercer discriminação e rebaixar todos os outros cidadãos da república. É violar o princípio da isonomia assente na Constituição e humilhar os demais serventuários da lei. Pior, muito pior, é privilegiar um credo ou uma fé com objetivos demagógicos ou eleitoreiros. É usar cargos e dignidades públicas destinadas a servir a democracia como vil moeda com que comprar o apoio de fanáticos sediciosos. 

Isto no mesmo momento em que outro pastor amancebado com esse governo, um certo pastor Hamilton, envolve-se - Como para nos era de se esperar haja visto que outro pastor politiqueiro, o Everaldo, já se encontra atrás das grades, fazendo companhia ao pastor Cunha, outro corrupto! - em grave escândalo relacionado com a vacina! E enquanto diversos pastores fanáticos pelejam em favor do coronavírus, fazendo com que os índios não se vacinem... Desde a conspiração da vacina, contra Jenner, no século XVIII,  a coisa não evoluiu muito, tornando esses diletantes a afirmar que brotarão chifres nas cabeças dos imunizados, ou que receberão um chip ou ainda que serão transformados em gays - No passado eram lobisomens rsrsrsrs

Lamento a rude franqueza mas é coisa que não se vê no papismo e na Ortodoxia 'idólatras', no espiritismo, no judaísmo, do budismo, do ateísmo, do materialismo, etc mas somente na excelente religião bíblica dos salvos, eleitos e predestinados.

Tristemente havíamos já deparado com tais situações nocivas durante o inicio da pandemia com pastores e fanáticos cuspindo em enfermeiras, espalhando o vírus em seus cultos, recusando-se a usar máscaras ou a ficar em suas casas, etc alguns inclusive participando ativamente de marchas bolsonáricas e chegando a agredir profissionais da saúde... Tudo isto esse bando de fanáticos fez e continua a fazer neste pais, sendo agora brindados a guiza de recompensa com um provável ministro no STF, destinado a sabotar ou a tentar sabotar nossas liberdades, garantias e direitos, e o cúmulo dessa comédia pastelão será ve-lo querer introduzir orações, cultos ou mesmo pregações no recinto do STF durante as sessões!!! A menos que aspire o homem de deus exorcizar seus pares fiéis ao espírito democrático.

Lamento ali não estar, como ministro, no recinto do STF para, no espírito de um Rui Barbosa, de um Teixeira de Freitas, de um Pontes de Miranda, de um Evaristo de Moraes... mandar o pastor calar a boca caso ousa-se recitar orações durante as plenárias da casa. Pa e Pum eu o mandaria tartamudear suas orações em Meca ou em Riad...

No entanto é isto que cogita o Emir ou o Ulemá do Planalto, atingir ou humilhar, de algum modo os honoráveis paladinos da democracia.

Tais as condições da nossa República nas garras desses ciclopes insaciáveis a que chamam pastores. Finado Tucanistão que transformou-se em Evangelistão, realizando um único milagre: Conseguir ser pior... e fazer-nos ter saudades do FHC. Tristes tempos em que o Hitler dos trópicos converte nossos piores vilões - Como o Dória, o Alexandre de Morais, o Gilmar Mendes, o Renan, etc - em heróis...  Resta-nos apenas dizer: "Oh tempora, oh mores!" e pugnar heroicamente por esta ordem democrática que é o supremo bem da nação.



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