quarta-feira, 7 de julho de 2021

Pontuando a questão do veganismo/vegetarianismo e seus custos - Uma análise realista.


Após ter escrito um artigo bastante realista sobre o crescimento da população humana e suas fontes de alimentação, aspecto que apresentamos como irrelevante ou supérfluo caso o primeiro aspecto não seja devidamente considerado, deflagramos uma polêmica com aqueles que encaram a questão das fontes alimentícias como crucial, i é, com os veganos e vegetarianos. 


Por isso quero dizer antes de tudo que admiro sinceramente a postura assumida por vegetarianos e veganos, embora não seja eu vegetariano 'ortodoxo' mas, ousaria dizer, um semi vegetariano ou alguém que se recusa a comer carne vermelha, ou alimentar-se da carne de outros mamíferos, os quais não apenas sabem o que são, como pensam e amam. Posto está que minhas considerações anti carnívoras aplicam-se no máximo as aves, pois são de ordem ética e não dietética. 

De fato, por questão de consciência, como Einstein, não me sinto confortável ingerindo a carne de seres que sentem dor ou que são auto conscientes, mesmo que, por hipótese, não sejam inteligentes ou aptos para exercer a afetividade. Parece-me que a maior parte dos peixes, moluscos e crustáceos sejam insensíveis a dor e desprovidos de auto consciência, de modo que não vejo qualquer problema alimentar-se deles. A deliberação no entanto fica sendo provisória, pois a ciência segue pesquisando a respeito e, verificadas tais capacidades nos peixes, moluscos e crustáceos, julgo que nos devamos abster de consumi-los assumindo o vegetarianismo pleno ou 'ortodoxo'. 

Ao semi vegetarianismo, que excluí no máximo a totalidade das carne vermelha e da carne das aves chamo 'dieta ética'. E temos aqui nossa primeira polêmica face a vegetarianos e veganos exaltados, cuja argumentação nem sempre é honesta, por ser dietética. Já dissemos e ora repetimos, não nos abstemos do consumo de tais carnes porque prejudicam a saúde - Já o veremos, não prejudicam... mas porque não é justo que seres auto conscientes e sensíveis sejam mortos com o objetivo de satisfazer nosso paladar ou nossas exigências gustativas. É por respeito a vida sensível e auto consciente que condenamos o carnivorismo como forma de assassinato e crime. Não é questão de saúde, mas de Ética.

A questão da carne cujo consumo faz mal não diz respeito a natureza da carne e sim como a carne é por assim dizer criada ou tratada. Não diz respeito a carne em si mesma mas ao tempo, sendo problema do nosso tempo, tal e qual a dos vegetais que fazem mal por estarem contaminados ou envenenados por agrotóxicos. Quanto as carnes temos os hormônios... Consumida dentro de certos limites a carne orgânica não faz mal algum a saúde, sendo fonte abundante de proteínas.

Outro o caso dos limites. 

Claro que o excesso de carnes redundará em malefícios para o organismo, assim o ácido úrico, dentre muitos outros.

Assim o excesso de sal, de açúcar, de pimenta, de farinha, etc

E não há novidade alguma no chiste segundo o qual o excesso de água afoga e mata...

Noticias há de envenenamento por sumo de laranja, sumo de cenoura, prato de alho, etc 

Alimentação ou melhor, saúde, é resultado de uma dieta equilibrada.

Como parte de uma dieta equilibrada é absolutamente falso que o consumo de carne seja prejudicial e não há mínima evidência a respeito.

Portanto o consumo episódico da carne vermelha é no mínimo dieteticamente irrelevante, e a nobre causa do vegetarianismo, do veganismo ou da dieta a que chamamos Ética não precisa de mentiras, truques, boatos, falsas informações ou fake news. Alias o vegetarianismo ou a dieta ética só enobrecerá a humanidade na medida em que cumprir com sua função, que é ética. Não é por força da saúde física que devemos ser vegetarianos, veganos, etc mas por força da consciência, assumindo valores como a justiça, a alteridade, a compaixão, etc 

Cessemos portanto com essas baboseiras, o consumo de carne vermelha não faz mal algum ao corpo mas a alma, a mente, a consciência. 

Profanamos a nós mesmos, a nossa condição racional, ao que temos de melhor ou 'superior' quando ignoramos as exigências da justiça, pautamos nossa conduta pela força e deliberamos com base no paladar ou no sabor. Não há que tapar o sol com a peneira! Filosofar é sondar abismos, buscar pelas causas mais remotas, colocar o dedo no mais fundo da ferida.

Caso não contenhamos a população o vegetarianismo, o veganismo ou a dieta ética não nos salvarão como espécie. Seremos em nossos irmãos irracionalistas, ignorantes ou canalhas (Por convívio ou comunhão!) uns vermes predadores... No entanto, enquanto pessoas, seremos melhores, pois cercados por vermes predadores não agiremos como eles e não seremos vermes predadores - Pois nosso interior ou nossa consciência será diversa.

Não nos enganemos -

Adotar tal tipo de linguagem numa cultura carnívora como a nossa implica não ser aceito ou compreendido ou mesmo despertar rancores. Nossos carnívoros pensam e agem como os canibais de outrora, pois pensam com o ventre e matam e comem porque gostam ou porque é saboroso. Um escritor Cristão do século segundo registrou: "A vontade é irrefutável." e assim o é.

Estamos inseridos numa cultura carnívora, e não temos Jesuítas ou Franciscanos e menos ainda o empenho do Cristianismo, a exceção dos adventistas do sétimo dia, os quais nem por isso deixam de falsear a questão, apelando a argumentos falaciosos de origem dietética.

Mesmo o hinduísmo e o budismo não têm logrado obter resultados numa escala relevante ou majoritária, pois: A vontade é irrefutável...

A dieta ética ou o vegetarianismo só florescerão a sombra da racionalidade ou como disse da Filosofia racional, reflexiva e perene. 

No entanto, há, para além disto, a questão da realidade viva ou dos custos da alimentação.

E sequer é coisa de Marx mas de um Aquino, fiado em um Aristóteles.

Foi Aquino que disse ser enviável dar lições de catecismo a um faminto. Faz-se mister alimenta-lo primeiro ou encher-lhe a barriga.

Assim antes de convencer a maior parte das pessoas sobre a excelência da dieta ética teremos de colocar os alimentos vegetais ou veganos no acesso delas tornando-os mais baratos em comparação com a carne. Pois as pessoas mais humildes sempre levarão o custo dos alimentos.

Enquanto tal não for considerado apenas a classe média ou a alta burguesia se deixarão convencer. Não os operários ou os mais pobres, membros da classe C.

Acabo de receber outro recado indignado de outro vegetariano ou vegano, repetindo que o preço dos alimentos naturais são mais baratos.

Por serem saudáveis deveriam ser orgânicos.

Passe a realidade, seja honesto e observe o valor dos produtos orgânicos em comparação com os não orgânicos, por uma questão de densidade populacional, terra e economia.

No entanto não é apenas o alimento orgânico que é mais custoso, também o natural ou vegetal o é e o demonstrarei.

Fácil, mas cruel e desonesto, é dizer que para ser vegetariano ou vegano basta ir a feira na hora da chepa adquirir uns produtos cheios de agrotóxicos ou restolhos não orgânicos.

Então você pobre - Tenho de enfatizar isto - vai a feira e compra couves, alface, almeirão, chicória, etc cebolinha, salsa, alho, cebola... Batata, cenoura, pimentão, milho, couve flor, brócolis, etc

E temos ai um vegano ou vegetariano feliz!!!

Ora, tudo isto esta totalmente fora da realidade da vida vivida e mais parece coisa de Alice no país das maravilhas, pois não consideramos o acondicionamento, o preparo, o sabor ou o rendimento desses vegetais...

Por isso o vegetarianismo ortodoxo é muito mais realista que o veganismo, por incluir leite e ovos, e derivados na dieta.

Tornarei ao veganismo.

Um maço de brócolis de qualidade, que não seja rastolho, vai por cinco reais, não menos e, devidamente limpo e cozido resultará (Estou aproveitando as folhas!) cerca de três xícaras. Para uma família com ter três pessoas uma xícara ao almoço e outra ao jantar. Então terá de haver feijão, arroz, batata e salada, além dos temperos. 

Para que cada um possa comer prato de brócolis com arroz vai uma três xícaras e portanto uns três maços, os quais se encontrados por cinco reais sairão a quinze reais. A carne moída de segunda sai por dezessete reais o quilo i é sendo apenas dois reais mais cara. No entanto rende mais e demanda menos condimentos. Quero dizer que em termos de rendimentos, condimentos e custos os vegetais mais suculentos e saborosos equivale ao das carnes que estão no acesso das pessoas mais pobres.

Há no entanto muita gente carnívora que sequer consuma um kilo de carne moída se segunda mas apenas cortes de frango ou processados, os quais custam cerca de 12,00 ou até mesmo 10,00 o kilo. De modo que nossos dois maços de brócolis mais uma couve flor com algum alho ou cebola a mais, sairiam bem mais caro ou a cerca de dezesseis reais. 

Pois o povo simples, o operário ou o trabalhador já não consome cortes de carne bovina de primeira há muito tempo e não é sobre esse nicho social que estamos falando, posto que somente uma classe média bem média pode pagar trinta ou quarenta reais por quilo de carne. Pois as cifras de um tal consumo chegariam no mínimo a quinhentos reais ao mês i e a quase metade do salário mínimo. Daí a família do nosso trabalhador passar a coxa e sobrecoxa ou a linguiça, consumindo carne moída de segunda apenas no almoço de Sábado ou Domingo. 

A conclusão é simples e corrobora o que já dissemos: A substituição por alimentos naturais ou veganos com o mesmo rendimento e sabor acabaria saindo mais cara. 

A menos que aquela família passe a consumir apenas os vegetais mais baratos como almeirão, mostarda, chicória, alface i é o que chamam de folhas ou matos. Sabido é que são eles os que rendem menos. Então se tiverem de substituir a carne ou o frango teremos de cozer uns bons cinco ou seis maços de chicória e almeirão... E deitar bastante azeite, alho, cebola, pimenta, curry, paprica, etc para tornar esse mix palatável, uma vez que a maior parte desse vegetais ou não tem gosto ou é amarga. Demandando alias diversas lavagens ou águas além dos temperos. 

Achei nas tabelas de hoje o maço mais barato de almeirão por 2,50 reais. O de chicória mais em conta por 1,50. (Os orgânicos chegam a custar R 4,50 e 3,00 respectivamente, de modo que o valor do cozido abaixo chegaria a R $ 18,00). De modo que gastaríamos neste cozido vegetal cerca de 10,00. Adicionado os temperos que tornam tal ragu palatável teríamos o mesmo preço dos cortes de frango e a diferença aqui é que o frango com fio de azeite, pitada de sal e pimenta e colher de massa de tomate fica já saboroso... e rende.

Outro o caso em que se recomende o consumo de tais verduras em menor quantidade ou sem condimentos. E é aqui que o veganismo se torna sinistro...

Pois os veganos - E eu sou um deles (Consumo muitos produtos veganos.) em sua maior parte ou quase totalidade não passam a chicória, almeirão, alface, etc com água e sal.

Recomendar a população pobre ou trabalhadora que viva de caldo vegetal, sopa ou ragu me parece demasiado cruel.

Não passo por mentiroso ao declarar que em geral veganos e vegetarianos (Frequento restaurantes vegetarianos.) não são monges ou ascetas, ou gente que passa a cozido de chicória, sopa de alface ou salada de almeirão, o quais até comparecem como acompanhamentos em suas refeições. 

Grosso modo nossos veganos consomem umas proteínas de soja, as quais bem temperadas - E os adventistas e Indianos são mestres nisso! - sabem a carne... Alias se a Índia, em que pese a força da fé religiosa, conta com 1/3 de vegetarianos é mais por ser a terra das especiarias, as quais conferem forte sabor a vegetais insonsos ou amargosos - É um tal de sambal (Em geral Oelek), Hung liu, Shoyu, Umami, etc 

Não é por coincidência ou acaso que os orientais comam tudo quanto rasteje sobre a terra ou vague pelas águas do mar, mas por tempero, pois em seus assados, caldos, cozidos, etc vai cravo, noz moscada, canela, algo, cebola, cebolinha, coentro, gengibre, mostarda, açafrão, limão, pimenta, galanga, cidrão, louro, salsa, etc, etc,

É mais ou menos assim que nossos vegetarianos ou veganos tornam palatável a tal proteína de soja, a qual adicionam vinho, algas, cogumelos e nozes, por serem alimentos bastante saborosos.

Lá no Oriente é coisa que se acha no quintal de casa ou no bosque.

Aqui porém é quase tudo importado e caro, desde o tempo dos descobrimentos - Quando já eram empregados com o propósito de disfarçar o sabor da carne ou do pescado podre. 

Por isso entre nós raramente passou o povo simples do alho, da cebola, do sal e da pimenta em módica quantidade, as vezes com um fio de azeite. E é o quanto basta para tornar as carnes palatáveis, mas não os vegetais mais baratos - Como a mostarda, o almeirão, a chicória ou a alface. - e menos ainda a tal proteína de soja.

Daí a tal massa básica, quando saborosa, sair cara, e os derivados ou os produtos substitutivos veganos industrializados - Cozinha, Quibe, Pastel, Bacon, Presunto, Carne, etc - serem sempre custosos e fora do acesso das pessoas comuns que vivem de salário ou das massas. Repare o amigo leitor nas marcas, ingredientes e valores dos produtos veganos vendidos sempre em empórios tradicionais e não poderá deixar de concordar comigo. Conheço muito bem as marcas, empórios e preços porque consumo, pelo simples fato de ser reconhecidamente 'burguês' ou ao menos por levar uma vida burguesa devido a meus rendimentos.

Tais veganos - E continuo me incluindo - complementam os quitutes de soja, castanha, abóbora, jaca, etc com pratos de chia, lentilha (As vezes vermelha.), Grão de bico, favas, feijão branco, etc $$$$ igualmente muito bem condimentados. Comprei ontem o Grão de Bico por 13,00 o Kilo, Feijão de primeira por 12,00, Lentilha por 11,00 (Não a vermelha), etc adicionados os temperos sai quase o preço da carne moída de segunda e ultrapassa sempre o preço dos cortes básicos de frango e dos processados de frango. Dada a substituição preconizada por nossos veganos o pobre pagará mais, e sem aqueles quitutes de veg massa bem temperados. 

Se substituir o pão de trigo pela massa Doza, que e mais nutritiva, terá se substituir trigo por lentilha rsrsrsrsrs

Vamos enfim ao preço da tal proteína de soja: Custa em média 18,00 R $ o quilo, sem considerar é claro os temperos que a tornam palatável, o que elevaria o custo do preparo a uns 21 R $ no mínimo. Com o que se compra um kilo ou um quilo e meio de cortes de frango e uns dois quilos de processados como chiquenitos. 

Diante dos custos como esperar que nossas massas se tornem veganas ou vegetarianas?

Embora se vegetarianas possam consumir ovos e leite, uma vez que também o creme e o queijo, adicionados a inúmeros pratos vegetarianos, não sejam baratos. O ovo no entanto fará alguma diferença nesta balança, embora seu consumo contínuo possa tornar a refeição monótona.

Também há a questão do acondicionamento. Vegetais frescos deterioram muito rapidamente enquanto a carne congelada mantém seu sabor inalterado. Já os vegetais congelados... A tônica é consumir os vegetais sempre frescos, o que demanda ir a feira todos os dias, ou ter quinta ou ainda horta. Quem não percebe as dificuldades de ser vegetariano em ambiente urbano, especialmente entre as pessoas mais simples? De fato é regime alimentar que combina muito melhor com o ambiente agrícola ou campesino, na cidade além de demandar custos demanda tempo. 

Entre nós apenas os aposentados e mais idosos podem ir a feira ou ao mercado diariamente adquirir vegetais frescos. O pai e a mãe trabalhadora não se podem dar a tal luxo. Terão portanto que consumir vegetais congelados, ou de fazer um preparo intensivo durante o fim de semana... Ora este regime sempre onera de algum modo o trabalhador pobre, e nem vem ao caso a alegação segundo a qual tudo quanto é certo implique mais esforço ou trabalho... Justo é, enquanto o tal esforço seja proporcional ou ao menos igual para todos. O burguês no entanto não demanda esforço algum ao consumir s saborosos e caros pratos veganos, ficando onerando apenas uma classe, a dos mais pobre, ou uma categoria: A do trabalhador, o qual já sofre e padece tanto por diversas vias... 

Agora querem tornar sua alimentação mais complicada ou difícil - Posto que não se distribuem marmitas veganas ou cestas básicas veganas né??? Bem na perspectiva do pobre, que ganha menos, é assim que as coisas são. E eu não seria hipócrita a ponto de dizer-lhe: Substitua a carne vermelha por camarão, ameijoa, lula, caracóis, etc a menos que lhe pudesse eu mesmo fornecer-lhe tais insumos!

Absurdo dizer a tais homens e mulheres sofridos: Comei proteína de soja, sambal oelek, veg massa, grão de bico, lentilhas, favas, chia, feijão branco, shimeji, nozes, alfarrobas, etc 

Sabe a rainha Maria Antonieta e a seu '... que comam brioches.' 

E chega a ser desumano um tal idealismo. 

Tudo nesse cardápio fica sendo mais difícil para o pobre: Preço, aquisição, acondicionamento, preparo... 

A conclusão, apesar de desagradável para os idealistas e toda gente que pede sacrifício aos outros, é simples: O Veganismo, o vegetarianismo ou mesmo a dieta ética são impraticáveis em larga escala para as massas ou pessoas comuns, podendo ser sim classificadas como práticas típicas das pessoas remediadas ou burguesas na dependência dos rendimentos e portanto de relações que na maior parte das vezes dizem respeito ao mercado. Por isso não podemos esperar quaisquer soluções sociais em termos de cardápio i é de veganismo ou de vegetarianismo, tendo em vista tais relações. Trata-se no máximo de uma ascensão ou salto de consciência por parte de pessoas instruídas situadas dentro de um determinado nicho econômico. 

O vegetarianismo é certamente uma prática nobre e a dieta ética uma adoção necessária, no entanto nem nelas e menos ainda no veganismo está nossa redenção. Por isso temos de tornar sempre a questão do mercado e finalmente a do crescimento populacional que é a fonte e raiz de todos os nossos males e problemas.


Não ponho fotos e preços dos produtos vegs para não vir a ser processado.








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