quinta-feira, 19 de julho de 2018

Rosa Luxemburgo X Lênin - Uma marxista não leninista

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Esta eu respeito e aplaudo de pé!






Ao contrário do que dizem, as diversas tradições europeias - Francesa, Inglesa, Austríaca, Lassalliana, etc - muito concorreram para tornar o marxismo em parte palatável e aceitável, tendo em visto a metafísica medíocre de Marx (É Leon Blum que assim se exprimi nas notas sobre o Congresso de Japy - Revue blanché, Janeiro de 1900).

Referi-mo-nos, é claro, ao Marx Filósofo, não ao Marx Sociólogo - ainda quando não concordemos inteiramente com ele - e menos ainda ao precioso Marx economista. Não foi pouco serviço separar a crítica econômica feita por ele de toda a ganga metafísica agregada, que o bolchevismo converteu em dogma sacrossanto nas terras da URSS...

Assim seu tímido e comedido ateísmo, assim o materialismo dialético, assim o blanquismo da juventude, assim a ditadura do proletariado, as divagações sobre o futuro... Enfim tanta, tanta coisa. Tanto peso morto... De que o bolchevismo fez 'questão de honra' travando a emancipação dos trabalhadores, ainda segundo Leon Blum - Le populaire 05/02 de 1927.

Justamente por adotar o já descrito padrão de terrorismo maquiavélico, jacobinista e inspirado na Revolução francesa, na carbonária, no babovismo e no blanquismo. Insistindo doentiamente na efusão de sangue - sem maiores comedimentos - bem como no truque, na fraude, na traição, na mentira, na corda, no veneno, no assassinato, na tortura, na execução... de Lênin a Stalin o bolchevismo patrocinou toda sorte de reações lançando as massas nos braços da burguesia. Como os anarquista já haviam feito no final do século XIX, quando recorreram a propaganda pelo fato, com motivacionais completamente diferentes no entanto.

Curiosamente, temos de Nisbet, uma observação que nós mesmos havíamos constatado ao perfilhar as obras de Marx e Engels - A falta (Pasmem leitores!) de definições objetivas quanto aos conceitos fundamentais ou apresentados como fundamentais. Nisbet  p 291 fala em 'Ambiguidades, lacunas e incongruências' Poderíamos falar em assombrosas descontinuidades: A ditadura do proletariado, após ter sido delineada no Manifesto de 1848, é citada expressamente (pela primeira vez) em 1852, para ser engavetada durante mais de vinte anos, e reaproveitada apenas após a derrota da Comuna de Paris, quando só então Marx sugerirá que a causa da derrota da comuna anarquista foi não ter empregado a 'Ditadura do proletariado'...

É em vão que buscamos em Marx a definição do conceito de 'classe'. Nada de mais concreto em termos de política ou de fruição do poder e menos ainda em termos de administração. E a sensação terrível que nos apreende ao ler seus escritos é que Marx identificou a Revolução com a tomada ou posse do poder - não importa como ela venha a ser obtida - e a tomada do poder com a transformação social. Pergunte-mo-lhe sobre a futura sociedade comunista. Silêncio total 'Não haverá opressão, exploração, etc'. Bravo! Mas como será??? Não sabemos... Embora Engels, não Marx, deixe bem claro que o trabalho continuaria a ser desenvolvido nos moldes fabris do capitalismo. E quando Axelrod objeta a Lênin que a estrutura partidária idealizada por ele recorda a estrutura hierárquica e nada democrática - Jaures foi quem postulou a democratização as fábricas juntamente com Otto Bauer - de uma fábrica, este limita-se a dizer: É assim mesmo, pois foi essa estrutura maravilhosa, idealizada pela burguesia que treinou nosso proletariado... mas é claro que o PC russo também tem um pouquinho de Vaticano ou de igreja.

O mais surpreendente disto tudo é que as indefinições de Marx convertem-se justamente nos dogmas fundamentais ou basilares do leninismo... E se Marx fala algumas poucas vezes em 'ditadura do proletariado' sem jamais precisa-la concretamente e portanto deixando-a em aberto, Lênin fará dezenas ou centenas de menções a ela precisando-a com máxima exatidão. E isto será o bolchevismo russo, algo bem distinto de Marxismo ou do antigo Comunismo, ou do Socialismo revolucionário. De fato o bolchevismo é já uma outra coisa e sabe a algo russo e propriamente russo.

Rosa Luxemburgo, que passa por marxista ortodoxa, mas que os leninistas costumam infamar, encara a ditadura do proletariado e a própria revolução em termos bastante distintos a respeito dos quais tornaremos a falar mais adiante.

Para Marx o partido, neto do clube e filho da liga, não passa de uma organização, antes de tudo educativa/formativa, tal e qual Leon Blum, diria a respeito do exercício do poder em 1926, no Congresso de Bellevilloise. Lassalle, dirá Engels, é que tomando a ferramenta do 'sufrágio universal - e nisto seguindo o Manifesto - delineia um partido voltado para ação parlamentar, o que é acordado em Gotha e do que resulta a eleição de A Bebel. Não passa disto. Lênin no entanto - que segundo Lefranc (1964) vivera por mais de uma década afastado da Rússia e longe das massas (Adotando, com seus companheiros, métodos carbonários.) - conceberá a ditadura do proletariado em termos de Partido comunista e o Partido comunista em termos do seleto COMITÊ CENTRAL. Como a Revolução jacobinista, que alegou ter removido o rei e a nobreza para estabelecer uma ordem democrático/popular e estabeleceu uma ditadura em torno do Comitê de Salvação e depois do Diretório, Lênin, num passe de mágica, transforma a ditadura do proletariado em ditadura do Comitê central do partido comunista.

Agora como o Comitê funcionará apenas duas vezes ano ano por quatro dias, quem legislará em seu nome será o Politburo cujos membros eram vinte e dois!!! Estes vinte e dois homens ou no caso do CC, algumas centenas deles, eram por assim dizer o proletariado. E comandavam dezenas de milhões de pessoas!!! Embora por quase vinte e cinco anos Stalin tenha comandado o politburo e o CC, exercendo um poder com que nem mesmo o Todo poderoso Czar havia sonhado um século antes. De fato por um quarto de século Stalin governo a URSS como um Faraó ou como um Xá da Pérsia, tendo mais poderes do que Calígula, Nero ou Domiciano. E tudo isto graças ao termo 'Ditadura do proletariado' a que Marx, sejamos justos e, jamais havia atribuído semelhante significado.

Assim enquanto o russo Lênin forjava semelhante monstruosidade ou monumento de tirania, Rosa Luxemburgo, uma escriba marxista tão hábil como K Kaustky, buscava penetrar honestamente o pensamento de Marx e definir corretamente que fosse ditadura do proletariado. E temos que ela, como Leon Blum mais tarde, discordou categoricamente de Lênin, identificando o povo - ao fim da marcha capitalista - com uma extensa massa de proletariados (resultado da proletarização acenada por Marx) a ser detidamente trabalhada pelo partido e conscientizada. Seria essa massa imensa de proletários que exerceria, o quanto fosse possível direta, semi direta ou democraticamente a política, exercendo ela mesma a tal ditadura do proletariado, sem que tal exercício fosse delegado a quem quer que fosse. Vemos assim como Rosa ultrapassa a falaciosa democracia burguesa na direção de uma democracia direta, popular ou proletária. Em Lênin a extensão é mínima, chegando ao despotismo de meia dúzia, em Rosa é máxima - E a ditadura do proletariado assume uma face ou aspecto democrático i é não autoritário, como temiam com justeza os anarquistas críticos de Marx.

"Nossa organização não se baseia na obediência cega ou na submissão mecânica dos militantes do partido a UM PODER CENTRAL ONIPOTENTE. O centralismo democrático É ESSENCIALMENTE DISTINTO DO BLANQUISMO e pode ser definido como íntima conjunção entre a vontade da vanguarda consciente e da classe operária como povo organizado." Assim a ditadura do proletariado só é legítima e aceitável apenas se propõem-se a estabelece a democracia; assim se a exerce a própria classe operária em sua totalidade com o apoio do povo, JAMAIS QUANDO EXERCIDA POR QUALQUER MINORIA. Lefranc 1964 p 302

Destarte se Lênin se achava no direito de dissolver a Constituinte, mesmo Locke lhe serviria por embasamento. Mas ele certamente devia ter convocado outra em seu lugar. Do contrário recorresse a plebiscitos e referendos como fizeram os bolivariamos na Venezuela, apoiando-se sobre o poder popular. Creio que Rosa não faria qualquer objeção a este recurso.

Rosa vai ainda mais além, adianta-se e como A Kollontai deplora a extinção dos Soviets, forma democrática operária que Lênin não tinha o direito de suprimir:

"Assim se sufoca a vida política de todo país, caso se paralise esta vida que há no interior dos soviets."
Passados nove anos repetirá Leon Blum: "Queremos que uma ditadura provisória seja exercida NÃO POR UMA CASTA ou em proveito dela... MAS EM NOME E INTERESSE DA COLETIVIDADE HUMANA. Le populaire Id ibd
Sete anos antes já havia dito no Congresso de Tours, 1920:


"Ditadura exercida por um partido, mas, baseando-se na vontade e liberdade populares, por vontade do povo e portanto ditadura impessoal do proletariado. NÃO UMA DITADURA EXERCIDA POR UM PARTIDO CENTRALISTA EM QUE TODA AUTORIDADE DESCE VERTICALMENTE OU DE CIMA A BAIXO... Ditadura de um ou alguns indivíduos jamais!"
Os bolcheviques no entanto, sempre fiéis a mentalidade maquiavélica de seu líder, Lênin, vão espalhando suas fatwas ou decretos de heresia e excomunhão pelo mundo afora. Uma vez que o partido converteu-se em igreja, os escritos de Marx e Engels em Evangelhos e as interpretações autorizadas em dogmas ou receitas de bolo ou ainda em bulas de remédio, tendo em vista como fazer a verdadeira revolução. O Bolchevismo ou comunismo russo apresenta-se a si mesmo como roteiro a ser seguido e exportado para todas as realidades e culturas não menos que o budismo, o cristianismo ou o islã. E as obras de Lênin constituem os manuais autorizados no sentido de atingir este fim último.

Claro que os comunistas ou marxistas europeus não podem aceitar semelhante monstruosidade. Já porque Marx era alemão, assim como Engels e porquanto escreveram em alemão, inglês ou francês deixando colaboradores e uma tradição! Da qual Lênin faz muito pouco caso... A ponto de apresentar-se como intérprete ou apóstolo, mesmo quando modifica, altera e falsifica. Destarte franceses, austríacos, italianos (com poucas exceções, sempre minoritárias) e mesmo alemães não o tomarão a sério. O resultado disto será patético: Como os marxistas europeus o ocidentais permanecerão no controle dos partidos socialistas ou social democráticos históricos, os Leninistas se separarão deles e fundarão os diversos partidos comunistas, segundo o modelo russo, oriental ou bolchevista. Desde então, em cada país, acusam-se ambos, uma ao outro de traição.

Seja como for, diante da indefinição de Marx em torno de como se fará a Revolução ou de como será a Ditadura do proletariado, os grupos socialistas históricos tem se mostrado bem mais abertos e admitido uma séria de interpretações distintas que não desde Engels e Blum com a violência e o defensiva associado a certeza de uma futura ruptura revolucionária que não pode ser previamente descrita as soluções revolucionárias cumulativas de Jaures, Bauer, Tomás e Deat, para além das quais damos com a evolução mais ou menos orgânica e imperceptível de Bernstein e a nova social democracia. É todo um calidoscópio imensamente colorido e rico, ideologicamente falando, que leva em conta problemas administrativos jamais levados em conta por Babeuf, Blanqui, Marx, Lênin ou Bakunin...

Diga-se o mesmo quanto a ditadura do proletariado, que Kautsky, já velho, compreendeu como tomada ou posse do Parlamento pelos representantes do proletariado, ao menos enquanto inicio ou ponto de partida não necessariamente sangrento. Haja visto o ponto de vista de Rosa, e outros tantos... Aqui a mesma diversidade em termos de apreciações, o que no mínimo deveria conduzir os comunistas a posições mais cautelosas.

Tal a seara deslumbrante daqueles marxismos, que desde a revolução bolchevista, passaram a ser classificados como heterodoxos pela autocracia soviética. Em nome do apostolado ou da infalibilidade de W Lênin, o novo papa, da nova religião...


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A CRIA DE MAQUIAVEL!!!

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