Aparentemente é o pós modernismo uma reação ou protesto face ao credo positivista. Uma erupção subjetivista ou psicologista face ao objetivismo chão arvorado pelo positivismo. A negação do sistema concebido por A Comte.
E no entanto há um traço comum entre eles: O repúdio a razão, a reflexão ou enfim ao que definem como racionalismo e comparam a religião, e a sua atividade metafísica. É o empirismo crasso anti metafísico. Assim o ceticismo, o relativismo e o subjetivismo crasso ou psicologismo.
O empirismo crasso por negar a idealidade.
O psicologismo contemporâneo por negar a objetividade seja da percepção ou do raciocínio.
O 'Loci commune' aqui é o repúdio a metafísica enquanto capacidade ou possibilidade.
Honesto, o cientificista ou empirista do século XIX, acompanhando Littré - Comte era demasiadamente influenciado pelo 'Catolicismo' - repudiou a Ética por confundi-la com a moralidade ou com a fé religiosa.
Desde então foi o homem convidado a contentar-se com o que é e a repudiar o que deve ser i é a idealidade, equiparada a imaginação ou a fantasia, e lançada a esfera das coisas individuais ou relativas.
Hoje no entanto adoramos falar em Ética, ainda que levianamente, devido ao preconceito anti metafísico canonizado por Kant e Litree. Mas é como discursar sobre uma casa sem paredes... A Ética além de ser ela mesma um esforço metafísico, carece em última análise de um reforço gnoseologico ou metafísico. Afinal de que serviria ao homem uma Ética que não fosse verdadeira ou que fosse relativa se estamos a falar na convivência?
Fique claro que por isso não produzimos ou temos uma Ética consistente, apenas um discurso vazio, logomaquia ou verborragia... A critica católica ou humanista já havia abalado o discurso anti Ético do positivismo no final do século passado. O delírio não durará mais do que vinte ou trinta anos. Mas foi o quanto bastou para que mil Trasímacos sem consciência pensassem conflitos mundiais. Os quais eclodiram vinte anos depois.
Por falta de espírito crítico, idealidade ou Ética o cientificismo positivista colaborou imensamente para que o novo espírito materialista, economicista ou capitalista invadisse e se assenhorasse das sociedades católicas. E seu conformismo ou solidariedade disfarçada foi ainda mais danoso do que a inação Cristã.
Após terem estourado duas grandes guerras, com o saldo de milhões e milhões de mortos, a solução positivista teve de ser revista. Afinal, caso a ciência produzisse Ética seus representantes não apelaram ao pragmatismo ou ao utilitarismo com o objetivo de advogar o uso de animais em experiências, o que nada significa além de colocar se acima do bem e do mal, e, com a mesma arrogância das seitas religiosas, o que vem a expor o caráter místico do cientificismo. Tal foi e é o caso das armas de destruição maciça ou da Bomba atômica...
Estreitamente empírica, por necessidade, a ciência não pode dar Ética que por definição critique a realidade dada e proponha um padrão ideal. Pelo critério do que é não se chega ao que deverá ser... Diante disto só restará ao cientificista ou positivista do pós guerra servir-se do pragmatismo ou do utilitarismo os dois únicos sistemas de Ética ensaiados pelo ateísmo e pelo materialismo.
O problema aqui é justamente que a partir do que é dado ou do que é não nos parece convincente ou terminante que este utilitarismo deva ser social, como queria J S Mill e não individualista. E empiricamente não percebo, nem creio ser demonstrável que Ayn Rand esteja equivocada... É até me parece que ela é seus pares tenham alguma razão quando alegam que Mill tomou remendos sociais ou gregários ao Cristianismo ou a cultura...
Os cientificistas e positivistas há tempos que prometem uma Ética própria e favorável ao homem, mas... Não tem podido cumprir a palavra. É por que? Simples, porque a Ética é um exercício essencialmente racional ou metafísico destinado a romper com a realidade dada, a nega-la, a ultrapassa-la, etc tendo em vista um padrão ideal. Além disto as pretensões da Ética são atemporais, universais e absolutas i é em torno de alguns princípios e valores comuns a todos os seres humanos ou unificadores. Não John Gray não está enganado ao por o pensamento seminal dos antigos gregos em tais termos. É nossa herança!
Não é menos verdade que foi já o positivismo demolido pelo pós modernismo e por ele substituído enquanto moda ou fetiche do momento. Sem que no entanto houvesse qualquer mudança significativa em termos de Ética. Já porque o pós modernismo costuma ser ainda mais feroz que seu predecessor em sua crítica à objetividade de qualquer valor ou princípio universal. O ideal aqui, quando existe, é sempre fragmentado ou individual e nada transcende a esfera do individual.
O primeiro retirou-nos a razão é o segundo a experiência ou percepção. Até que nada restasse ao homem ocidental em termos de 'comum' e ele se converte-se numa ilha ou universo incomunicável, onde a identidade e a comunhão tornaram-se impossíveis. Perdemos a verdade Ética e em seguida a Verdade ontológica. Que nós restou? NADA... apenas o vazio, sinônimo de miséria cultural e civilizacional. Andamos para trás e podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que o pós modernismo não corrigiu mas ampliou e aprofundou o erro essencial do positivismo. De um extremo a outro da gnoseologia contemporânea nada lucramos.
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