quarta-feira, 14 de julho de 2021

Revolução, violência, razão e Cristianismo.

Poucos temas há, tão polêmicos quanto o tema da violência.

Tema em que se vai da rejeição absoluta ou do pacifismo crasso a aceitação absoluta assim ao odinismo, entre os quais há toda uma série de gradações.

No Evangelho damos ora com Jesus Cristo mandando Pedro embainhar sua espada ora com o próprio Jesus expulsando os fariseus do tempo com um chicote. 

Textos que tem dado o que falar e sido empregados por pacifistas como Tolstoi e por odinistas como Sorel.

De modo geral a Igreja Antiga ou dos padres, ao menos no plano da fé, repudiou decididamente o apoio da força ou da violência. Outro o caso das relações pessoais, onde predominou igualmente o pacifismo, alias crasso. E por fim outro o caso das relações sociais, havendo cristãos pacifistas, cristãos revolucionários e cristãos equilibrados ou partidários do emprego a violência circunstancial ou contida.

Agora por que o mesmo Jesus que empunha o chicote aqui repreende Pedro acolá, mormente quando ele Pedro exercita a defesa enquanto que ele Jesus ataca?

Há quem diga, equivocadamente, que Jesus aqui procede como Deus enquanto que Pedro ali procede como mero homem. Não aprecio todavia esse tipo de interpretação, a qual me sabe a monofisita. Evidentemente que quando perdoa Jesus os pecadores sabemos que tal ação tem seu motor primário na natureza eterna e divina. Agora quando exerce certa violência ou força contra os mercadores sacrílegos não temos como saber com exatidão qual seja o motor primário ou mais remoto de tal atitude. 

Direi então que o motor mais provável dessa ação Cristológica executada pela natureza humana seja a natureza divina, embora não possamos demonstra-la. 

Todavia meu ponto de vista e bem outro e consiste em distinguir que faz Jesus do que faz Pedro. Pois Pedro empunha uma espada que fere e mata. Enquanto Jesus emprega um feixe de cordas (Ev de João 2,15).

Insistirei resolutamente quanto a esta distinção, a ponto de apresenta-la como fundamental: Pedro não empunha um feixe de cordas e Jesus não utiliza uma espada. Pois os partidários de que a violência é sancionada por Deus quanto as coisas profanas costumam alegar que dá no mesmo Jesus ter empregado uma feixe de cordas ou chicote, uma espada, uma lança, uma metralhadora ou uma bomba. Advirto porém que o texto em questão não diz respeito ao emprego da violência no plano social, e sim ao suposto emprego da violência no plano religioso ou da fé, o que acaba por chocar-se contra o conjunto dos ensinamentos de Jesus. O qual a um tempo condenou radicalmente o emprego da violência no plano do ideal e a outro jamais imiscuiu-se em questões formais de sociologia ou política, as quais são indiferentes ao Evangelho.

Ora, justamente por tal narrativa estar vinculada a piedade religiosa não cabe recurso a violência ou mesmo a força. 

Segundo a narrativa sumária de S Mateus Jesus expulsou ou teria expulsado os vendedores, derrubando suas mesas e cadeiras. Agora como fez isto? Onde Mateus silencia S João completa: Valeu-se dum feixe de cordas a guiza de chicote. Donde concluem alguns que teria batido nos cambistas. A narrativa todavia indica que com o chicote espantou os animais que ali se achavam. De que resultou terem as mesas, cadeiras e moedas caído pelo chão (Outras foram derrubadas pelo próprio Jesus) e a fuga de ao menos alguns mercadores devido a surpresa e ao pavor, afinal aquele tipo de ataque era algo atípico e inesperado. 

Teria o Senhor ao menos batido nos animais que ali se achavam com o objetivo de espanta-los?

Também isto tenho por demasiado improvável.

É coisa a respeito de que a letra do Evangelho igualmente silencia e o Redentor sempre poderia ter feito girar e zunir aquele chicote com cordas, bem como bater com ele no chão e nas mesas e cadeiras para assustar os animais po-los em fuga e causar todo aquele tumulto assombroso.

Nada no Evangelho impõem a crença ou ensinamento de que chicoteou Jesus os pobres animais e menos ainda que tenha surrado a sacerdotes e cambistas, e isto sempre será ultrapassar a letra, profanar a divina Revelação e simplificar as coisas.

Nem pode aquilo que sequer se equipara a um chicote ser equiparado a lanças, espadas, machados, revólveres, metralhas e bombas... E apenas alguns cérebros doentios poderiam concebe-lo. Ademais o quanto teríamos aqui seria a aprovação quanto ao emprego da violência no âmbito da fé ou da religião. Sendo assim por que os primeiros Cristãos não partiram para o ataque e conquistaram o império romano recorrendo a guerra e a espada? Deixando-se inclusive condenar injustamente sem esboçar resistência? Acaso não compreenderam o sentido 'oculto' do Evangelho?

Admitia essa versão nada teríamos em Jesus além de um outro Moisés ou Maomé, alias, neste caso Zwinglio e Calvino o teriam compreendido melhor do que quaisquer outros. Tal a versão odinista do Jesus fascista e do Jesus fascista uma vez que os Comunistas ao menos não se importam com ele a ponto de distorcer seu caráter e ensinamentos.

Implica essa constatação admitir que o emprego da violência quanto as relações sociais e políticas não é norteado pela Lei religiosa e ética de Jesus Cristo - A qual obviamente remove-o das relações ou do convívio pessoal. - mas pela experiencialidade e sobretudo pela reflexão. 

Apesar disso há algo desse espírito evangélico que se estande remotamente as relações sociais, como que a guiza de inspiração. Trata-se aqui da condenação do primeiro motor do odinismo ou daqueles que estimulam a agressividade e a conquista associadas a violência. Então a violência para ser lícita deve romper com o paradigma anti Cristão da belicosidade ou da conquista. E circunscrever-se a esfera da defesa. O uso político e social da violência na perspectiva Cristã estará sempre a serviço da defesa, jamais da agressão ou da conquista.

Não pode portanto a violência, no sentido Cristão, servir ao assim chamado imperialismo seja qual for ele.

Tal a única baliza ou exigência ética.

Para além disto temos de conceder que é a violência um fenômeno tão instrumental quanto a estrutura política formal de nossa democracia. O qual por isso mesmo deve servir a algum propósito ideal ou ético. Quero dizer que a violência não pode ser avaliada em si mesma como algo bom (Como fazem os odinistas) ou mau (Como faz o pacifismo crasso.) mas sim quanto a seu fim ou objetivo. Então a pergunta a ser feita é se esse fenômeno pode estar a serviço de algo digno como o bem, a justiça ou a virtude, ainda que circunstancialmente.

Pois não pensamos como os revolucionários i é em acionar qualquer gatilho social por meio dela e assim criar novo homem ou nova humanidade. Eis o que não se pode ou deve esperar da violência, engendrando veleidades místicas. Podemos dizer sim a violência, mas não a sua mística. Não posso ver como a violência em si mesma ou mesmo enquanto meio possa entusiasmar o homem reflexivo.

Nem entusiasmar nem demonizar mas apenas avaliar até que medida podemos usa-la vinculando-a a uma boa causa.

Claro que ao utilizarmos a violência em benefício das crianças, dos idosos, das mulheres, dos deficientes, dos injustiçados, da natureza, etc estaremos fazendo um bom uso dela. 

Importa saber que a violência precisa ser administrada pela razão e assim sempre planejada, contida, limitada, etc 

Nem podemos conceber (Ao modo dos odinistas) a violência ou a força física como as diversas culturas de morte afirmam o mercado, a fé, a política, a ciência, etc i é como algo fora do controle da ética ou acima dela. Simples assim: A estância da Ética deve predominar em todos os setores da existência humana. Daí não estarmos de acordo com um uso irracionalista, cego ou voluntarista da violência.

Ao contrário dos Revolucionários, que imaginam a violência como gatilho ou motor primário da mudança, o quanto pretendemos é usa-la em algumas situações sociais circunstanciais, apenas com o objetivo de substituir umas pessoas por outras, assim as más, egoístas e injustas por outras que sejam éticas e tanto mais dignas. Não pretendemos tocar as estruturas, crendo que tenham elas seu fluxo, e que virão a ser alteradas pelas pessoas dignas e conscientes através dos meios educativos, políticos e sociais. Nós acreditamos na evolução orgânica das estruturas ou em sua transformação interna através do acúmulo de reformas acionadas pela formação ética dos cidadãos. É coisa de cultura não de murros, pontapés e bombas.

É por isso mesmo que não atribuímos as situações de violências, guerras, batalhas e conflitos a solução de todos os nossos problemas. Pois de fato nada resolverão. Limitando-se a criar novas possibilidades de ação, conforme delas resulte a troca dos quadros. É recurso destinado a arejar as estruturas e não passe de mágica que as altere radicalmente e a partir delas a sociedade como um todo. Toda essa mecânica social imaginada pelos metafísicos anarquistas, comunistas, nazistas, fascistas, etc é furada e assim as idéias de revolução e contra revolução.

Continua











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