quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Capitalismo, Socialismo e Comunismo face ao humanismo I

Definições:

  • Capitalismo: O mesmo que liberalismo econômico ou sistema de livre mercado
  • Socialismo: Existem diversas formas de socialismo > solidarismo, personalismo, keynesianismo, social democracia, anarco socialismo, marxismos heterodoxos, etc Todas estas formas tem por comum as seguintes características:
  1. Controle do mercado - ou planificação -  pelo grupo social em termos de estado ou sociedade apenas; do que decorre a negação do economicismo, na medida em que a atividade econômica é regulamentada por leis externas a si, politicamente elaboradas
  2. A conciliação da igualdade com o ideal da liberdade. O Socialismo encara como positivo o sentido da liberdade - seja pessoal ou político - legado pelo liberalismo burguês.
  3. Opção preferencial por termos pacíficos ou institucionais.
Opõem-se portanto o socialismo não só o liberalismo econômico ou capitalismo mas também a 'ditadura do proletariado' - bem como a toda e qualquer forma de totalitarismo - e a noção de golpe ou Revolução em termos sangrentos; logo ao comunismo.
  • Comunismo: Marxismo ortodoxo, leninismo, bolchevismo, capitalismo de mercado. É um tipo específico de socialismo (pretensiosamente científico) caracterizado pelo autoritarismo. Esta fundamentado nas flutuações políticas de K Marx (cujo conhecimento em termos de ciência política era deficiente) e nas lucubrações despóticas do russo W Lênin. Faz apologia do golpe e da revolução em termos físico, materiais ou violentos.

Analisemos agora, pormenorizadamente, cada um destes sistemas face aos imperativos do humanismo, definido enquanto teoria voltada para o bem estar do ser humano.

Já foi dito por alguns. Leio-o em Berdiaeff (Nova Idade Média) que o capitalismo é um humanismo.

Mas se seu fim último do capital é o lucro e suas normas e regras ditadas pelas necessidades do Mercado como poderia se-lo?
Digo, pelo contrário que este sistema inverteu e subverteu a legítima ordem das coisas.

Não foi o homem feito para o capital, o lucro, a economia... MAS A ECONOMIA FEITA PELO HOMEM. Donde sendo humana, deveria ser humanitária e humanista e subordinar-se a um princípio ético ou espiritual qual seja o bem comum, qual seja a justiça. Tal no entanto não se dá e pelo simples fato de que o liberalismo postula o reino autonomo e portanto o primado da economia. Recusando-se a admitir qualquer controle, não só social e político mas mesmo ético.

Neste sentido as leis da economia são tão amorais quanto as leis da física ou da química e a estrutura do mercado sabe tanto de justiça quanto a estrutura do átomo ou da célula.

Não o capitalismo não pode subordinar-se as exigências da justiça uma vez que tal subordinação implicaria controle externo ou limitação. Admitir isto seria a negação da doutrina do lucro máximo que é seu motor.

Verdade seja dita sem ocultação: o capitalismo esta posto para o lucro ou o acumulo de bens materiais ou riquezas e não para o homem. Não contempla a condição integral deste homem. Sendo tão ou mais materialista do que o Comunismo tem mutilado o homem desde o princípio. De fato ele não se preocupa com a mente do homem, com o sentimento do homem, com as potencialidades do homem; enfim com o que há de imaterial, de ideal, de transcendente neste homem. O capitalismo não cogita em consciência.

Filho seu, o comunismo limita-se a reproduzir e a levar adiante os vícios produzidos por ele qual seja a mistica ateísta, o materialismo vulgar, o imediatismo, o tecnicismo... São carne da mesma carne e sangue do mesmo sangue. Não, caro leitor, não foi o Comunismo que assentou o reino pecaminoso do anti Cristo neste mundo impedindo o Cristianismo de Encarnar-se ou o Catolicismo de inspirar toda uma rodem social; foi o liberalismo econômico. Foi este que por meio do protestantismo nascente atalhou os passos do Cristianismo frustando-o ou impedido-o de realizar-se nas estruturas sociais produzindo uma cultura humanista.

O comunismo é e será sempre consequência. A causa ou raiz do mal, do mal estar da civilização é, a par do agostinianismo/calvinismo, o capitalismo, Foi este que pela primeira vez, e na prática, negou o primado do espírito afirmado pela Helade gloriosa. Foi este que lançou as bases duma ordem materialista mecanicista submissa a necessidades artificiais e que alienou o homem do trabalho. Quando Marx veio ao mundo deu já com o homem demolido e a sociedade humana em frangalhos.

Não sou eu quem o diz, é Berdiaeff ainda, é Bloy é Belloc, é Mounier; os quais estudaram a fundo a patologia de que sofre a civilização e a crise de identidade porque passamos.

O comunismo nada removeu.  PROTESTANTISMO E CAPITALISMO é que removeram os fundamentos antigos, eternos e transcendentes da cultura abrindo um abismo a nossos pés.

Primeiro demoliram os princípios gerais duma fé Católica por definição e privaram o homem desta inspiração. Foi feito... e o protestantismo não podia mesmo substituir como pretendia, o Catolicismo. Até seria hipocrisia de sua parte assumir o papel da igreja que tanto criticara...

Restou no entanto a razão!

E podemos dizer que restou mundo. Pois trata-se do critério adotado pela civilização clássica, sobre o qual bem se pode construir uma Ética (racionalista) objetiva e comum acima da democracia meramente formal ou do político e do econômico. No entanto esta Ética como admitia Kant carecia de um Legislador Supremo. Cheirava assim a deísmo ou a teismo naturalista desagradando os ateus fanáticos.

Alias, por pura e simples questão de oportunismo, aqui; o genial e divino Kant jamais foi levado a sério por seus pupilos, alguns dos quais até apresentaram-no como idiota. Podemos discordar de Kant e repudiar seus dogmas anti metafísicos, mas não te-lo por idiota apenas porque tornou ao ponto de partida ou fez a volta do parafuso.

Imolaram a metafísica e a Ética e tomaram a ciência por guia infalível. Segundo critério da sensação e da percepção ou da experiência. Aqui ainda resta algo; mas já não é transcendente... uma democracia meramente formal ou vazia de conteúdo e portanto relativista do ponto de vista da Ética ou da moral e uma ciência que a semelhança do mercado repudia qualquer coisa que pretenda estar acima de si mesma.

Mas a ciência era concreta.

Por fim vieram os pós modernos, profetas do subjetivismo e do relativismo absolutos, vigários de Hume e aniquilaram este positivismo já desmoralizado pelos Católicos e Racionalistas. E nada mais houve de objetivo ou concreto acima da democracia formal e do liberalismo econômico. Porque a morte da razão matou a ética... destruiu o espaço comum, antes ocupado pela fé Católica e nada restou.

Assim diante das sucessivas mortes da fé, da razão e da percepção só podia mesmo prevalecer o domínio material do econômico, manipulado descaradamente uma forma democrática vazia ou igualmente relativa.

Todas essas mortes e estes cadáveres acumulados desde os tempos da reforma protestante é que tem alimentado o urubu do capitalismo. Ajuntando-lhe ainda mais podridão...

Os capitalistas no entanto asseveram que seu sistema é um humanismo na medida em que afirma não só a liberdade econômica, mas também as liberdades pessoal e política dando continuidade ao ideal greco cristão.

Cumpre desfazer semelhante falácia.

E certificar publicamente que a liberdade acenada pelo liberalismo econômico não passa duma liberdade meramente teórica ou farisaica pelo simples fato de estar desvinculada da justiça. De fato o que o capitalismo dá com uma mão tira com a outra. Assim o que assegura formalmente impossibilita na prática.

Acena de fato com a liberdade mas na prática priva a maior parte das pessoas das condições concretas que constituem os meios porque a liberdade afirma-se e é posta em prática. Admite que o homem é livre mas impede-o de viver livremente por falta de meios ou condições materiais quais sejam habitação, roupa, comida, etc Como pode ser livre uma pessoa que vive de salário? Poderá ela viver sem trabalhar? Escolher entre trabalhar ou não? Escolher entre viver ou morrer? Será que poder trocar de patrão ou senhor constitui mesmo a mais refinada expressão da liberdade humana?

É uma liberdade fantasma, ilusória, aparente.

Pois não contempla a totalidade ou ao menos a maior parte dos seres humanos, mas meia dúzia de privilegiados apenas. É uma liberdade excludente, elitista, aristocrática, de uns poucos. E conquistada as custas da sujeição alheia. Regime que na verdade produz dependentes, clientes ou lacaios numa escala gigantesca. Ao menos quando não é externamente controlado... deixando de ser o que é.

De fato, capitalismo bom, é sempre capitalismo enjaulado ou controlado em certa medida por algum agente de natureza externa. Satisfeitas as exigências descabidas dos 'clássicos' ou dos neo liberais temos uma escravidão ou servidão disfarçada, produção de massas humanas angustiadas e porta de entrada para os fundamentalismo e o fim da civilização. O capitalismo ao invés de brindar o ser humano com o exercício concreto da liberdade tem é brincado com 'massas' humanas, alienadas, acriticas e despersonalizada fornecendo ao teocracia a matéria prima de que precisa para destruir por completo a civilização,

Tem além disto, restringido ou diminuído o espaço do liberalismo político como esclarece Arendt e sabotado a cidadania. Preparando os homens para o autoritarismo religioso ou secular, De fato as necessidades do capital e ritmo de trabalho tem impossibilitado uma reflexão em larga escala a respeito do político e o aprofundamento da cidadania numa perspectiva democrática de democracia pura ou direta. Mais ainda, tem o liberalismo econômico, quando ameaçado por qualquer reação socialista ou trabalhista, traído sordidamente o liberalismo político e negociado com a democracia e os direitos da pessoa humana. Tem sido infiel a seus princípios teóricos, criticado hipocritamente o comunismo e apadrinhado golpes e ditaduras e recorrido a déspotas e se associado a tiranos!

Donde chegamos a constatação de que o liberalismo econômico encara o liberalismo político ou a democracia formal como uma espécie de meio para exercer o controle da Sociedade. Quando perde o jogo, acaba com a partida. E subvenciona golpes, sedições, inquisições políticas que nada ficam devendo ao bolchevismo.

O bolchevismo no entanto assume seu totalitarismo, enquanto que o liberalismo econômico continua a apresentar-se hipocritamente como seu defensor e redentor; quando é na verdade seu algoz e o principal responsável por seu fracasso.

Pois para impedir que a sociedade exerça seus direitos de controle sobre a produção econômica e o acumulo de bens, impede que a democracia seja ampliada e aprofundada, despojando-se das faixas representativas com que foi atada por Locke e assumindo sua forma primitiva, real ou direta.

É um sistema que apresenta a liberdade como algo indesejável, como algo sem qualidade, como algo porque se deve viver e morrer. Eis porque os exércitos burgueses precisam de pajés ou feiticeiros sejam padres ou pastores e uma mística nacionalista que degenera quase sempre em fascismo: Porque do ponto de vista da natureza tanto mais capitalista, tanto mais indesejável ou insuportável é a vida numa sociedade! Agora do que a democracia mais precisa é de pessoas que morram por ela. Morre por ela apenas quem é livre de fato, ou seja, quem tem qualidade de vida.

O capitalismo não pretende por esta qualidade de vida no acesso das massas humanas por implicar em investimentos sociais e transferência de recursos para o humano. Logo não pretende construir uma nova Sociedade desejável, é arquiteto dessa Sociedade do desespero que encaminha o homem ao fanatismo religioso e a intolerância.

Ignora supinamente a justiça como uma palavra vã por falta de significado econômico.

Como poderia ser um humanismo???

É o pai de todos os anti humanismos e um dos anti humanismos mais virulentos. Isto que é o éthos capitalista.




Nenhum comentário: