sábado, 3 de julho de 2021

Católicos pela democracia e a incredulidade dos integralistas.

Começarei dizendo que os integralistas, com sua ideia fixa de união ou mancebia entre a Igreja e o Estado, enunciam uma igreja frágil e um cristianismo miserando, o que por si só equivale a uma tremenda blasfêmia.

De fato todos os unionistas, integristas, puritanos, etc tendem a admitir que a Igreja de Cristo não se sustenta por si mesma, devendo ser amparada pelo Estado secular. Agostinho, contra os demais padres, aproximou-se desta solução e disto - Paradoxalmente - resultou o que há de pior na igreja romana: O poder temporal do papa, do qual resultou imenso topor espiritual para a dita Igreja. Outro fruto podre derivado desta solução foi a Teocracia calvinista de Genebra com seu rosário de crimes. 

Aqui a ideia é predar o Estado ou tomar posse dele e dele servir-se com o objetivo de manter a Igreja viva ou a Cristandade de pé.

Já disse que a blasfêmia aqui é manifesta, pois aquilo que deve ser sustentado ou socorrido por outrem é porque não pode manter-se por si mesmo.

A conclusão é óbvia: O fundamento da fé e da graça foi substituído sacrilegamente pelo Estado, pois esse fundamento onipotente é a divindade de Jesus Cristo.

Que as instituições de Moisés ou Maomé, os quais não passam de mortais inermes, busquem apoiar-se nos poderes políticos deste mundo é perfeitamente compreensível e desculpável.

Outro o caso da Instituição divina da Igreja, fruto da divindade de Cristo.

Ocioso fornecer a Igreja de Cristo uma bengala ou muleta política da qual ela não carece. Pois está firmada sobre a Pedra angular que é a divindade do Verbo!

Não precisa a Igreja de Cristo de quaisquer servições fornecidos pelo Estado, não precisa do controle secular ou do poder político uma vez que seu domínio é o domínio ético dos espíritos, das mentes ou dos corações. O patamar da Igreja é muito mais alto ou elevado, pois procede da eternidade.

Noutras palavras: O integralismo com seus préstimos políticos toma o Cristo por débil e sua Igreja por esclerosada e incapaz de manter-se por si mesmo.

O integralismo desconfia da economia espiritual da revelação, da graça e da fé que são elementos divinos e despenca nos abismos da profanidade. 

Não pode essa Ideologia suportar que o Bem, a Verdade e a Beleza se possam sustentar por si mesmas como coisas Sagradas procedentes do céu.

Porém, toda petição externa a Igreja, a sua lei e a seus Sacramentos, implica justamente isto: Desconfiança, hesitação e incredulidade face a missão de uma Igreja que se mantém e sustenta por si mesma, núncia que é do Autor e Mantenedor do Universo.

O erro aqui é manifesto: Pois não toma a Mãe Igreja sua vida dos tronos, dos tribunais, das baionetas, das algemas, dos cárceres... como as instituições mundanas e terrenais! É do seio da divindade, da Encarnação, do Evangelho, do Amor, dos Sacramentos, da graça, da fé e dos exemplos de virtude que a Igreja tira toda sua força e vida. Fiel e impassível neste caminho divino a Igreja assistirá todos os Impérios, Reinos e Países que presidem a política deste tempo desfazerem-se, uns após outros, como pó. Firme em sua direção - Como disse Lord Macauly - passados mil ou dos mil anos, seja da África, da Índia ou dos Confins da China, contemplará a Igreja de Cristo as ruínas de nossos castelos, palácios e cidades... num mundo totalmente diverso deste.

Observem como vive ainda a Igreja Assíria nos confins do Oriente, toda cercada pelo islã! Observem como vive a Igreja Siríaca nos confins da Síria apesar da sanha maometana que não cessa de sangra-la ao cabo dos séculos. Observem a Igreja Copta, a Igreja da Cruz e vede como ainda hoje sobrevive e resiste na terra dos Faraós hora assolada pelas hostes muçulmanas. 

Tal a missão e vocação da Igreja, cujos filhos não foram gerados da carne ou do sangue para a espada, a lança ou o fuzil, mas de Deus para a redenção do espírito!

Não quero dizer com isto que o Estado democrático e a Cristandade não tenham interesses convergentes ou comuns. Devendo o Estado democrático, apoiado pela Ética da Igreja, resistir ferozmente ao islã e os filhos da Igreja apoiar ativamente o Estado democrático contra quaisquer aspirações ou manobras teocráticas sejam islâmicas ou calvinistas. Todo e qualquer projeto teocrático de dominação deve ser coibido pelo poder do Estado popular com a participação ativa do povo de Jesus Cristo. Estado e Igreja no entanto devem coexistir como duas instâncias separadas e independentes, uma vez que César e Deus, Deus e César jamais se confundem ou misturam. Pois o Estado deve comportar e tolerar diversas instituições credais numa perspectiva pluralista ou liberal, enquanto que a Igreja uma, em seu terreno, que é o do espírito, deve expandir-se livremente pelo mundo afora.

Não pode a Igreja servir-se do Estado a maneira de um braço secular ou apêndice, pois seu domínio é das consciências livres. 

Quem aspira por uma Murtad que vá a Torá ou ao Corão que o Evangelho repudia tudo isso. 

Ignora a Lei dos Cristãos o que seja Jihad, Djzia ou Murtad. A menos que se trate de uma Igreja islamizada ou judaizada até a médula dos ossos... ou duma Igreja apóstata.

Conhece o Evangelho porta de entrada e saída e não visa prender aqueles que não eram dos nossos, i é, os apóstatas, cujos corações não estavam voltados para a verdade.

Não tem a Igreja servos ou escravos como a sinagoga e a mesquita, apenas filhos, cuja liberdade reconhece.

A dignidade ímpar de Jesus Cristo consiste em ser adorado e servido por homens livres e conscientes animados por um intenso amor e gratidão.

Por isso o poder de atração do Senhor está na manjedoura e na cruz, emblemas de seu imenso amor por nós. A manjedoura e a cruz são tolices para os frívolos, porém para os que honestamente creem são força, poder, triunfo e glória de Deus. Tais os poderes e forças que movem as mentes e o mundo do espírito.

Sinal de fragilidade e miséria seria manter a força os que não mais creem, obrigando-os a farsa de uma adoração formal, a qual não parte da alma ou do coração. Pois a hipocrisia, o fingimento e a exterioridade de modo algum agradam ao Bom Deus.

Nada mais sacrílego do que oferecer ao Cristo uma adoração forçada!

Já quanto ao povo Cristão, para que viva submisso a Lei divina do Evangelho, basta-lhe a excomunhão. 

Ao invés de aspirar manter os heréticos no corpo da Igreja - Ao invés de deixar que partam na direção de suas seitas - o que a Cristandade deve fazer é expulsar para fora de si e lançar os incrédulos e hesitantes para fora de sí, impedindo que se sirvam dos Sacramentos. Destarte, caso amem a verdade e reconheçam o Cristo tais gentes se submeterão. Do contrário sejam tidos em conta de pagãos e publicanos. 

Tendo a excomunhão, que toca ao amor e a reverência, não carece a Igreja de tribunais ou cadafalsos. Sendo ínfame assassinar em nome de Cristo, a exemplo dos anti Cristos Torquemada e Calvino! Pois tal não é o caminho indicado por nosso Mestre e Redentor, o qual não mandou supliciar a quem quer que seja em seu santo nome, mas apenas ofertar a graça que por nós mereceu.

E esta graça não se anuncia com espadas, cordas, lançar ou varapaus mas com obras praticadas na verdade.

A verdade tem seu brilho e poder de atração. E um poder de atração superior a tudo quanto haja neste mundo. E um tal poder de atração capaz de confrontar calabouços, poços e fogueiras. Pois tem a verdade a glória de engendrar mártires - Aos quais parece boa coisa perder o mundo inteiro com todos os seus atrativos, tendo em vista conquistar o reino do espírito, ou seja, os domínios da liberdade, da dignidade, do amor, da justiça e da virtude... Isto apenas é a riqueza do espírito, enquanto que a conversão imposta ou a permanência forçada não passam de indigência.

É portanto saudável para a fé que não possa mais a Igreja entrar por mau caminho, buscando assustar e controlar seus filhos por meio de artifícios temporais. Pois tal restrição, digna e justa, fará com que a Igreja se volte para seus próprios poderes e meios, que são os do espírito. 

Retirada a cana quebrada, muleta ou bengala do poder político, terá a Igreja de apoiar-se sobre si mesma ou melhor sobre o Cristo. Investindo no anúncio destemido da verdade, no serviço fraterno, na promoção humana, no cultivo da virtude, na santa piedade... 

Somente quando tais suportes forem removidos é que a Igreja de Cristo tornará a caminhar sobre seus próprios pés. Quando cessar de ser repartição do Estado para converter-se no que é, ante sala do paraíso, vestíbulo dos céus e germe da cidade divina, e fermento celestial, e semente da imortalidade, e sol do eterno dia... Ora, todas estas realidades foram obscurecidas pela treva da estatolatria e pela politicagem conjuradas pelos integristas sem fé.

Nós afirmamos a liberdade, o secularismo e o pluralismo democrático por acreditarmos numa Igreja viva, triunfante e capaz de reconquistas, e de restaurar o mundo.

Não é de uma Igreja acomodada e enjaulada, comprometida com interesses políticos e seculares, que o mundo dos homens precisa mas de uma Igreja viva, livre e forte, cônscia e de seu poder moral, treinada para o combate do espírito, resoluta, purificada pelo sofrimento, intrépida... Somente uma Igreja assim, restituída a sua condição primitiva, será capaz de fazer frente as diversas culturas de morte, ao islã e antes de tudo ao dilúvio protestante...

A vida democrática corresponde justamente a essa arena capaz de exercitar a mãe Igreja na santidade e na virtude. O pluralismo a seu tempo corresponde a livre concorrência, elemento necessário para estimular a Igreja a conquista por meio de um proselitismo saudável e civilizado. 

Negando a vida democrática e a sociedade pluralista os integristas prestam um deserviço a fé, pois buscam submeter a Igreja a um controle político externo ou buscam submeter o Estado ao controle direto da Igreja - Estabelecendo relações igualmente equivocadas e perniciosas. Pois se não deve a Igreja, no campo que é seu, submissão ao Estado tampouco deve o Estado ser diretamente controlado pela Igreja, sendo tal controle típico da mesquita ou da sinagoga, não da Cristandade.

Nada mais digno do que uma Igreja livre numa Sociedade livre.

Pois formando eticamente os cidadãos poderá a Igreja alterar as estruturas da Sociedade segundo o espírito do Evangelho.

E o serviço da Igreja é este: Formar almas. Não dirigir impérios e humilhar imperadores mas educar e formar almas, plasmar mentalidades, moldar os espíritos.

Coisa que os integristas, muito provavelmente tão materialistas quanto os capitalistas, positivistas e comunistas, não podem compreender. Pois são como que toupeiras no mundo do espírito, e o quanto querem manter ou conservar é uma desordem espiritual avessa aos ensinamentos de Jesus Cristo.

De fato muitos deles não ocultam encarar a Igreja como simples meio com que manter o que chamam de ordem social, alias algo muito próximo do moralismo. São quase sempre uns conservadores toscos que aspiram servir-se da Mãe Igreja com o objetivo de conservar seu mundinho doentio - Bastante infectado pelo protestantismo! - e moribundo. Sinistra missão essa que ousam atribuir a Igreja de Cristo, pois nem tudo quanto há neste mundo demasiadamente protestantizado merece ser conservado, mas sem dúvida demolido até os fundamentos. Eles no entanto aspiram parar a roda do tempo, mumificar a sociedade e embalsamar a história com a ajuda do mesmo Cristianismo que segundo Gibbons promoveu a maior transformação de que temos notícia ao dar cabo do Império romano com sua escravidão e suas guerras.

Podem apontar-me algo mais revolucionário (Não em sentido comunista ou físico!) do que isto?

Pertencemos a uma Religião que, mais do que qualquer outra, alterou os destinos do mundo ao invés de conserva-lo.

E no entanto por demolir o antigo não logrou completar sua obra e construir algo não somente de novo mas de definitivo, por ter sido ela mesma atacada e contida por outras forças.

Ainda por mil anos travou a Cristandade imensos combates por um novo mundo, por um mundo mais nobre, melhor e diferente em comparação com o antigo. S Bento, S Fócio, S Francisco, S Antonio e outros são exemplos lapidares neste sentido...

Todavia após a Reforma protestante com seu individualismo e transcendentalismo cessou a Cristandade de combater por esse novo mundo, cedendo espaço ao liberalismo econômico e demais culturas de morte que o sucederam, perdendo a direção da História e seu significado universal. Para converter-se em repartição de Estado com finalidades moralizadoras ou puritanas. Nada mais abjeto para aquela Cristandade apostólica que confrontou e venceu o Império romano, curvar-se ante as veleidades de uma França, de uma Itália ou de uma Espanha, cessando de fomentar novas transformações Éticas e espirituais.

Diante disto cabe acusar o integrismo de se ter conformado com tal estado de coisas prosaico e indigno. 

Não missão do Cristianismo ser lacaio de reinos e nações mas plasmar a Civilização do futuro. Não é a vocação do Cristianismo antigo diluir-se no ecumenismo agostiniano/puritano, e protestantizar-se, e cindir-se numa multidão de seitas, e é escorar-se em alguma republiqueta obscura... Não, tal não Tal é o desígnio do nosso Cristianismo. Pois o desígnio do nosso Cristianismo é atravessar incólume a borrasca protestante, suplantar todas as culturas de morte e enfim esbater-se com o islã e vence-lo, impedindo-o de conquistar e dominar este nosso pobre mundo. Tal missão Redentora do nosso Cristianismo. E não é sendo lacaio de republiquetas e caudilhos que se preparará para desempenhar sua providencial missão.

Portanto que o Cristianismo dê suporte a civilização democrática, enquanto esta, por meio da Liberdade o exercite e depure. 



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